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Ainda que seja incomum discutir experiências pessoais no âmbito das Ciências Sociais Aplicadas, observa-se o caráter político das experiências pessoais das mulheres (Hanisch, 1969), que vai além das vivências de cada mulher, portanto, exponho algumas questões práticas, traduzidas em experiências vividas em três contextos sociais diferentes: família, trabalho e academia. Isto posto, as experiências relatadas a seguir constituíram o interesse em pesquisar práticas feministas de gestão no contexto da Economia Solidária, abrangendo o papel da mulher no mundo do trabalho e nas organizações, como parte de uma questão maior, que é o papel da mulher na economia.

Desde cedo percebi que as diferenças relacionadas ao gênero estavam latentes, e depois patentes, as experiências pessoais aqui expostas são apenas um recorte de um mosaico de experiências que, de alguma forma, as mulheres vivenciam em seu cotidiano, e que me motivaram a refletir sobre a representação das experiências femininas. Venho de uma família de mulheres fortes e trabalhadoras, minha mãe e minha avó, em especial, foram responsáveis por boa parte de minha carga de valores - elas eram feministas? - não nominalmente - elas nem ao menos sabiam do que tratava o feminismo, contudo, as relações que promoviam com o mundo, mesmo que em alguns momentos fossem carregadas da supervalorização das masculinidades, vislumbravam certa visão feminista. Pensando o passado e o presente, muitas mulheres que marcaram minha trajetória foram e são figuras relevantes, de fato, podemos assumir que vivemos em uma sociedade de mulheres fortes que muitas vezes não se reconhecem com tal propriedade. Em uma acepção geral, essa força reside em transcender os mais variados obstáculos construídos socialmente, seja no espaço privado ou no espaço público, simplesmente pelo fato de ser mulher. Aos nove anos ouvi furtivamente uma conversa entre nossos pais, quando nossa mãe, preocupada com a educação formal das três filhas, argumentava com meu pai sobre as escolas que deveríamos frequentar no ano seguinte, após as considerações de nossa mãe, nosso pai manifestou-se: “as meninas só precisam saber as quatro operações”. Para meu pai, o papel de suas três filhas como mulheres estava definido no espaço privado, circunscritas no máximo à gestão de uma boa economia doméstica, tal entendimento é construído socialmente por uma estrutura ideológica pautada na desigualdade de gênero, e ele mesmo, tendo sido apenas alfabetizado, não percebia oportunidades para uma mulher em um mundo (espaço público) dominado por homens.

Justificadamente, a luta pelo direito à educação formal foi uma das primeiras grandes lutas do movimento feminista desde o final do século XIX (Davis, 2016).

Percebe-se que no contexto familiar, espaço privado por excelência, as experiências são sedimentadas na desigualdade de gênero, ambiente onde o papel da mulher está firmemente demarcado em atividades reprodutivas e de cuidados, que são menos valorizadas e raramente remuneradas. Outra experiência do contexto familiar remete ao papel da mulher no espaço privado, onde as práticas de cuidado são consideradas de responsabilidade exclusiva da mulher. Durante um jantar em família, meu companheiro terminou seu jantar, pediu licença, levantou-se da mesa e levou o seu prato para a pia da cozinha, neste momento, uma das mulheres presentes demonstrou insatisfação com essa atitude e disse em tons de gracejo que era “obrigação da esposa retirar o prato do marido da mesa”. Tal compreensão faz parte de um sistema de crenças apoiado no servilismo altruísta da mulher, assim como o do relato anterior, retrata o perfil de uma parcela considerável da sociedade que reproduz práticas de manutenção da desigualdade de gênero, moldando a divisão sexual do trabalho no espaço privado e público. Assim, as atividades de cuidado são impostas desde cedo às mulheres, como norma e obrigação, duplicando ou triplicando sua jornada de trabalho, ainda que o trabalho doméstico não seja considerado como trabalho, e por isso, não remunerado.

