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Este tópico analisa as questões que investigaram sobre a legislação do trabalho doméstico. O intuito das questões era saber se as empregadas domésticas participantes da pesquisa possuem carteira assinada, quais os benefícios recebidos, se acompanharam as mudanças na legislação e qual sua opinião sobre o assunto, se a partir das mudanças passaram a receber algum benefício que não tinham direito antes ou se houve alguma mudança na realização do seu trabalho.

A questão 41 do questionário visava identificar a quantidade de mulheres que trabalham como empregada doméstica que possuem carteira assinada.

Tabela 8: Quantidade de mulheres que possui carteira assinada

Carteira assinada %

Sim 52 45

Não 63 55

Total 115 100

Fonte: Dados da pesquisa, setembro de 2015.

Segundo a pesquisa realizada pela DIEESE (2013) o trabalho doméstico é marcado fortemente por vínculos informais, não só a diarista que não possui nenhum tipo de proteção, mas também a mensalista, que muitas vezes não possui carteira assinada e assim não possui os direitos sociais que estão associados ao seu trabalho. Sendo assim, a condição de precariedade e instabilidade dessa ocupação acaba sendo agravada.

Segundo a Lei Complementar Nº 150 em seu artigo 9º (a mesma encontra-se no anexo I) a Carteira de Trabalho e Previdência Social deve ser obrigatoriamente apresentada, pelo empregado ao empregador que o admitir, e este por sua vez tem o prazo de 48 horas para anotar, especificamente, a data de admissão e a remuneração, e quando for o caso os contratos de experiência e/ou para atender necessidades familiares de natureza transitória e para substituição temporária de empregado doméstico com contrato de trabalho interrompido ou suspenso.

Como resultado da pesquisa identificou-se que 55% das mulheres não possuem carteira assinada, ou seja, mais da metade trabalha na informalidade. Voltando um pouco no questionário, a questão 41 pode ser relacionada com a questão 28 que tinha uma pergunta parecida, só que nessa foi perguntado se as mulheres já possuíam a carteira assinada antes da aprovação das mudanças na legislação, o resultado dessa questão foi que 61% (equivalente a 70 mulheres) discordaram da afirmação e 39% (sendo 45 mulheres) concordaram.

Fazendo um comparativo das duas questões, observa-se que a diferença de quem já tinha carteira assinada antes da mudança na legislação para quem tem carteira assinada depois é de sete mulheres, sendo assim apenas essas mulheres foram beneficiadas com o registro da profissão na carteira de trabalho.

Tabela 9: Benefícios recebidos

Benefícios %

Nenhum 59 51

FGTS e INSS 23 20

INSS 25 22

INSS e hora extra 04 3

Hora extra 04 3

Total 115 100

Fonte: Dados da pesquisa, setembro de 2015.

A Lei Complementar Nº 150 nos artigos 20 e 21 afirma que o empregado doméstico é segurado obrigatório da Previdência Social e que é devida a inclusão do mesmo no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Essa mesma lei em seu capítulo II, artigos 31 ao 35, define sobre o Simples Doméstico.

Art. 31 É instituído o regime unificado de pagamentos de tributos, de contribuições e dos demais encargos do empregador doméstico (Simples Doméstico), (...).

Art. 32 A inscrição do empregador e a entrada única de dados cadastrais e de informações trabalhistas, previdenciárias e fiscais no âmbito do Simples Doméstico dar-se-ão mediante registro em sistema eletrônico a ser disponibilizado em portal na internet, (...).

Com o Simples Doméstico é possível fazer o recolhimento mensal, através de um documento único de arrecadação. Os valores que devem ser recolhidos são os seguintes: - de 8% a 11% de contribuição previdenciária, a cargo do empregado doméstico;

- 8% de contribuição patronal previdenciária para a seguridade social, a cargo do empregador doméstico;

- 0,8% de contribuição social para financiamento do seguro contra acidentes do trabalho; - 8% de recolhimento para o FGTS;

- 3,2% destinado ao pagamento da indenização compensatória da perda de emprego, quando esta for sem justa causa ou por culpa do empregador; e

- imposto sobre a renda retido na fonte, se incidente.

