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3.2.1 Coleta de dados da etapa quantitativa

De acordo com Collis e Hussey (2005), a pesquisa a abordagem do problema da pesquisa conduzida pode ser caracterizada, quanto à sua natureza como quantitativa, nas etapas de coleta e análise de dados e quanto aos objetivos a pesquisa pode ser caracterizada como exploratória e dedutiva. Conforme Cooper e Schindler (2003) a fase exploratória da pesquisa adequa-se ao objetivo deste estudo porque, ao mesmo tempo em que se pretende descrever a situação da amostra, a fase dedutiva, por sua vez, surge do teste das hipóteses elaboradas para o estudo, indicando tendências no fenômeno pesquisado.

A primeira fonte de dados é secundária, resultado de um mapeamento nacional realizado pela SENAES entre os anos de 2010 a 2013, abrangendo 19.708 empreendimentos no Brasil. Desses 19.708 empreendimentos em funcionamento, 7.633 apresentam mulheres como maioria, e 2.874 destes empreendimentos são organizados apenas por mulheres (MTb, 2014). Os dados capturados nesse levantamento foram organizados em 899 categorias de informações (variáveis), que vão desde o endereço do empreendimento até a participação dos empreendimentos da ES em movimentos sociais, passando por uma detalhada pesquisa junto aos sócios dos empreendimentos, abrangendo também questões de gênero e raça. O mapeamento nacional, visualizando a questão do gênero na ES, abrangeu diversas questões importantes sobre a mulher na ES, desde o número de sócias até a situação da terra onde vivem e trabalham. A segunda fonte de dados é primária e foi coletada a partir da aplicação de um questionário formatado em escala Likert de cinco posições junto às mulheres empreendedoras de redes de cooperação da ES no Ceará, conforme a proposta de justiça de gênero e de práticas e gestão feministas (Para o instrumento de coleta, ver Apêndice B1). A amostra da pesquisa abrangeu dezessete empreendimentos da ES da rede de cooperação (produção e comercialização) Estrela de Iracema estabelecida no estado do Ceará e formadas apenas por mulheres, conforme dados relacionados a seguir.

Tabela 01: Caracterização da amostra da pesquisa quantitativa

Empreendimento Quantidade de associadas

Aarte 10

AFAF 21

Arte e Cia (desde 2004)* 13

Arte e Costura* 11

Artfor* 7

Ateliê Flor de Lajanjeira (desde 2013)* 12

Criart* 13

Floração* 6

Mandacaru Flores 8

Mãos Talentosas (desde 2015)* 5

Mar* 9

Maria Bonita (desde 2003)* 10 Mulheres Celtas (desde 2005)* 8 Mulheres Criativas (desde 2006)* 9

Mulheres da Terra* 9

Mulheres Empreendedoras 10

Multiarte 9

Nega Fofa (desde 2017)* 11

Recriar 10

São Bernardo 14

Solidart (desde 2001)* 15

Solidú* 10

Variarth (desde 2007)* 6

Vivendo com Arte 9

Vencendo com Arte 10

Um Pouco de Nós 11

Total> 277

*Estes grupos de mulheres até o começo de 2017 faziam parte da RESF, contudo, em virtude de uma reestruturação política solicitada pelo Ministério do Trabalho os grupos se diviriam entre as redes: Cearense- Cáritas, RESF e Florestan Fernandes. Essa mudança aparentemente é de natureza apenas formal, visto que as dinâmicas dos grupos não sofreram alterações significativas. Portanto, apenas para a coleta de dados via questionário foram considerados os dados fornecidos por estes grupos, considera-se que não há prejuízo para a pesquisa a observação da percepção destas mulheres que também fazem parte da ES.

Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa

Segundo Cooper e Schindler (2003), a escolha das variáveis deve refletir o fenômeno sob investigação, o problema de pesquisa. O conjunto de variáveis que foi selecionado na base de dados da SENAES e na pesquisa junto aos empreendimentos autogeridos por mulheres, emergiu da teoria revisada sobre a Economia Solidária, a abordagem de justiça de gênero e as teorias feministas sobre práticas feministas de gestão. As variáveis dependentes adotadas são os índices de redistribuição, reconhecimento e representação. As variáveis que compuseram as dimensões da justiça de gênero, são de natureza categórica, sendo assim, na análise dos dados foi realizada a transformação lógica dos dados no SPSS, considerando “0” para “não” e “1” para “sim”. O índice de redistribuição foi criado a partir de questões como “O trabalho doméstico e de cuidados é reconhecido no empreendimento”. O índice de reconhecimento foi criado a partir de questões como “O empreendimento valoriza a mulher no trabalho e na economia.”. E o índice de representação foi criado a partir de questões como “As decisões no empreendimento são tomadas democraticamente”. As variáveis independentes da pesquisa são os índices relacionados às oito práticas feministas de gestão (Martin, 1993, 2003; Cooper e Schindler, 2001). A seguir está disposto um quadro resumo das

variáveis da etapa quantitativa (para identificar as questões relacionadas a cada índice, ver Apêndice B2).

Quadro 05: Sumário das variáveis utilizadas na pesquisa

Construto Descrição Suporte teórico

Redistribuição (variável

dependente) Redistribuição equânime das atividades de produção e reprodução. Gestão democrática, autogestão, autoorganização

Fraser (2001, 2002) Reconhecimento

(variável dependente) Reconhecimento das experiências das mulheres e suas práticas nos processos socioeconômicos. Participação das trabalhadoras na gestão do empreendimento.

Fraser (2001, 2002) Representação

(variável dependente) Representação das mulheres nos processos decisórios. Comprometimento cívico, social e político, conquistas, participação em ações comunitárias e movimentos sociais.

Fraser (2001, 2002) Práticas feministas de

gestão

(variável independente)

Oito dimensões das práticas feministas de gestão, que vão desde o reconhecimento da questão da mulher até a luta por resultados transformadores.

Martin (1993, 2003)

Observação: As variáveis relacionadas a cada construto estão descritas no Apêndice B2

Fonte: Elaborado pela autora

Na fase exploratória da pesquisa foram aplicados cento e cinquenta questionários junto às mulheres, fonte primária dos dados quantitativos da pesquisa. Na etapa de coleta qualitativa foram observados os trabalhos executados pelas mulheres e suas práticas organizativas, bem como foram realizadas entrevistas com cinco mulheres, das áreas de artesanato, alimentação e agroecologia, duas delas são, além de produtoras, representantes da RESF no Ceará

3.2.2 Coleta de dados da etapa qualitativa

Como mencionado anteriormente, a coleta de dados da etapa qualitativa ocorreu a partir da técnica de observação das práticas das mulheres em seu contexto de trabalho e de entrevistas semiestruturadas junto a algumas representantes, com instrumentos próprios de coleta: um roteiro de observação e um roteiro de entrevista semiestruturada (Cooper e Schindler, 2001; Creswell, 2007; Flick, 2009; Marconi e Lakatos, 2010). Também foi realizada pesquisa documental, a fim de buscar materiais escritos tais como jornais e outros textos publicados na mídia impressa e eletrônica, textos internos da organização, tais como, memorando, cartas, avisos impressos, relatórios, atas de reuniões, e demais documentos administrativos relativos à prática da autogestão, registros organizados em banco de dados que evidenciem aspectos da vida social da organização e da prática de autogestão, elementos

iconográficos, imagens, fotografias, grafismos, vídeos. Vale ressaltar que os documentos considerados fontes de evidências secundárias.

Segundo Marconi e Lakatos (2010), a observação é uma técnica qualitativa de coleta de dados onde o pesquisador faz anotações de campo, em um diário específico, sobre o comportamento e as atividades dos indivíduos no contexto da pesquisa. Em tais anotações de campo, o pesquisador registra as atividades no local da pesquisa, de forma estruturada ou semi-estruturada (usando algumas questões anteriores que o pesquisador quer saber). Os observadores também podem se envolver em papéis que variam desde um não participante até um completo participante, nesta pesquisa foi adotada a pesquisa de observação direta, pois o intuito é observar as mulheres em suas práticas de autogestão (Creswell, 2007). Para Marconi e Lakatos (2010), a observação auxilia o pesquisador na identificação e obtenção de provas a respeito de objetivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu comportamento. Na observação direta, em seu modo não participante, o observador não interage com os observados, apenas ouve, observa e anota, de maneira discreta, o fenômeno. O pesquisador entra em contato com a comunidade, grupo ou realidade estudada sem integrar- se a ela, apenas participa do fato, sem envolvimento (Marconi & Lakatos,2010). Este foi um momento inicial da pesquisa, no ambiente físico natural dos observados, para que o pesquisador possa capturar o comportamento como ocorre originalmente, mantendo a sua autenticidade (Creswell, 2007). Apesar do não envolvimento nesta fase da pesquisa qualitativa, as mulheres estarão conscientes que estão sendo observadas, pois segundo Flick (2009), trata-se de uma observação evidente e aberta. Na observação direta buscou-se identificar as dinâmicas, aparências, situações, conflitos e comportamentos em reuniões e atividades produtivas e de comercialização. Ao longo da pesquisa, foram realizadas vinte observações (Ver Apêndice D1), que resultaram em 55 horas e 30 minutos de observação constantes em 20 diários de campo. Para Flick (2009) as fases de observação são:

a) Descritiva: usada para entender a complexidade do campo de forma mais ampla possível, para desenvolver perguntas de pesquisa e perspectivas mais direcionadas; b) Direcionada: a perspectiva é cada vez mais estreitada a processos e problemas que são particularmente relevantes para a pergunta de pesquisa;

c) Seletiva: pretende encontrar mais evidências e exemplos do que já foi encontrado, como tipos de práticas e processos.

Segundo Cooper e Schindler (2001, p.305), a observação é indicada quando: o objetivo da pesquisa está disfarçado, quando o respondente tem má vontade em participar por razões diversas, o ambiental natural é imperativo, quando existe a necessidade de evitar

filtragem de mensagem. Creswell (2007, p. 193) indica a importância de um protocolo observacional, para registrar os dados da observação no diário de campo. O roteiro de observação foi elaborado a partir das construções realizadas na seção teórica com o apoio das metodologias qualitativas aqui discutidas sobre prática, justiça de gênero e gestão feminista (Para o instrumento de coleta, ver Apêndice C1).

A segunda fonte de dados qualitativos foi a entrevista semiestruturada junto a algumas mulheres, a escolha das mulheres que responderão à entrevista foi apontada partir da observação. Foram entrevistadas cinco mulheres produtoras, dentre as quais, duas, além de produtoras, são representantes da RESF no Ceará. Também foram entrevistados os gestores que trabalharam na Seção de Economia Solidaária do extinto Ministério do Trabalho e Emprego, em virtude de suas percepções sobre a política pública da ES, e por terem acompanhado toda a construção e implementação de tais políticas em nível nacional e estadual, estas entrevistas, contudo, foram consideradas como informantes, pois os dois entrevistados não são sujeitos da pesquisa. A perspectiva adotada para esta etapa da coleta de dados foi a da história oral, especialmente sob o enfoque da Nova História. Para Godoi, Bandeira de Mello e Silva (2006, p.182), a história oral privilegia vozes esquecidas, ou invizibilizadas, de sujeitos “iletrados, minorias, as mulheres, os camponeses, os operários”. Para os autores, a partir dessa perspectiva do que está na periferia, é possível registrar “reinvidicações, angústias, sugestões, críticas e apreender seus pontos de vista” que podem contribuir para a compreensão da vida organizacional contemporânea. Portanto, trata-se de uma busca por representavidade de outras formas de organização por meio da alteridade (Meihy e Ribeiro, 2011). Conquanto na Administração a história oral ainda caminhe seus primeiros passos, o uso de tal abordagem enriquece a pesquisa organizacional, especialmente sob o enfoque da Nova História, onde há uma preocupação com os movimentos coletivos, as ações individuais, tendências e acontecimentos (Curado, 2001). Nesse sentido, a preocupação com as experiências das pessoas comuns e suas demandas por mudança social refletem uma “história vista de baixo” (Curado, 2001, p.3). Tal perspectiva alinha-se com o que guerreiro Ramos (1996) observa sobre a necessidade de aproximação dos pesquisadores ao contexto da realidade brasileira, potencializando uma posição de engajamento e compromisso consciente com sua realidade social.