O mundo do trabalho formal também me encaminhou a aprendizados sobre o papel da mulher na produção. Vinda de uma formação na modalidade técnica-profissional, ingressei no mercado de trabalho aos dezoito anos, em uma área da tecnologia, onde, de uma equipe de trinta técnicos, apenas eu era mulher. Sendo uma mulher em um “ofício de homem”, em diversas ocasiões me deparei com situações às quais um homem comumente não é submetido. Meus colegas de trabalho, alguns muito cordiais (outros nem tanto) de quando em quando me “elogiavam” dizendo que eu “trabalhava como um homem”, desapercebidos das questões de gênero, não compreendiam a impropriedade do elogio ligado a um estereótipo de que a mulher não é um ser do mundo do trabalho técnico-tecnológico. Sempre agradeci o “elogio” mesmo percebendo a estranheza inerente, o “elogio” era sincero, contudo, hoje eu conseguiria lidar com essa experiência de forma a construir a compreensão dos colegas. Outra situação do mundo do trabalho ocorreu com um superior, que durante uma conversa onde expus a necessidade de resolver um problema trivial, de comum solução, fui surpreendida com um “calma, relaxe”, e em seguida um “você é muito sensível”. Essa é uma prática comum,

conhecida como “gaslighting”6, é um dos tipos de abuso psicológico que leva uma mulher a achar que está equivocada sobre um assunto, sendo que está originalmente certa, uma maneira eficaz de fazer a mulher duvidar do seu senso de percepção, raciocínio, memória e sanidade, de forma a demonstrar uma pretensa superioridade sobre a mulher. A ilustração dessas situações, em um universo maior de experiências, são pessoais, contudo, sob um olhar observador, retrata o aspecto político da desigualdade de condições e oportunidades experenciadas pelas mulheres na sociedade (Àvila, 2013; Lipovetsky, 2000). Tais construções resultam em práticas diversas de desigualdade de gênero que abrangem desde o problema do acesso à educação e carga de trabalho até a violência doméstica e o feminicídio. Evidentemnte, o escopo deste estudo não é tratar dos diversos problemas que acometem as mulheres em tal conjuntura, ainda que todos estes problemas partam da mesma matriz de desigualdade de gênero. Contudo, o tratamento da questão da mulher no âmbito da economia e do trabalho é tão relevante quanto a questão da violência contra a mulher, dado que a cidadania nesta sociedade ocorre a partir da geração de renda.

O mundo acadêmico me encaminhou para outras reflexões sobre a reprodução da normatividade masculina e revela como a oposição ao feminino é estrutural, e não residual. Os sinais estão presentes desde a educação básica, contudo, se reproduzem até os níveis de pós-graduação. No mestrado, eu e um colega definimos como tema para um artigo a participação feminina nos estudos sobre estratégia. Partindo desse tema, e com o referencial teórico mapeado, informamos a um professor sobre a escolha, e, após uma breve análise, ele manifestou que o tema não era relevante. Contudo, seguros de nossa escolha, prosseguimos com a pesquisa e escrita do artigo, e, posteriormente, o mesmo foi publicado em um periódico nacional qualificado. Desse episódio, surgiu uma reflexão: Porque persiste uma visão de que não é relevante analisar a perspectiva feminina nos estudos organizacionais? O mundo das organizações, como espaço público, é visto pela academia como campo neutro, imparcial, o que não é na prática, o resultado do artigo demonstrou que as mulheres não participaram da construção das teorias sobre estratégia empresarial - isso muda a forma como os negócios são

6Derivado do termo inglês “gaslight”, que significa à luz do candeeiro a gás, ou à meia luz – alusão ao filme O

termo vem do filme de 1944 da MGM, "Gaslight", estrelando Ingrid Bergman. O marido de Bergman no filme, interpretado por Charles Boyer, deseja sua fortuna. Ele se dá conta de que pode conseguir isso fazendo com que ela seja considerada insana e enviada para uma instituição mental. Para tanto, ele intencionalmente prepara as lâmpadas de gás (no inglês, "gaslights", vindo daí o nome do filme) de sua casa para ligarem e desligarem alternadamente. E toda vez que Ingrid reage a isso, ele diz a ela que está vendo coisas. A prática do gaslighting, juntamente a outras práticas como o mansplaining, manterrupting e o bropriating, são alguns dos termos criados para sinalizar o machismo nas relações e qualificar o comportamento masculino em relação a uma mulher em diferentes situações. Fonte: Sítio Movimento Mulher 360. Disponível em: http://movimentomulher360.com.br/2016/11/mm360-explica-os-termos-gaslighting-mansplaining-bropriating-e- manterrupting/. Acesso em: 12.07.2018.

