• Nenhum resultado encontrado

ENSINAR E APRENDER BOTÂNICA: OS SEUS LIMITES E AS SUAS

CAPÍTULO 4: O LIMIAR ENTRE AS PROPOSTAS QUE ENSINAM E APRENDEM

4.1 ENSINAR E APRENDER BOTÂNICA: OS SEUS LIMITES E AS SUAS

Para cada trabalho analisado, registro os limites e as razões de sua superação, apontando as possibilidades de leitura de que todos os relatos contribuem para se esboçar o ensinar e aprender Botânica no Brasil.

A educação brasileira, em especial o ensino de Ciências, tem produzido significados, ao longo de sua história, e suas práticas pedagógicas têm possibilitado a discussão e produção de conhecimento. Conhecendo a história de nossas práticas de ensino, podemos perceber o fazer pedagógico, a didática e podemos entender o processo de ensinar e aprender. Portanto, estudar e analisar as práticas que ora apresento servem para elucidar os problemas didáticos e metodológicos, respaldando as nossas práticas futuras que nos levam a criar novas formas de superar a lógica mecanicista dos conteúdos.

No quadro 12, apresento uma análise que possibilita a compreensão desse capítulo.

O quadro 12 revela uma dialética em que a interpretação é deveras complicada, se não pelo número de discrepâncias no todo, então pelas diferenças entre limites e possibilidades de um mesmo trabalho.

Assim, o trabalho “Oficinas de botânica – Uma proposta para o ensino fundamental.” sugere uma inconformidade entre a análise que faz sobre serem insuficientes as aulas teóricas de memorização, e a proposta de oficinas com modelos e técnicas de ensino para exercitar e demonstrar o conhecimento.

Desde 1982, já ocorrem preocupações com o currículo formador do Biólogo, expressas por: “Competências Básicas em Botânica I: Contribuição ao conhecimento dos elementos generativos de vegetais superiores.”. Os autores já desconfiam da arbitrariedade do currículo vigente, atribuindo a sociedade esse fato, mas o trabalho não consegue sair da visão mecanicista imposta pelo sistema e discute um currículo para o biólogo e o licenciado baseado apenas em três competências técnicas.

Em 1995, as “Contribuições para uma nova política no ensino de Botânica.” apontam deficiências no sistema de ensino superior que forma licenciados em Biologia, e descreve a falta de discussões-pesquisas sobre a temática.

O trabalho “Passeando e aprendendo no jardim botânico do Rio de Janeiro – estudos vegetativos.”, de 1996, é o primeiro na Sessão a preocupar-se com outros elementos da estrutura dos vegetais, que não a flor, para facilitar o estudo da taxonomia vegetal de forma significativa, mas deixa de analisar as relações entre professor e aluno nesse processo.

O ano de 1997 foi permeado pelas preocupações com “O ensino de botânica e o viés do paradigma mecanicista.”, em que fica novamente claro quão grande é a influencia, na formação do profissional da Biologia, do tecnicismo. O trabalho consegue, ainda, criticar o ensino tradicional, respaldando, assim, as discussões apresentadas nessa dissertação.

Em “A contribuição da Universidade no Aprendizado de botânica por alunos do 1° grau, através da criação de grupos de trabalho interinstitucionais.”, de 1998, torna-se nítida a participação da Universidade nos processos escolares da aprendizagem, mas deixa de lado a discussão de como trabalhar uma proposta de ensino, que não seja apenas construir herbários com grupos de professores.

Em 1999 e em 2000, a preocupação em mostrar o tipo de teoria que sustenta a discussão no ensino de Botânica parece ser, na maioria das vezes, o construtivismo.

No relato de “Coleta montagem e organização de coleções botânicas e suas aplicações no ensino fundamental e médio.”, observa-se a contrariedade à memorização, chamada de sintoma, acompanhada da busca de um ensino a partir da realidade; no entanto, somente são produzidas coleções botânicas para a sala de aula.

