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Divisão do trabalho

No documento caiodasilvabatista (páginas 39-44)

1 INTRODUÇÃO

1.3 Divisão do trabalho

Este trabalho encontra-se dividido em duas partes com um total de cinco capítulos. Assim, na primeira parte serão desenvolvidos três seções. Estes têm por finalidade compreender a formação da cidade de Juiz de Fora e a importância da mão de obra escrava nesse centro urbano.

Outro objetivo deste primeiro momento é a análise do perfil socioeconômico dos senhores de escravos juiz-foranos. Junto a este estudo, busquei compreender e demonstrar os mecanismos de controle criados pelo poder público e a população livre para “vigiar” os cativos urbanos e a combater as cidades “negra” e “esconderijo”. Além desses fatores, a primeira parte da pesquisa busca apresentar o cotidiano dos escravos e suas relações com seus senhores e demais membros da população em Juiz de Fora durante o século XIX.

Em relação às cidades “negra” e “esconderijo”, tal como dito anteriormente, estas foram entidades criadas de forma consciente ou não por escravos, livres e libertos e auxiliaram na formação de uma sociedade paralela onde havia solidariedade, intrigas, estratégias, conflitos, amores, dentre outros fatores entre escravos, livres e libertos.

Essas duas entidades, tal como será demonstrado, causavam a sensação de insegurança e de desordem à população “branca”. Ao mesmo tempo, traziam ao escravo, mesmo que de maneira pequena, certa autonomia no interior do cativeiro.

Feita essa ressalva, retornarei à exposição dos capítulos da primeira parte do presente estudo. Assim, no primeiro busquei analisar o processo de formação e evolução econômica, demográfica e social da paróquia de Santo Antônio do Juiz de Fora. Esta localidade desmembrou-se do termo de Barbacena em 1850, sendo criada a vila homônima ao arraial (BATISTA, 2015). Esta, em 1856 foi eleva a categoria de cidade, sendo chamada de Paraibuna, posteriormente, em 1865 a toponímia foi alterada para Juiz de Fora (BATISTA, 2015).

Para compreender a formação desta localidade, foi preciso retornar ao século XVIII. Nesse período foi aberto o Caminho Novo, que ligava Vila Rica, então capital da Capitania de Minas Gerais, a Corte. O retorno ao período colonial foi necessário, uma vez que as margens dessa rota se formaram povoados, dentre eles a paróquia de Santo Antônio do Juiz de Fora, que abrigava o arraial de Santo Antônio do Paraibuna (BATISTA, 2015).

Além deste aspecto, no primeiro capítulo demonstrei que na cidade de Juiz de Fora os escravos foram utilizados nas mais diversas atividades econômicas durante o século XIX. Dentro deste contexto, desenvolvi um estudo no qual aponto as ocupações exercidas pelos cativos urbanos juiz-foranos nesse centro urbano durante o oitocentos.

Na citada seção, para compreender a evolução espacial, demográfica e econômica da paróquia de Santo Antônio do Juiz de Fora durante o século XIX, utilizei listas nominativas da localidade dos anos de 1831 e 1855, o censo brasileiro de 1872, mapas de população e listas de famílias da localidade do período de 1854 a 188323. Essas fontes também me ofereceram uma série de informações referentes à ocupação dos escravos dessa localidade.

Além dessa documentação, utilizei leis provinciais mineiras que criaram a vila de Santo Antônio do Paraibuna em 1850 e as cidades do Paraibuna (1856) e do Juiz de Fora (1865)24. Também analisei os Códigos de Posturas do Município de 1853, 1857 e 1863 e as plantas de parte da vila de Santo Antônio do Juiz de Fora de 1853 e da cidade do Paraibuna de 186025.

23Lista nominativa do distrito de Santo Antônio do Juiz de Fora de 1831 (18/11/1831). Disponível em:

<http://poplin.cedeplar.ufmg.br/>. Acesso em: 13 ago. 2018. AHJF. Fundo: Câmara Municipal no Império. Série 54: Mapas da população e listas de famílias realizados nos distritos de Juiz de Fora. Censo do Brasil de 1872. Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/d_detalhes.php?id=225477>. Acesso em: 02 out. 2013.

24APM. Coleção de Leis Mineiras, 1835 – 1889. Disponível em: <http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/>.

Acesso em: 12 fev. 2017.

25SMBMMM. Código de Posturas da Câmara municipal da vila de Santo Antônio do Paraibuna (1853). AHJF.

