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2.3 Legislação Trabalhista

2.3.1 Trabalho Doméstico

Segundo o Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE, 2015):

Considera-se trabalhador doméstico aquele maior de 18 anos que presta serviços de natureza contínua (frequente, constante) e de finalidade não-lucrativa à pessoa ou à família, no âmbito residencial destas. Assim, o traço diferenciador do emprego doméstico é o caráter não-econômico da atividade exercida no âmbito residencial do empregador. Nesses termos, integram a categoria os seguintes trabalhadores: empregado, cozinheiro, governanta, babá, lavadeira, faxineiro,vigia, motorista particular, jardineiro, acompanhante de idosos, dentre outras.O caseiro também é considerado trabalhador doméstico, quando o sítio ou local onde exerce a sua atividade não possui finalidade lucrativa.

As áreas e atividades desenvolvidas pelo empregado doméstico são definidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) através da Classificação Brasileira das Ocupações (CBO), através dessa classificação é possível identificar quais são as atividades do emprego doméstico, bem como as competências necessárias para sua realização. No quadro 1 é possível visualizar quais são as áreas e atividades que devem ser desenvolvidas pela categoria.

Quadro 1: Áreas e Atividades dos empregados domésticos em geral

Áreas Atividades

Preparar refeições (café, almoço e jantar)

- Servir refeições

Dar assistência às pessoas da casa, conforme orientações

- Relembrar compromissos das pessoas da casa

- Acompanhar atividades das crianças na ausência dos pais - Acompanhar crianças e pessoas idosas em locais determinados - Arrumar malas, mochilas e lancheiras

Colaborar na administração da casa

- Administrar horários

- Distribuir tarefas do dia-a-dia conforme orientações - Atender pessoas e telefone

- Providenciar reparos em instalações e eletrodomésticos - Anotar e transmitir recados

- Receber mercadorias

- Providenciar serviços de tinturaria

Fazer a arrumação da casa

- Recolher jornais, revistas e correspondências - Por mesa para as refeições

- Conservar a limpeza da cozinha - Limpar objetos

- Arrumar: quartos, camas, salas, armários e guarda-roupas - Conservar a limpeza: banheiro, parapeitos, varandas... - Trocar roupas de cama, mesa e banho

- Limpar pisos e quintais (varrer, aspirar, rastelar) - Passar pano úmido para tirar o pó

Faxinar a casa

- Selecionar: produtos de limpeza, utensílios e equipamentos de limpeza, panos de limpeza

- Faxinar banheiros

- Limpar: lustres, portas, janelas, vidros, paredes, carpetes, tapetes, móveis, a parte externa da casa, pisos e rodapés (lavar, encerrar e lustrar), - Faxinar a cozinha

- Lavar panos de limpeza

Cuidar de roupas e acessórios

- Separar roupas por cor, tecido e uso

- Retirar manchas e sujeiras difíceis das roupas - Lavar roupas e calçados

- Escovar as roupas para remover pêlos - Colocar roupas para secar

- Passar roupas

- Fazer pequenos reparos em roupas - Dobrar e guardar roupas

Cuidar das plantas do ambiente interno e animais domésticos

- Cuidar da higiene dos animais de estimação - Higienizar o recinto dos animais

- Molhar as plantas do ambiente interno

Fonte: Classificação Brasileira das Ocupações (CBO, 2015).

Além das atividades a serem desenvolvidas, na CBO também estão descritas quais devem ser as competências pessoais que um empregado doméstico precisa demonstrar. Essas competências podem ser observadas no quadro 2.

Quadro 2: Competências pessoais dos empregados domésticos em geral Competências pessoais dos empregados domésticos em geral

- Organizar-se

- Manter higiene e aparência pessoal - Usar equipamentos e roupas de proteção - Adaptar-se aos diferentes hábitos das famílias - Cumprir orientações

- Pedir socorro em caso de emergência - Manusear equipamentos de limpeza - Planejar e simplificar o serviço - Informar-se sobre os seus direitos - Lutar por seus direitos

- Negociar com os patrões

- Negociar horário de trabalho e salário - Cuidar da própria saúde

- Trabalhar em condições seguras

- Demonstrar atenção aos detalhes de segurança da casa - Demonstrar honestidade

- Agir com discrição - Trabalhar com capricho

Fonte: Classificação Brasileira das Ocupações (CBO, 2015).

