• Nenhum resultado encontrado

Este tópico buscou analisar questões referentes ao trabalho em si, tentando entender como o mesmo ocorre na prática. As questões investigadas buscaram conhecer aspectos como a quantidade de tempo disponibilizado para essa profissão, tanto de dias na semana como de horas diárias, o tipo de relação estabelecido entre empregada e patroa, como percebem a imagem da doméstica perante a comunidade, os motivos para escolha da profissão, em que circunstâncias o emprego doméstico pode ser considerado ideal, qual é a opinião sobre a profissão e também sobre o tema de QVT.

Tabela 13: Quantidade de dias trabalhados na semana Quantidade dias % 1 02 2 2 14 12 3 38 33 4 05 4 5 51 45 6 05 4 Total 115 100

Fonte: Dados da pesquisa, setembro de 2015.

Na pesquisa identificou-se que 45% das mulheres trabalham 5 dias da semana e 33% trabalha 4 dias, sendo esses os maiores percentuais. Apenas 4% trabalha 6 dias na semana, essas afirmam que assim conseguem ganhar um valor extra. Tem 12% que trabalha 2 dias e mais 4% que trabalham 4 dias, essas trabalham um pouco menos, pois precisam de tempo disponível para realizar suas tarefas diárias. E apenas 2% trabalha 1 dia. Assim, percebe-se que quase metade das mulheres trabalha praticamente a semana toda.

Também foi investigada qual é a quantidade de horas que as empregadas domésticas trabalham por dia.

Tabela 14: Quantidade de horas trabalhadas por dia

Quantidade horas % 4 27 23 4,5 03 3 5 33 29 7 01 1 8 42 36 8,5 03 3 9 06 5 Total 115 100

Fonte: Dados da pesquisa, setembro de 2015.

Segundo a Lei Complementar Nº 150 em seu artigo 2º a duração normal do horário do trabalho doméstico não excederá 8 horas diárias e 44 horas semanais. A lei define ainda que é obrigatório o registro do horário de trabalho do empregado doméstico por qualquer meio manual, mecânico ou eletrônico, desde que idôneo (adequado).

Referente à quantidade de horas trabalhadas, a maioria (36%) trabalha 8 horas por dia, nesse caso é quem trabalha o dia todo, ainda tem 5% que trabalham 9 horas diárias, 3%

trabalha 8 horas e meia e apenas 1% trabalha 7 horas. Para quem trabalha apenas meio-dia tem-se como percentual 29% do total que trabalham 5 horas, 23% trabalham 4 horas, e 3% trabalham 4 horas e meia. Conforme relatado pelas entrevistadas a maioria tenta cumprir a jornada de 8 horas diárias ou então de 4 horas para meio dia e é o que acontece na maioria dos casos. Somando os dois casos chega-se à 59%.

Quem trabalha 8 ou 4 horas por dia afirma que tenta cumprir o horário por causa da lei e que suas patroas também monitoram para não “passar da hora”. Para quem excede o horário o que acontece é que não conseguem dar conta de todo o trabalho dentro do padrão de horas estabelecido e com isso acabam trabalhando um pouco mais, mas estas nem sempre recebem hora extra. A única pessoa que trabalha 7 horas por dia disse que isso acontece porque trabalha meio dia numa residência com pouco serviço e daí consegue sair um pouco antes.

Sobre o registro de horário que é considerado obrigatório pela legislação, identificou- se, por meio de conversas informais, que a maioria das entrevistadas (pode-se dizer que mais da metade delas) não realiza nenhum tipo de controle e registro dos seus horários de forma escrita, o que acontece algumas vezes é o controle informal, ou seja, se num dia sai mais cedo ou chega mais tarde, compensa o horário em outro dia, esta forma também é válida para quando exceder do horário normal. Aquelas que realizam o registro o fazem por meio escrito, através do livro ponto, nesse caso a compensação funciona da mesma forma que aquelas que não o fazem, ou seja, em nenhum caso existe a compensação financeira.

É importante dizer que quem trabalha como diarista não tem necessidade de realizar o registro de horário, apenas tentam cumprir a jornada estipulada para a categoria.

A relação da empregada com sua patroa também foi considerada como um aspecto relevante para a pesquisa.

Tabela 15: Como considera a relação com a patroa

Relação %

Amizade 59 52

Me sinto da família 21 18 Só professional 35 30

Total 115 100

Fonte: Dados da pesquisa, setembro de 2015.