Referente à questão dos benefícios, identificou-se que 51% das entrevistadas responderam que não recebem nenhum benefício, tendo em vista que a maioria (55%) também não possui a carteira assinada.

Para quem possui carteira assinada e recebe algum tipo de benefício tem-se o seguinte resultado, 22% das mulheres ganham somente INSS e 20% ganham INSS e FGTS. Os menores percentuais ficaram com aquelas que ganham INSS e hora extra juntos e para quem ganha somente hora extra, sendo de 3% para cada um.

Segundo Manfio (2012) considera-se hora extra aquelas horas trabalhadas além da jornada normal de trabalho e ainda quando o empregado não tinha a obrigação de prestar os serviços, de acordo com os limites legais podem ser feitas de 2 até no máximo 4 horas extras diárias. A Lei Complementar Nº 150 em seu artigo 2º afirma que a remuneração da hora extraordinária (hora extra) deve ser no mínimo de 50% superior ao valor da hora normal.

Referente à hora extra que é recebida por apenas 3% das mulheres é importante dizer que a mesma é recebida apenas por diaristas, pois essas normalmente trabalham 4 horas por turno e o que exceder disso é cobrado como hora extra. Também vale dizer que nesse caso o valor da hora extra não é acrescido dos 50%, sendo cobrado o mesmo valor da hora normal.

Vale ressaltar que tanto os benefícios como a carteira assinada são recebidos por poucas mulheres pelo fato de que a lei teve alguns direitos considerados como obrigatórios em data posterior à aplicação da pesquisa. Por exemplo, o FGTS passou a ter o recolhimento obrigatório a partir do mês de outubro e a pesquisa ocorreu do fim do mês de agosto até o fim do mês de setembro.

A questão 48 tinha a seguinte pergunta: “Com a aprovação da nova lei você foi beneficiada com algum novo benefício? Qual?” Para a apresentação dos resultados foi elaborada apenas uma tabela, buscando saber qual foi o benefício que as mulheres passaram a receber.

Das mulheres entrevistadas, como já foi identificado na questão 26 da dimensão de constitucionalismo, 26 mulheres (23%) passaram a receber benefícios que não ganhavam antes. Os benefícios que passaram a receber podem ser visualizados na tabela 10.

Tabela 10: Novo benefício recebido

Benefícios % Nenhum 89 77 FGTS e INSS 07 6 FGTS 11 10 Hora extra 08 7 Total 115 100

Fonte: Dados da pesquisa, setembro de 2015.

Para análise dessa questão, é preciso levar em consideração a resposta da questão 41, onde identificou-se que 07 mulheres passaram a ter a carteira assinada, logo, 07 mulheres passaram a ganhar FGTS e INSS. Das mulheres que já tinham carteira assinada, 11 delas já

ganhavam INSS e passaram a ganhar FGTS. E ainda das mulheres que ganhavam apenas INSS teve 04 que passaram a receber hora extra e ainda 04 diaristas que também passaram a ganhar/cobrar esse benefício. Assim somam-se as 26 mulheres que ganharam algum benefício com a mudança na legislação.

A questão 49 tinha como pergunta: “A partir das mudanças na legislação, houve alguma mudança no seu trabalho? Qual?”. Para a apresentação dos resultados também foi elaborada apenas uma tabela.

Tabela 11: Tipo de mudança no trabalho

Mudança %

Não mudou nada 81 71

Cumprir horário 28 24

Diminuição de dias trabalhados 06 5

TOTAL 115 100

Fonte: Dados da pesquisa, setembro de 2015.

Nunes (1993, apud SORATTO, 2006) considera que pelo fato do empregado doméstico não gerar lucro, faz com que muitas vezes os custos dispendidos com a profissão são considerados como um gasto e não como investimento, sendo esse um dos motivos para fazer com que as pessoas economizem com a profissão, dispensando o serviço.

