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3.3 O Percurso da pesquisa

3.3.1 A Coleta de dados

Na coleta de dados empíricos, decidi utilizar três estratégias diferentes. A finalidade de realizar essa triangulação na coleta dos dados foi a de obter informações mais consistentes, para compreender o fenômeno em toda a sua complexidade e, ainda, para poder validar os dados a cada etapa. Na coleta de dados empíricos, foram utilizados três instrumentos: estudo documental, observação sistemática e entrevista semi-estruturada.

No estudo documental, para iniciar a triangulação na coleta de dados, foi feita a análise em alguns documentos da instituição que diziam respeito à organização do trabalho e estavam disponíveis (normas, rotinas, protocolos, livro de relatórios). Verifiquei também as atribuições dos diversos profissionais envolvidos na assistência e as diretrizes políticas da instituição; e, em especial, documentos relativos ao dimensionamento do pessoal de enfermagem. Nos prontuários, investiguei a metodologia assistencial implantada, a forma de registros dos diferentes profissionais, os tipos de cuidados prestados e os tipos de patologias mais recorrentes nas unidades de estudo. Assim, foi possível complementar a compreensão do processo de trabalho, auxiliando na análise dos discursos dos sujeitos do estudo.

A ordem na utilização dos instrumentos não foi rígida, ocorrendo, em alguns momentos, concomitantemente, conforme necessário para melhor entendimento dos

achados, ou por conveniência dos entrevistados ou da dinâmica institucional.

Em continuidade à coleta de dados, foram realizadas observações nas unidades de internação. A primeira visita teve o objetivo de conhecer a sua localização e os responsáveis pelas unidades, e foi acompanhada pela enfermeira Coordenadora. Posteriormente, foram realizadas reuniões com as equipes dos diferentes turnos de trabalho, para explicar sobre a pesquisa e a importância da participação de todos. Além disso, foi assegurado que o desenvolvimento do estudo não alteraria o ritmo de trabalho dos envolvidos.

A segunda visita de observação teve como foco conhecer a estrutura física do serviço, sua organização, os profissionais envolvidos, horários de funcionamento e atividades desenvolvidas. Para isso, primeiramente foi feita uma aproximação com os trabalhadores e as chefias da instituição e das unidades escolhidas, de forma a estabelecer uma relação de convivência com a equipe, fazendo com que os trabalhadores se sentissem à vontade com a minha presença como observadora. Mas foram necessários alguns dias para isso ocorrer.

Mesmo tomando esses cuidados, a minha presença causou, num primeiro momento, um pouco de apreensão, mas procurei colocar-me como uma profissional que estava à disposição para qualquer ajuda. Após alguns dias, fui aceita por todas as pessoas que, às vezes, recorriam a mim, se esquecendo de que eu não era membro da equipe.

A observação sistemática nas unidades foi realizada no período de dois meses, nos diferentes turnos de trabalho (manhã, tarde e noite). Durante esse período, utilizei um diário de campo, para que pudesse registrar o cotidiano da observação (Apêndice B).

A observação foi utilizada para apreensão do processo de trabalho em enfermagem, para compreender e contextualizar as falas dos sujeitos entrevistados e problematizar questões não formuladas pelos mesmos. A observação, segundo Lakatos e Marconi (1991, p. 191), “ajuda o pesquisador a identificar e a obter provas sobre as quais o indivíduo não tem consciência, mas que orientam seu comportamento [...] obriga o investigador a um contato mais direto com a realidade”.

enfermagem; o relacionamento dos trabalhadores de enfermagem entre si, com o sujeito hospitalizado e seus familiares, com os demais profissionais da equipe de saúde, com os trabalhadores de outros setores e com os gerentes da instituição. Foi observado, também, em que cenário esse trabalho ocorreu (condições de trabalho, modelo assistencial, forma de divisão do trabalho).

Observou-se o trabalho dos profissionais da equipe de enfermagem (enfermeiro e auxiliar/técnico de enfermagem), nos turnos diurno e noturno, assim como os tipos de cuidados prestados aos sujeitos-do-cuidado, de modo a construir uma lista dos diversos tipos de atividades, tarefas e ações realizadas, em relação a:

a) condições para que o cuidado ocorra (material e equipamentos disponíveis, organização do espaço institucional);

b) tipos de cuidados de enfermagem prestados (ex: banho de leito, curativos, sondagens, sinais vitais);

c) tipos de patologias e problemas de saúde apresentados pelos sujeitos-do- cuidado hospitalizados;

d) quantitativo da força de trabalho diária, para realização dos cuidados;

e) atividades educativas desenvolvidas com o sujeito-do-cuidado e com a equipe de enfermagem (incluindo ações de pesquisa e de educação continuada dos trabalhadores, orientação para o autocuidado do sujeito-do- cuidado, procedimentos a serem realizados no domicílio e ações educativas com as famílias);

f) atividades de coordenação do trabalho coletivo, incluindo a articulação entre as diversas equipes que garantem o trabalho contínuo, nas 24 horas.

Na outra técnica de coleta de dados, utilizei entrevistas semi-estruturadas com apoio de roteiros (Apêndice C; D e E), testados previamente. Esse tipo de entrevista é definido por Minayo (2004, p. 108) como aquela “que combina perguntas estruturadas e abertas, onde o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto, sem resposta ou condições pré-fixadas pelo pesquisador”.

forma de poder explorar mais amplamente uma questão, [...] as perguntas são abertas e podem ser respondidas dentro de uma conversação informal”. A entrevista, assim definida, valoriza o informante e, ao mesmo tempo, fornece a liberdade e a espontaneidade necessárias para enriquecer a investigação.

O foco explorado, nas entrevistas desta pesquisa, foi a percepção dos profissionais de saúde sobre o processo de trabalho da enfermagem e suas indicações de critérios para o dimensionamento da força de trabalho em enfermagem, considerando as necessidades do trabalhador (sujeito-cuidador) e dos sujeitos que recebem o cuidado (sujeitos-do-cuidado).

As entrevistas com os trabalhadores participantes da pesquisa foram individuais, realizadas no próprio hospital, em local escolhido pelo entrevistado, para garantir a privacidade. Elas foram gravadas, com o consentimento dos entrevistados. Optei por essa ferramenta, pois a gravação “tem a vantagem de registrar todas as expressões orais, imediatamente, deixando o entrevistador livre para prestar toda atenção ao entrevistado” (SANTOS, 1995, p. 43).

Considerei as 22 entrevistas realizadas como uma amostra suficiente, levando em conta o critério de saturação dos dados, e encerrei a coleta de dados da pesquisa.

A observação do serviço e das atividades desenvolvidas, as entrevistas e o estudo documental possibilitaram fazer um levantamento abrangente e detalhado de dados, para propor bases qualitativas para o dimensionamento da força de trabalho de enfermagem, em unidades de internação médico-cirúrgica, geral e de adulto.

Procurei resgatar, nesse movimento, o fenômeno e suas relações, para poder compreender as suas determinações essenciais no contexto histórico e temporal, ultrapassando o plano da aparência e buscando revelar a sua essência.