Para Melo (1998) a categoria de trabalho em estudo possui uma jornada de trabalho definida por uma relação de trabalho híbrida, ou seja, uma mistura do trabalho assalariado

com o regime servil e com o avanço do processo de industrialização a relação entre patroas e empregadas se tornou menos pessoal. Já para Molinier (2005 apud SORATTO, 2006) a indiferença afetiva é impossível nos serviços domésticos, isso se justifica pela proximidade que existe entre quem serve e quem é servido, pois existe um contado direto com as vontades, angústias e medos uns dos outros. O autor ainda afirma que esse tipo de trabalho é “criador de humanidade” e que isso explica a grande necessidade que as empregadas domésticas brasileiras possuem de serem considerada pelos seus patrões como parte das famílias, tendo em vista que estas não se beneficiam de um coletivo de trabalho.

Referente à relação da doméstica com sua patroa, a maioria considera que possui uma relação de amizade, com 52%, porque possui tempo para conversar com as patroas e conversam sobre diversos assuntos. Aquelas que consideram a relação só profissional representam 30%, isso porque além de ver sua patroa poucas vezes, quando vê é apenas para tratar de assunto referente ao trabalho e nada mais. E quem se sente da família representa 18% das opiniões e justifica isso dizendo que são muito bem tratadas e que consideram esse tipo de relação por trabalharem há muito tempo na mesma residência criando assim um vínculo entre as pessoas.

A questão 43 teve como questão: “Como você percebe a imagem da profissão de empregada doméstica e diarista perante a comunidade local?”. O resultado é apresentado na tabela 16.

Tabela 16: Imagem da profissão

Imagem da profissão %

Valorizada 37 32

Desvalorizada 25 22

Existe preconceito com a profissão 13 11

Pouco Valorizada 07 6

Pode melhorar 07 6

Desigual 06 5

Boa 05 4

Explorada 04 4

É importante para as mulheres trabalharem fora 04 4

Salário baixo 03 2

É preciso respeitar as leis 02 2

Salário melhor 02 2

TOTAL 115 100

Kofes (2001 apud SORATTO, 2006) afirma que a desvalorização, descaso e preconceito relacionados aos serviços domésticos são devidos à influência do trabalho escravo. E a DIEESE (2013) afirma que a aprovação da PEC das Domésticas irá acabar com os resquícios de escravidão que ainda marcam esse tipo de trabalho no Brasil, e ainda irá promover maior profissionalização e valorização dessas trabalhadoras.

Analisando as respostas obtidas percebe-se que 32% das mulheres acreditam que a imagem da profissão é valorizada, tanto no sentido de reconhecimento financeiro como profissional. Em contraponto tem 22%, 6% e 4% que afirmam que a profissão é desvalorizada, pouco valorizada ou explorada, justificam essa opinião dizendo que precisa-se trabalhar muito para ganhar pouco, ou então que seu trabalho não é reconhecido, sendo apenas lembrado quando da falta do mesmo, pois é mais fácil lembrar e falar daquilo que não foi feito do que elogiar o que foi bem feito.

Para 11% das entrevistadas ainda existe preconceito com a profissão e que isso se agrava pelo fato de ser uma profissão realizada por mulheres normalmente sem estudo e classe inferior. 6% das mulheres afirmam que quando comparado com alguns anos atrás, a profissão teve melhorias tanto no trabalho como na remuneração, mas pode melhorar mais.

Ainda tem 5% que considera a profissão desigual quando comparada com as outras, pois acham injusto uma profissão que exige tanto esforço quanto qualquer outra ter salário inferior. Para 4% a imagem da profissão é considerada boa, uma profissão tranquila e que não exige esforço além de suas habilidades, é feito com aquilo que se sabe, não precisando de aprendizado específico.

Também 4% acreditam que a profissão é importante para que as mulheres possam trabalhar fora, nesse caso nos dois sentidos, pois permite que as patroas garantam seu espaço no mercado de trabalho e ao mesmo tempo permite àquelas que não teriam outra oportunidade a garantir um emprego. 2% (sendo 3 mulheres) dizem que o salário da empregada doméstica é baixo quando comparado com cidades vizinhas, e outros 2% (sendo 2 mulheres) dizem que o salário está melhor do que alguns anos atrás. E por fim 2% acredita que é preciso respeitar as leis, pois só assim as empregadas domésticas terão o reconhecimento que merecem.

A questão 44 tinha como intuito identificar qual o motivo que levou as mulheres a escolherem essa profissão.

Tabela 17: Motivos que levaram a escolher a profissão

Fonte: Dados da pesquisa, setembro de 2015.

Soratto (2006) afirma que o serviço doméstico é considerado como porta de entrada no mercado de trabalho para aquelas mulheres que precisam trabalhar, mas que possuem baixo nível de escolaridade, poucas alternativas para qualificação profissional e falta de oportunidades, sendo esses os grandes motivos para que elas permaneçam nessa profissão.

