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As Universidades Séniores na Cultura Ocidental – A Nível Macro

Parte I Enquadramento Teórico e Legislativo

2.2 As Universidades Séniores na Cultura Ocidental – A Nível Macro

NÍVEL MACRO

A primeira Universidade Sénior foi criada pelo Professor Pierre Vellas em Toulouse, 1973. Embora nunca tenha havido um modelo oficial, no sentido restrito do termo, não tardaram em propagar-se em todos os países europeus surgindo sob formas múltiplas, algumas por vezes muito diferentes do modelo original, mas de uma forma geral adaptadas ao ambiente no qual nasceram produzindo resultados concretos em dois níveis de realidade:

25 Nível 1 – A integração dos séniores na sociedade.

Nível 2 – O aumento do interesse pela educação e formação de pessoas séniores colocadas fora dos circuitos da produção económica, visível num maior grau de envolvimento de Instituições de Ensino Superior e Universidades ou outras afectas aos poderes políticos locais, regionais e nacionais.

A proliferação de instituições desta natureza à escala mundial, permitiu aos séniores a oportunidade de continuarem a satisfazer a sua curiosidade e o seu desejo de continuar a (re) aprender.

Em 1975 inicia-se a internacionalização, via espaço linguístico francês. Instituições desta natureza expandiram-se pela Suíça, Bélgica e França e, mais tarde, estenderam-se ao resto do mundo.

Em 1976 é criada a Associação Internacional das Universidades da Terceira Idade, em Genebra na Suíça. Após a implementação da primeira US a França conta já com 210, a Espanha com240 e em Portugal existem presentemente 189. Hoje sabe-se que em todo o mundo rondam os 500.000.

Existem dois modelos principais de organizações das US: o Francês ou continental e o Inglês ou britânico.

O primeiro modelo associa as US às universidades tradicionais. No modelo Francês, a sua base situa-se numa Universidade Tradicional, quanto ao nível de professores, equipamento, salas e organização. Isto explica a emergência de cursos superiores e de pós-graduações para séniores com uma elevada actuação no domínio da pesquisa.

O modelo Inglês ou britânico tem por base associações auto-organizadas ou associações sem fins lucrativos. Este modelo apresenta-se com um maior pragmatismo, tem perfil mais independente e informal, apresenta um maior envolvimento dos alunos na gestão da Instituição e uma maior aproximação professor-aluno. Os professores são voluntários e os programas e actividades são de natureza social, educativa, cultural e recreativa e de lazer.

Embora em menor número existem ainda mais dois modelos: os mistos ou híbridos, que juntam o modelo Francês e o Britânico, uma mistura e, o modelo norte- americano- ILR’s (Institutes for Learning in Retirement).

26 Estes são mais teóricos do que práticos porque aparecem independentemente do local em que surgem, não emergem do local, localizam-se por ajustamento de projectos a condições particulares das populações-alvo, diferindo de região para região e de país para país.

Com excepção de algumas US francesas, estas Instituições não exigem qualquer grau de habilitações especial e oferecem cursos e disciplinas na óptica da divulgação cultural, social, educativa e científica. Um grande leque de actividades recreativas como: teatro, coros, dança, música, desporto, artes plásticas, visitas de estudo, festas, conferências, colóquios e exposições que servem de complemento à oferta dada pelas disciplinas.

Nos vários modelos, as áreas mais privilegiadas são basicamente as mesmas: Ciências Sociais e Humanas e as Línguas Nacionais e Estrangeiras. As ofertas disciplinares usualmente mais solicitadas são a Sociologia, a Psicologia, a História, a Antropologia, a Cultura (Literatura, Música, Arte e Teatro), as Artes Plásticas (Pintura, Artesanato), a Saúde e Segurança (Alimentação e Cuidados Primários) e as Actividades Desportivas e Físicas (Natação, Dança e Hidroginástica).

A nível internacional é uma realidade a existência conjunta de redes de trabalho. Constituem um factor muito positivo uma vez que as dinâmicas formativas relacionadas com a Net podem facilitar uma aproximação entre o mundo dos séniores. Com tradição de resistência ao novo e ao mundo informático, muitas vezes, os séniores anseiam entrar no mundo informático e a sua resistência esconde, com frequência, o receio de não possuírem as competências necessárias. A informática poderá ajudar os séniores a pensar à escala nacional e mundial, levando-os a construir novas categorias de pensamento e de vivências.

Do ponto de vista formativo, estão muito activas a rede europeia, a rede latino- americana e a rede mundial. A rede europeia, Learning in Later Life. European Network, tem sede na Alemanha, na Universidade de Ulm. Foi fundada em Dezembro de 1995 e engloba 18 países. Essencialmente engloba Instituições do tipo Universidades de Educação contínua e diferentes organizações educacionais. Resultou dum encontro europeu sobre “Competências e Produtividade na 3ª Idade” assegurado pela

Universidade de Ulm, em Fevereiro de 1995. Este encontro foi um marco, tornando evidente a importância da cooperação internacional e a partilha de opiniões. Esta rede trouxe para o centro do debate as seguintes questões:

27 - Como é que as US podem providenciar e apoiar os necessários ajustamentos de vida dos séniores num mundo em constante mudança?

