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ASPECTO AN ALI SADO PROCESSOS COMUNI CATI VOS

FUNDAMENTAÇÃO EDUCOMUNICATIVA

ASPECTO AN ALI SADO PROCESSOS COMUNI CATI VOS

PROCESSOS EDUCATI VOS

Alcance pret endido: âm bito geográfico: propagação no espaço;

âm bito histórico: perpetuação no tem po.

Dinam icidade: busca da m obilidade; busca da estabilidade.

Transm issibilidade: por irradiação ( im pessoal) ; por contágio ( pessoal) .

Propósit o: por vezes, espontaneísta; sem pre utilitarista.

Vet orialidade: preferencialm ente bidirecional;

preferencialm ente unidirecional.

Ênfase int erpessoal

( dim ensão m icropolít ica) :

situada no receptor; situada no em issor.

Ênfase int ersocial

( dim ensão m acropolít ica) :

independência do poder const it uído;

integração ao poder const it uído.

quadro 4: aspectos divergentes entre processos comunicativos e educativos

De maneira sintética, propomos essa ilustração que, malgrado sua validade e generalidade limitadas47, serve para delimitar a fronteira imaginária convencionalmente estabelecida entre os dois campos. É claro que há muitos mais elementos de contraposição (e de aproximação) entre os dois campos, e poderíamos dedicar um maior espaço que a essa dinâmica de comparações, reforçando, por exemplo, sua leitura sociológica48. Para os usos e fins desta tese, entretanto, esse grau de discussão nos parece suficiente. Voltaremos ao quadro ilustrativo ainda nesta seção, para nele incluirmos os processos educomunicativos em sua especificidade.

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Mais ainda pela convergência e intercâmbio crescentes entre Comunicação e Educação, tema central do presente capítulo. Outro ponto que merece ser destacado é a indistinção que fazemos, nesta comparação, entre a “Comunicação/campo epistemológico” e a “Comunicação/atividade social”, esta última personificada, geralmente, nos meios de comunicação. Acreditamos que essa generalização um tanto forçada nos permite um paralelo que equilibra a dicotomia também existente entre a “Educação/Pedagogia” e a “Educação/instituição”, esta última identificada, no mais das vezes, com a Escola.

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Educação e comunicação distanciam-se, também, pelo tecido de seus discursos. O discurso educacional é mais fechado e enquadrador, oficial, mais autorizado. Validado por autoridades, não é questionado. Nesse sentido, é autoritário, posto que é selecionado e imposto em forma de currículo a alunos e professores. O discurso comunicacional, ao contrário, é desautorizado, desrespeitoso e aberto, no sentido de que está sempre à procura do novo, do diferente, do inusitado. (SOARES: 2000b, 18)

1.1.1 Compreensão epistemológica da Educomunicação

Podemos afirmar que, apesar de configurarem seus respectivos estatutos a partir de processos distintos, a Comunicação e a Educação convergem, a cada dia mais, no que tange a seus objetivos sociais, objetos de estudo e métodos de abordagem49.

Tal convergência é verificada em outros campos e áreas do conhecimento, e esse fenômeno de melting pode ser entendido como um fato sociocultural amplo (tendência “globalizante”?) ou como um alinhamento geral de áreas de conhecimento polarizadas pela Tecnologia (sustentando e sendo sustentada pelo capitalismo ultraliberal), a qual, no vácuo de ideologias e crenças da pós-modernidade, parece catalisar a atenção geral, seja do senso comum, seja da pesquisa acadêmica50.

Podemos pensar também que vivemos num ciclo final de reflexões epistemológicas pautado pela insuficiência das matrizes e modelos oriundos da Psicologia − os quais haviam, por sua vez, destronado os ditames da Escolástica na virada do século anterior.

Esse virtual esgotamento da epistemologia não equivale a uma superação pura e simples dos modelos anteriores, mas tão somente ao surgimento de novos problemas e novas respostas, circunstancialmente mais interessantes para a academia — por sua atualidade, ou seu “ineditismo” — e mais “populares” no âmbito do senso comum — pelo poder avassalador do marketing.

Assim, no campo da Educação, enquanto na primeira metade do século XX o foco das discussões epistemológicas era a natureza da inteligência e se a construção da cultura/visão de mundo se consolidaria nos planos individual e social, nesta primeira década do século XXI, vemos predominar conceitos como “interatividade dos meios”, “conectividade em rede” e outras digressões técnicas, apresentadas como solução para as demandas pendentes de formação continuada e de gestão democrática dos espaços educativos.