Como resultado tem-se 36% das mulheres que associam a profissão à falta de estudo, estas acreditam que se teriam continuado os estudos teriam conseguindo um emprego melhor. 28% diz que trabalha para ajudar nas despesas da casa, 25% afirma que não teve outras oportunidades, 8% afirmam que o salário é melhor quando comparado com algumas profissões, estas ganham um pouco mais que a maioria, pois trabalham mais, e 3% escolheu a profissão porque é um serviço fácil de fazer, que não exige qualificações.

A questão 45 tinha o intuito de identificar como deve ser o emprego doméstico ideal, é possível visualizar o resultado dessa questão na tabela 18.

Tabela 18: Como deve ser o emprego doméstico ideal

Emprego ideal %

Casa com pouca gente 53 46

Casa sem criança 08 7

Casa pequena 16 14

Casa em que todos trabalham fora 20 17

Casa com pouco service 02 2

Casa de onde sai cedo 07 6

Casa onde é tratada como da família 08 7 Casa onde a patroa conversa bastante com a empregada 01 1

Total 115 100

Fonte: Dados da pesquisa, setembro de 2015.

Saffioti (1978) quando realizou seu estudo identificou que a característica do emprego doméstico ideal era aquela onde havia o contato humano, pois as empregadas preferiam a vigilância da patroa do que a solidão, desde que essa vigilância não fosse ostensiva.

Motivos %

Falta de estudo 41 36 Falta de oportunidade 29 25

Salário 09 8

Serviço fácil de fazer 04 3 Ajudar nas despesas da casa 32 28

Ao questionar sobre como deveria ser o emprego ideal, a opção com mais respostas foi a casa com pouca gente com 46%, pois afirmam que assim se tem menos trabalho. Outras duas opções com mais respostas foi casa em que todos trabalham fora com 17% e casa pequena com 14%. No primeiro caso as mulheres afirmam que quando estão sozinhas conseguem trabalhar melhor, pois não gostam e não se sentem bem quando a patroa fica cuidando o que estão fazendo e no segundo caso assim como uma casa que tem pouca gente a casa pequena possui pouco trabalho.

Com 7% ficaram duas opções, casa sem criança e casa onde é tratada como da família, no segundo caso as mulheres consideram que quando são tratadas como da família a relação com os patrões fica melhor e da mesma forma o trabalho. Casa de onde sai cedo ficou com 6%, quem marcou essa opção são as mulheres que ainda estudam e afirmam que saindo mais cedo conseguem se organizar para ir estudar. Os menores percentuais foram referente à casa com pouco serviço, pois esta é uma consequência das opções 1 e 3 e por fim o menor percentual na opção de casa onde a patroa conversa bastante com a empregada, com apenas 1 mulher, esta disse que seus patrões sempre estão em casa e já acostumou e gosta de conversar, pois assim as horas passam e nem se percebe.

Na questão 46 foi investigado qual é a opinião das entrevistadas sobre a profissão de empregada doméstica.

Tabela 19: Opinião sobre a profissão de empregada doméstica

Opinião %

Simples e honesta 47 41

Razoável 03 3

Fácil, mas cansativa 41 36

Baixos salaries 04 3

Bons salaries 07 6

Não é das melhores 06 5

Ótima quando se é bem tratada 07 6

Total 115 100

Fonte: Dados da pesquisa, setembro de 2015.

Com relação à opinião sobre a profissão, Saffioti (1978) identificou que as mulheres não tinham queixas a fazer de sua ocupação, pois a maioria a julgava boa, fosse porque se ajustava a condição de mulher ou porque se é bem tratada ou porque é razoável.

Sobre a opinião das entrevistadas referente a profissão de empregada doméstica, teve duas opções com maiores percentuais. Aquelas que acham que a profissão é simples e honesta somam 41% e que acham que é fácil, mas cansativa é de 36%. As opiniões sobre ter bons

salários e que a profissão é ótima quando se é bem tratada tem 6% cada, quem acha que possui bons salários é porque ganha um pouco mais que a maioria. 5% acreditam que a profissão não é das melhores, isso pelo fato de além de ser cansativa e trazer malefícios à saúde ainda ganha pouco. E com 3% tem duas opções, razoável e baixos salários.

Ao analisar os aspectos sobre o trabalho doméstico, conclui-se que a maioria das mulheres trabalha 3 ou 5 dias na semana e 8 ou 5 horas por dia. Consideram a relação com a patroa como uma relação de amizade. Referente à imagem da empregada doméstica acreditam que a mesma é valorizada, consideram a profissão como simples e honesta e também como fácil, mas ao mesmo tempo cansativa. O principal motivo para escolher a profissão foi a falta de estudo e para elas o trabalho ideal é aquele que possui casa com pouca gente.