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ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEPÇÕES DE BOTÂNICA

CAPÍTULO 2: BOTÂNICA: ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEPÇÕES

2.3 ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEPÇÕES DE BOTÂNICA

A Botânica, enquanto estudo das plantas e área da Biologia, ao longo de sua história concebeu teorias, gerou pensadores e sustentou formas de pensamento. Em especial a sistemática, que trata da identificação dos vegetais assumiu modelos e perspectivas, com isso, difundiu concepções de Ciência, de Ensino, e de Currículo. Nesta perspectiva, em que a Botânica através de seu percurso histórico fez opções, tomou caminhos e constituiu uma trajetória que influenciou e influencia diretamente a pesquisa-ciência e o ensino, penso ser importante compreender a hierarquia biológica desde as vertentes à contemporaneidade da taxonomia das plantas, tecendo uma leitura dos nomes que fizeram parte desta história.

A taxionomia, a morfofisioligia, o uso e a distribuição das plantas são os focos do estudo botânico.

O ensino da Botânica tem raízes recentes dentro desta Ciência, constitui-se como pesquisa, no Brasil, em 1982, com a criação da uma Sessão de Ensino dentro da Sociedade Botânica do Brasil – SBB, mas o pensamento biológico e o conhecimento botânico que o sustentam estão presentes na humanidade desde seus primórdios.

Acredito que o início da relação homem-planta pode ser datado de 720.000 a. C., a partir da análise de inscrições em cavernas Sírias, Arcádias e Egípcias. Daí em diante, o surgimento do fogo, o cozimento dos alimentos, a construção de utensílios e a agricultura foram algumas das realizações da humanidade, utilizando as plantas. Enquanto o Homo sapiens sapiens descobria o mundo das plantas, acontecia

também o registro escrito destes saberes, garantindo, assim, que a cultura preservasse esta história.

Com o desenvolvimento da Ciência Moderna, o conhecimento botânico passou a ser privilégio da Medicina e da Farmácia (plantas para cura de doenças) e da Agronomia (cultivo econômico das plantas), somente mais tarde é que a Biologia recebeu o reconhecimento da Botânica enquanto saber específico.

A relação homem-planta na sociedade moderna passa pela concepção de que a humanidade modifica o mundo a sua volta para a sobrevivência, esquecendo com isso, que a garantia da vida no Planeta depende da Luz Solar e das Plantas (produção de alimento). A sociedade moderna industrializa, ocupa e extermina florestas inteiras com o discurso enganoso da sobrevivência. O Homo sapiens sapiens muda o ritmo biológico do Planeta e coloca a Vida de todos os seres vivos em perigo, ou seja, em ameaça de extinção.

A pós-modernidade/discurso pós-moderno faz com que nasça uma outra concepção/paradigma para relação homem-planta, o entendimento da Condição Humana (que depende de todos os outros seres vivos e do ecossistema Terra para sobrevivência) e da Consciência Cosmológica (pensamento complexo que expressa a necessidade de entendermos o todo do Universo como parte de nossas vidas) numa época chamada Era Planetária (de nos apegarmos as questões biológicas para entender os processos vitais do mundo).

Essas alterações no pensamento humano modificam também a Ciência e, por sua vez, o ensino nela fundamentado. É verdade, porém, que nem toda sociedade reconhece estes estudos ou essa concepção de mundo, mas todos têm experimentado nas suas peles as condições climáticas, por exemplo, fruto dos erros humanos que agridem o ambiente Terra. Então, se não for acordo da sociedade repensar a situação de vida na Terra, que sirva de alerta ao mundo o pensamento aqui exposto e as pesquisas nesta direção.

Dentro desse contexto social e histórico de produção de pesquisa, convive a Escola, e o currículo escolar.

O currículo que aprende e ensina Botânica não é diferente do todo da Escola, ele sofre as alterações impostas pelo discurso reconhecido como válido pela sociedade. A história da Botânica, do pensamento biológico e da constituição curricular do seu ensino traçou uma determinada trajetória que, hoje, nos permite pensar novas dimensões acerca do ensinar e do aprender.

O currículo que ensinava as plantas, das páginas escuras do livro, dá lugar ao texto, à discussão e à experiência prática com as plantas. Os passeios à mata e o uso do laboratório ganham novos significados dentro da prática pedagógica. Os discursos ambientalistas desbotam e reforça-se o tom da ação e intervenção nos ambientes e ecossistemas frágeis. A luta pela não-extinção cede espaço ao estudo e pesquisa genômica para preservar as espécies. O currículo escolar aposta na linguagem viva, no discurso da ação e modifica a escola, na pretensa intenção de melhorar a qualidade de vida de todos os seres vivos.

