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AS CONCEPÇÕES DE ENSINO PRESENTES NA SBB

CAPÍTULO 3: A SOCIEDADE BOTÂNICA DO BRASIL COMO ESPAÇO DE

3.1 AS CONCEPÇÕES DE ENSINO PRESENTES NA SBB

Nesses trabalhos, percebeu-se que a Botânica se inscreve em diferentes contextos, e, que a trajetória da SBB influenciou os caminhos do seu ensino desde a sua criação (1950) até os dias de hoje. Da mesma forma, a análise dos resumos mostrou que esse ensino tem sofrido modificações nas concepções que o perpassam, evoluindo desde uma abordagem mecanicista, passando pela adoção de um caminho interdisciplinar, até os ensaios numa perspectiva histórico-cultural (quadro 6). No entanto, pode-se afirmar que não há uma proposta pedagógica única embasando de forma clara os processos de ensino-aprendizagem para a botânica sistemática. Os relatos dos resumos referem-se a escolas de educação básica e de ensino superior. A proposta pedagógica, referida neste parágrafo, é uma teoria que sustente as formas de ensino descritas e/ou as pesquisas que foram analisadas, pois, ao mesmo tempo que mostram correlação com uma concepção de ensino, não se afirmam como resultantes do estudo e aplicação desta concepção. As escolas nas quais se inserem as pesquisas analisadas, por certo, têm uma proposta em particular, mas estas não ficam claras nos resumos analisados.

Quadro 6 – Concepções de Ensino presentes na SBB e Temáticas apresentadas nos trabalhos de 1982 até 2001

Ano Temática Concepção de

ensino * Nº

1982 Base Curricular para competência Interdisciplinar 02

1995 Políticas de ensino Metodologias de Ensino Interdisciplinar Mecanicista 01 02

1996 - Diagnóstico do ensino superior de botânica

- Metodologias de Ensino Interdisciplinar Mecanicista 01 01 1997 - Metodologias de Ensino

- O ensino e paradigma mecanicista

Mecanicista Histórico-cultural

01 01

1998 - Técnicas e Instrumentos de ensino Mecanicista 06

1999 - Abordagem em Projeto

- Técnicas e Instrumentos de ensino - O componente vegetal na aprendizagem

Interdisciplinar Mecanicista Histórico-cultural 01 02 01 2000 - Metodologias de Ensino - O significado e a aprendizagem - Técnicas e Instrumentos de ensino

Mecanicista Histórico-cultural Mecanicista 05 01 05

- Diagnóstico do Ensino Interdisciplinar 01 2001 - Técnicas e Instrumentos de ensino

- Metodologias de Ensino - Ensino de botânica e currículo

Mecanicista Mecanicista Histórico-cultural 08 04 01

Fonte: Güllich; Pansera-de-Araújo, 2002 – Pesquisa nos Anais dos CNB – Mestrado em Educação nas Ciências – UNIJUÍ. * N°: Número de trabalhos categorizados na temática

A partir das temáticas analisadas, no quadro 6, dos 44 trabalhos, observa-se que a concepção Mecanicista está presente em 77,27% deles, a concepção Interdisciplinar em 13,63%, enquanto que a Histórico-cultural apenas mostra sua face em 9,09% dos trabalhos.

No Brasil, a Botânica tem uma constituição como saber do povo (popular) anterior ao seu desenvolvimento científico, passando, inicialmente, pela criação de Jardins Botânicos e Herbários, e depois, ao lado da Química nas Escolas de Agronomia. A formação botânica restringia-se, inicialmente, as áreas agronômica, farmacêutica e médica. Somente mais tarde, a Biologia constituiu-se como uma ciência, em que a botânica se inscreve. Isso permitiu que o seu ensino fosse também impregnado dessas formas de fazer ciência, uma abordagem mecanicista passou a imperar por muitos anos nessa disciplina, cujas conseqüências estão presentes até hoje.

Marques (1993) descreve que a forma mecanicista de pensar tornou o ensino tradicional, clássico e regrado em demasia. Como se evidencia no ensino de Botânica, em que um único instrumento de aprendizagem, a chave analítica de famílias, é usado em todas as escolas desde o ensino fundamental até o superior.

O modo mecanicista de ensinar foi estudado na própria sessão de ensino, no ano de 1997, a partir do trabalho intitulado “O ensino de botânica e o viés do paradigma mecanicista”, que enfoca um ensino preso à classificação/descrição com técnicas únicas de identificação de vegetais. Assim, podemos verificar que essa forma, baseada na racionalidade técnica, vem sendo utilizada e ao mesmo tempo questionada nas próprias publicações da área.

As concepções de ensino na disciplina de Botânica, além de absorver diferentes influências da ciência vigente, assumiram, na sua trajetória, uma postura de adotar o discurso pedagógico vigente, como por exemplo, a interdisciplinaridade (RIBEIRO, 1999) que está presente de forma marcante nesses trabalhos da SBB.

No trabalho “Programa de Ensino do projeto flora fanerogâmica do estado de São Paulo. Uma experiência na cidade de São Carlos” (CNB, 1999), podemos vislumbrar, com muita facilidade, o viés da interdisciplinaridade. Este documento descreve a prática de um grupo de professores que introduz conceitos botânicos, faz visitações, atividades musicais, trabalhando com a consciência ambiental e ação antrópica no meio, e ainda, resgata valores étnicos, envolvendo todas as disciplinas e docentes da escola.

Encontramos uma outra linha de pensamento, ainda que tênue, a abordagem histórico-cultural, em que o ensino passa de simples técnicas, metodologias ou didáticas de ensinar e começa a pensar como a botânica pode partir do real cotidiano de cada escola para construir o conhecimento científico. Essa concepção está baseada na teoria de Vigotski, alicerçada na constituição do sujeito e dos saberes através da relação com o outro (outros sujeitos), mediatizados pela linguagem (VIGOSTKI, 2001, 1991).

Para notarmos como essa teoria passa a embasar algumas práticas pedagógicas, o trabalho “Os significados das atividades de campo no aprendizado de botânica: Uma experiência em Santos” (CNB, 2000), consegue através de uma prática calcada na análise de concepções da práxis e teoria do educador, descrever como os educandos desenvolvem o pensamento, apresentando concepções reais e críticas, frente ao ensino atual.

As concepções trazidas não são as únicas possíveis, mas sim as que foram analisadas e estão presentes, ainda hoje, nas publicações, cujas bases teóricas seguem um movimento próprio que perpassa a formação dos sujeitos autores desses textos. Por isso, no quadro 6, pode-se notar perfeitamente esse movimento.

O ensino da Botânica, nos resumos analisados, inscreve-se em diferentes contextos, caracterizando-se mais acentuadamente numa perspectiva positivista e disciplinar, sem acolher as múltiplas vozes que o constituem. Por outro lado, tornou- se significativo no que se refere à identificação das plantas, mostrando que, mesmo numa perspectiva disciplinar, ocorreu ensino e aprendizagem.

3.2 O CURRÍCULO QUE ENSINA E APRENDE BOTÂNICA NO BRASIL A PARTIR