Fundo: Câmara Municipal no Império. Subsérie 163/1: Documentos referentes ao Código de Posturas municipais.

No segundo capítulo, desenvolvi uma análise do perfil social e econômico dos senhores de escravos de Juiz de Fora durante o século XIX. A realização dessa pesquisa se deu a partir de inventários26.

Muito além de documentos de natureza jurídica e civil, a citada fonte permite detectar informações sociais, econômicas e culturais do indivíduo inventariado27. Por esse motivo, escolhi-a para analisar o perfil socioeconômico dos senhores de escravos de Juiz de Fora.

No terceiro e último capítulo da primeira parte, fiz uma análise dos mecanismos de controle criado pelo poder público e a população livre juiz-forana para “vigiar” o “anda anda” dos escravos dentro da cidade. Para o desenvolvimento desse estudo, utilizei os Códigos de Posturas de Juiz de Fora de 1853, 1857 e 1863 e notícias, editais, avisos e outras publicações registradas no jornal O Pharol do período de 1870 a 1888 referentes ao assunto28.

Para complementar essa análise, fiz uma comparação entre os mecanismos de controle desenvolvidos na cidade de Juiz de Fora com outros centros urbanos do Brasil e da América durante o oitocentos.

Além deste aspecto, demonstrei como os escravos conseguiram “burlar as ordens”, promovendo batuques, crimes, brigas, jogando, dentre outros fatores que promoviam a “desordem” dentro do centro urbano. Esses fatores, como irei demonstrar, auxiliavam na formação da “Cidade Negra” e da “Cidade Esconderijo” em Juiz de Fora.

Outro objetivo deste capítulo é analisar o cotidiano dos escravos urbanos em Juiz de Fora durante o século XIX. Para o desenvolvimento dessa pesquisa, utilizei processos criminais e o jornal O Pharol. As ações são referentes aos crimes de ferimento e outras ofensas físicas, de roubo, furto, tentativa de homicídio, entrada em casa alheia, ameaças e diversos 29.

26AHJF. Fundo: Fórum Benjamin Colucci. Processos Civis. Séries: Inventários. AHUFJF. Fundo: Benjamin

Colucci. Séries: Inventários.

27Dentre os diversos estudos que demonstram a importância do inventário para estudar o perfil social e

econômico de um indivíduo, cito: FLEXOR, Maria Helena Ochi. Inventários e testamentos como fontes de pesquisa. In: CASIMIRO, Ana Palmira Bittencourt; LOMBARDI, José Claudinei; MAGALHÃES, Lívia Diana (Orgs.). A pesquisa e a preservação de arquivos e fontes para a educação, cultura e memória . Campinas: Alínea, 2009. p. 25-35.

28AHUFJF. Jornal O Pharol. SMBMMM. Código de Posturas da Câmara municipal da vila de Santo Antônio do

Parahybuna (1853). AHJF. Fundo: Câmara Municipal no Império. Subsérie 163/1: Código de Posturas da Câmara Municipal da Cidade do Parahybuna da Província de Minas Gerais.

29AHJF. Fundo Criminal do Foro Benjamin Colluci. Processos Criminais. Série 14: Processos relativos a crimes

de tentativa de homicídio. Série 15: Processos relativos a ferimentos e outras ofensas físicas. Série 16: Processos relativos a crime de ameaças. Série 17: Processos relativos a crime de entrada em casa alheia. Série 23: Processos relativos a crime de furto. Série 26: Processos relativos a crime de roubo. Série 34: Processos diversos.

Optei pelas escolhas desses processos, pois a partir da leitura de pesquisas sobre a criminalidade escrava em Juiz de Fora e em outras localidades brasileiras durante o século XIX, pude detectar que alguns desses delitos poderiam ocorrer em maior incidência em um ambiente urbano, como os roubos, os furtos e a entrada em casa alheia30.

Por outro lado, a escolha dos processos de tentativa de homicídio e ameaças se deram a partir do momento em que tais delitos, assim como os crimes de ferimentos e outras ofensas físicas levam a alguns momentos de tensões e resistências vividas pelos escravos no interior do cativeiro ou em suas relações sociais. A utilização de processos criminais classificados como diversos se deu por meio da curiosidade em saber quais eram os crimes envolvidos em tal documentação.

As ações criminais tornam-se a principal fonte para a reconstrução do cotidiano dos escravos urbanos, uma vez que essa documentação foi a única localizada na qual o cativo “fala”. Nesse sentido, ao promover a leitura dessa documentação, é possível penetrar na vida de alguns escravizados e reconstruir redes sociais, momentos de solidariedade, tensão e conflito vivido por esses indivíduos.

