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Parte I Enquadramento Teórico e Legislativo

2.3 As Universidades Séniores em Portugal – A Nível Meso

MESO

As Universidades Séniores em Portugal constituem um universo de grande relevo, com cerca de 200 US e 30.000 alunos.

Em Portugal, a primeira US surgiu em 1978, em Lisboa. Este projecto de implementação de uma US, em Portugal, partiu da iniciativa do engenheiro civil Herberto Miranda. A sua mulher, Celeste Miranda, aderiu ao projecto e foi impulsionadora com o marido da primeira US no nosso país.

Miranda exerceu a actividade profissional em África e esta experiência pessoal marcou-o, nomeadamente em relação ao papel que os séniores desempenhavam e o estatuto social que mantinham nas respectivas comunidades. Comparando as duas realidades – a de Portugal continental e a de África, – concretamente no que diz respeito ao sénior, ao seu papel e valorização social, considerou que poderia alterar a situação do sénior em Portugal revalorizando os seus conhecimentos e a sua imagem, tendo como referência a situação de prestígio que o sénior vive em África. A sua perspectiva era valorizar os séniores portugueses, criando um espaço de formação e de investigação, como se pode ler: “Essa solução baseava-se no prestígio dos idosos respeitados por todas as correntes espirituais dos povos africanos (...) tratava-se de uma estrutura de saber e experiência, oferecendo um largo espaço de investigação, ensino e formação, produção de bens e serviços definindo assim um conceito mais lato de universidade, do

30 que aquele em que se enquadravam as nossas universidades” (U. Internacional da Terceira Idade, 1997, p. 55).

Ao travar conhecimento com Pierre Vellas, em Paris, numa época em que já era problema a valorização dos séniores e tema de discussão e reflexão, viu reforçada a sua preocupação. Influência teve, também a nossa proximidade com França, sendo em Toulouse a expansão do projecto das US iniciada em 1973.

A forma com foi implementada a primeira US em Portugal leva-nos a fazer um paralelismo com a Universidade em estudo, que abordaremos no ponto seguinte.

Na década de 1980 surgiram mais cinco instituições, duas em Lisboa e três no norte do país. Na década de 1990 o número quase triplicou. Em 2001 existiam 30 US, em 2006 - 80 US, em 2008 - 112 US e em 2011 - 176 US. A origem das US portuguesas é marcadamente urbana, registando-se uma implementação geográfica mais elevada no litoral do país com destaque para o litoral norte onde se encontram 50% das US, distribuídas do seguinte modo: 61 na região norte, 34 na região centro e 28 na região algarvia.

Lisboa 32

Santarém, Leiria e Castelo Branco 31

Aveiro, Coimbra, Guarda e Viseu 29

Beja, Évora, Portalegre e Setúbal 28

Vila Real, Bragança, Braga e Viana do

Castelo 19

Porto 18

Madeira, Açores 8

Faro 7

QUADRO 1- Localização das US, por distrito.

Fonte: RUTIS, 2011

Localizam-se em distritos que não são tradicionalmente os mais envelhecidos, nem aqueles que apresentam o maior número de Centros de Dia.

A natureza jurídica das US portuguesas é diversa, mas a maioria está ligada às próprias câmaras municipais, outras são associações sem fins lucrativos, outras assumem a forma de Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), mas

31 também podem aparecer pontualmente como cooperativa e Instituto e ainda outras ligadas às Misericórdias.

Denominações 2002 2005 2008 2011 Universidade Terceira Idade 45 32 16 6

Universidade Sénior 24 26 47 66

Academia 12 17 14 13

Outras denominações 10 17 18 13

Institutos 9 8 5 2

QUADRO 2 - Denominações das US ao longo dos anos. Fonte:RUTIS, 2011

Nos últimos anos Portugal foi palco de grandes transformações: a esperança média de vida mais elevada; condicionalismos no seio da organização familiar tradicionalmente responsável pelos seus séniores; cuidados de saúde mais generalizados e mais informação sobre as doenças e o envelhecimento; maiores possibilidades de aceder à cultura e à educação, para todos. Assim, as US implementaram-se por todo o país, na base do associativismo e do voluntariado para dar resposta aos séniores.

Também as mutações sociais provocadas pelo rápido desenvolvimento tecnológico e todo um processo de maturação de perspectivas educacionais, que têm vindo a considerar a importância da aprendizagem e da educação ao longo da vida, proporcionaram um maior envolvimento e compromisso de novos contextos e cidadãos dando à educação uma visão inclusiva e grande relevo, novas formas de viver a reforma e a velhice. Como resultado é notória uma maior participação dos Séniores na vida cultural, social e educativa, uma maior vontade de continuarem activos e actualizados relativamente ao conhecimento e à participação local e regional no âmbito sócio cultural, o acesso à informação e um envelhecimento mais activo e participativo. A elevada procura das US explica o sucesso destas e a sua ramificação por todo o país. A sua frequência deve-se: “O convívio, a criação de novas relações sociais, a aprendizagem de novos conhecimentos e a actualização dos mesmos para a importância da existência/frequência da Universidade Sénior” (Monteiro & Neto, 2008, p. 151).

Existem em Portugal actualmente mais de 180 US o que representa um total de mais de 30.000 alunos. As maiores são a ULTI (Universidade de Lisboa para a Terceira

32 Idade) com 750 alunos e a UATIP (Universidade Autodidacta e da Terceira Idade do Porto) com 650 alunos, sendo mesmo uma realidade específica em contexto urbano. A USB (Universidade em estudo) com 35 alunos é a mais pequena do país e insere-se num contexto semi-rural.