O “Aprimoramento do ensino da botânica e ecologia através da produção de material didático para professores do ensino médio e fundamental.” (2001), mostra a produção de material por alunos da graduação que são emprestados aos professores de escolas de Ensino Fundamental e Médio. Nota- se a dissonância entre a teoria (produção do material) e prática (professor – aluno – sala de aula) como forma de propor melhoria na qualidade do ensino.

Já em “O componente vegetal na 6ª série do 1° grau: Ensino – aprendizagem.” (2000), se revela um discurso reflexivo, que compreende a significação dos conceitos em botânica, como objetivo primeiro do trabalho. O trabalho descreve ainda o currículo vigente em sua prática de maneira a fazer um exercício de reflexão sobre seu ensino-aprendizagem.

A SBB instituiu formas de ensino e, além disso, sustentou e produziu teoria, história e memória. Analisando o uadro 12, podemos perceber inúmeras limitações e possibilidades. E para facilitar o seu entendimento e sistematizar as informações contidas nele, apresentamos o quadro13 que resume as preocupações surgidas da

análise do conteúdo e tem por função mostrar as relações entre as perspectivas de ensino, as temáticas dos trabalhos e características.

Quadro 13 - Sistematização das concepções de ensino resultantes da análise dos limites e possibilidades apresentados na Sessão de Ensino da SBB

Concepção/ Perspectiva de

ensino

Temática * Nº Características do ensino

Mecanicista Metodologias de Ensino Técnicas e Instrumentos de ensino 13 21

O ensino visto essencialmente como a produção de práticas e instrumentos metodológicos de

ensino, preocupa-se

incessantemente com a didática.

Interdisciplinar

Base Curricular para competência Políticas de ensino Diagnóstico do ensino de botânica Abordagem em Projeto 02 01 02 01

Questiona o currículo posto, mas estrutura um currículo baseado em competências que revelam um perfil único para todos os biólogos e professores. Discute o ensino de botânica e elabora diagnósticos situacionais. Propõe propostas interdisciplinares para o ensino tendo como referência a botânica. Histórico- cultural O ensino e paradigma mecanicista O componente vegetal na aprendizagem O significado e a aprendizagem Ensino de botânica e currículo

01 01 01 01

Apresenta ensaios da abordagem histórico-cultural por valorizar o saber do aluno e trabalhar na perspectiva do diálogo. Trabalha com o componente botânica em todo o processo de aprendizagem, rompe com a fragmentação estanque e prioriza a aprendizagem significativa.

Fonte: Güllich; Pansera-de-Araújo, 2003. Pesquisa nos Anais dos CNB – Mestrado em Educação nas Ciências – UNIJUÍ. Legenda: *N: Número de trabalhos por temáticas.

O quadro 13 evidencia a concepção mecanicista de ensino predominante na SBB nos últimos anos e aponta as características gerais de cada tipo, vislumbradas a partir da perspectiva de ensino e das temáticas gerais.

No campo da didática, das estratégias de ensino, tenho o prazer de apresentar a Sessão de Ensino de Botânica da Sociedade Botânica do Brasil como uma instituição que produziu e produz muitas e diferentes maneiras de ensinar.

Quadro 14 - Metodologias de Ensino produzidas no âmbito da SBB de 1982 até 2001

Tipificação da Metodologia

empregada Descrição da forma utilizada Observações

Jardim Didático Trabalho desenvolvido em escolas, para plantar espécies arbóreas e herbáceas para estudo. Passeios nos Jardins Atividade com grupos de

alunos afim de conhecer Jardins Botânicos de Universidades para identificação de espécies vegetais.

Aula Prática a campo Aulas de visitação a florestas e parques locais a fim de apresentar aos estudantes sua flora local/regional.

O contato direto dos alunos com as plantas serve para aproximar o homem da natureza.

Aula Prática em Laboratório Estudo de materiais botânicos do tipo caule, folhas e flores e de coleções botânicas; uso de microscópio, para observar estruturas, como tecido, pelos, estômatos.

Visita ao Herbário Visitação a Herbários institucionais, a fim de mostrar aos estudantes as formas de organização e armazenamento de espécies no Herbário. Montagem de Herbário

Escolar Esta elaborada para que as atividade fora escolas pudessem montar Herbários que facilitassem o ensino de espécies sem sair da escola.

