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CAPÍTULO IV – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3. Tema III – Tolerância na Conjugalidade

3.2. Aspectos Inaceitáveis

Pretende-se verificar os aspectos que, no âmbito da conjugalidade, os participantes entendem como inaceitáveis na relação conjugal.

a) Aspectos Inaceitáveis ao Homem

A questão agora em análise diz respeito àqueles aspectos que, numa relação conjugal não podem ou não devem ser desculpados a um homem. Foi colocada a seguinte questão aos sujeitos entrevistados: ―Acha que existem aspectos ou acontecimento (coisas), que podem afectar o casamento e que não podem ser aceites/desculpadas a um homem casado?‖ Assim sendo, e de acordo com a análise efectuada às entrevistas efectuadas, foi possível construir seis categorias: Mentiras;

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Infidelidade; Álcool; Despreocupação com o Lar/Família; Desrespeito; Dependente do contexto e da personalidade - tudo (Quadro 18).

Quadro 18

Aspectos Inaceitáveis ao Homem na Relação Conjugal: Categorias, Frequências e Percentagens

CATEGORIAS ADULTOS IDOSOS TOTAL

N % N % N %

1.Mentiras 4 26.7 - - 4 11.1

2.Infidelidade 7 46.7 10 47.6 17 47.2

3.Álcool - - 1 4.8 1 2.8

4.Despreocupação com Lar/ Família - - 1 4.8 1 2.8

5.Desrespeito - - 1 4.8 1 2.8

6.Dependente do contexto e da personalidade: tudo

4 26.7 8 38.1 12 33.3

TOTAL 15 100 21 100 36 100

Através da observação do quadro acima apresentado é possível constatar que as concepções mais referidas, considerando o total da amostra, não são as mais referidas em cada um dos grupos.

Considerando o total da amostra a categoria com mais verbalizações diz respeito à Infidelidade, como sendo o aspecto que afectando o casamento não deverá ser desculpado ao homem (N= 17; 47.2%). São os sujeitos mais velhos que enunciam mais vezes tal aspecto (N=10; 47.6%), considerando a infidelidade como algo tão grave ao ponto de não poder ser desculpado numa relação conjugal. Os adultos também referem tal aspecto em primeiro lugar, embora com uma frequência relativamente mais baixa (N=7; 46.7%).

―Para mim a infidelidade, eu não desculpo uma situação dessas.‖ (suj. 8)

―Portanto, se ele se portasse mal, tivesse relações com outras mulheres, isso já não (…).‖ (suj. 20)

Em segundo lugar, e continuando a ter em conta a totalidade da amostra, os sujeitos referem relativamente aos aspectos que, afectando o casamento, não podem ser desculpados ao homem, que tal situação vai depender do contexto e da personalidade dos elementos do casal, pois de acordo com isso tudo pode ser

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desculpado (N=12; 33.3%). Neste âmbito os sujeitos idosos referem mais vezes tal aspecto (n=8; 38.1%), quando comprados com os adultos (N=4; 26.7%).

―Tudo é perdoado, eu acho que sim. Tudo depende do contexto.‖ (suj. 6)

―Olhe isso depende de muita coisa, depende muito das pessoas com quem as coisas se passam, depende claro se as pessoas são capazes de perdoar certas coisas.‖ (suj. 18)

Em terceiro lugar, considerando o total da amostra, verifica-se que as mentiras são também entendidas como aspectos possíveis de não serem desculpados num casamento (N=4; 11.1%). No entanto apenas os sujeitos adultos referem tal aspecto (N=4; 26.7%), sendo os idosos relativamente a tal ponto omissos.

―Mentiras, que haja mentiras num casamento, para mim não.‖ (suj. 1)

Não foram identificadas quaisquer sub-categorias.

Em síntese, pode dizer-se que de acordo com os resultados analisados, aquilo que os sujeitos entrevistados mais entendem como aspectos a não desculpar ao homem num casamento é a infidelidade. Este aspecto surge como o mais mencionado quer por adultos, quer pelos idosos, apesar destes últimos referenciarem um pouco mais tal aspecto. Por outro lado, uma parte significativa dos sujeitos considera também que novamente, à semelhança das respostas dadas a questões anteriores, o facto de se desculpar ou não determinadas situações, vai depender do contexto em que determinada situação ocorrer e da personalidade das pessoas envolvidas. Relativamente a estes dois pontos, apesar de se verificarem mais verbalizações de sujeitos idosos, não parecem existir diferenças relevantes entre gerações. No entanto, é possível verificar outras diferenças entre grupos, na medida em que para os sujeitos adultos a mentira emerge como um aspecto digno de não ser desculpado ao homem no casamento. Os idosos são omissos relativamente a este aspecto, a mentira não foi referida pelos sujeitos mais velhos como um aspecto condenável, ao contrário do que aconteceu com os mais novos. Esta foi a principal diferença verificada entre gerações no que concerne á questão em análise.

