• Nenhum resultado encontrado

Aspectos econômicos de um centro urbano em expansão: Juiz de Fora durante o

No documento caiodasilvabatista (páginas 120-123)

3 OS SENHORES DE ESCRAVOS EM UM CENTRO URBANO DO

3.2 Aspectos econômicos de um centro urbano em expansão: Juiz de Fora durante o

Antes de iniciar a análise dos inventários post-mortem e testamentos de senhores de escravos de Juiz de Fora durante o século XIX, creio que seja necessário fazer algumas considerações sobre as profissões dos indivíduos do banco de dados desenvolvido para esta parte da pesquisa. Essas ocupações permitirão compreender parte da dinâmica econômica vivencia por essa localidade e pelos seus escravos durante o oitocentos.

Assim, em um universo de 1.229 nomes constantes no referido banco de dados localizei a ocupação de 1.205 indivíduos ou 98% do total. No gráfico a seguir constam quais eram essas atividades e o respectivo número de moradores que desenvolviam a mesma.

Gráfico 1 - Ocupações dos moradores livres na cidade de Juiz de Fora (1831 – 1888)

Fonte: Almanake administrativo, civil e industrial de Minas Gerais dos anos de 1870, 1873 e 1875 disponíveis em: <https://books.google.com.br>. Acesso em: 02 ago. 2015.

<http://hemerotecadigital.bn.br> . Acesso em: 04 ago. 2015. Lista nominativa do distrito de Santo Antônio do Juiz de Fora de 1831 (18/11/1831). Disponível em: <http://poplin.cedeplar.ufmg.br>. Acesso em: 05 ago. 2015. AHJF. Fundo: Câmara Municipal do Império. Séries: 53 – Documentos

406 221 142 87 64 53 39 36 25 24 18 17 15 15 8 6 5 5 4 4 3 3 1 1 1 1 1 Negociante Estabelecimento Comercial Serviços Especializados Dono de Oficina Funcionário Público Quitandeiro (a) Cafeicultor Profissionais Liberais Lavrador de Mantimentos Negociante com mais de uma ocupação Dono de Olaria Açogueiro/Dono de Açougue Mascate Criador Casa de Negócio Cambista Advogado/Funcionário Público Boticário/Dono de Farmácia Cafeicultor/Outra Ocupação Capitalista Dono de Engenho Tabelião Cargueiro de Lenha/Negociante Carguerio de leite Cirurgião/Lavrador Empreiteiro Vendedor de Lenha

referentes a censos realizados em Juiz de Fora. 78 – Documentos referentes a impostos municipais / 87 – Documentos do Fiscal da Câmara de Juiz de Fora referentes a impostos municipais / 90 –

Documentos do Fiscal da Câmara de Juiz de Fora referentes a posturas municipais / 127 –

Requerimentos contendo reclamações sobre impostos e solicitando sua redução ou alívio de multas / 128 – Requerimentos solicitando licença para abertura, continuação e baixa de negócios, exercício da profissão e obras. Contém também denúncias de falta de licenças.

A partir do gráfico exposto anteriormente, é possível observar que os escravos juiz- foranos viveram no decorrer do século XIX em um centro urbano de economia diversificada. O grande número de indivíduos desenvolvendo atividades comerciais, tal como apontado pelo gráfico 01, é um reflexo desse processo. Os negociantes e donos de estabelecimentos comerciais respondiam por 630 profissionais ou 52% do total.

Os proprietários de estabelecimentos comerciais eram detentores de casas de bilhar e jogos, açougues, boticas (farmácias), tavernas, quiosque, hotéis, padaria e depósito de tábuas. Dentro desse grupo, destacavam-se os indivíduos que alugavam carros e carroças. Estes correspondiam a 63,3% do total do grupo “dono de estabelecimento comercial”.

Em relação aos negociantes, o maior grupo de profissionais apresentado pelo gráfico, esses desenvolviam a atividade comercial, venda de escravos e negociavam a venda do café com comissionários da Corte (ALMICO, 2009, p. 182-227). Além dessas atividades, muitos desses indivíduos emprestavam dinheiro a juros. É importante salientar que Juiz de Fora teve sua primeira instituição bancária somente em 1889.

Rita Almico, analisando o mercado de crédito em Juiz de Fora durante a segunda metade do século XIX, demonstra a importância dos negociantes nessa localidade no período citado (ALMICO, 2009, p. 182-227). De acordo com os dados apresentados por Almico, esse grupo foi o segundo que mais emprestou dinheiro na localidade, ficando atrás apenas dos fazendeiros (ALMICO, 2009, p. 250 - 521).

