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Um novo projeto urbanístico para Juiz de Fora: a planta do engenheiro Uchoa

No documento caiodasilvabatista (páginas 97-100)

2 PRIMEIRA PARTE: CIDADE, OS ESCRAVOS, SEUS SENHORES

2.6 Um novo projeto urbanístico para Juiz de Fora: a planta do engenheiro Uchoa

Como disse anteriormente, em 1880 boa parte do plano urbanístico do engenheiro Dodt estava concluído. Em meio a esse contexto, a Câmara Municipal contratou o engenheiro Uchoa Cavalcante para desenvolver uma nova planta da cidade. O projeto, como o de Gustavo Dodt, nortearia as intervenções urbanas e as obras de infraestrutura (OLIVEIRA, Fábio Augusto, 2014, p. 51). Em 1884 Uchoa Cavalcanti entregou à Câmara Municipal a planta urbana da cidade de Juiz de Fora (OLIVEIRA, Fábio Augusto, 2014, p. 52).

Com a conclusão da planta pelo engenheiro Uchoa Cavalcante, a Câmara Municipal construiu novas praças no centro urbano, o mercado municipal em 1883 e continuou a aterrar as áreas pantanosas que existiam na cidade (ESTEVES, 1915, p. 71). Todas essas melhorias faziam parte do “fazer urbano” que a municipalidade buscou desde a década de 1850.

Esse fazer urbano, como foi apresentado, excluía a “arraia-miúda” dos projetos urbanísticos. Nesse sentido, a cidade planejada pela municipalidade buscava inserir a elite local de Juiz de Fora na “modernidade” e no “progresso”.

No que diz respeito à economia de Juiz de Fora, as décadas de 1870 e 1880 revelam que a mesma se diversificou e passou a ter uma série de serviços especializados. Esse fator foi reflexo da consolidação deste município como o polo urbano principal da Zona da Mata mineira (PIRES, 1993, p. 120).

Nesse período, a cidade também iniciou seu processo de industrialização98. Tal como apontado por Anderson Pires, esse fenômeno colocou Juiz de Fora como o principal centro industrial da Zona da Mata mineira e de todo o estado de Minas Gerais (PIRES, 1993, p. 125).

97Disponível em: <http://www.estacoesferroviarias.com.br>. Acesso em: 13 jul. 2017.

98 Dentre os estudos que analisam o processo de industrialização em Juiz de Fora, cito: GIROLETTI, Domingos.

Op. Cit. LIMA, João Heraldo. Café e Indústria em Minas Gerais, 1870 – 1920. Petrópolis: Vozes, 1981.

ANDRADE, Silvia Maria Belfort Vilela de. Classe operária em Juiz de Fora. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 1987. DIAS, Fernando Correia. A imagem de Minas. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1971.

É importante salientar que todo esse processo de diversificação da economia e industrialização ocorrido em Juiz de Fora durante o século XIX é oriundo dos capitais excedentes gerados pela produção cafeeira (PIRES, 1993, p. 130). Além desse aspecto, Juiz de Fora, como apresentado anteriormente, contava com um sistema viário rápido e eficiente. Esse fator fez desenvolver o comércio de exportação e importação, tanto de atacado quanto de varejo (GIROLETTI, 1988, p. 46). Por apresentar tal estrutura, boa parte dos produtos exportados e importados por Minas Gerais tinha que passar por Juiz de Fora. Sobre isso Domingos Giroletti faz a seguinte observação:

[...] Para o produtor e o consumidor, tornava-se mais barato e mais cômodo venderem sua produção em Juiz de Fora e ali mesmo se abastecerem dos produtos de que precisasse sem necessariamente recorrer ao Rio de Janeiro. Somente em casos mais raros, em que o cliente demandasse produtos mais complexos ou fosse um grande negociante do interior, ou em outras situações menos atípicas, era necessário recorrer diretamente ao Rio de Janeiro. (GIROLETTI, 1988, p. 46)

Todo esse desenvolvimento atraía para Juiz de Fora escravos, livres, imigrantes e nacionais, e libertos. Esses indivíduos buscavam uma “nova vida” e exerciam diversas ocupações, como as de negociantes, capitalistas, confeiteiros, modistas e outros serviços especializados.