Mas a Escola não se descuida do texto, da biblioteca, da pesquisa e do fazer pedagógico que resgata a diferença, que respeita as crenças, as culturas, os gêneros e a produção de conceitos científicos através da interlocução dos saberes na mediação da aprendizagem.

A taxonomia é o princípio que deu origem à Botânica e sustentou sua expansão por toda a modernidade, conforme mostra a história. No sentido de entender desde as vertentes da Botânica até a concepção contemporânea do estudo das plantas pela humanidade, investi parte deste trabalho no estudo histórico da Botânica.

As crescentes discussões sobre como melhorar os Sistemas de Classificação e tornar a Botânica Sistemática acessível aos cientistas e à população em geral faz com que se inicie, em meados do século XX, uma preocupação dessa Ciência em se fazer entender. Com isso, aponta-se uma discussão nova e emergente na academia e na sociedade: o “paradigma das plantas”. Esse paradigma não é a saída e, sim, o constructo histórico que surgiu da análise das diferentes e fracassadas formas de relação homem-planta já enunciadas, neste texto. Assim, entender esta história é

parte indispensável para o estudo e compreensão do currículo de Botânica que reflete esta trajetória.

Os paradigmas constituem-se ao longo do tempo revelando as formas de pensamento humano acerca de um tema. Na relação homem-planta, constituiu-se a história da Botânica, apresentada no quadro 3, a partir de Miranda (1944) e Carvalho (2000).

Quadro 3: A Botânica e seus pensadores

Fase / Época Botânicos/Autores Pensamento

Botânica Erudita (Antiguidade) Hipócrates, Galeno, Teofrasto, Dioscórides, Plínio e Aristóteles, Averrohoes.

Filosofia base de seu pensamento, constituindo-os fundadores dessa Ciência. Botânica Clássica (Idade Média) Clusius, Brunfels, Anguillara, Cesalpino, Lobelius, Gesner, Bhuin, Rajus, Yung, Tourneford, Lineu, Jussieu, Condolle.

As grandes navegações conferiam- lhes o título de botânicos após a publicação das listas de plantas dos países visitados. Cesalpino e Lineu, criadores de sistemas de classificação das plantas, deram a botânica à ordem clássica das chaves de identificação utilizando como método agrupamentos baseados na estrutura da flor na maioria das vezes. Botânica Moderna

(Idade

Moderna/Contemporânea- Séc. XIX e XX)

Eichler, Engler, Joly, Weberling, Judd, Schwantes, entre outros.

Adeptos dos estudos da filogenia, da genética, do parentesco entre os grupamentos.

Botânica

Contemporânea

( Séc. XX e XXI)

Mayr, Morin, Pelt, entre outros.

Coloca em xeque a relação do homem com as plantas, visa comprometer a educação, a humanidade e o ambiente pela discussão sobre os caminhos do planeta.

Fonte: Güllich; Pansera de Araújo, 2003 – Mestrado em Educação nas Ciências – UNIJUÍ.

O quadro 3 revela como o pensamento botânico perpassou os diferentes momentos da história, traçando um perfil específico, a cada tempo. As concepções

de ciência implicam diretamente nas formas de ensino e no currículo que as norteia, uma vez que a Ciência é produzida na Universidade onde é formado o licenciado da área.

Aristóteles, Teofrasto, Dioscórides e Plínio foram, segundo Miranda (1944, p.25), os fundadores da botânica erudita.

Desde a Idade Média até o século XVIII, os filósofos gregos e romanos da antiguidade, que se ocuparam das questões naturalistas, foram considerados os Pais da Botânica, alguns deles, como Hipócrates, Galeno, Dioscórides e Plínio, dedicaram-se mais à descrição e nomenclatura das plantas de seus países. “Como a botânica sempre andou ligada à medicina, não se esqueciam estes descritores de dar o maior relevo às virtudes que cada espécie vegetal possuía para a cura dos males humanos” , Miranda (1944, p. 25).

O maior de todos estes naturalistas foi Aristóteles. Nenhum ramo das ciências pode deixar de o citar, tão vasta e variada era a sua erudição. (...) Quando nas Universidades medievais, surgia qualquer dúvida sobre qualquer ponto da filosofia ou da ciência, ia-se consultar a obra de Aristóteles. (...) Foi na história natural que Aristóteles mais se aproximou dos conhecimentos modernos. Fez a classificação das ciências e estabeleceu a hierarquia dos seres (MIRANDA, 1944, p. 26).

