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O CURRÍCULO E O ENSINO DE BIOLOGIA

CAPÍTULO 3: A SOCIEDADE BOTÂNICA DO BRASIL COMO ESPAÇO DE

3.2 O CURRÍCULO QUE ENSINA E APRENDE BOTÂNICA NO BRASIL A PARTIR

3.2.2 O CURRÍCULO E O ENSINO DE BIOLOGIA

A questão do currículo de Botânica é apontada, dentro dos estudos da Biologia e de Ciências, por Krasilchick (1987), Carvalho & Gil-Pérez (2000), Soncini (1992), como indispensável de ser repensada e compreendida na sua representação social e funcional, enquanto conhecimento científico que perpassa a escola. No PCN de Ciências Naturais, “utilizar características e propriedades de materiais, objetos, seres vivos para elaborar classificações” (v. 4, p.64), manifesta claramente a presença e a importância da taxonomia desde o primeiro ciclo, pois a nomeação, ou seja, a identificação dos seres vivos é que permite conhecê-los. Discutir o currículo formador de professores de Biologia e Ciências, no que tange à Botânica tem seu aporte no entendimento de que a formação inicial é determinadora dos sujeitos- professores, constituindo-se um campo urgente de investigação.

Nesse sentido, segundo Gil-Pérez & Carvalho (2000), temos de adquirir conhecimentos que fundamentem as propostas construtivas, tais como:

A- reconhecer a existência de concepções espontâneas(e sua origem) difíceis de ser substituídas por conhecimentos científicos, senão mediante uma mudança conceitual e metodológica.

B- saber que os alunos aprendem significativamente construindo conhecimentos, o que exige aproximar a aprendizagem das Ciências às características do trabalho científico.

C- saber que os conhecimentos são respostas a questões, o que implica propor aprendizagem a partir de situações problemáticas de interesse para os alunos.

D- conhecer o caráter social da construção de conhecimentos científicos e saber organizar aprendizagem de forma conseqüente.

E- conhecer a importância que possuem, na aprendizagem das Ciências - isto é, na construção dos conceitos científicos -, o ambiente da sala de aula e o

das escolas, as expectativas do professor, seu compromisso pessoal com o progresso dos alunos, etc (GIL-PÉREZ & CARVALHO, 2000. p.32).

As propostas de Gil-Pérez & Carvalho mostram claramente uma preocupação com os fatores sociais, aproximando-se de uma base teórica interacionista, que trabalha na perspectiva da produção de conceitos a partir do conhecimento prévio- cotidiano do educando.

Evidenciando a necessidade de uma readequação do ensino de Ciências, o trabalho de KRASILCHIK (1994) indica como um problema: a “ - memorização; - falta de vínculo com a realidade”, e, como fatores que o influenciam negativamente, “a preparação deficiente dos professores e os guias e livros inadequados e de má qualidade”, e como condições para a sua melhoria, os “programas de aperfeiçoamento para professores”, deixando claro que existem problemas que nos remetem a sua formação inicial.

Pode-se assegurar, com isso, que o currículo formador deve ser, no mínimo, repensado, de forma a se encontrar consoante com a realidade de hoje e dando conta dos problemas já mencionados ou notando sua presença.

Soncini (1992) trata da formação inicial de professores de Ciências Biológicas, e, vislumbra cinco aspectos importantes para que essa área participe do núcleo comum de disciplinas no Ensino Médio, constatando, assim que:

- cada área do conhecimento possui um código intrínseco, uma lógica interna. Por isso, cada uma delas atua de forma específica na construção e no desenvolvimento do pensamento;

- o ensino de biologia, como as demais áreas do conhecimento, possibilita a contraposição entre o místico e o científico nas explicações dos fenômenos naturais (...), sendo uma de suas características a possibilidade de ser questionada e de se transformar;

- compreender o mundo e tentar superar problemas constituem características da espécie humana. A curiosidade e a necessidade são dois grandes móveis, que nos fazem caminhar em busca do conhecimento. A biologia faz parte do conhecimento e os fenômenos são objeto de interesse dos indivíduos desde que iniciam a sua exploração do mundo. Cabe à escola assegurar que esse interesse subsista.

- ser importante compreender que a vida se manifesta de formas diversas (reinos: vírus, monera, protista, fungos, vegetais e animais), relacionadas entre si e com o meio; que todas essas formas estão sujeitas a transformações que ocorrem no tempo e no espaço; que tais transformações são fruto das interações entre organismo e ambiente, podendo ou não ser causa de novas formas de interação;

- questões polêmicas como as que dizem respeito ao impacto ambiental – uso de inseticidas na agricultura, erradicação de moléstias, utilização de aditivos alimentares, desmatamento, biotecnologia e tantas outras – só podem ser julgadas e devidamente encaminhadas se tivermos conhecimento sobre a dinâmica dos ecossistemas, dos organismos, enfim sobre o modo como a natureza se comporta e como a vida se processa. (SONCINI, 1992. p. 21)

Soncini (1992) demonstra intensa preocupação com os códigos próprios de cada componente do ensino e com a sua valorização como conhecimento científico e enquanto conceitos constituintes do conteúdo escolar. A autora ainda considera a articulação dos conteúdos, “de tal forma que os alunos compreendam que o fenômeno vida se caracteriza por um conjunto de processos organizados e integrados, quer ao nível de indivíduo, quer ao nível de organismos no ambiente” (SONCINI, 1992. p. 23) e “que o conhecimento vem sendo construído historicamente” (p. 24), pois a ciência é dinâmica e evolutiva, em conseqüência das investigações constantes.

O ensino de Biologia tem preocupações que vão para além do aprender as interações com o ambiente natural, deve atentar para que o ambiente social e o natural sejam considerados de forma integrada e interdependente. Portanto, aprender e ensinar Ciências, Biologia e, por sua vez, Botânica pressupõe a aquisição constitutiva de um corpus teórico que tem exigências, segundo GIL- PÉREZ & CARVALHO (2000, p. 37), para além de “recursos ou estilos de ensino”, como em qualquer outro domínio científico.

Lopes (2002) chama atenção para a concepção positivista da Biologia como sendo parte do currículo de Ciências e discute como os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM – Brasil, 1999) adotam a categoria interdisciplinar para apontar a necessidade de uma integração curricular. E, reintera, ainda, a discussão acerca da padronização e constituição curricular nacional única que preocupa em todos os níveis de ensino.

Essas dimensões teóricas da área específica leva-nos a crer que o ensino da Biologia, em especial da Botânica, merecem uma atenção especial que permita repensar o que, como e porque ensinamos, sem nos descuidar de para quem e com quem ensinamos e aprendemos.

3.2.3 AS CATEGORIAS DE CURRÍCULO E O ENSINO DE BOTÂNICA NO