O grupo dos participantes idosos referiu de forma residual como inaceitável o consumo de álcool, a despreocupação com a família e o desrespeito, estando tais aspectos ausentes no grupo dos adultos.

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b) Aspectos Inaceitáveis à Mulher

Com esta questão pretende-se aceder às conceptualizações dos homens acerca do que não pode ser desculpado à mulher no âmbito de uma relação conjugal. Foi colocada a seguinte questão aos sujeitos entrevistados: “Acha que existem aspectos ou acontecimentos (coisas), que podem afectar o casamento e que não podem ser aceites/desculpadas a uma mulher casada?‖ De acordo com a análise efectuada às entrevistas efectuadas, foi possível identificar cinco categorias: Mentiras; Infidelidade; Frequentar Eventos Sozinha; Desrespeito; Dependente do Contexto e da Personalidade- tudo.

Quadro 19

Aspectos Inaceitáveis à Mulher na Relação Conjugal: Categorias, Frequências e Percentagens

CATEGORIAS ADULTOS IDOSOS TOTAL

N % N % N %

1.Mentiras 4 25 - - 4 12.9

2.Infidelidade 5 31.3 7 46.7 12 38.7

3.Frequentar Eventos Sozinha - - 1 6.7 1 3.2

4.Desrespeito - - 1 6.7 1 3.2

5.Dependente do contexto e da personalidade: tudo

7 43.8 6 40 13 41.9

TOTAL 16 100 15 100 31 100

Através da observação do Quadro 19, podemos também concluir que as ideias mais verbalizadas no total da amostra, não são as mais verbalizadas em cada grupo de participantes. Tal aspecto será analisado adequadamente mais adiante, de modo a podermos conhecer e compreender de um modo mais detalhado as diferenças e/ou comunalidades entre as gerações em análise.

Se tivermos em conta o total da amostra, é possível verificar que a categoria alvo de um maior número de verbalizações refere-se à ideia de que Dependendo do Contexto e da Personalidade das pessoas envolvidas, tudo pode ser desculpado a uma mulher casada (N= 13; 41.9%). No que respeita a este entendimento da questão, não se verificam diferenças relevantes entre gerações (Adultos: N=7;43.8% e Idosos: N= 6; 40%). Importa no entanto referir que, se tivermos em conta os resultados obtidos

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pelo grupo dos idosos, a categoria mais verbalizada por este grupo refere-se à Infidelidade (N=7; 46.7%).

―Tudo é perdoado (…) depende da situação (…) do contexto que afecte.‖ (suj. 6)

― Claro que depois se desculpam ou não, isso já tem a ver com a ideia e o pensar de cada pessoa em particular.‖ (suj. 23)

Continuando a efectuar uma análise relativa à totalidade da amostra, em segundo lugar, a Infidelidade surge como o aspecto que os sujeitos entendem como indesculpável a uma mulher casada (N= 12; 38.7%). Tal ideia, é um pouco mais verbalizada pelos sujeitos idosos, tal como se verificou à pouco (N=7; 46.7%), embora os adultos refiram tal aspecto (N=5; 31.3%).

―(…) há coisas que acho que nunca se deve desculpar, que é a infidelidade. Isto quer seja homem, ou mulher.‖ (suj. 8)

―(…) uma das coisas mais principais de não haver desculpa, a infidelidade.‖ (suj. 20)

Os sujeitos adultos entendem ainda, em terceiro lugar, um outro aspecto como indesculpável num casamento. Para o grupo dos adultos, a mentira surge como o terceiro aspecto que não deve ser desculpado à mulher no âmbito de uma relação conjugal (N= 4; 25%). O grupo dos idosos é omisso em relação a tal aspecto.

―É o mesmo que o homem, mentiras.‖ (suj. 1)

Assim sendo, no que respeita a diferenças entre gerações, existem alguns aspectos dignos de referência. Já que, os adultos identificaram a mentira como algo inaceitável o que não foi referido no grupo dos idosos. Porque embora de forma muito residual o grupo dos idosos refere como inaceitável o desrespeito e o sair sozinha para eventos como algo inaceitável.

Não foram identificadas quaisquer sub-categorias.

Fazendo uma análise final, e de um modo mais sucinto pode dizer-se que, levando em conta os resultados obtidos, adultos e idosos defendem essencialmente dois aspectos no que concerne ao que não pode ser desculpado num casamento, á mulher. Verifica-se então que no geral, ambos os grupos consideram que dependendo do contexto em que determinada situação ocorre e da personalidade das pessoas envolvidas, tudo pode vir a ser desculpado. Fica então a ideia de que para uma boa parte dos sujeitos, tudo se pode desculpar se efectivamente o contexto favorecer tal desculpa e a personalidade dos elementos do casal propiciar tal acontecimento. No entanto, esta situação é relativamente mais referida pelos adultos. Verifica-se que a Infidelidade é o aspecto concreto que mais sujeitos encaram como não sendo possível

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de desculpar à mulher, numa relação conjugal. Neste âmbito os sujeitos idosos verbalizam mais tal ideia quando comparados com os adultos. Para finalizar é possível também verificar que para alguns adultos a mentira num casamento é uma situação não desculpável à mulher, sendo que nenhum dos idosos faz qualquer referência a este aspecto.

