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A abordagem metodológica do problema de pesquisa, quanto à sua natureza é quantitativa e qualitativa, nas etapas de coleta e análise de dados, conforme proposto pela abordagem de redução sociológica de Guerreiro Ramos (1996). Portanto, o estudo disporá de duas etapas, uma quantitativa e outra qualitativa, que conjuntamente, oferecerão base para a análise do fenômeno das práticas feministas de autogestão no contexto da ES. Quanto aos objetivos, o estudo pode ser caracterizado como exploratório, hipotético dedutivo e interpretativo, cujo procedimento pode ser definido como documental e bibliográfica, com a utilização de procedimentos quantitativos e qualitativos.

A coleta de dados da etapa quantitativa foi operacionalizada através da utilização de dados de duas fontes de dados, uma primária, outra secundária. A fonte secundária é constituída por base de dados mapeada no Brasil nos anos de 2010 a 2013 pelo Sistema

Nacional de Informações em Economia Solidária [SIES] da Secretaria Nacional de Economia Solidária [SENAES], abrangendo uma amostra de 19.708 empreendimentos econômicos solidários. A fonte primária de dados foi coletada a partir da aplicação de um questionário estruturado formatado em escala Likert de cinco posições junto às mulheres empreendedoras que compõem a Rede Economia Solidária e Feminista no estado do Ceará, seguindo a orientação teórica das propostas de práticas organizacionais femininas de Martin (1993, 2003) e do modelo tridimensional de justiça de gênero de Fraser (2002). Os dados das fontes primária e secundária foram analisados através da estatística multivariada de Análise Fatorial e Análise de Regressão Múltipla, utilizando-se como ferramenta estatística o software SPSS (Statistic Package for Social Science). Dessa forma, a utilização da abordagem quantitativa, foi instrumental auxiliar a observação e compreensão do fenômeno (Collis e Hussey, 2005; Cooper e Schindler, 2003; Hair et al, 2009; Ramos, 1996).

A coleta de dados da etapa qualitativa foi realizada através da realização de entrevistas semi-estruturadas junto às mulheres que compõem a Rede Economia Solidária e Feminista no estado do Ceará, sob o enfoque da história oral temática de Meihy (2002), Meihy e Holanda (2007) e Meihy e Ribeiro (2011), alinhando-se a uma perspectiva pós-colonialista de captar as vozes não ouvidas, periféricas e subalternas. Outra fonte de dados qualitativos foi a observação direta das reuniões e dinâmicas de organização das mulheres no cotidiano da gestão dos empreendimentos, desde 2016, conforme a proposta de Creswell (2007), Collins e Hussey (2005) e Cooper e Schindler (2003). Os dados qualitativos foram analisados sob as abordagem da Análise de Discurso como propõe Gill (2002). Os dados das etapas quantitativa e qualitativa foram triangulados de forma a fornecer uma maior aproximação do fenômeno e a compreensão para o atingimento dos objetivos propostos para pesquisa de tese, aproximando- se do fenômeno observado, buscou-se principalmente identificar convergências de resultados, complementações e divergências, conforme proposta de Ramos (1996), Creswell (2007), Stake (1995) e Flick (2009). Dessa forma, para a compreensão das etapas metodológicas desta pesquisa que objetiva analisar a realidade das práticas de gestão das mulheres no contexto da Rede Economia Solidária e Feminista, é pertinente recorrer a uma combinação variada de métodos: a) Pesquisa bibliográfica; b) Pesquisa documental; c) Questionários estruturados; d) Entrevistas semi-estruturadas; e e) Observação direta.

A pesquisa foi estruturada conforme as seções descritas a seguir. A primeira seção foi destinada à introdução, residindo aí os aspectos gerais da pesquisa, como problema, justificativa do estudo, hipóteses e objetivos. A segunda seção contempla a revisão teórica direcionada aos objetivos propostos para a pesquisa, contemplando os temas relacionados à

racionalidade substantiva e as práticas de autogestão, o trabalho da mulher em contextos periféricos, e as práticas feministas de autogestão, de forma que essas interfaces dialoguem e formem o tecido de suporte teórico da pesquisa. A terceira seção identifica a metodologia utilizada para coleta dos dados, procedimentos de tratamento e análise dos dados do estudo. A quarta seção ocupa-se da análise e discussão dos resultados. A quinta seção relaciona as referências utilizadas no estudo, e na sexta e sétima seções estão dispostos os apêndices e anexos, respectivamente.

2 SUPORTE TEÓRICO

O aporte teórico que fundamenta a pesquisa visa relacionar os temas centrais da problemática do estudo. Partiu-se de aspectos gerais para questões específicas, dessa forma, optou-se por dividir a seção em uma ordem de construção ontológica, a fim de obter um referencial coeso e coerente com os objetivos da pesquisa. Portanto, através do desenvolvimento das categorias e eixos teóricos utilizados, pretendeu-se construir uma base para compreensão da problemática e para a coleta e análise dos dados (Vergara, 2004; Mascarenhas, 2012).