Meihy e Holanda (2007, p. 46) apontam que os princípios básicos da história oral são “de quem, como e por que”, considerando a relevância social da pesquisa, a exequibilidade em termos de abrangência de entrevistas, local e tempo, diálogo com a comunidade de destino, que o gerou, e responsabilidade na finalização e devolução ao grupo. Existem três

modalidades de história oral, quais sejam: história de vida, história oral temática e tradição oral. Para este estudo, optou-se por utilizar a abordagem da perspectiva da história oral temática, que, segundo Meihy (2002), permite uma maior objetividade, pois, a partir de um tema específico preestabelecido, busca-se a perspectiva do entrevistado sobre o assunto tratado. Nesse sentido, a escolha do entrevistado-colaborador é baseada no nível de conhecimento do colaborador sobre o tema, pois se exige, segundo Meihy (2002), um nível de qualificação de quem se entrevista. Segundo o autor, o estabelecimento de comunidades destino, colônias e redes é fundamental para a consecução de respostas pertinentes aos fatos eleitos como tema, que neste estudo é a Rede Economia Solidária e Feminista. Para o autor, as redes devem ser sempre plurais, pois nas diferenças internais residem as justificativas para os ddiferentes comportamentos. Alberti (2005) observa que o roteiro de entrevista deve ser elaborado com base no projeto de pesquisa exaustiva sobre o tema, promovendo a síntese das questões a serem levantadas durante a pesquisa de fontes primárias e secundárias.

Meihy e Ribeiro (2011) alertam que ainda que estejam definidas as categorias de análise, pressupostos conceituais e hipóteses do estudo é necessário se render à dinâmica da pesquisa e o andamento do projeto no momento da coleta de dados, para os autores, o progresso do estudo é cumulativo. Segundo Meihy e Holanda (2007, p. 20), a entrevista na história oral é considerada uma facilitadora do entendimento social e depende de três elementos principais: o entrevistador, o entrevistado e a aparelhagem de gravação. Os autores observam que sob a perspectiva da história oral, entrevistador e entrevistado não estão em patamares diferentes, pois “devem ser reconhecer como colaboradores” do projeto de pesquisa. Para Meihy e Holanda (2007, p. 30), os passos da história oral são: elaboração do projeto, “gravação, estabelecimento do documento escrito e sua seriação, sua eventual análise, arquivamento e devolução social”. Os procedimentos de coleta da entrevista deve se iniciar com: (i) o texto dos aparelhos de gravação; (ii) a gravação da matrícula da entrevista definindo local e data, nome do projeto, nome do colaborador entrevistado e de presenças eventuais de outras pessoas. O ideal é finalizar o procedimento novamente com a coleta da matrícula da entrevista. Outros aspectos a serem observados na entrevista e que podem fazer parte do diário de campo são: a) Tipo de observações a respeito do entrevistado; b) As relações que se estabeleceram com o entrevistado; c) Os motivos que levaram à escolha do entrevistado; d) Os canais de mediação, como e onde se conheceram; e) Como o entrevistado reagiu ao convite; f) Como decorreram as sessões: reações às perguntas, dificuldades da pesquisadora, interrupções, problemas, informações obtidas quando o gravador está desligado, comentários sobre sua memória, a evolução da relação entre entrevistado e entrevistador, ao

longo das sessões de entrevista as relações foram se aprofundando, eventuais alterações no local da entrevista, contatos posteriores; g) Pré-entrevista, entrevista e pós-entrevista (Meihy, 2002).

No contexto de empreendimentos, Meihy e Ribeiro (2011) apontam a necessidade de um recorte classificatório, em virtude da combinação trabalho e capital, e da abstração que comumente se observa quando se fala nas organizações. Tais análises exigem domínio técnico e conhecimento de conceitos que são polissêmicos. O papel dos testemunhos é constituir a “vida” do empreendimento, especialmente em relação ao impacto da entidade no contexto em que se situa a partir da oralidade de seus atores. Para Meihy e Ribeiro (2011) a importância da história oral também reside como base para elaboração de políticas públicas adequadas à realidade das demandas sociais, especialmente pelo seu caráter de participação social. As políticas públicas surgem como resultado de projetos dimensionados a partir de lutas coletivas, institucionalizando as lutas por um lugar social na ordem social. Segundo Meihy e Ribeiro (2011, p.40), a luta pela implementação da cidadania é uma luta por participação em espaços decisórios, nesse sentido, o papel da história oral seria contribuir para a “transformação do padrão participativo das comunidades que sempre se constroem”, exibindo as inconformidades e necessidades de afirmação social.