Oficinas de aprendizagem Estudo, montagem e aplicação de atividades pedagógicas elaboradas por professores, em conjunto.

Na maior parte técnicas de coleta de material botânico e montagem de herbário.

Material Botânico e aula

prática em sala de aula Coleta botânico a campo e estudo de material na sala de aula, tais como: folhas, caules, raízes. Organização de Jardim

Botânico na Escola Planejamento, cuidados e identificação de plantio, vegetais na escola.

Quando os próprios alunos plantam as espécies eles,

conseguem perceber porque preservar o ambiente natural.

Cartilhas – Histórias de planta

e gente. Livretos produzidos sobre as relações entre plantas e pessoas, usos na alimentação, medicina entre outros temas

Curso prático de Sistemática Curso para professores sobre a identificação de vegetais, para possibilitar as atividades com alunos. Roteiros de Atividades Elaboração de roteiros de

aulas práticas e técnicas de estudo e pesquisa em botânica.

Dramatização ou teatro O teatro foi utilizado para facilitar a compreensão do ciclo reprodutivo dos vegetais.

Aulas com o contato interpessoal facilitam o convívio do grupo, melhorando o ambiente da aprendizagem.

Avaliação comentada Este tipo de avaliação foi utilizado a fim de discutir os acertos e erros dos alunos em grupo, como forma de revisar os objetivos não atingidos.

Vídeo Elaboração de um vídeo

educativo, contendo informações sobre reprodução e tipos de plantas.

Audiovisual – Slides Fotos de plantas

devidamente identificadas, para facilitar o reconhecimento pelos estudantes.

Internet Montagem de site

interativo, para divulgação de assuntos pertinentes a Botânica, a partir de um projeto de escola-sítio, que ensina botânica na prática e na interatividade.

A escola deve conseguir compreender o recurso tecnológico como ponte na mediação do aprender e não apenas como uma nova aprendizagem.

Produção de Material didático Produção de jogo didático, roteiros de aula e de material para uso no laboratório da escola.

Fonte: Güllich; Pansera-de-Araújo, 2003 – Pesquisa nos Anais dos CNB – Mestrado em Educação nas Ciências – UNIJUÍ.

Conforme o quadro 14, a Sessão de Ensino dos CNBs produziu diferentes formas de ensinar que se refletem na formação inicial e continuada dos professores, e fazem crer que as iniciativas de propor um ensino para além do tecnicismo puro de chaves analíticas, como únicas formas de se aprender, estão presentes dentro da própria SBB, talvez como vozes que, na época, não tinham sido ouvidas, mas hoje despontam.

A formação do professor abrange, pois, duas dimensões: a formação

teórico-científica, incluindo a formação acadêmica específica nas

disciplinas em que o docente vai especializar-se e a formação pedagógica, que envolve os conhecimentos da Filosofia, Sociologia, História da Educação e da própria Pedagogia que contribuem para o esclarecimento do fenômeno educativo no contexto histórico-social; a formação técnico-

prática visando a preparação profissional específica para a docência,

incluindo a Didática, as metodologias específicas das matérias, a Psicologia da Educação, a pesquisa educacional e outras (LIBÂNEO, 1996, P.27).

Por entender que a metodologia do ensino ou a didática é crucial, apresentei neste relato tais maneiras de ensinar-aprender, mostrando que é possível romper com aquelas mais tradicionais. Não desacredito que estes trabalhos refletem muito pouco a dimensão do aprender e do ensinar, ou mesmo das relações entre professor – aluno, mas penso ter aqui mostrado indícios de que as mesmas publicações, que fazem um ensino ainda muito tradicional, estão cansadas de serem “dadoras” de aula e clamam por mudanças.

Assim sendo, procurei registrar outras maneiras para superar o ensino mecanicista, como maneira de reconhecer outros trabalhos relevantes sobre temas recorrentes do ensino de Botânica Sistemática.

4.2 OUTRAS FORMAS DE ENSINAR E APRENDER BOTÂNICA (DECORRENTES