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Entendendo a Educomunicação: discussões preliminares

FUNDAMENTAÇÃO EDUCOMUNICATIVA

1.1 Entendendo a Educomunicação: discussões preliminares

A identidade das coisas, o fato de que possam assemelhar-se a outras e aproximar-se delas, sem contudo se dissiparem, preservando sua singularidade, é o contrabalançar constante da simpatia e da antipatia que o garante. (FOUCAULT, 1999: 34)

O conceito de Educomunicação40 adotado como ponto de partida para esta pesquisa designa, em conformidade com as pesquisas do NCE/USP, o “conjunto de ações — envolvendo ou não as tecnologias da informação — que permitem que educadores, comunicadores e outros agentes sociais promovam e ampliem as relações de comunicação entre as pessoas que compõem a comunidade educativa” (SOARES, 2000).

Aqui temos contemplados cinco aspectos recorrentes nos estudos educomunicativos em geral e também na particularidade de nosso objeto de estudo, sendo:

(a) a Educomunicação é uma proposta destinada a transformar qualitativamente a realidade por meio de ações comunicativas coordenadas;

(b) a postura crítica em relação ao aparato tecnológico, tomada não apenas como herança dos estudos da media literacy, mas também como contraponto às posturas "tecnocêntricas" que dominam o cenário educativo escolar;

(c) a transdisciplinaridade41

(e, por conseqüência, a transversalidade curricular) converte-se em pressuposto para entender e atender as demandas enfocadas pelas diferentes facetas (social, cultural, etc.) que emergem na prática educativa;

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O termo educomunicación ocorre, inicialmente, em textos do uruguaio Mario Kaplún, para designar atividades em torno do que se acostumou a denominar, na América Latina dos anos 70, como “educação para a comunicação”, “leitura crítica dos meios” ou, de forma mais aberta, “comunicação educativa”.

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Cuja essência, segundo Ubiratan D’Ambrosio, “reside numa postura de reconhecimento onde não há espaço e tempo culturais privilegiados que permitam julgar e hierarquizar — como mais corretos ou mais verdadeiros — complexos de explicação e convivência com a realidade que nos cerca.” (D’AMBROSIO, 2001: 09)

(d) o caráter inter-relacional das ações educomunicativas é assumido como preocupação maior de criar, ampliar, consolidar e flexibilizar canais de comunicação multidirecionais e polifônicos no contexto dos ambientes em que acontece o processo educativo;

(e) o conceito de “ecossistema comunicativo”42

identifica-se com a noção de comunidade educativa desde que seja articulado transversalmente por processos comunicativos, o que pressupõe a gestão compartilhada de processos, a horizontalidade do organograma (empowerment) e o estímulo ao protagonismo.

Mais recentemente, o próprio SOARES ampliou o alcance de sua definição43, acrescendo-lhe alguns conceitos (devidamente grifados pelo autor) que, nesse segundo momento, foram enfatizados. Assim, temos como definição ampliada da Educomunicação:

“o conjunto das ações inerentes ao planejamento, implementação e avaliação de processos e produtos destinados a criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos, melhorar o coeficiente comunicativo das ações educativas, desenvolver o espírito crítico dos usuários dos meios massivos, usar adequadamente os recursos da informação nas práticas educativas, e ampliar a capacidade de expressão das pessoas” (SOARES, 2005).

Podemos afirmar que os acréscimos e, de certa forma, a omissão das Tecnologias da Informação refletem o avanço do estado de arte da Educomunicação44, o qual se deve, em grande medida, à implementação de diversas pesquisas que aderiram à premissa de emergência do novo campo.

O NCE (Núcleo de Comunicação e Educação) da ECA-USP, já mencionado na introdução desta tese, destaca-se pelo número considerável de trabalhos produzidos sobre o

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A expressão é recorrente na literatura educomunicativa. Uma definição cabível seria a de um “conjunto de relações, de ações e de condições — poderíamos chamar de forças — que interagem mutuamente, envolvendo a todos numa grande força comunicativa capaz de influenciar as instituições, os destinatários (educandos) e os agentes (educadores), bem como os conteúdos e as metodologias educativas e comunicacionais” (SILVA FILHO: 2004, 14).

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Note-se que a definição aqui transposta é a mesma constante na nota de rodapé da página 02 de nossa introdução.

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Entendemos que as abordagens que analisam o fenômeno da MTE e que se respaldam nas terminologias TI (Tecnologias da Informação), TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) ou NTICs (Novas Tecnologias da Informação e Comunicação) evidenciam uma compreensão fragmentada sobre o papel sociocultural da Tecnologia.

tema “Educomunicação” e sobre as interfaces comunicativo-educativas. Trata-se de dissertações e teses acadêmicas, como já referendados na Introdução, assim como de relatórios de projetos implementados, ou mesmo textos avulsos, parte dos quais pode ser acessada no site da entidade, no endereço http://www.usp.br/nce.

De nossa parte, acrescentaremos algumas reflexões sobre os conceitos educomunicativos emanadas com base em nossa própria experiência enquanto mediadores de processos educativos, empregando tecnologias com diferentes modalidades e graus de sofisticação45.

Partindo da constatação de que, enquanto campos epistemológicos consolidados, a Educação e a Comunicação objetivam intervir proativamente na sociedade de uma forma que coincide em vários pontos, podemos extrapolar a delimitação formal entre uma e outra, analisando seus diferentes papéis na perspectiva de processos.

Assim, consideramos que, ao longo da história, “os grupos humanos têm desenvolvido de forma progressivamente mais (ou menos) sistemática processos educativos e processos comunicativos, ambos entendidos basicamente como ações objetivas direcionadas para a organização e a transmissão de conhecimentos de um indivíduo a outro” (CONSANI: 2007, 10).

Essa pressuposição nos leva a pensar no sentido histórico da separação (considerando-se que, num dado momento, eles foram efetivamente separados) entre os processos comunicativos e educativos, o que faz ressaltar não mais seu paralelismo, mas sim, suas divergências46.

Vejamos, a seguir, o quadro 4:

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A origem dessas idéias pode ser encontrada no pequeno manual paradidático publicado com o título

Como usar o Rádio na Sala de Aula (CONSANI, 2007). Além das vivências que relatamos na introdução

desta tese, há uma lista expressiva das vivências que relacionamos ao nosso trabalho na educação formal, principalmente, na docência superior em cursos de Comunicação Social (vide “Créditos do Autor”, na seção final deste volume).

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“A história nos ensina, na verdade, que tanto a educação quanto a comunicação, ao serem instituídas pela racionalidade moderna, tiveram seus campos de atuação demarcados, no contexto do imaginário social, como espaços independentes, aparentemente neutros, cumprindo funções específicas: a educação administrando a transmissão do saber necessário ao desenvolvimento social e a comunicação responsabilizando-se pela difusão das informações, pelo lazer popular e pela manutenção do sistema produtivo através da publicidade.” (SOARES: 2000b, 13)

ASPECTO AN ALI SADO PROCESSOS