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Segundo observa Stake (1995), o procedimento de triangulação diz respeito à localização, ao estabelecimento de um ponto ou posição, de um esclarecimento sobre um fenômeno a partir de diferentes formas de investigação, ontológicas ou epistemológicas, de modo a consolidar a pesquisa. Flick (2009) aponta que a triangulação é uma combinação de diferentes métodos, grupos de estudo, ambientes, períodos de tempo e perspectivas teóricas para lidar com um fenômeno. Para o autor é o estudo de um tema e um problema de pesquisa com base em duas perspectivas privilegiadas, assumindo diferentes visões a respeito da questão de pesquisa e combinando diferentes tipos de dados sob a mesma abordagem teórica

para a produção de mais conhecimento do que seria possível com base em uma só perspectiva. Segundo Stake (1995), nem sempre é necessário realizar a triangulação em uma pesquisa, mas em outras situações a técnica é essencial, quando a complexidade do fenômeno exige uma aproximação maior do objeto. No tocante a esta pesquisa, a triangulação foi realizada para atender à abordagem da redução sociológica de Ramos (1996) que propõe que se equilibre na pesquisa o uso de técnicas qualitativas e quantitativas, bem como a necessidade de analisar o fenômeno das práticas das mulheres em seu contexto de forma mais próxima.

Segundo Stake (1995) e Flick (2009), existem diversos tipos de triangulação, de teorias, de dados, de investigadores, e metodológico. Nesta pesquisa foi utilizada a triangulação metodológica, pois a pesquisa combina métodos qualitativos e quantitativos de coleta a partir dos questionários, observação e entrevista. Na triangulação metodológica, exige-se que o uso de vários métodos exige que estes sejam congruentes com as perguntas de pesquisa. Flick (2009) sugere o uso da triangulação especialmente em pesquisas qualiquantitativas, trabalhando-a numa perspectiva de resultados, assim, uma mesma população pode ser submetida a observação, questionários e entrevistas, realizando-se a comparação entre suas respostas. Flick (2009) observa a triangulação pode resultar em:

a) Convergência de resultados: os resultados das pesquisas qualitativa e quantitativa confirmam parcial ou totalmente uns aos outros;

b) Complementação: aqui, os resultados se concentram em diferentes aspectos da questão de pesquisa, e, por serem complementares, permitem visualizar um quadro mais amplo da realidade investigada;

c) Divergência ou contradição: por fim, os dados obtidos por uma metodologia de pesquisa podem ser distintos daqueles coletados com a outra, exigindo um novo estudo que esclareça teórica ou empiricamente a divergência e dê conta das razões e motivações por trás dela.

Flick (2009b) recomenda alguns tipos de triangulação, quais sejam:

a) No caso de dados verbais obtidos por meio da entrevista, é interessante usar os surveys – se for relevante triangular pesquisas qualitativas e quantitativas – a etnografia, a observação participante e os grupos focais;

b) Dados etnográficos pedem procedimentos adicionais de observação, entrevista, análise documental, entre outros;

c) Dados visuais são, frequentemente, usados em conjunto com as entrevistas. A triangulação de observações com outras fontes de dados, intensifica a expressividade

dos dados reunidos e deve ser usada tanto no caso de observações feitas pelo pesquisador, quanto no caso de se usar material visual, como fotos e vídeos.

Nesta pesquisa são triangulados dados referentes aos questionários aplicados junto às mulheres da RESF, a observação das práticas das mulheres no seu cotidiano e contexto de trabalho e entrevistas com algumas representantes. De acordo com Flick (2009) é preciso tomar uma série de cuidados na triangulação de métodos qualitativos e quantitativos. O autor orienta, inicialmente, que cada método deve ser considerado como uma forma de complementar o outro, compensando suas deficiências, pois a intenção é identificar convergências de resultados, complementações e divergências, conforme proposta de Ramos (1996), Creswell (2007), Stake (1995) e Flick (2009).