Além dos negociantes e cafeicultores, o dinheiro a crédito poderia ser adquirido junto aos capitalistas e cambistas. Rodrigo Theodoro, ao analisar o crédito na cidade de Franca, localizada no interior paulista, durante o século XIX e início do XX, aponta para a importância dos capitalistas na oferta de crédito (THEODORO, 2007). De acordo com o autor, esses indivíduos, por possuírem o dinheiro como forma de riqueza, eram chamados de “capitalistas” e utilizavam de seus recursos para reproduzir sua riqueza emprestando dinheiro a juros (THEODORO, 2007).

Em Juiz de Fora essa situação não se diferenciou da cidade paulista. Como apontado no capítulo anterior e como irei detalhar mais adiante, o Barão da Bertioga foi um exemplo de capitalista em Juiz de Fora durante o século XIX que promovia o empréstimo de dinheiro a juros. Ele também exercia a atividade de cambista, pois vendia moedas estrangeiras. Não irei aprofundar e estender tal análise neste momento, pois farei isso mais adiante.

Além dos indivíduos que apenas trabalhavam com “negócios”, o gráfico em análise demonstra a existência de 24 negociantes em Juiz de Fora detentores de mais de uma ocupação. Essas atividades eram variadas e envolviam o serviço público, o mascatear pelas fazendas, a criação e o plantio de gêneros para o abastecimento do mercado local.

Havia também um negociante dono de olaria; dois eram detentores de oficinas e três proprietários de fábricas. Desses três estabelecimentos fabris, um produzia cerveja e outro charuto.

Além das ocupações em “negócios”, o gráfico exposto anteriormente aponta para a existência de um número significativo de pessoas exercendo serviços especializados. Esses profissionais trabalhavam em áreas diversas, oferecendo seu trabalho em barbearia, funilaria, assim como pintor, pedreiro, serralheiro, ourives, lenhador, sapateiro, relojoeiro, terrador, marceneiro, seleiro, tintureiro, dentre outras atividades especializadas. Esses profissionais trabalhavam de forma autônoma ou em oficinas e manufaturas.

Contudo, não irei me estender na análise desse gráfico, pois o objetivo desta pesquisa é analisar a escravidão urbana em Juiz de Fora no século XIX. A exposição desses dados se deu para ilustrar o ambiente onde os escravos juiz-foranos e seus senhores viviam.

Assim, a partir da observação do gráfico exposto acima, é possível verificar que esse centro urbano diversificou sua economia no decorrer do século XIX, apresentando manufaturas, fábricas e serviços especializados. Essas características, de acordo com Mario Marcos Rodarte, caracterizavam uma cidade no decorrer do oitocentos (RODARTE, 1999, p. 48). A oferta de serviços variados e a presença de oficinas e fábricas também apontam para a centralidade que Juiz de Fora adquiriu como principal polo econômico da Zona da Mata mineira.

Por fim, o gráfico aponta para a existência de atividades econômicas rurais em Juiz de Fora. Estas envolviam a criação de animais, a produção de mantimentos e, principalmente, o cultivo de café. Essas atividades envolviam 84 indivíduos juiz-foranos ou 6,9% dos profissionais contabilizados no banco de dados que elaborei.

Esse dado confirma, mais uma vez, a relação existente entre campo e cidade presente em Juiz de Fora. Como apresentei no capítulo anterior, a localidade era um centro urbano do interior do Sudeste brasileiro oitocentista que se desenvolveu a partir da produção cafeeira.

Essa realidade esteve presente em outros centros urbanos brasileiros do Sudeste que possuíam contexto econômico similar ao observado em Juiz de Fora. Como exemplo, cito a cidade de Vassouras, localizada no Vale do Paraíba Fluminense. Essa localidade, assim como Juiz de Fora, teve sua origem atrelada à produção de café (SALLES, 2008). Em decorrência dessa configuração econômica, o cento urbano fluminense teve, assim como a cidade mineira, uma forte relação com o ambiente rural, pois o principal produto de sua economia era o café.

Uma análise mais profunda sobre a relação entre campo e cidade presente em Juiz de Fora será retomada na próxima seção. Ao analisar o perfil social e econômico dos senhores de escravos juiz-foranos, será possível detectar que muitos desses indivíduos, tal como disse algumas vezes no decorrer dessas páginas, dividiam seus afazeres entre esses dois ambientes.

Vale ressaltar que Juiz de Fora possuía uma extensa área rural em seu entorno. Por esse motivo, era comum os escravos e seus donos transitarem entre as fazendas e à cidade.

No documento caiodasilvabatista (páginas 120-123)