- Como é que podem contribuir para o crescimento dos séniores nos campos económico e educacional?

-Como é que podem ajudar a criar um diálogo entre os cidadãos europeus? Um projecto (LiLL), envolvendo outros parceiros como a França, Holanda, Grã- Bretanha, Finlândia e Itália, foi posto em marcha (até ao ano 2000), criando um sistema quadrilinguístico on line sobre Academias de Educação Contínua para Séniores. Três ideias básicas foram lançadas: 1) Promoção da auto-organização de grupos de aprendizagem (learning by research); 2) Inclusão de aspectos de auto-promoção, criatividade e participação social; 3) Introdução de benefícios das novas tecnologias informáticas.

Os contactos estabelecidos deram origem a assuntos plenos de interesse para o campo da aprendizagem ao longo da vida dos idosos. De 2000 a 2002 foi lançado pelo Programa Sócrates/Grundvit Programme um novo projecto, SOLiLL, com o objectivo de promover a iniciação de grupos autónomos de aprendizagem (groups of learning through research) de vários séniores de diferentes países europeus. Os temas lançados incluíram cultura, alimentação, saúde, espaços conviviais e espaços públicos nas suas relações com o passado, o presente e o futuro. Do ponto de vista formativo este projecto apresentou dois aspectos dinâmicos inovadores: 1) Trouxe a área comunicacional transnacional para séniores através de pesquisa acompanhada; 2) Previa uma estrutura intergeracional onde outros grupos etários podiam ser incluídos.

As experiências foram divulgadas através do Boletim Europeu (European Bulletin Learning in Later Life) e de um CD-ROM disponibilizado pela Alemanha do qual se venderam até agora através da Net cerca de 4500 cópias.

A rede latino-americana, RAUA – Rede Americana de Universidades Abertas, surgiu na Argentina, em 1995, aquando da realização do Terceiro Congresso das UTI`s Sul Americanas. Gere o Fimte-Foro Ibero-americano de Programas Educativos da Meia e Terceira Idade, um projecto conjunto da Faculdade de Ciências da Educação e de Bioengenharia da Universidade Nacional de Entre Rios, Panamá e Argentina. Os principais objectivos formativos são: 1) Ter como idiomas oficiais, o português e o castelhano; 2) Proporcionar uma participação activa entre directivos, docentes e alunos;

28 3) Desenvolver e manter através da Internet um âmbito de comunicação permanente entre os grupos educativos ibero-americanos com programas para Meia e Terceira Idade; 4) Utilizar um sítio interactivo na Internet usando como ferramentas de trabalho listas de correio electrónico (mailings lists).

Mais de 80% das actividades do fimte são foros de discussão a partir de listas de correio electrónico para o estabelecimento de comunicação entre GUIMTE (Grupos Educativos Ibero-americanos para a Meia e Terceira Idade). Com este trabalho os responsáveis pela Rede esperam alcançar os seguintes resultados:

- Melhorar a comunicação actual entre os GUIMTE;

- Favorecer a integração linguística de hispano e luso-falantes; - Integrar grupos nacionais de trabalho dos países ibero-americanos; - Facilitar a realização de trabalhos cooperativos multicêntricos;

- Contribuir para a criação de novos GUIMTE e para a aprendizagem e desenvolvimento de habilidades pessoais nos séniores, colaborando assim na diminuição das dificuldades sociais e psíquicas.

A rede AIUTA - International Association of Universities of the Third Age ou Association Internacionale des Universités du Troisième Age funciona à escala mundial com manisfestações de actividades globalizantes, próprias desta faixa etária. Existe também uma revista, a TALIS (Thir Age International Studies) produzida no Canadá (Saskatchewan) que aborda temas de ensino, pesquisa para séniores e relata actividades de US de todo o mundo.

As US enquadram-se no conceito da formação ao longo da vida ou formação permanente e “têm a ver com a concepção e desenvolvimento de modelos e programas de animação, estimulação, enriquecimento pessoal, formação e instrução dirigidos aos idosos, ou seja a sua área de actuação são todas as actividades educativas em que participem idosos” (Mowy e O’ Connor, 1986, p. 12, como citado em Jacob, 2011, p.

119).

Da primeira UTI em Toulouse até à actualidade houve evolução nos modelos de programas:

a) A primeira geração- anos 1960 - ocupação de tempos livres, pousadas para mais velhos - Clubes Séniores ou de Tempos Livres.

29 b) A segunda geração- anos 1970 - melhorar o bem-estar mental do idoso por meio de actividades culturais consideradas de interesse e desenvolver a sua capacidade de intervir socialmente - Pesquisa e ensino mais formal, conferências e debates.

c) A terceira geração- anos 1980 - desenvolveu-se no sentido de se aproximar das características de qualquer universidade tradicional: o ensino, a pesquisa científica e o serviço à comunidade- Resposta a uma população sénior. Nesta fase “pretende-se a criação de um programa educacional adaptado, com três ênfases: a participação dos alunos, a sua autonomia e integração. Os alunos deixam de ser meros consumidores e passam a produtores do saber” (Jacob, 2011, p. 124).