feitos? O conhecimento é um poder masculino, e a academia reproduz esse poder via conhecimento – ciência de homens, feito para homens – como refletem Marsden e Townley (2001). Ainda como resultado dessa lacuna de reconhecimento e representação da mulher na academia, professoras do ensino superior têm maior necessidade de se legitimar no espaço acadêmico, principalmente em determinadas áreas das ciências, como as naturais e exatas, essas profissionais lidam em seu cotidiano com afrontas e indiferenças, e, em sua maioria, aderem aos cânones estabelecidos no seu campo disciplinar na busca pela legitimação da academia. Outro episódio interessante que vivenciei na academia foi quando defini minha metodologia de pesquisa da dissertação do mestrado, estudaria as redes da Economia Solidária em uma pesquisa quantitativa utilizando um método multivariado de análise. Quando em uma roda de discussão sobre os temas das dissertações participei aos colegas minha escolha metodológica, um deles me perguntou com um tom de descrença – “você tem certeza que vai fazer pesquisa quantitativa? – respondi que sim, o método aderia em conformidade com o problema de pesquisa. O questionamento sobre a minha opção por fazer pesquisa quantitativa vem de um estereótipo de que as mulheres fazem apenas pesquisa qualitativa (que muitos equivocadamente pensam ser um modo menos relevante de pesquisa, qualificando-a inclusive como ciência “soft”) e que uma mulher trabalhar com gráficos, tabelas e estatísticas multivariadas seria uma incoerência – “mulheres e números não combinam” ou “mulheres e máquinas não combinam”- exemplos de falácias construídas socialmente para segregarem as mulheres de determinadas atividades produtivas. Conquanto esses três contextos sociais - família, trabalho e academia – não sejam os únicos estudados pelo(s) movimento(s) feminista(s), os mesmos apresentam diversos níveis de experiências que se relacionam e são marcadas pela questão da desigualdade de gênero como definidores do papel da mulher na sociedade.

Partindo destas experiências pessoais, que em certa medida formaram em mim uma determinada visão sobre a necessidade de discutir a representação da mulher, especialmente a mulher periférica ubmetida a contextos de maior desigualdade, seguem-se os caminhos, tanto no mundo profissional quanto acadêmico, que me levaram a estudar a Economia Solidária [ES] e as práticas das mulheres na Rede Economia Solidária e Feminista [RESF]. Como informando anteriormente, a formação técnica me encaminhou naturalmente para um mercado de trabalho, portanto, aos dezoito anos adentrei no mercado de trabalho na área de tecnologia. Àquela época, o mundo do trabalho já se encontrava precarizado, em função da adoção de medidas neoliberais na década de 1990, tanto no primeiro quanto no segundo setor, mas especialmente no segundo setor, as aspirações pela garantia de emprego bem remunerado já