Prova dessa intensificação econômica de Juiz de Fora nas décadas de 1870 e 1880 é o aumento no número de estabelecimentos comerciais e industriais nesta cidade. Ao desenvolver uma comparação entre os anos de 1870 e 1877, é possível verificar a diversificação da economia e a presença de unidades manufatureiras em Juiz de Fora. O quadro a seguir demonstra essas cifras.

Quadro 2 - Estabelecimentos comerciais e industriais de Juiz de Fora, 1870 e 1877

1870 1877

Estabelecimentos e serviços Total Estabelecimentos e serviços Total Casas de Negócios 107 Lojas de fazendas e armarinhos 27

Mascates de fazenda 13 Carros de Aluguel 20

Hotéis 8 Advogados 16

Oficinas de ferreiro 7 Capitalistas 12

Olaria 6 Carpinteiros 12

Farmácias 5 Bilhares 12

Mascates de joias 4 Ferraria 12

Fábrica de carroça 3 Lojas de Alfaiate 10

Relojoeiros 3 Lojas de caldeiro e funileiro 9

Açougue 2 Açougue 6

Cambista 2 Loja de diversos a vapor 6

Carniceiro 2 Loja de Carpinteiro 6

Alfaiataria 2 Loja de Barbeiro 6

Sapateiro 2 Médicos 6

Oficinas de marceneiros 2 Negociantes de Joia 6

Fábricas de Fogos 2 Farmácia 5

Padaria 2 Fábrica de carros e carroças 5

Charuteiro 2 Fábrica de tijolos 4

Funileiro 2 Fábrica de cigarros e charutos 4

Barbeario 2 Pintores 4

Casa de lavar chapéu 1 Relojoeiros 4

Casa Bancária 1 Ourives 4

Fábrica de cerveja 1 Cambista 4

Fábrica de chapéu de sol 1 Confeitarias 3

Casa de lavar chapéus 1 Dentistas 3

Alcochoeiro 1 Padres 3

Livreiro 1 Padarias 3

Bilhar 1 Lojas de Marceneiro 3

Ourives 1 Oficinas de fogos de artifícios 2

- - Lojas de seleiro 2

- - Hotéis 2

- - Casas de café torrado 2

- - Vidraceiros 2

- - Chapeleiros 2

- - Cocheiros 2

- - Carreiros 2

- - Casa de agência de leilões 1

- - Tipografia 1

- - Modista 1

- - Retratista 1

- - Marmorista 1

Total 190 Total 234

Fonte: ESTEVES, 1915, p. 66. GIROLETTI, 1988, p. 49-50. OLIVEIRA. Paulino de, 1966, p. 103.

Os dados apresentados demonstram a grande diversificação de serviços e do comércio vivido por Juiz de Fora num período de sete anos. Além disso, o quadro anterior aponta para existência de algumas fábricas produtoras de cerveja, chapéus, charutos, cigarros, carruagens e carroças. A existência desses estabelecimentos manufatureiros aponta para o início da industrialização de Juiz de Fora, fato que irá se intensificar a partir dos anos oitenta e noventa do século XIX (GIROLETTI, 1988; PIRES, 1993).

Dado o fortalecimento da economia local nos anos oitenta, Juiz de Fora contará com seu primeiro banco, chamado Territorial e Mercantil de Minas, fundado em 1887 (OLIVEIRA, Paulino de, 1966, p. 117). Ao entrar em falência em 1889, o Banco de Crédito Real de Minas Gerais iniciou suas atividades na cidade (OLIVEIRA, Paulino de, 1966, p. 117). De acordo com Anderson Pires, a fundação dessa instituição financeira representou uma evolução do sistema financeiro local, uma vez que o Banco de Crédito Real tinha sua sede em Juiz de Fora (PIRES, 1993, p. 67). Isso foi possível em decorrência do desenvolvimento da cafeicultura agroexportadora na região (PIRES, 1993, p. 67).

Durante a década de oitenta, seguindo a planta cadastral do engenheiro Uchoa Cavalcante, a Câmara Municipal numerou as casas da cidade, instalou bueiros em ruas da área central, construiu um novo matadouro municipal e uma nova cadeia pública, mais segura do que aquela descrita pelo viajante inglês Richard Burton, que esteve na cidade na década de 1860 (PIRES, 1993, p. 118-123).

No documento caiodasilvabatista (páginas 97-100)