Quadro 07: Caracterização metodológica da pesquisa

Dimensão Caracterização Aporte teórico

Tipo de

pesquisa Objetivos Exploratório Creswell (2007); Flick (2009) e Marconi e Lakatos (2010) Descritivo Creswell (2007) e Flick (2009)

Hipotético dedutivo Creswell (2007) e Flick (2009) Problema Abordagem quantitativa Cooper e Schindler (2003)

Abordagem qualitativa Flick (2009) e Marconi e Lakatos (2010) Procedimentos Pesquisa bibliográfica Creswell (2007)

Pesquisa documental Creswell (2007) Pesquisa qualiquantitativa Creswell (2007) Unidade de análise Práticas feministas de

autogestão

Fraser (2001, 2002); Martin (1993, 2003); Mohanty (1988, 1995, 2003, 2006), Santos (2017), Spivak, (2010), Bhabha, (1990, 1998) e Maria Lugones (2007)

Objeto Empreendimentos da Rede Economia Solidária e Feminista do estado do Ceará

SENAES (2014); RESF (2016) Coleta de dados Documentação e registros Creswell (2007);

Questionários em escala

Likert Cooper e Schindler (2003) Observação direta (Diário de

campo) Creswell (2007); Collins e Hussey (2005); Cooper e Schindler (2003) Entrevistas semiestruturadas

a partir da abordagem da história oral temática

Creswell (2007); Collins e Hussey (2005); Flick (2009); Meihy (2002); Meihy e Holanda (2007); Meihy e Ribeiro (2011).

Análise de dados Análise de Regressão

Múltipla Collis e Hussey (2005); Cooper e Schindler (2003) Análise de Discurso a partir

da abordagem da história oral temática

Gill (2002); Meihy (2002). Triangulação das análises

quantitativa e qualitativa

Stake (1995); Flick (2009); Meihy (2002); Meihy e Holanda (2007); Meihy e Ribeiro (2011); Ramos (1965).

Para Flick (2009) os métodos devem operar de maneira autônoma, resguardando coerência e adequação às especificidades do fenômeno sob investigação. O quadro acima identifica a matriz de caracterização metodológica desta pesquisa, indo ao encontro do que diz Ramos (1996) em sua proposta de redução sociológica, sobre a necessidade de equilibrar as técnicas de natureza quantitativa e qualitativas a fim de aproximar-se do fenômeno social estudado. Certamente, a opção por triangular os dados fornecerá uma compreensão mais próxima da realidade das práticas feministas de autogestão nos empreendimentos da Rede Economia Solidária e Feminista. Ressalta-se que, considerando o objetivo geral da pesquisa de investigar as práticas das mulheres na Rede Economia Solidária e Feminista e como elas refletem a racionalidade substantiva de uma gestão feminista, concretizando-se como um modelo de organizações produtivas autogestionárias. Os objetivos específicos refletem as etapas da pesquisa, logo:

(i) Identificar e analisar o nível relacionamento das práticas feministas de autogestão empregadas pelas mulheres com as dimensões de justiça de gênero (redistribuição, reconhecimento e representação: será trabalhado na etapa quantitativa da pesquisa, a partir das análises multivariadas e os testes das hipóteses elaboradas para o estudo utilizando os dados dos questionários em escala Likert coletados junto às mulheres da RESF (subseção 4.1).

(ii) Descrever e analisar as práticas feministas de gestão realizadas por mulheres no contexto dos empreendimentos da RESF: será trabalhado na etapa qualitativa da pesquisa, a partir da análise das entrevistas semisestruturadas e observações realizadas ao longo do estudo, utilizando a perspectiva da história oral (subseção 4.2).

(iii) Elaborar uma proposta de práticas feministas de autogestão para o contexto das mulheres que se organizam coletivamente: será trabalhado como resultado das análises quantitativa e qualitativa, a partir das análises empreendidas, identificando as novas práticas de autogestão performatizadas pelas mulheres na RESF (subseção 4.3).

Destarte, considerando o suporte teórico e metodológico relacionados para a pesquisa, seguem-se a análise dos dados e discussão dos resultados.

4 ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Nesta seção são sistematizadas, analisadas e discutidas as informações coletadas na investigação, bem como as relações teóricas observadas, contudo, antes de iniciar tais construções, há uma necessidade de expor os caminhos percorridos ao longo do estudo. Portanto, inicio esta seção com uma breve exposição dos eventos que me encaminharam, como mulher e como pesquisadora, a estudar o tema objeto deste estudo: as práticas feministas de autogestão de empreendimentos geridos por mulheres na Rede Economia Solidária e Feminista.