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Parte I Enquadramento Teórico e Legislativo

5.4 Caminhos de Desenvolvimento de Competência(s)

Wittorski (1998) refere-se ao mecanismo de desenvolvimento das competências na sua diversidade. Segundo o autor, a preocupação do seu estudo tem a ver, especificamente, com a “teorização das competências mais pela caracterização do processo do que pelo produto”, articulando o contributo das ciências cognitivas e das ciências da acção criando um quadro que tem como finalidade a compreensão dos processos de desenvolvimento das competências.

A necessidade e interesse, em volta do processo da emergência e desenvolvimento da própria competência, encontram-se justificados, na procura de uma definição que, embora não existindo com um efeito teoricamente estabilizado, permite definir os seus atributos. Segundo o autor, a noção de competência situa-se na intersecção de três campos: campo da socialização/biografia, campo da experiência

117 pessoal e campo da formação. A produção e transformação das competências faz-se nestes três campos.

Wittorski (1998) defende que a competência se constrói no interior do próprio indivíduo, por referência à combinação de cinco factores, articulados em três níveis: individual ou grupal (micro), ambiente social (intermédio), organização ou sociedade (macro). Estes três níveis articulam as cinco componentes de produção e transformação das competências:

Componente cognitiva: constituída pelos saberes, conhecimentos adquiridos em formação, teorias implícitas da personalidade do sénior e pela representação e sentimento que o próprio tem da situação. No que se refere à competência, este último elemento torna-se de extrema importância, pois a maneira como o sénior pode e quer agir depende da leitura que faz da própria situação.

Componente afectiva: a capacidade e disponibilidade, que o sénior tem para agir estão dependentes da imagem, que este faz de si; o investimento afectivo na acção e o seu envolvimento e motivação.

Componente social: com uma vertente de reconhecimento da prática do sénior pelo grupo. Tal não se insere numa lógica de formalidade, mas na relação com os outros. O sujeito tem um feedback da avaliação que os outros fazem de si, numa espécie de reconhecimento informal das suas competências, no seio do grupo.

Componente cultural: comporta a forma como, a nível macro, a cultura, a organização e a sociedade em geral compreende e valoriza determinadas competências.

Componente axiológica: remete-nos para o aspecto mais visível da competência; surge como resultado de todas as outras e apela directamente para o produto que se torna objecto de uma avaliação social mais abrangente.

Mobilizadas e combinadas a nível micro, estas cinco componentes sofrem a influência do nível intermédio e macro.

Neste sentido, os processos de desenvolvimento de competências remetem-nos muito mais para uma “lógica da acção” do que propriamente para o resultado. Acolhendo em si a intersubjectividade, a negociação e a competência é muito mais do que a avaliação dos resultados, muito mais abrangente que a performance, desempenho ou produto final.

118 Pensar em competência é considerar um contínuo de saberes produzidos na acção, na reflexão sobre essa acção levando a uma mudança que produz novas disposições para agir. É ter em conta que os saberes adquiridos pela aprendizagem, que podem potenciar a eficácia da acção.

O modelo de desenvolvimento de competências de Wittorski compreende cinco processos/vias de desenvolvimento distintas, com dinâmicas próprias:

- Modelo de formação em situação de acção/aprendizagem na acção: produzem- se novas competências quando o sénior se confronta com novas situações, através de processos de tentativa/erro. Através da acção, o sénior adquire competências que levam a situações de rotina com tendência a tornarem-se específicas.

- Formação em alternância: numa lógica de “reflexão e acção” este processo prevê a articulação entre a transmissão de saberes teóricos e a produção de competências na acção. Face a novas situações e através de um processo de combinação entre acção e reflexão sobre a acção, o sénior integra uma estratégia de ensaio e erro através de uma postura reflexiva.

- Análise prática: numa reflexão retrospectiva sobre a acção, o sénior formaliza as competências implícitas produzidas na acção e transforma-as em saberes de acção numa lógica de “reflexão sobre a acção”.

- Definição de novas práticas em antecipação: numa lógica de “reflexão para a acção”, o sénior antecipa novas práticas, através de “grupos de resolução de problemas” ou “grupos de progresso” para serem posteriormente reinvestidas na acção.

- Formação inicial: integração de saberes teóricos adquiridos pela formação que irão alimentar as capacidades e que se transformarão em competências segundo os contextos de utilização numa lógica de “integração/assimilação”. O sénior adquiriu saberes através da formação que poderá posteriormente investir em futuras situações.

Esta tipologia avançada por Wittorski distingue processos de produção de competências individuais, colectivas ou partilhadas. Considera que as competências individuais se constroem e mobilizam sozinhas, em articulação com as características físicas do meio e encontram-se na base das competências partilhadas, que não são mais, do que, competências individuais socializadas. Quanto às competências colectivas, são inéditas, não resultando de competências pré-existentes.

119 A adaptação de competências é um fenómeno, que implica apenas a adaptação dos modelos existentes, sem pôr em causa esses mesmos modelos, que advêm da acção habitual, enquanto, que a transformação de competências põe em causa os modelos habituais de acção, porque se trata de uma situação nova e desconhecida.

A transferência de competências é questionada pelo autor, na medida em que “a competência é sempre uma produção inédita numa situação particular, o que se transfere não é possivelmente de ordem da competência, mas da capacidade, que é descontextualizada” (Wittorki, 1998, p. 59).

Aquilo que é definido enquanto transferência de competências é, segundo o autor, o próprio processo de desenvolvimento da competência.

Para Leboyer (1996) o desenvolvimento das competências comporta três níveis: a) Sistema de ensino (antes da vida activa); b) Formação (decurso da vida activa); c) Experiência (exercício da actividade social).

Numa perspectiva das US a vertente de desenvolvimento de competências adquire uma maior importância, pois a mobilidade e passagem por várias situações de aprendizagem e novas experiências fornece ocasiões de desenvolvimento individual. Os factores de: dificuldade, responsabilidade e desafio à aprendizagem numa determinada situação permitem o desenvolvimento de comportamentos e o aparecimento de resultados que estão dependentes, não apenas da situação e de factores relativos do sénior, mas também da utilização que faz dessa informação.

Enquanto em situação, o sénior pensa, sente, age e aprende e cada um destes conceitos é utilizado de acordo com cada situação e a forma específica de tornar a acção o mais “competente possível”. Também a percepção tem um papel fundamental neste domínio, na medida em que influência o sentido que é dado a cada situação, tornando a competência num conceito múltiplo e dinâmico.