Como pode ser observada, a profissão de empregado doméstico inclui um conjunto de tarefas com as mais variadas atividades e essas atividades acabam sendo trabalhosas,

detalhadas, exigentes, cansativas e exigem diferentes habilidades e competências que nem sempre podem ser evidenciadas. A CBO classifica algumas competências pessoais que são importantes para a realização dessas atividades e o que se percebe é que a maioria delas se referem à capacidade que os profissionais precisam ter para garantir suas próprias condições de trabalho, bem como de se cuidar e se comportar no ambiente de trabalho (SORATTO, 2006).

Os serviços domésticos são considerados como um trabalho que não necessita de aprendizado, qualificação e nem preparação prévia. A partir disso o que se passa é a ideia que para poder realizar esses serviços é preciso apenas possuir as habilidades que fazem parte do “ser mulher, mãe e dona-de-casa” (MELO, 1998). Nunes (1993, apud SORATTO, 2006) complementa essa ideia dizendo que a aprendizagem necessária para esse tipo de trabalho pode ser considerada como uma aprendizagem natural que acontece como parte do processo de socialização da mulher.

O trabalho doméstico sofre ainda a influência do trabalho escravo, dessa forma, essa profissão acaba muitas vezes sendo desvalorizada ou sofrendo preconceitos. Para Kofes (1991) a escravidão produziu uma relação negativa no próprio trabalho dos escravos e ainda nos serviços domésticos, pois dava a esses serviços um significado de degradação, desonroso e desprezível.

Dessa forma, sente-se a dificuldade que existe na formação da identidade do trabalhador nessa profissão. Pois o que se observa é que muitas vezes esses profissionais sentem vergonha ao assumir os serviços domésticos como profissão, chegando, em alguns casos, a mentir sobre a profissão que possuem (NUNES, 1993, apud SORATTO, 2006).

Outro aspecto que deve ser considerado no contexto do emprego doméstico é a gestão dos afetos. Nesse caso o profissional precisa moldar as emoções e as expressões afetivas que vivencia de acordo com o contexto, cliente e situação. Dessa forma, as pessoas precisam controlar suas próprias emoções ao se expressarem (SOARES, 2001, apud SORATTO, 2006). A dificuldade que se tem na gestão dos afetos no emprego doméstico é reforçada pelo contexto em que o trabalho é realizado, ou seja, o espaço privado da casa, que faz com que tudo que acontece nesse ambiente seja marcado pelos afetos. Dentro disso tem-se ainda as dificuldades que podem ocorrer na relação entre patrão e empregado, pois nesse caso podem haver mistura de sentimentos, ligações afetivas e conflitos relacionais.

O que se observa é que as relações existentes no trabalho doméstico são imediatas, e se o trabalho for realizado todos os dias na mesma residência, a proximidade, intimidade e dependência são maiores, criando assim um cenário favorável para que aconteçam conflitos. Esses conflitos podem ocorrer como resultado da proximidade que o empregado doméstico possui da intimidade de seus patrões, pois este participa da vida dos patrões sem fazer parte da família (PROST, 1992).

Nunes (1993, apud SORATTO, 2006) descreve a relação existente entre patroa e empregada doméstica como uma relação sempre instável, pois para que haja equilíbrio nessa relação é preciso uma constante negociação. Alguns motivos que podem ser elencados como contribuintes para a dificuldade na convivência são as diferenças de valores, hábitos, comportamentos e maneira de pensar. Essas dificuldades são originadas da necessidade de reunir pessoas muito diferentes no mesmo espaço.

Outra dificuldade dessa profissão é o fato de ser uma ocupação solitária, onde não se tem o envolvimento de colegas de trabalho. A partir disso, Saffioti (1978) coloca a solidão com um dos dramas dessa profissão, pois os mesmos trabalham de forma isolada, sem um grupo de trabalho para que possa se integrar, aumentando dessa forma a dependência dos patrões. A falta de vínculos acaba aumentando a necessidade que o indivíduo possui em ser considerado membro da família causando confusões nas relações afetivas.

Prost (1992) explica que trabalhar como empregada doméstica no século 19 significava ter uma vida completamente dedicada às pessoas a quem ela servia, sendo assim, era preciso renunciar e desistir da própria vida para poder realizar esses serviços. Ao longo do tempo mudanças ocorreram nas condições do emprego doméstico, hoje as pessoas que exercem essa profissão não são mais consideradas propriedades dos patrões, mas algumas condições de trabalho ainda não mudaram muito apesar das mudanças no contexto geral. As empregadas domésticas compõem hoje uma categoria de trabalho marcada pela precariedade, pela baixa escolaridade e pela ausência de preparação formal para o mercado.