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Homens e Mulheres: O que os diferencia?

CAPÍTULO II – DIFERENTES, ESPECIFICIDADES E VIOLÊNCIA CONJUGAL

1. Homens e Mulheres: O que os diferencia?

Iremos então aprofundar um pouco mais este assunto, de modo a compreender o que os estudos efectuados na área nos indicam e poder então decifrar alguns

aspectos.

De acordo com Terman e Miles (1936, cit. Poeshl, Múrias & Costa, 2004), a mulher surge como um ser rico em emoções, caracterizando-se pela timidez, docilidade, ciúme, preocupada com as relações e as tarefas domésticas. O homem surge como alguém mais direccionado para a mecânica, finanças e actividades exteriores. A investigação conduzida por estes autores vem mais uma vez acentuar diferenças entre sexos. Diferenças deste cariz foram também encontradas por Lorenzi- Cioldi (1994), foi identificado que as diferentes características entre homens e mulheres, conduz a personalidades também distintas. O homem parece focalizar-se mais no atingir de metas e objectivos, inibindo as suas emoções e agindo de acordo com os seus interesses pessoais, estabelecendo relações úteis no atingir dos seus objectivos. Por sua vez, a mulher surge como geralmente sensível, compreensiva,

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flexível e preocupada com necessidades da família, mostrando as suas emoções e valorizando competências pessoais (Lorenzi-Cioldi, 1994).

Alguns autores (e.g., Poeshl, Múrias & Costa, 2004) indicam-nos que os dados que nos chegam, acerca da violência conjugal poderão inclusivamente não nos dar uma visão realista e estatisticamente próxima da realidade devidos a vários factores. Segundo alguns estudos elaborados sobre o assunto, as mulheres por exemplo, tendem a subestimar o nível de violência psicológica e física de que são alvo, inclusivamente, em algumas culturas as mulheres são educadas para aceitar o castigo físico e psicológico por parte dos maridos, limitando assim o conjunto de comportamentos que identificam como abusivos (Olavarrieta & Soteio, 1996, cit. Poeshl, Múrias & Costa, 2004). Para além disso, muitas vítimas ainda sentem alguma vergonha e relutância em incriminar membros da família, por medo de retaliação em vários casos (Heise, 1993, cit. Poeshl, Múrias & Costa, 2004).

De acordo com Bem (1981, cit. Conradi, Geffner, Hamberger & Lawson, 2009), os sujeitos que se identificam com os papéis de género feminino apresentam uma maior predisposição para o apoio aos outros, preocupação com o bem-estar e com a harmonia dos outros, sendo também esses aspectos manifestos com maior expressividade. Os indivíduos que se identificam mais com o papel de género masculino têm uma maior orientação instrumental e cognitiva, no sentido de iniciar trabalhos ou resolver problemas. Assim sendo, investigadores com Huselid e Cooper (1994) sugerem uma interacção entre os papéis de género e a violência. Os tradicionais papéis de género associados ao homem normalizam essa mesma violência. A partir deste pressuposto poderá concluir-se que os homens que aderem a estes tradicionais papéis de género masculinos, apresentam uma maior probabilidade de se tornarem agressores nas suas relações de intimidade.

Conradi, Geffner, Hamberger e Lawson Campbell (2009) citam uma investigação de Mackenzie e Robinson (1987), na qual se verificou que as mulheres identificadas com o papel de género masculino em termos de agressividade, assertividade e de dominância estariam mais propensas a cometer actos violentos. Apesar deste estudo não se debruçar concretamente sobre a violência conjugal, parecem existir evidências retiradas desta mesma investigação de que haverá uma relação positiva entre este fenómeno e a identificação de género.

Contudo, mais uma vez, importa referir as importantes mudanças a que assistimos relativamente aos papéis de género, nos últimos 25-30 anos, associadas às novas oportunidades de trabalho surgidas para a mulher. No entanto, tal como nos

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indica um estudo elaborado por Cejka e Eagly (1999), as diferenças advindas da maior emancipação feminina, sobretudo em termos de ocupação laboral, foram sentidas mais significativamente, ou seja, no mundo do trabalho profissional, pois no que respeita ao trabalho doméstico, este continuou sobretudo a fazer parte do universo das tarefas predominantemente femininas.

Existem algumas diferenças de género envolvidas na forma como a violência é exercida sobre o outro. Num estudo realizado por Feshbach (1989, cit. Archer & Lloyd, 2002), a violência exercida pelos elementos do sexo feminino trata-se de uma violência mais indirecta e subtil. O estudo supracitado, indica que as crianças do sexo feminino, em termos de violência, recorriam preferencialmente ao espalhar de falsos boatos e ostracizando os outros, ao contrário dos meninos.