não existiam mais, de forma que já entrei no mercado de trabalho na condição de prestadora de serviços na condição de terceirizada. Mesmo em condições de baixa remuneração e cargas horárias de trabalho extensas, decorreram-se sete anos, onde atuei tanto na área técnica como de gestão. Quando cursava o sétimo semestre da graduação em Administração na Universidade Federal do Ceará, decidi que gostaria de trabalhar no primeiro setor. Tendo passado em concurso público federal, tomei posse em cargo administrativo no Ministério da Saúde em 2009, onde trabalhei com aquisições públicas e em seguida políticas de inclusão social de conselheiros de saúde, o que me trouxe o aprendizado sobre o funcionamento da máquina pública, do ponto de vista estrutural e organizativo, e como as políticas públicas de saúde são importantes para a consecução de níveis mínimos de cidadania, especialmente para as classes sociais mais pobres7. Em 2010, atendendo à convocação para outro concurso, tomei posse no cargo de administradora no Ministério do Trabalho e Emprego [MTE], cuja missão me chamava mais atenção do ponto de vista profissional e pessoal, ao mesmo tempo, terminava uma Especialização em Gestão Pública pela Universidade Estadual do Ceará, onde adquiri conhecimentos importantes para o tratamento da gestão pública. No MTE, tive a oportunidade de acessar as discussões sobre as políticas públicas de emprego e renda, especialmente em relação à Economia Solidária, que, àquela época, ocupava papel importante nas diretrizes institucionais do órgão. Dessa forma, minhas primeiras experiências com a Economia Solidária vieram por ocasião profissional, a partir da leitura de documentos relacionados às políticas públicas de emprego e renda na ES, participação de reuniões, eventos, encontros e feiras da ES. Àquela época, o MTE dispunha de uma secretaria específica para tratar a agenda da ES, a Secretaria Nacional de Economia Solidária [SENAES] e, nos níveis estaduais, haviam unidades departamentais para o acompanhamento das ações nas regiões. A agenda pública de apoio à ES no âmbito do MTE abrangia desde a identificação e mapeamento dos empreendimentos, e assessoria técnica, até apoio à formação de arranjos produtivos locais e redes de cooperação. O MTE desenvolvia políticas públicas de apoio e fortalecimento dos negócios da ES em termos de políticas públicas.

Em 2014 ingressei no Mestrado do Programa de Pós-graduação em Administração e Controladoria da Universidade Federal do Ceará, na linha de Organizações e Estratégia. Durante o Mestrado desenvolvi pesquisas exploratórias sobre as redes da ES a partir de um

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No Ministério da Saúde tive a oportunidade de conhecer as políticas públicas que engendram o Sistema Único de Saúde [SUS], tão criticado por parcela significativa da sociedade. Trata-se de um sistema complexo e abrangente de políticas de saúde pública, inclusivo. Um sistema que inclusive é estudado por outros países e ambicionado em termos de estrutura (O sistema conhecido como “Obamacare” nos EUA baseou-se na proposta do SUS), ainda que, por diversos motivos, ainda funcione de forma precária em alguns casos.

estudo quantitativo da base de dados do mapeamento nacional dos empreendimentos da ES realizado entre os anos de 2010 a 2013 pela SENAES, reunindo mais de oito mil unidades de observação. O estudo foi promissor na identificação de tendências sobre o movimento e encaminhou-se para a pesquisa de mestrado em nível de dissertação, onde pesquisei a geração de capital social no âmbito das redes da ES e sua relação com os princípios norteadores do movimento. Tais pesquisas foram importantes para aquele momento onde se discutia o papel das redes na ES e suas contribuições, os artigos foram publicados em periódicos internacionais8 de impacto relevante. Uma das observações apontadas pelas pesquisas foi a considerável participação da mulher na ES, não apenas em termos quantitativos, mas sua representação no movimento, tais observações conduziram o desejo em pesquisar as práticas de gestão destas mulheres no âmbito da ES, especialmente da RESF.

Em 2016 iniciei o Doutorado no Programa de Pós-graduação em Administração e Controladoria da Universidade Federal do Ceará, na linha de Organizações e Estratégia, e a intenção era dar continuidade aos estudos na ES. Há que se observar que ao iniciar o doutorado, em março de 2016, o Brasil vivia um momento turbulento em termos políticos, culminando, em 31 de agosto de 2016, no impedimento da Presidente eleita democraticamente, a Sra. Dilma Rousseff, assumindo o cargo o então Vice Presidente Michel Temer. Tal ocorrido resultou em alterações significativas nas políticas públicas voltadas para a ES, a agenda política da gestão que assumiu o poder9 após a saída de Dilma Rousseff, iniciou mudanças estruturais na Administração Direta, especialmente no âmbito dos Ministérios do poder Executivo, um dos encaminhamentos foi a extinção da SENAES, no início de novembro de 2016, após treze anos de atuação. A esta altura, o projeto de pesquisa visando estudar as práticas de gestão feministas na RESF já estava delineado em termos gerais, e me empenhava em mapear o referencial teórico que atendesse à questão de estudo, enquanto escrevia um artigo sobre influências do feminismo na ES10. Portanto, em 2016 foi a

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O artigo “Clusters in the Solidarity Economy: the strategy of participating in networks of enterprises in Brazil” foi publicado no periódico CIRIEC España, uma revista internacional especializada em Ecconomia Social e Solidária (Impacto B2). O artigo “Complexity and social capital in solidarity economy: an empirical evidence of enterprises in Brazil” foi aceito em março de 2018 no periódico International Journal of Entrepreneurship and Innovation Management, aguardando a publicação (Impacto A2).