Dentro dessa perspectiva, apresentarei o debate sobre o conceito de “Cidade Negra” e “Cidade Esconderijo”. Além disso, apontarei como os mancípios de Juiz de Fora junto com livres e libertos formavam tais instituições.

Em relação ao jornal O Pharol, essa fonte auxiliará na reconstrução do cotidiano dos escravos urbanos juiz-foranos. Essa afirmativa se sustenta, pois, ao promover a leitura desse periódico, pude constatar que há várias publicações, como denúncias de ajuntamentos ilegais, fugas, crimes, que remete ao cotidiano dos cativos da cidade de Juiz de Fora durante o século XIX.

Na segunda parte deste trabalho, desenvolvi um estudo sobre os processos de alforriamento e a reescravização de livres e libertos em Juiz de Fora durante o século XIX. Para desenvolver tal análise, dividi esta parte em dois capítulos. Neles foram utilizados o jornal O Pharol, testamentos, cartas de alforria, ações de liberdade e processos contra a liberdade individual.

30Dentre os diversos estudos que fazem este apontamento, cito: ALGRANTI, Leila Mezan. O feitor ausente –

Estudo sobre a escravidão urbana no Rio de Janeiro. Petrópolis: Ed. Vozes, 1998. SOARES, Luis Carlos. “O

povo de cam” na capital do Brasil: a escravidão urbana do Rio de Janeiro do século XIX. Rio de Janeiro:

Nesse sentido, no quarto capítulo irei analisar quais estratégias foram utilizadas pelos escravos urbanos juiz-foranos para alcançar a liberdade. Além deste aspecto, irei desenvolver uma comparação entre os modos de alforria presentes em Juiz de Fora com outros centros urbanos do Brasil e das Américas durante o século XIX. Tomarei como fonte para o desenvolvimento dessa pesquisa as cartas de alforria, testamentos e o jornal O Pharol31.

No último capítulo, será analisado como alguns escravos urbanos, livres e libertos procuraram a justiça para buscar a liberdade ou provar sua condição de livre na cidade de Juiz de Fora durante o século XIX. Para desenvolver este estudo, utilizei as ações civis de liberdade e os processos relacionados a crimes contra a liberdade individual32.

Nesse sentido, no quinto capítulo buscarei demonstrar como era tênue o mundo dos livres de cor na sociedade escravista oitocentista. Além disso, analisarei a trajetória de alguns escravos, livres e libertos que por intermédio da justiça conseguiram comprovar ou adquirir sua liberdade. Junto a este estudo, discuto o conceito de precarização da liberdade dentro da sociedade escravista do século XIX.

Como se pode observar, o presente trabalho busca compreender a dinâmica, ou seja, as diversas “faces” da escravidão urbana no Brasil oitocentista. Tomando como pano de fundo a cidade mineira de Juiz de Fora, este trabalho busca apresentar que é possível o estudo da escravidão urbana nas cidades e vilas mineiras do século XIX e existem fontes para o desenvolvimento de tal investigação. Além disso, esta pesquisa busca trazer uma contribuição para a compreensão das particularidades das “sociedades escravistas” no Brasil e nas Américas.

31AHJF. Fundo: Fórum Benjamin Collucci. Ações civis. Série: Ações de Liberdade. AHJF. Fundo: Fórum

Benjamin Colucci. Processos Civis. Séries: Inventários (Os testamentos utilizados estão inseridos nos inventários). AHJF. Fundo: Fórum Benjamim Colucci. Processos Criminais. Série 10: Ação Contra a Liberdade individual. AHJF. Livros Primeiro e Segundo Ofício de Notas. AHUFJF. Jornal O Pharol. AHUFJF. Fundo: Benjamin Colucci. Séries: Inventários (Os testamentos utilizados estão inseridos dentro dos inventários).

32AHJF. Fundo: Fórum Benjamin Colluci. Processos Criminais. Série 10: Processos relativos a crime contra a

[...] a rua Direita é a reta onde cabem todas as ruas de Juiz de Fora. Entre o Largo do Riachuelo e o Alto dos Passos [...]. É assim que podemos dividir Juiz de Fora não apenas nas duas direções da rua Direita, mas ainda nos dois mundos da rua Direita. Sua separação é dada pela rua Halfeld. (NAVA, 1978, p. 13-14)

2 PRIMEIRA PARTE: CIDADE, OS ESCRAVOS, SEUS SENHORES E OS

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