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A Competência como Trilogia: saber Fazer, saber ser, saber saber

Parte I Enquadramento Teórico e Legislativo

5.2 A Competência como Trilogia: saber Fazer, saber ser, saber saber

SER, SABER SABER

O conceito de competência enquanto, “capacidade de pôr em prática numa determinada situação, um conjunto de conhecimentos, de comportamentos, de capacidades e de atitudes que podem ser decomponíveis em saberes (saber), saberes fazer e saberes ser ou estar (Pires, 2002, p. 263).

Esta abordagem coloca em evidência três níveis de composição de uma actividade que, embora distintos, se encontram interligados: área cognitiva (conhecimentos), psico-motora (acção) e afectivo-relacional (atitudes e valores).

O “saber fazer” permite a execução imediata de uma tarefa, a partir de um reportório de procedimentos disponíveis (Pires, 2002, p. 269). Mais do que a própria

111 acção, o “saber fazer” implica um conjunto de saberes de outra natureza, adquiridos formalmente pelo próprio sénior, ou existentes a partir da sua experiência de vida. É o sentido que dá à acção que evita que esta seja meramente mecânica, inconsciente e desprovida de sentido quanto aos seus métodos e objectivos.

Encontramos associado ao “saber fazer”, o “saber saber” que surge como o suporte que “dá sentido” à acção e permite a compreensão da tarefa como um todo, numa perspectiva mais cognitiva de consciência e reflexão, articulada com o seu como, porquê e para quê (Pires, 2002, p. 263).

Mais recentemente, o conceito de “saber ser” veio pôr em evidência a motivação e envolvimento pessoal do sénior, na acção. Enquanto “qualificação social”. Esta noção refere que, “se a competência é entendida como a capacidade de realizar uma acção, numa dada situação, em função de parâmetros e de um fim, então o “saber ser”, por definição, porque é imputável ao indivíduo independentemente da situação, parece dificilmente aceitável enquanto elemento da competência e ainda muito menos como competência em si” (Sultzer, 1999, como citado em Pires, 2002, p. 264).

O “saber ser” aponta para uma relação social que se objectiva na exclusividade de cada sénior, face aos estatutos e papéis que este desempenha nos diferentes contextos sociais em que se insere e ainda em função dos seus interesses.

Surgindo num determinado contexto, a competência associa dois conceitos que emergem da especificidade de qualquer situação considerada: transferibilidade e transversalidade.

A transferibilidade é definida enquanto a utilização de determinados, recursos por parte do sénior, em contextos diferentes daqueles para os quais estavam intencionalmente adequados. Como, transferir recursos é gerir competências, constituindo uma apropriação pessoal e criativa dos adquiridos (Almeida, 2003, p. 19). A transferibilidade, com processo inerente às competências, pressupõe que estas são tanto mais transferíveis, quanto mais transversais forem pois, neste caso, a sua aplicabilidade será mais abrangente.

Enquanto processo dinâmico, “ser competente” implica também um “tornar-se competente”, em que a mobilização de competências deve ser também considerada como momento de experiência e aprendizagem que se transformam “e passam a

112 constituir-se como novos recursos que poderão ser aplicados em novas situações” (Acoforado, 2001, p. 43).

Enquanto processo ilimitado de aprendizagem, a competência permite um leque de possibilidades muito amplo ao sénior e a transferibilidade permite a mobilização de recursos, ampliando o seu campo e optimizando a sua acção.

No âmbito da sua complementaridade, o conceito de transversalidade facilita a transferibilidade, da mesma forma que a transferibilidade opera no sentido de ampliar a transversalidade dos saberes. A transferibilidade não significa aplicação directa de conhecimentos ou saberes, mas a presença de factores como: adaptabilidade, flexibilidade e criatividade do sénior.

Numa abordagem sistémica do conceito de competência, o carácter dinâmico abrangente e global da articulação entre os três factores citados suporta-se na interacção que é estabelecida entre o sénior e o meio em que este se encontra inserido.