Fazendo uma comparação com aquilo que os sujeitos entendem não poder ser desculpado ao homem, no âmbito de uma relação conjugal, não se verificam diferenças nessas concepções. Os resultados parecem sugerir que, de um modo geral, entendem de forma semelhante o que pode ou não ser desculpado num casamento, independentemente de se tratar de homens ou mulheres.

c) Aspectos Inaceitáveis durante o Conflito Conjugal

Também no seguimento da questão anteriormente apresentada, esta surge com o objectivo de compreender que tipo de comportamentos e verbalizações são conceptualizados como inaceitáveis durante o decorrer do conflito conjugal. Foi colocada a seguinte questão: ―A maioria dos casais tem, às vezes discussões ou conflitos. O que é que para si é inaceitável nessas alturas ser dito ou que comportamentos às vezes se podem tomar, mas que considere inaceitáveis?‖. A análise da questão permitiu identificar três categorias que traduzem a ideia de que durante o conflito conjugal é inaceitável: a Agressão Verbal, o uso da Violência Física e Gritar/ Elevar o tom da voz. Tais aspectos estão representados no Quadro 20.

Quadro 20

Aspectos Inaceitáveis, durante o Conflito Conjugal: Categorias, Frequências e Percentagens

CATEGORIAS ADULTOS IDOSOS TOTAL

N % N % N %

1.Agressão Verbal 6 37.5 8 42.1 14 40

2.Violência Física 9 56.3 11 57.9 20 57.1

3.Gritar/ Elevar o tom da voz 1 6.3 - - 1 2.9

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É também possível verificar através da análise do respectivo quadro, que as ideias mais verbalizadas tendo em conta o total da amostra, são também aquelas mais enunciadas em cada grupo.

Considerando o total da amostra, é possível verificar que a categoria mais verbalizada relaciona-se com a concepção de que, durante o conflito conjugal, os sujeitos entrevistados consideram inaceitável o uso de Violência Física (N= 20; 57.1%). Fazendo uma comparação entre gerações, apesar de tal aspecto ser mais referido pelos idosos, as diferenças não são relevantes (Adultos: N=9; 56.3% e Idosos: N= 11; 57.9%). Verifica-se então que o recurso à violência física é algo inaceitável aquando do surgimento de algum tipo de conflito entre o casal.

―Bater para mim está fora de … uma coisa inaceitável.‖ (suj. 6) ― (…) passar dos limites não, como haver porrada.‖ (suj. 21)

Seguidamente, em segundo lugar, considerando também o total da amostra, verificamos que a agressão verbal é também um aspecto considerado inaceitável (N= 14; 40%). Apesar dos idosos referirem mais vezes tal aspecto (N= 8; 42.1%), os adultos fazem igualmente referência ao facto da agressão verbal ser algo inaceitável no decurso do conflito entre o casal (N= 6; 37.5%). Assim sendo, não se verificam diferenças relevantes entre gerações no que concerne a esta categoria.

―Acho que o casal deve discutir sem ofender um ao outro. (…) Acho que a baixeza pior é ofender a outra pessoa.‖ (suj. 1)

―Eu não… eu chamar-lhe nomes, de ofensas, ofende-la de coisas que ela não merece, isso nunca faço.‖ (suj. 16)

Deste modo, podemos indicar que em termos das categorias identificadas, não se verificaram diferenças entre gerações.

Não foram identificadas sub-categorias associadas à questão em análise. De um modo geral, de acordo com a análise dos dados recolhidos, podemos indicar que para os sujeitos entrevistados, a violência física é entendida como o aspecto mais inaceitável durante o conflito conjugal. Neste âmbito não se verificaram diferenças relevantes entre gerações, sendo que mais de metade dos indivíduos, verbalizaram a ideia de que o recurso à violência física não é considerado um comportamento aceitável. Também neste sentido, estes mesmos sujeitos consideram a agressão verbal como algo que também não deve ser aceitável quando se verificam conflitos entre o casal. Quer os sujeitos adultos, quer os idosos partilham esta ideia de que ofensas e outros tipos de agressão verbal não devem fazer parte do quotidiano da

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vida do casal. Essencialmente, para adultos e idosos, existe a concepção de que a violência física e a agressão verbal são comportamentos inaceitáveis.

No entanto, se recuarmos para os dados da questão anterior, verifica-se que para alguns sujeitos a agressão verbal era considerada como algo que, no decurso do conflito entre o casal, era entendido como aceitável. No entanto, uma observação atenta dos dados associados a estas questões, revela que um número maior de sujeitos considera a agressão verbal um acto inaceitável (Aceitável: N= 6; 19.4% e Inaceitável: N= 14; 40%).