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“A possibilidade de interlocução entre diferentes campos de saberes pode revelar a transversalidade da produção de conhecimentos científicos sobre questões que envolvem a comunicação e a educação, que necessitem de reflexões teóricas, de unidades com práticas acadêmicas separadas e departamentalizadas, mas não de todo distintas” (SCHAUN: 2002, 31).

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Já no campo da Comunicação — após a superação do embate entre o ativismo filosófico de inspiração humanista/socialista (paradigma crítico-cultural, engendrado na Europa) e o descricionismo técnico, ávido por um modelo absoluto (paradigma informacional/funcionalista, consolidado nos E.U.A.) —, o que observamos é a pulverização dos estudos em diversas correntes periféricas. Estas, tendo subvertido o locus dos fóruns de discussão para a América Latina, demonstram-se muito mais interessadas nos espaços intermediários − interfaces, mediações − a partir dos quais podemos estabelecer pontes de diálogo entre as áreas do conhecimento, do que na reedição dos debates oriundos da Escola de Frankfurt51.

Foi justamente o interesse da área de Comunicação no conceito e nas práticas da mediação — processos e interfaces — que abriu o caminho para o surgimento de abordagens inovadoras e ousadas, invadindo, por assim dizer, um território já demarcado pelos campos institucionalizados.

Assim, quando a Educomunicação assoma no horizonte das pesquisas comunicativas, afigura-se como uma constatação do conjunto de fenômenos que não cabem mais, confortavelmente, nos sistemas preestabelecidos. Só para ficarmos num exemplo ratificado pelo governo (MEC, FUNDESCOLA52), ONGs nacionais (ANDI53, CONSED54, IAS55) e internacionais (UNICEF) e um núcleo de pesquisa acadêmica (NEMP56), podemos mencionar o Fórum Mídia e Educação57, cujo relatório, publicado no ano seguinte, recomendava:

Reconhecer a inter-relação entre Comunicação e Educação como um novo campo de intervenção social e de atuação profissional, considerando que a informação é um fator fundamental para a Educação. O desenvolvimento tecnológico abriu novos campos de atuação e criou espaços de convergência de saberes (MEC: 2000, 31).

Logo, a constatação torna-se reflexão em tempo real, na medida em que muitos de seus estudiosos se vêem envolvidos em práticas educomunicativas e muitos educomunicadores passam a fazer dela seu objeto de estudo (SOARES, 2000b).

51

Definitivamente, os “integrados” parecem ter superado os “apocalípticos” (ECO, 2001). 52

Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação: vide glossário. 53

Agência de Notícias dos Direitos a Infância: vide glossário. 54

Conselho Nacional de Secretários da Educação: vide glossário. 55

Instituto Ayrton Senna: vide glossário. 56

Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da UnB (Universidade de Brasília): vide glossário. 57

Então, quase imediatamente, a Educomunicação transforma-se numa proposição, pois o que se detecta — pela reflexão em torno dos fenômenos constatados — é:

(a) que ela surge por ser necessária, pois a sociedade historicamente constituída do presente demanda modalidades de gestão comunicacional e educativa58 que não se sustentam unicamente na Comunicação ou na Educação atuando como campos isolados/independentes;

(b) que a convergência entre prática social e interesse epistemológico de grande parte dos educomunicadores — identificados como agentes mediadores dos processos educomunicativos — não é fortuita, mas reflete a coerência atitudinal necessária para a efetivação desses processos59;

(c) que o corpus teórico do novo campo é uma construção colaborativa em permanente processo de ampliação-ratificação-retificação.

Surge, finalmente, a necessidade de se propor e estruturar um novo sistema que comporte a Educomunicação com um estatuto e métodos próprios.

Segundo SOARES (1999a), um dos indícios da existência do novo campo é o fato de que o mesmo “já pensa a si mesmo, produzindo uma metalinguagem, elemento essencial para sua identificação como objeto autônomo de conhecimento” (SOARES: 1999a, 19).

Com base nas informações levantadas em várias pesquisas transcorridas na última década, podemos sugerir uma terceira instância dentro do quadro ilustrativo60 de comparação entre processos comunicativos/educativos (quadro 5), na qual localizamos a especificidade dos processos que a Educomunicação envolve:

58

O que é particularmente verdadeiro no que se refere às Políticas Públicas, como atesta o trabalho de ALVES (2007).

59

Ponto desenvolvido no subitem “Agentes da Mediação”. 60

ASPECTO ANALI SADO

PROCESSOS