No âmbito da violência nas relações de intimidade (Swan & Snow, 2002), distinguem três tipos diferentes de agressoras pertencentes ao sexo feminino: as mulheres como vítimas, as mulheres como agressoras e a violência bidireccional. As mulheres agressoras classificadas como vítimas reportam-se às que recorrem à violência contra o cônjuge em legítima defesa ou como resposta a um acto violento do mesmo. As mulheres ditas agressoras referem-se às que assumem um papel dominante na relação cometendo inclusivamente actos de violência contra o cônjuge. A denominada violência bidireccional prende-se com uma relação na qual ambos os parceiros apresentem comportamentos violentos, um para com o outro.

Ainda relativamente à agressão praticada pelo sexo feminino, um estudo efectuado por Moffitt e Caspi (1999, cit. Conradi, Geffner, Hamberger & Lawson, 2009), verifica que os factores de risco mais proeminentes relacionam-se com uma dura disciplina familiar e um histórico de outros comportamentos agressivos (sendo o aspecto mais fortemente relacionado, o recurso à violência física e/ou delinquência antes dos 15 anos de idade). Para além destes factores, o abuso de substâncias pode também ter um papel importante no recurso à violência numa relação íntima (Sullivan, Cavanaugh, Ufner, Swan & Snow, 2009).

Para além disso, é possível que essas mulheres no passado tenham adoptado, mesmo durante a infância estratégias para lidar com o conflito, que poderiam passar pelo envolvimento em lutas para se protegerem a si mesmas ou a outros. Na idade adulta é também possível que essas mulheres continuem a fazer uso desses mecanismos de coping recorrendo à violência física como método de comunicação com os outros, nomeadamente com os companheiros, quando não se sentem

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escutadas ou não sentem que as suas necessidades como satisfeitas (Conradi, Geffner, Hamberger & Lawson, 2009).

Embora o género no que concerne ao papel associado seja geralmente reconhecido como um facto de risco, como se tem podido constatar até aqui, existem vários factores para além deste e de outros já mencionados, que afectam o risco de vitimização por violência doméstica (Mann & Grimes, 2001; Rennison & Planty, 2003; West, 2004, cit. Ventura, Lambert, White & Skinner, 2007). Estudos sugerem que mulheres economicamente mais desfavorecidas apresentam um maior risco de serem vítimas de violência doméstica (Tolman & Rosen, 2001). Também Rennison e Welchans (2000). Mulheres que vivem com menores rendimentos anuais sofrem mais abusos relacionados com a violência doméstica do que aquelas que apresentam rendimentos mais elevados. As dificuldades económicas, afectando necessidades como as da habitação e alimentação, apresentam-se assim como factores de risco no que respeita ao fenómenos da violência conjugal (Romero, Chavkin, Wise & Smith, 2003).

As teorias que legitimam as diferenças existentes entre géneros diferentes, confirmam também que as famílias mais eficientes e coesas são aquelas em que homens e mulheres desempenham papéis diferentes (Brown,1988), no sentido de complementaridade.

Também diferenças cognitivas foram relatadas no que respeita a diferenças entre homens e mulheres. Deaux (1990, cit. Poeschl, Múrias & Costa, 2004), concluiu, que os homens apresentavam competências numéricas e espaciais superiores às mulheres e que seriam também mais agressivos.

Como acontece na discussão de outras problemáticas estudadas, também os estudos que visam encontrar possíveis diferenças entre homens e mulheres, são alvo de várias críticas. Os resultados de vários estudos efectuados na área são considerados por parte de vários autores feministas, como mais uma forma de acentuar a superioridade masculina. Nesse sentido criticam os métodos utilizados aquando da realização das investigações ou a tendência para exagerar ou minimizar os resultados obtidos (Eagly, 1995). Eagly (1995), considera ainda que as diferenças entre sexos muitas vezes apresentadas, são mínimas, pouco consistentes ou dependentes do contexto.

De referir ainda que, no âmbito desta temática, existem autores que consideram as possíveis diferenças entre homens e mulheres como fruto de

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componentes genéticos, e outros que consideram essas diferenças como parte de influências culturais (Henley, 1977, cit. Poeschl, Múrias & Costa, 2004).

Pode pensar-se inicialmente, que as ideias e crenças de séculos passados relativamente ao papel da mulher e do homem, nos nossos dias estão desactualizadas. Assistimos à evolução das sociedades, a movimentos defensores de direitos de igualdade, muita matéria foi de facto escrita acerca da temática, tentando- se de alguma forma descortinar as possíveis diferenças entre homens e mulheres, tentando também compreender e conhecer as alterações ocorridas com o passar dos anos nas representações sociais, mentalidades e concepções das pessoas. Os resultados mostraram que as teorias desenvolvidas em pleno século XVI continuam a ter influencia e a verificar-se nas mentalidades de pessoas no século XXI (Poeschl, Múrias & Costa, 2004).