Conforme Miranda (1944), nos fragmentos do livro “Teoria das plantas” de Aristóteles, encontra-se a distinção entre plantas anuais e vivazes como esboço de classificação. Na obra de Teofrasto, podemos distinguir as árvores de arbustos, de sub-arbustos e de ervas, conforme o porte, e também, plantas aquáticas de terrestres, e ainda, as de folhas persistentes das de folhas caducas. E, Dioscórides fez sua obra descrevendo aquelas de uso médico para reorientar a ciência na época, considerando apenas as de interesse curativo, sem se preocupar com aquelas vulgares. Não fez seqüência alfabética tampouco teceu planos de classificação.

Como poderia uma verdadeira teoria unificada da sistemática desenvolver-se efetivamente, enquanto perdurasse o fato de que o termo “afinidade” era usado tanto para mera semelhança como para o parentesco genético, enquanto o termo “variedade” era empregado para populações geograficamente circunscritas e para variantes intrapopulacionais (indivíduos) (...) (MAYR, 1998, p.173).

As palavras utilizadas pelos botânicos tinham significados muito diferentes e eram usadas para variados aspectos ou formas dos vegetais. Por exemplo, lótus poderia ser uma árvore ou um arbusto, ou simplesmente uma triste erva, chegando até à nomenclatura de Lineu para dar nome à palma (Lótus corniculata L.).

Plínio era considerado um discípulo continuador de Aristóteles. Em sua obra “História natural”, descreveu, em 37 livros, a ciência, dedicando 10 às plantas, comprendendo títulos do tipo as flores, a medicina e as ervas, plantas que se semeiam, árvores silvestres, plantas de bom aroma, entre outros (Miranda, 1944). Permanecendo um grande problema para os botânicos da época, confundiam–se as plantas com mesmo nome e de locais distintos com mesmo uso, faltando a compilação destes trabalhos.

Na Idade Média, o interesse pela história natural declinou, mas o gosto pelo estudo das plantas despertou quando os árabes, apoderando-se do Egito, salvaram boa parte dos escritos que se perderam dos gregos e romanos em Alexandria, quando incendiada. Mais tarde, quando os árabes invadiram a Península hispânica mostraram à população da Europa que possuíam estes escritos sobre as plantas, permanecendo, estes, assim entre a humanidade.

Averrohoes, árabe nascido na Espanha, traduziu e comentou as obras de Aristóteles e ministrou seus ensinamentos nas Universidades medievais. Miranda (1944) cita que a descrição de plantas milagrosas e o sentido de busca da humanidade logo progrediu novamente. Na Idade Média, a família Pólo, de Marco Pólo, fez viagens famosas e descreveu uma forma de localizar estas plantas de especiarias e cura, o que fez, em parte, despertar, na Itália, na Espanha e em Portugal, o desejo de buscar estas plantas em seus navios.

As grandes expedições de portugueses e espanhóis revelaram a flora da América e do Oriente, Hernandez e Garcia da Orta foram os principais naturalistas dessas novas descobertas. Estes, ao lado de Cristóvão Colombo, apesar de serem pouco versados em história natural, tinham o espírito observador e relatavam seus conhecimentos distribuindo plantas trazidas como especiarias, temperos e

condimentos, tais como a pimenta, a canela, a noz-noscada, o que paulatinamente conferia status a botânica. O México, por anos, utilizou, como moeda, a semente do cacaueiro, árvore que cresce nas bacias do Amazonas.

Na América, Francisco Hernandez foi o naturalista que mais nos roubou e revelou ao mundo essas riquezas. “Tão importante foi a colheita das plantas medicinais do Novo Mundo, que em sua honra se criaram, na Europa, os primeiros Jardins Botânicos da Itália, Holanda e França” (MIRANDA, 1944, p.47).

As plantas que foram levadas da América Latina, como o milho, a batata, o tomate, o pastel, o pau-brasil, a goiaba, o maracujá, a manga, o abacate, a papaia, entre outras tantas, propiciaram a outros povos o aproveitamento de suas propriedades e agregação de valor econômico.