A USB a que se refere o nosso estudo foi a primeira a ser fundada no Distrito, seguindo-se a USALCÔA no mesmo ano de 2006, a USRDL em 2007, a USN, a USP e a USPo em 2008, e as restantes USA e a USFV em 2010. Deste modo a USB foi pioneira no Distrito de Leiria e é das universidades mais pequenas, quer a nível distrital, quer a nível nacional, uma vez que é frequentada por cerca de 35 alunos.

As disciplinas das US portuguesas também podem ser designadas por actividades curriculares e actividades extracurriculares (visitas de estudo, viagens, palestras, conferências, seminários, colóquios, exposições, intercâmbio com associações e escolas, dia dos aniversários dos alunos, dia do aniversário da Universidade), sendo em algumas assinalados determinados rituais académicos como a “Lição de Sapiência”, “Semana Académica” e o “Encerramento do Ano Lectivo” (Veloso, 2000, p. 2).

Segundo o mesmo autor, entre nós parece existir uma lógica de academia visível no modelo curricular adaptado pelas diferentes US, isto é, uma espécie de mimetismo relativamente à instituição universitária. O número de disciplinas, nas UTI’s em Portugal, varia entre o mínimo de 10 e um máximo de 60 disciplinas.

Em geral estas instituições estabelecem limite na idade para frequência que se situa a partir dos 50 anos.

A nível da frequência nas US “existe predominância do elemento feminino, com valores situados na ordem dos 80%” (Veloso, 2000, p. 2).

Uma das críticas mais usuais que se fazem às US refere que se separam os séniores dos outros grupos etários, pelo que a integração social pode ficar comprometida. Daí em muitas US usarem-se termos como “intergeracionalidade”, “inter-idades”, “todas as idades”.

Em 1993 a União Europeia instituiu o Ano Europeu das Pessoas de Idade Avançada e de Solidariedade Entre Gerações, que tinha como objectivo promover o princípio da solidariedade entre as gerações (decisão do Conselho das Comunidades Europeias de 24/6/1992). Este, incentivo ao diálogo e à solidariedade pretendia associar melhor as pessoas de idade avançada com o processo de integração comunitária. Os

33 resultados foram praticamente nulos, sem estratégicas, nem processos que favorecessem a concretização dos objectivos. Decorridas duas décadas, em 11/07/2011 o Parlamento Europeu aprovou 2012 como O Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade Entre Gerações; Que tem como objectivo: sensibilizar os cidadãos sobre formas de responder aos desafios do envelhecimento, bem como a partilha das melhores práticas.

As ofertas formativas, apresentando-se normalmente sob a forma de disciplinas, nem sempre reflectem a importância que deve ser atribuída ao esforço da integração social e à promoção da intergeracionalidade, existindo o risco dos séniores “serem meros espectadores e consumidores da cultura ou de determinados conhecimentos, em vez de serem também eles produtores de saber” (Veloso, 2000, p. 7).

Deste modo, também a heterogeneidade da formação educacional de cada aluno e a sua experiência de vida poderá permitir que ensinem e aprendam. São, contudo, um caminho de participação e de reinserção social, melhorando a qualidade de vida do sénior, através do seu próprio reencontro com a alegria de viver e de reviver.

A Associação Internacional de Universidades da Terceira Idade considera positivo estas associações, porque contrariam as representações sociais dominantes relativamente à faixa etária que contemplam e têm repercussões tanto a nível da vida pessoal como ao nível da vida colectiva. Uma vez que os reformados podem ser afectados e destruturados relativamente ao ritmo de vida e à forma de preencher e viver o tempo, a frequência nas US pode devolver “um ritmo e uma significação diferentes ao tempo vivido por alguns reformados séniores” (Veloso, 2000, p. 8).

Em Portugal, cerca de 80% das US foram criadas pelos próprios utilizadores e colaboradores através de objectivos comuns e de movimentos associativos e não pelo Estado.

As US portuguesas tiveram a verdadeira explosão no início do séc. XXI com a criação de mais de cinquenta novas US devido à consciencialização da sociedade civil sobre o papel do sénior e sobre a problemática do envelhecimento.

A Associação Rede de Universidades da Terceira Idade (RUTIS) fundada em 2005 “é uma instituição de solidariedade social de âmbito nacional e internacional, ajuda a criar novas UTI e realiza actividades para as existentes como os Encontros

34 Nacionais, o concurso de Cultura Geral, os Festivais de Música e de Teatro Sénior, as Galas de Dança e vários documentos técnicos” (Jacob, 2011, p. 133).

A RUTIS, em 2007, criou o NIEA- Núcleo de Investigação do Envelhecimento Activo, “para estudar e investigar os temas do envelhecimento activo, da formação de adultos da gerontologia, andrologia e geriatria” (www.rutis.pt).

Em Janeiro de 2012, o ISLA cria a 1ª Pós-Graduação em Cidadania Activa para séniores, que tem como objectivos: “1) A promoção de uma participação e cidadania mais activa por parte da população sénior; 2) A transmissão e partilha de conhecimentos; 3) O reconhecimento dos saberes e experiências; 4) A certificação Académica dos estudos especializados” (RUTIS).

Esta 1ª Pós-Graduação destina-se a adultos com idade igual ou superior a 50 anos. Fazem parte dos conteúdos as seguintes disciplinas: Empreendorismo Sénior; Cidadania e Envelhecimento Activo; História e Património Cultural; Saúde e Bem- Estar; Informática e Produção Multimédia; Psicologia e Gestão das Emoções; Literatura e Escrita Criativa.