Desse modo, a primeira seção do suporte teórico – Economia Solidária (ES): a racionalidade substantiva e as práticas de autogestão – busca inicialmente discutir as visões sobre a racionalidade construídas ao longo do desenvolvimento das ciências sociais, uma discussão necessária para o entendimento das práticas organizativas no âmbito da ES. A seção problematiza a questão da racionalidade instrumental como norma, relacionando a possibilidade de uma racionalidade nas organizações que permitam ir além do vetor econômico. Nesse sentido, utilizam-se as contribuições dos estudos de Guerreiro Ramos sobre a racionalidade substantiva, um dos tipos ideais de racionalidade weberiana, uma racionalidade que se baseia valores que busquem a emancipação dos indivíduos em suas práticas organizativas. Assim, a seção analisa o contexto das práticas organizativas na ES, e insere em sua discussão final o conceito de autogestão, como paradigma de gestão dos empreendimentos na ES, que, ao mesmo tempo em que é prática organizativa, também é prática social, em especial quando se analisa os laços comunitários empreendidos pelas mulheres em suas comunidades. Os principais autores de referência para esta seção da tese são: Guerreiro Ramos (1989), Singer (2008), Arruda (2008), Laville (2014), Guérin (2009) e Vieta (2014, 2015).

A segunda seção do suporte teórico – Economia Solidária (ES): o trabalho da mulher em contextos periféricos – congrega a questão da desigualdade de gênero no mundo do trabalho e os aportes teóricos nos estudos organizacionais, relacionando o valor do trabalho da mulher. Dialoga-se sobre o caráter sexuado da construção da cidadania e como, no mercado

de trabalho, esta construção é mediada pela relação entre Estado, organizações e sociedade civil. O objetivo central da seção é analisar as condições do contexto em que as mulheres desenvolvem suas atividades de trabalho e suas práticas. Portanto, desenvolve-se uma reflexão sobre o contexto da Economia Solidária e do trabalho cooperativo e associativo, observando-os como alternativas para a geração de renda das mulheres nas comunidades. A seção recorre às contribuições da abordagem pós-estruturalista da justiça de gênero de Nancy Fraser e ao modelo de práticas feministas de gestão de Patricia Yancey Martin. A discussão teórica evolui para as abordagens do feminismo (pós)colonialista, utilizando-se como referência autores como Gayatri Chakravorty Spivak e Homi Bhabha, Chandra Talpade Mohanty, Maria Lugones, Cláudia de Lima Costa e Eliana Ávila, que abordam as experiências e práticas das mulheres que são invisibilizadas em contextos periféricos, considerando o pluralismo político do cotidiano desses ambientes, especialmente quando aborda as organizações fora do âmbito da visão ocidental. Tais inserções são instrumentais para a discussão que finaliza a seção sobre a justiça de gênero nos espaços da ES e as práticas feministas de gestão em contextos periféricos. A seção tem como principais referências: Margareth Rago (2014), Mary Del Priore (2017), Heleieth Saffiotti (2013), Betânia Ávila (2013), Nancy Fraser (2000, 2001, 2002, 2003, 2007), Patricia Yancey Martin Martin (1993, 2003), Calás e Smircich (2014); Spivak, (2010), Bhabha, (1990, 1998), Lugones (2007), Mohanty (2003, 2006) e Costa e Ávila (2005), entre outras autoras do feminismo (pós)colonial latino-americanas.

A terceira seção do referencial teórico - Economia Solidária (ES): as práticas feministas de autogestão - apresenta como objetivo refletir sobre a perspectiva feminista no cotidiano da Economia Solidária. A seção busca realizar a aderência das teorias feministas que “vêm de fora” para o contexto da ES. Para tal, utiliza-se o método da redução sociológica proposta por Guerreiro Ramos, visando analisar as práticas das mulheres de forma contextualizada e coerente com a realidade das mulheres da ES. A seção analisa os conceitos de práticas de autogestão como um paradigma do cooperativismo e do associativismo, e seu alinhamento com os modos de gestão feministas. Nesse sentido, a seção aborda a autogestão como prática de gestão consonante com os valores e práticas feministas de gestão. A seção elabora um diálogo entre os conceitos de justiça de gênero nas práticas de autogestão, quais sejam: redistribuição, reconhecimento e representação. Tais categorias de análise foram utilizadas para a elaboração das hipóteses e pressupostos da pesquisa. Os principais autores referenciados na seção são: Guerreiro Ramos (1989), Isabelle Guérin (2005), Nancy Fraser

(2000, 2001, 2002, 2003, 2007), Patricia Yancey Martin Martin (1993, 2003), Calás e Smircich (2014); Spivak, (2010), Bhabha, (1998), Marcelo Vieta (2014, 2015).