No século XVI, na Europa, os naturalistas resolveram dedicar-se a observação e experimentação, como botânicos de campo, descrevendo várias espécies. Entre eles podem ser citados: Clusius - Carlos de L’Ecluse - descreveu da Espanha e de Portugal, cerca de 200 novas espécies que estão no seu livro de História das Plantas Raras; Brunfels - Othon Brunfels - estudou a flora indígena dos arredores de Estrasburgo e do Vale do Reno e escreveu a História das Plantas Indígenas, descrevendo todas aquelas que pessoalmente conheceu e as desenhou naturalmente, revolucionando os hábitos científicos da época. Na obra de Clusius, parece haver um cuidado com a taxonomia; primeiro trata de plantas arbóreas e por segundo, de plantas bulbosas e rizomatosas. “Na nomenclatura começaram os descritores a usar, para designar as plantas, as descrições curtas e precisas, com o menor número de palavras” (MIRANDA, 1944, p. 56).

Foi Anguillara, no século XVI, quem iniciou essa forma, aproveitando os nomes vulgares das plantas, conservados desde o latim pela tradição popular, embora modificados pela evolução natural das línguas. Muitas centenas de plantas já eram descritas por duas palavras, tal como Lineu haveria de propor mais tarde.

André Cesalpino, tido como o mais notável fisiologista da época, estudou a flor entre outras partes da planta, e distinguiu algumas delas, nomeando-as.

Quanto a flor, Cesalpino distingue nela uma parte principal e uma parte acessória que protege a primeira como simples invólucro. Designa os carpelos por estamina e os estames por flocci. Stamina e flocci constituem a parte principal. O invólucro protetor é o calyx, formado por folículos, uns verdes, outros corados. Às vezes, o calyx falta inteiramente (MIRANDA, 1944, p. 57).

Foi ainda Cesalpino quem fez um primeiro ensaio de sistematização verdadeira, havia um número considerável de plantas descritas que, somadas às americanas, trazidas à Europa, aumentavam a todo o momento. Ele dividiu inicialmente, como os clássicos já faziam, em agrupamentos de árvores e ervas, e, depois, dentro dessas, procurou grupos mais limitados. Ele utilizava, como critério para as árvores, as sementes e os embriões destas, agrupando-as em duas classes: na 1ª, o embrião está orientado para o vértice da semente e, na 2ª, o embrião está mais próximo à haste. Quanto às ervas, dividiu-as em 15 classes, sendo a 1ª as de sementes aparentes, a 2ª as de sementes não aparentes e, aquelas, cujos frutos tinham apenas uma semente, estavam na 3ª classe. Da 4ª à 14ª classes, distinguiam-se pelo número e disposição das sementes, pelo aspecto fibroso ou bulboso da raiz e pela disposição das flores. E, por fim, na 15ª classe estavam as

ervas sem frutos e sem flores.

Lobelius – Matias Lobel fez a primeira tentativa de agrupamentos por famílias e percebeu que o sistema de Cesalpino, logo que pronto, não conseguia dar conta de todas as plantas já registradas. Um dos nomes propostos encontra-se até hoje em uso com adaptações pequenas – graminia- gramíneas, irides – irifiáceas e labiatae- labiatas.

Conrad Gesner, outro botânico da época, propôs o gênero, após observar que plantas que tinham a mesma forma de flor e de frutos, tinham, em regra, outros órgãos em comum. Ele, então, deu sentido à correlação de características que mais tarde propiciaram base para os métodos naturais de classificação (MIRANDA, 1944).

Os taxonomistas do século XVII adotaram o gênero como agrupamento fundamental e, em conseqüência, a botânica torna-se acessível e popular. Neste período o microscópio é descrito cientificamente por Antonie van Leeuwenhoek (1632-1723), e isto permite analisar a anatomia vegetal com maior clareza. Jean Bauhin era suíço e descreveu neste século mais de 5000 espécies de plantas, sem falar em classificação própria, dispõe seus livros em 40 volumes, separando os grupamentos de vegetais com afinidades, os quais, hoje, têm o nome de famílias. Gaspar Bauhin, irmão de Jean, foi um herborizador que procurava primeiramente catalogar as plantas de uma região delimitada. Sua Flora dos arredores de Bale serve de exemplo até hoje, para organizar a de outros estados e países. Cada espécie é designada por um nome genérico – o seu nome vulgar em latim - seguido de um ou dois atributos que a caracterizam, sem perigo de confusão. Aperfeiçoou os nomes genéricos de tal forma que foram utilizados por Tournefort e por Lineu, e o conceito de gênero galgou posições com isso.