Ao analisar a tabela percebe-se que para a maioria, 71%, não mudou nada em seu trabalho, para 24% a mudança foi no sentido de cumprir o horário, sendo de 4 horas por faxina. E 5% teve diminuição nos dias trabalhados, nesse caso, as mulheres que trabalhavam 3 ou 4 dias por semana na mesma residência passaram a trabalhar apenas 2 dias, pois suas patroas alegaram que não poderiam pagar os direitos aprovados pela legislação.

A questão 47 do questionário aplicado tinha como pergunta: “Você acompanhou as decisões que foram tomadas na nova lei das domésticas que ampliou os direitos da categoria? Qual é a sua opinião sobre o assunto?”. Para analisar essa questão foi elaborada apenas uma tabela, buscando identificar qual a opinião das entrevistadas.

Segundo a pesquisa, 42 mulheres acompanharam as decisões sobre as mudanças na legislação, esse valor representa menos da metade das participantes da pesquisa, apenas 37%.

Tabela 12: Opinião sobre as mudanças na legislação

Opinião %

Não vai mudar nada 34 30

Vai diminuir a exploração 19 16

Vai melhorar as condições de trabalho e de vida 13 11 Trará a garantia de direitos 11 10

Vai valorizar a profissão 10 9

Será boa se a lei for cumprida 09 8 Vai dar mais segurança/ garantia no emprego 07 6 Ajudará no reconhecimento da profissão 06 5

Irá melhorar a remuneração 06 5

TOTAL 115 100

Fonte: Dados da pesquisa, setembro de 2015.

Através das mudanças na legislação foram garantidos benefícios como: jornada de trabalho de 44 horas semanais, permissão de até duas horas extras por dia, seguro- desemprego, adicional noturno, FGTS, seguro contra acidente, salário família, proteção contra demissão imotivada, auxílio-creche (DIEESE, 2013).

Ao analisar a tabela, percebe-se que mesmo aquelas que não acompanharam as decisões deram sua opinião sobre o assunto, 30% das mulheres acreditam que “as mudanças na legislação não irão mudar nada na prática, pois as patroas não vão fazer o que a lei manda”.

O segundo maior percentual de respostas foi a opinião que afirma que vai diminuir a exploração, representado por 16%. Ao exporem essa opinião as entrevistadas justificam dizendo que atualmente as patroas querem que a empregada trabalhe bastante, mas querem pagar pouco pelo serviço e que por isso muitas mulheres não ganham nem o valor do salário mínimo.

Também teve aquelas que acreditam que com as mudanças vai melhorar as condições de trabalho e de vida, sendo 11%, pois as patroas terão que pagar mais pelos serviços prestados, como é o caso das horas extras ou então terão que deixar menos tarefas para que as empregadas possam cumprir o horário de trabalho. De qualquer forma esse aspecto proporciona melhorias, pois poderá sobrar mais tempo para as mulheres realizarem outras atividades ou terão seu esforço reconhecido.

Com percentual de 10% ficou a opinião que trará a garantia de direitos à profissão e 8% que é considerada boa para a profissão se a lei for cumprida. Para quem acredita que a profissão passará a ser valorizada e que terá maior reconhecimento os percentuais foram de 9% e 5% respectivamente.

Ainda 6% das mulheres acreditam que a lei vai dar mais segurança e garantia de emprego, pois com a carteira assinada terão um valor fixo no mês e assim saberão o valor que tem disponível para atender suas necessidades financeiras. E 5% acredita que irá melhorar a remuneração, pois se as patroas não quiserem assinar a carteira e pagar benefícios terão que pagar mais pelo serviço diário.

Analisando as questões referentes à legislação, conclui-se que são poucas as mulheres que possuem carteira assinada, menos da metade, e que recebem algum tipo de benefício. Conclui-se também que poucas foram as mudanças nesse aspecto após a aprovação das mudanças na legislação.

Conforme pesquisa divulgada pela DIEESE (2013, p. 26) “a aprovação da PEC das Domésticas foi um passo importante para a construção da igualdade no Brasil, (...), porém ainda é preciso vencer vários desafios”. Isso é afirmado pela realidade, onde poucas foram as mudanças na prática, portanto, é fundamental que o que foi definido na lei seja posto em prática, do contrário não trará nenhum benefício para a categoria.