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UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS TEORIAS DO CURRÍCULO

CAPÍTULO 3: A SOCIEDADE BOTÂNICA DO BRASIL COMO ESPAÇO DE

3.2 O CURRÍCULO QUE ENSINA E APRENDE BOTÂNICA NO BRASIL A PARTIR

3.2.1 UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS TEORIAS DO CURRÍCULO

Assim, para entrar no nosso tema, uma teoria do currículo começaria por supor que existe, “lá fora”, esperando para ser descoberta, descrita e explicada, uma coisa chamada “currículo”. O currículo seria um objeto que precederia a teoria, a qual só entraria em cena para descobrí-lo, descrevê-lo, explicá-lo (SILVA, 2001, p.11).

As teorias do currículo não podem ser utilizadas para explicitação de uma análise, sem que possamos compreender a dimensão histórica e social sob a qual se constrói um currículo. No decorrer deste estudo acerca, das concepções de currículo, acredito poder estar compreendendo como ele está posto, se faz e se articula enquanto documento e identidade da “escola”.

A questão central que serve de pano de fundo para qualquer teoria do currículo é a de saber qual conhecimento deve ser ensinado. De uma forma mais sintética a questão central é: o quê? Para responder a essa questão, as diferentes teorias podem recorrer a discussões sobre a natureza humana, sobre a natureza da aprendizagem ou sobre a natureza do conhecimento, da cultura e da sociedade. As diferentes teorias se diferenciam, inclusive, pela diferente ênfase que dão a esses elementos. Ao final, entretanto, elas têm que voltar à questão básica: o que eles ou elas devem saber? Qual conhecimento ou saber é considerado importante ou válido ou essencial para merecer ser considerado parte do currículo? (SILVA, 2001, p.14).

Tomaz Tadeu da Silva (2001) estudou e apresentou as teorias do currículo à escola, suas bases, seus fundamentos e sua dimensão histórica. Por isso, recorri a ele para fazer esta análise da dimensão curricular que perpassa a SBB. Em seus relatos, cita três correntes teóricas de currículo: as tradicionais, as críticas e as pós- críticas, escritas do ponto de vista de sua articulação. O autor menciona, ainda,

como a sociedade reflete no currículo o tipo de homem a formar e, com que modelo se molda este esteriótipo ditado pelo social.

É precisamente a questão do poder que vai separar as concepções tradicionais das concepções críticas e pós-críticas do currículo. As concepções tradicionais pretendem ser apenas isso: “teorias” neutras, científicas, desinteressadas. As concepções críticas e as concepções pós- críticas, em contraste, argumentam que nenhuma concepção é neutra, científica ou desinteressada, mas que está, inevitavelmente, implicada em relações de poder (p.16).

Nas teorias tradicionais, o conhecimento dominante concentra a questão do quê ensinar e como, preocupadas com um modelo administrativo, advindo do processo industrial, tornando o ensino clássico e tradicional. A inspiração para esse modelo curricular é Taylor e sua administração científica, segundo Silva (2001). A preocupação central dessa teoria é a organização.

As teorias críticas e pós-críticas, por sua vez, não se limitam em perguntar “o quê?”, mas submetem este “que” a um constante questionamento. Sua questão central seria, pois, não tanto “o quê?”, mas “por quê?”. Por que esse conhecimento e não outro? Quais interesses fazem com que esse conhecimento e não outro esteja no currículo? Por que privilegiar um determinado tipo de identidade ou subjetividade e não outro? As teorias críticas e pós-críticas de currículo estão preocupadas com as conexões entre saber, identidade e poder (SILVA, 2001, p.16).

As teorias pós-tradicionais vão além de o que ensinar e questionam-se sobre a política, as crenças, o gênero, o saber ser, enfim, passam de simples reprodutoras de um modelo para desconfiadoras da verdade posta.

A grande marca diferencial das teorias críticas de currículo é a crítica ao currículo reprodutivista e tradicional, e, é assim que peca, por vezes, em fazer a crítica pela crítica, ou seja, analisa o currículo dominante, contrapõe-se a ele e torna a apenas criticá-lo, não concebe nem propõe como suas implicações podem ser reestruturadas em novo currículo.

A tendência curricular crítica no Brasil é descrita, por Moreira (1995), como sendo baseada na pedagogia crítico-social dos conteúdos, rebatendo a escolanovista que deixou para trás os conteúdos, resgatando a sua valorização.

Então, entende-se que as teorias críticas de currículo possuem uma proposta clara e séria em contraposição às já postas.

Como as categorias de política e ideologia são predominantes nestas teorias, o significado e a produção real de conceitos foram aprimorando discussões e entendimentos sobre o ensino e a crítica à linguagem da própria crítica e da possibilidade. A teoria crítica, segundo Moreira (2001), concordando com McLaren (1997) e Sacristán (2000), usa de suas categorias para analisar, também, a ação humana na produção e reprodução de significados, estuda as suas massificações e se contrapõe a elas.

Como vimos, uma teoria define-se pelos conceitos que utiliza para conceber a “realidade”. Os conceitos de uma teoria dirigem nossa atenção para certas coisas que sem eles não “veríamos”. Os conceitos de uma teoria organizam e estruturam nossa forma de ver a “realidade” (SILVA, 2001, p. 18).

No que tange às teorias pós-criticas do currículo, a discussão centra-se nos conceitos de identidade, subjetividade, significado, cultura e gênero, entre outros, de forma a explicitar que, para se estudar um currículo, temos de compreender de fato que os sujeitos constituintes é que permitem conhecê-lo, pois este é feito de documento de identidade forjados por gente que faz e muda a história, no seu tempo.

O quadro 7 elenca as categorias de currículo apresentadas por Silva (2001) e que fundamentaram as análises realizadas.

Quadro 7- Categorias conceituais de currículo, segundo Silva (2001)

Teorias Tradicionais Teorias Críticas Teorias Pós-Críticas

Ensino Ideologia Identidade, alteridade,

diferença Aprendizagem Reprodução cultural e

social

Subjetividade

Avaliação Poder Significação e discurso

Metodologia Classe social Saber-poder

Organização Relações sociais de produção

Cultura

Planejamento Conscientização Gênero, raça, etnia, sexualidade Eficiência Emancipação e libertação Multiculturalismo Objetivos Currículo oculto

Resistência Fonte: Adaptado de Silva (2001).