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MTE: A CONSTRUÇÃO DO SIGNIFICADO

3.2 Modelos visuais para entender a Mediação

3.2.1 Modelo Gráfico Elementar

Voltaremos, uma vez mais, a nos apoiar no léxico para estabelecermos este esquema em seu formato inicial, ao qual chamamos de protomodelo. Tomemos o verbete abaixo transcrito de outra fonte léxica consagrada na Língua Portuguesa:

MEDIAÇÃO: S.F. – (3) Relação que se estabelece entre duas coisas, ou pessoas, ou conceitos, etc., por meio de uma terceira coisa, ou pessoa, ou conceito, etc.226

quadro 22: definição alternativa de “mediação” (DE HOLLANDA: 1999)

Com base nessa definição, tomemos o gráfico 02:

Podemos entender que “B” é o elemento que medeia “A” e “C”, raciocínio que faz sentido se “mediar” for entendido na acepção que consta no quadro 22 — isto é, num sentido estritamente organizativo e combinatório — e em nenhuma outra. A afirmação é correta neste nível de entendimento.

Mas quando afirmamos que B faz a mediação ou usamos o verbo mediar na forma

ativa, incorremos num erro, pois B apenas se encontra entre A e C, o que corresponde a um estado e não a uma atividade.

Avançando um degrau em nosso raciocínio, passemos a considerar A, B e C como elementos ativos em uma relação. Isto quer dizer que, além da existência individual e suas implicações (identidade, autonomia, propriocepção, etc.), consideraremos que eles possuem

iniciativa e determinação para interagirem entre si.

226

Dicionário Eletrônico Aurélio Século XXI. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1999 — a idéia é

oferecer uma alternativa complementar a nosso referencial básico empregado até aqui (HOUAISS, 2007).

A

B

C

Vamos agora supor que A e C são elementos isolados por um fator qualquer que seja: distância física ou temporal, incompatibilidade mútua — parcial, mas não total227 —, que traduzimos, visualmente, pelo desenho das arestas que não se encaixam (gráfico 03).

Assumiremos, no entanto, que A e C — dado que sua incompatibilidade é apenas parcial228 — são elementos passíveis de mediação, isto é elementos mediados em potencial. Podemos acrescentar a ilação de que A, B e C são também elementos mediadores em

potencial, isto é, seu papel não está pré-determinado à passividade na relação mediada.

Nesse caso porém, ainda que exista, a disposição de um ou de outro para a interação mútua revela-se insuficiente para o estabelecimento de uma dinâmica entre os dois elementos ou uma integração maior de qualquer natureza.

Em nossa hipotética “equação espacial" — a qual lida com um mínimo de abstração, a ponto de ser cabível apresentá-la a uma criança (por conta de sua concretude “piagetiana”) — vamos introduzir agora o elemento B:

227

Esta será nossa hipótese de trabalho, por falta de base histórica, epistemológica ou etimológica para discorrer sobre mediação em caso de incompatibilidade total dos elementos envolvidos.

228

Podemos presumir que ela seja provisória, ou melhor: circunstancial.

B

gráfico 04: elemento isolado

A

C

Agora temos o elemento B, o qual, por algum motivo, está vinculado aos elementos A e C (notemos suas arestas), os quais, como observamos antes, entre si não se vinculam. Assumiremos que B, devido a suas características circunstancialmente privilegiadas, representará o papel de mediador ativo na relação:

Pois bem, a disposição (no sentido de diligência ou iniciativa) de B faz com que ele procure aproximar A e C, e sua dupla compatibilidade229 o permite.

Então, torna-se possível interligar A e C por meio da intervenção de B, o que nos permite afirmar, sem grande risco de errarmos, que B, efetivamente, faz a mediação entre A e C.

229

E, é claro, a anuência de A e C, que pode existir num grau maior ou menor, mas sempre suficiente.

A

B

C

gráfico 07: agrupamento sinérgico como resultado da mediação

B

A

B

C

gráfico 05: relações compatíveis de elementos isolados parcialmente díspares

A

B

C

É claro que essa construção abre mão da complexidade inerente ao nosso objeto de estudo. Por isso, nós a consideraremos, por ora, um protomodelo.

Conforme veremos, na seqüência, os elementos circunscritos à abordagem cultural tem uma permeabilidade e uma topologia muito diferentes dos nossos “blocos de montar” do protomodelo. Ainda assim, queremos assinalar algumas leituras deste breve exercício imaginativo que consideramos significativas a ponto de serem utilizadas na análise dos modelos mais complexos:

(1) a interação entre individualidades (gráficos 05, 06 e 07) só é possível entre agentes — elementos que participem ativamente da ação. Nesse sentido, elementos

mediados equivalem a elementos mediadores, ainda que considerados pela

perspectiva de um exercício menor de seu protagonismo230;

(2) a interação entre agentes díspares231pode ser estabelecida por (“depende de” é uma afirmação condicionada ao grau de motivação/necessidade da interação232) um agente mediador mais ou menos consciente dos processos envolvidos nessa mediação. Referimo-nos a ele anteriormente como “mediador ativo” e asseveramos que não se trata de um princípio ôntico, mas de um papel que é desempenhado no contexto da mediação específica;

(3) em nossa esquematização, tal interação intencional (volitiva) é identificada com a figura da seta “

⇔⇔

” que representa o esforço de mediação. Para demonstrar seu caráter mais significativo — evidenciando o sentido, a intensidade e a bidirecionalidade da interação mediativa —, nós denominaremos essa interação volitiva233, daqui para diante, de fluxo mediatório;

230

Convém lembrar que o protagonismo de B só existe no contexto do processo mediatório dentro do qual ele é referido como mediador ativo. Fora dessa relação, ele tem o significado de um “elemento isolado” (gráfico 04).

231

Ver gráficos 05 e 06. 232

Sem falarmos na questão da simetria na relação, já que o verbo “depender” denota uma relação de poder implícita (hierarquia).

233

(4) o esforço de mediação e, por conseqüência, a qualidade do fluxo mediatório implica na existência, para tanto, de:

a. disponibilidade234

dos agentes para a mediação;

b. afinidade, ainda que parcial, do agente mediador com os agentes mediados; e

c. sinergia235

do conjunto de elementos orientada pelo interesse e para os

resultados da mediação;

(5) a mediação resulta, ao final, em uma interação volitiva exercida por um conjunto de elementos-agentes que passam a constituir uma nova unidade em ação (gráfico 07), numa relação que pode ser descrita como sinérgica236. Notemos que esta unidade só existe no tempo e em função da mediação, o que não impede que ela — enquanto processo de transformação da realidade — seja modificada, restaurada, repetida, replicada ou expandida sempre que a mesma volição se repetir em contexto semelhante.

234

Na acepção de “potência”, “capacidade” e também de “disposição”. 235

Como “[Rubrica-sociologia.]: coesão dos membros de um grupo ou coletividade em prol de um objetivo comum” (HOUAISS, 2007).

236

No sentido lato “(2) ação ou esforço simultâneos; cooperação, coesão; trabalho ou operação associados” ou, no sociológico “(5) coesão dos membros de um grupo ou coletividade em prol de um objetivo comum”, ambos extraídos de HOUAISS (2007). Interessante notar como o termo se popularizou, com certo excesso, nesta década, no meio corporativo/empresarial. Etimologicamente, a palavra se origina do francês synergie (raiz no grego: synergía).