Este conceito de competência encontra-se rodeado por uma realidade dinâmica, não constituindo um estado em si, mas antes um processo em que se articulam múltiplos recursos. A competência não pode ser reduzida a um conjunto de saberes ou saberes- fazer visto que esta não reside apenas nos recursos a mobilizar, mas na forma como os recursos são mobilizados.

Muito mais do que a agregação de saberes, a competência implica a capacidade de integrar uma diversidade e heterogeneidade desses saberes, implicando a capacidade de seleccionar, organizar os elementos necessários à consecução de uma actividade ou resolução de um problema. Embora seja inegável que é na acção que se manifesta a competência e que esta se torna pertinente para a sua manutenção e desenvolvimento. É, porém, necessário ter em conta que o contexto delimita a sua finalização e contextualização.

No desempenho de determinada tarefa falar de competência é sempre falar de um sénior, num determinado contexto. Associado à competência, (Le Boterf, 1995), considera factores como a intencionalidade e a motivação do sénior, que influenciam o significado construído por este, face a uma situação. Este aspecto encontra-se articulado com a imagem que o sénior constrói de si ao longo da sua experiência, considerando o seu sistema de valores, o seu meio de origem e a própria cultura.

113 Ao mobilizar os recursos pessoais necessários a uma determinada situação, o sénior supõe ter confiança na sua existência, na capacidade de os utilizar eficazmente e no seu potencial de evolução (Le Boterf, 1995, p. 27). O “querer” e a responsabilização do sénior pelas suas decisões, pelas suas tomadas de iniciativa vão mobilizar componentes, com o intuito de lhe atribuírem o poder da “ intervenção. É preciso querer, para poder mobilizar-se, querer agir e “saber agir”.

Na problemática da competência está implícito não apenas o “ser competente”, mas a acção com competência, o que pressupõe uma mobilização e combinação de recursos com vista a um determinado objectivo. Ligado à questão do “ser competente”, não está apenas o resultado obtido e observável, mas também a compreensão das razões que levam o sénior a agir de determinada forma. Na sua concepção individual, a competência encontra-se desprovida da sua definição generalista, visto ser este ser um constructo que se operacionaliza na relação, pondo na sua dimensão colectiva o confronto entre os saberes-fazer individuais, que modificam e ultrapassam a soma das partes.

Le Boterf, em 1999, introduz o conceito de “engenharia das competências”, no sentido em que, ser competitivo, não é apenas uma questão de tempo e dinheiro, mas também de inovação, iniciativa e da própria motivação.

Numa abordagem sistémica, os séniores, não podem ser considerados como simples objectos de uma planificação (Le Boterf, 1999, p. 361), devendo assumir-se enquanto agente de uma organização, como parceiro ou coactor do processo de engenharia. No contexto social actual, fazer face aos acontecimentos imprevistos, elaborando e executando respostas apropriadas constitui um trunfo que embora não suficiente se mostra importante.

O sénior passa a ser considerado como empresário das suas competências ao combinar e mobilizar os seus recursos disponíveis e socorrendo-se daqueles que possam advir do meio envolvente, no sentido de desenvolver estratégias pertinentes face a um problema que necessita de ser solucionado.

A capacidade de articular um “saber combinatório” em que o sénior seja capaz de construir a tempo competências pertinentes para fazer face a situações cada vez mais complexas, pressupõe que não exista uma maneira única de resolver um problema com competência. Os próprios programas não devem assentar num perfil comportamental

114 determinante, onde não seja possível aos séniores utilizar os seus recursos, num contexto e tempo determinados.

A competência, que é um processo combinatório, das competências produzidas ao longo do tempo e a sua aplicação nos diferentes contextos em que as mesmas são solicitadadas sendo que: “as competências são, de facto, as actividades, ou as acções realizadas com competência (...) o que existe são as pessoas, equipas ou as organizações que agirão com mais, ou menos, competência” (Le Boterf, 1998, p. 144).

Deste modo, “é fundamental para o sénior ocupar-se exercitando competências prévias, numa optimização de desempenho e atingindo por essa via um envelhecimento bem-sucedido” (Paul & Fonseca, 2005, p. 148).