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A agenda política instalada a partir da saída de Dilma Roussef em 2016 previu um plano de governo que atende os anseios do mercado, especialmente do mercado rentista, baseado na redução e mesmo extinção de direitos trabalhistas, através da flexibilização de leis e normativos trabalhistas, e previdneciários, resultando em uma precarização acentuada da condição dos trabalhadores que será percebida a médio e longo prazo pela sociedade.

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O artigo “Influxos do feminismo na Economia Solidária: um estudo sobre as práticas organizacionais em empreendimentos autogeridos por mulheres” foi premiado como melhor artigo da área “Empreendedorismo e Negócios de Impacto” no Encontro Internacional sobre Gestão Empresarial e Meio Ambiente (XX ENGEMA -

primeira vez que fui à campo coletar dados primários sobre a ES e a RESF, visto que até então, havia realizado estudos quantitativos utilizando os dados da base da SENAES.

Não obstante tal situação de desmonte das políticas públicas de fomente à ES, mantive minha agenda de pesquisa e continuei a pesquisar a ES, agora empreendimentos autogeridos por mulheres. Minha inserção em campo para coletar dados primários ocorreu por meio do chefe da unidade da SENAES na regional Ceará, Sr. Reinaldo Silva, em março de 2016, que me repassou o contato de uma das representantes da Rede Economia Solidária e Feminista no estado do Ceará. Portanto, meu primeiro contato com a RESF foi uma conversa com uma das representantes, que também é produtora da rede (Ver Diário de campo no Apêndice D1). Conversei com a representante da RESF, pelo telefone em julho de 2016, e marcamos um encontro no refeitório da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará. Nesta conversa, Dandara me falou sobre os grupos que formam a RESF no Ceará, e me repassou os contatos, por email, em arquivo tipo planilha, dos grupos de mulheres da rede em atividade. De posse desta relação de contatos, iniciei a comunicação com os grupos de empreendimentos. O primeiro contato com as mulheres da RESF ocorreu em uma reunião mensal da rede, a primeira percepção foi a natureza desburocratizada das dinâmicas organizativas. As mulheres estabeleciam entre si uma relação além da dinâmica do trabalho, que as une primeiramente, questões relacionadas à família, ao trabalho do cuidado, saúde, entre outras sempre estavam em discussão, como se todas estas questões da vida humana estivessem interrelacionadas também com o trabalho, o que também expressa uma dificuldade das mulheres em separar a vida produtiva da vida reprodutiva. Percebi que as mulheres costumam estar acompanhadas de filhos, netos, e outros relativos, a família acompanha a mulher, onde quer que ela esteja, apoiando-a ou precisando de seu apoio. Percebia-se o contentamento das mulheres em estarem juntas e compartilhando conhecimentos. Outra importante percepção deste primeiro encontro foi a receptividade das mulheres em relação à pesquisa, inclusive escutei de algumas que “é bom tem alguém olhando pra gente”. A partir daí passei a frequentar as reuniões, encontros, feiras e outros eventos da rede. A primeira pesquisa que realizei junto às mulheres foi sobre a influência do feminismo na gestão dos empreendimentos, neste estudo apliquei questionários em escala Likert nos momentos que estive com elas. O pré-teste do questionário junto a 30 mulheres me trouxe algumas importantes lições, primeiro, as mulheres reclamaram que as perguntas estavam muito

2018), evento organizado pela Universidade de São Paulo (USP) e aprovado para processo de fast track na Revista de Gestão Ambiental e Sustentabilidade (GeAS).

técnicas, algumas não conseguiram responder a todas as perguntas, em alguns momentos tive que ler as perguntas e explicar junto aos grupos.

Percebi que se eu quisesse me aproximar delas, era necessário adaptar o instrumento