John Ray – Rajus era inglês e dedicou-se, como amador, à organização da Flora dos arredores de Cambridge e, mais tarde, a das Ilhas Britânicas, Holanda, França, Alemanha, Suíça, Itália, Sicília e Malta. “A botânica deve-lhe um sistema de classificação que é geralmente considerado como o inspirador de Tournefort” (MIRANDA, 1944, p.62). Ray dividiu as plantas em ervas e árvores, como outros já o fizeram anteriormente; essas eram “divididas em classes, conforme o seu aspecto geral e as características do fruto e da flor, principalmente da corola” (p. 63). No seu sistema, aquelas designadas por fungos (os cogumelos) eram ervas imperfeitas. Umbelíferas e Papilionáceas eram designações quanto à disposição ou forma das flores, Pomíferas, Bacíferas, Seliquosas relacionadas com os frutos. Árvores de sementes nuas, sem fruto, eram as Gimnosmonospérmicas, e aquelas a que nenhuma classe fazia alusão eram chamadas anômalas. Seu sistema era falível, confessado por ele próprio, porque se baseava exclusivamente no estudo da flor.

Neste período, o estudo da morfologia dos órgãos da planta foi consagrado pelo alemão Joaquim Yung em termos adaptados por Lineu. O seu maior feito foi designar, ao contrário de Cesalpino, por stamina os estames, e por stylos os estiletes, coroados pelos estigmas. Fez, ainda, desaparecer a confusão entre fruto e semente, pois a última, na sua concepção, era envolvida por um invólucro externo.

Já no final do século XVII, revelou-se, na França, um dos maiores botânicos modernos, José Pitton de Tourneford, que sintetizou suas observações e de seus antecessores, selecionou doutrinas expostas, anteriormente, esclarecendo-as. Descreveu, após inúmeras viagens, um sistema de classificação das plantas pela flor. Morreu cedo e publicou o “Método de Conhecer as Plantas”, com mais de 1356 catalogadas, muitas delas desconhecidas na época.

Veja o sistema esboçado na Figura 2: Figura 2: Chave do Sistema de Tournefort

Na figura 2, entre outras coisas, encontram-se algumas famílias, até hoje conhecidas, como por exemplo, as Umbelíferas, Liliáceas, Crucíferas e Rosáseas. Outro fator importante é que os nomes de famílias ou gêneros (nomes vulgares, genéricos) de plantas surgiram na cultura popular e permaneceram até hoje, graças à tradição das populações que as utilizavam como alimento ou medicamento. Isto foi incorporado pela ciência e conferiu à Botânica um “status” de ciência acessível e popular.

Sempre o povo chamou roseira a qualquer roseira, e pinheiro a qualquer espécie de pinheiro. De forma que o inventor do gênero não foi realmente nem Gesner, nem Buhin, nem Tournefort, nem Lineu, mas sim o povo, o camponês, o agricultor e o jardineiro. A ciência [adaptou] a sabedoria e bom senso do povo, e de aí resultou para ela um extraordinário benefício: inúmeras pessoas até aí alheias à botânica passaram a interessar-se pelas plantas, encarando-as sob um ponto de vista científico e aperfeiçoando os conhecimentos de ordem prática, e muitas vezes incertos, que possuíam (MIRANDA, 1944, p. 69).

Essa citação aponta para um princípio fundante da ciência biológica: a organização do mundo vivo a partir da sistemática, permitindo sua consolidação enquanto ciência e saber científico, que permitisse evolução.

Karl Van Linné – Lineu era sueco, nasceu em Roeshult, na Smolândia distinguiu-se dos demais naturalistas e botânicos por ter criado a nomenclatura binária para identificar as espécies, além de descrever e nomear inúmeras plantas por todo o globo. Além de criar o seu sistema de determinação, publicou obras como Sistema Naturae (1735), em que se pode conhecer o chamado “Sistema Sexual de Lineu”, que, mesmo incompleto, serviu para a época como a maior obra de taxonomia existente, e, em Genera Plantarum (1737) e Species Plantarum (1735), estabeleceu formas, nomes, classes e ordens sempre levando em consideração o sexo e o número de estames. Veja, nas figuras 3 e 4, o Sistema de Lineu.

Figura 3: Chave do Sistema Sexual de Lineu

Figura 4: Diagrama do Sistema Sexual de Lineu

Os sistemas de Tournefort e Lineu (figuras 2 e 3), assim como os demais ensaios anteriores, pareciam artificiais “agrupavam as plantas segundo critérios