No primeiro contato com uma das representantes da RESF foram explanados os objetivos da pesquisa, sua relevância, e a importância da entrevista para a compreensão da questão levantada, e a satisfação da pesquisadora em ouvir o relato da colaboradora, conforme propõe Alberti (2005), também foi assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecimento [TCLE] (Apêdice A2). Segundo Alberti (2005, p.87), tal procedimento de franqueza eleva a confiança entre entrevistador e entrevistado, especialmente na adoção da história oral, é necesário demonstrar respeito pelo colaborador entrevistado, enquanto “sujeito produtor de significados outros que os dos pesquisadores”, assim, as relações que se estabelecem entre entrevistador e entrevistado influem no prosseguimento da pesquisa e os padrões de conduta. No primeiro contato, também é ocasião propícia à solicitação de documentos, fotos, registros que possam compor a análise da pesquisa. Godoi, Bandeira de Mello e Silva (2006) alertam que no momento inicial de esclarecimento sobre por que, para que e para quem as narrativas estão sendo coletadas, é necessário assegurar que o entrevistado entenda que pode se abster de falar sobre algo que não entenda oportuno ou possa pedir para desligar o gravador. A informação sobre a cessão dos direitos da entrevista também é etapa essencial para validação dos dados, segundo Alberti (2005), por meio escrito. Contudo, Godoi, Bandeira de Mello e Silva (2006) observam que tal procedimento também pode ser

gravado no corpo da gravação da entrevista (Conforme as Resoluções nº 466/12 e 510/16 do Conselho Nacional de Saúde que normatizam pesquisas que envolvem humanos).

Segundo Creswell (2007), inserida na pesquisa qualitativa, a entrevista semiestruturada é uma forma de coleta de dados que apresenta maior flexibilidade para trabalhar com grupos específicos de atores, por exemplo, mulheres em situação periférica22. A entrevista semiestruturada pode adquirir um aspecto ideal para se trabalhar em condições específicas diante do fato deste tipo de entrevista não ser inteiramente focalizado e, deste modo, menos cansativo. Para o autor, a entrevista semi-estruturada tem como característica questionamentos básicos que são apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa, tais questionamentos dariam frutos a compreensões ampliadas sobre o tema de pesquisa, além da descrição dos fenômenos sociais. Para Flick (2009), a entrevista semiestruturada é direcionada para um tema específico, logo, deve seguir um roteiro baseado teoricamente, com perguntas básicas, principais e perguntas complementares para atingir o objetivo da pesquisa, contudo, há espaço para outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Para o autor, esse tipo de entrevista pode fazer emergir informações de forma mais livre e as respostas não estão condicionadas a uma padronização de alternativas. O roteiro serviria, então, além de coletar as informações básicas, como um meio para o pesquisador se organizar para o processo de interação com o informante (Para o instrumento de coleta, ver Apêndice C2). Quanto ao consentimento dos sujeitos de pesquisa, foi elaborado e enviado documento à RESF convidando a participar oficialmente da pesquisa (Ver Apêndice A1). Ademais, as mulheres que participarão da pesquisa terão a opção de concordar com o estudo a partir do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido [TCLE], de forma escrita ou gravada em áudio (Ver documento no Apêndice A2). O TCLE se assenta na preocupação e sua leitura é importante para apresentar de forma clara o objetivo da pesquisa e os direitos do participante com relação à sua participação, tanto na observação quanto na entrevista. Observa-se que o consentimento para a pesquisa poderá ser coletado via assinatura do documento disposto no Apêndice A2 ou via gravação das disposições principais do documento e do aceite antes da realização da entrevista.

Além dos dados qualitativos coletados via observação, estarão dispostos nos diários decampo e de impressões. Tais informações foram coletadas entre os anos de 2017 e 2019, o período de 2017 e 2018 foi um período tanto de inserção no contexto das mulheres da RESF,

22 As mulheres da Economia Solidária apresentam graus de escolaridade diversificada, contudo, em sua maioria, manifestam graus de escolaridade mais básicos, em função de diversas circunstâncias, não tiveram a oportunidade de cursar um ensino formal completo ou de qualidade (esta também é uma questão para a emancipação da mulher), o que impossibilita a utilização de alguns tipos de técnicas de coleta de dados.

quanto do início de coleta de dados para a pesquisa. Segundo Creswell (2017), o diário de campo permite uma descrição detalhada do processo de pesquisa e torna a interpretação mais completa em termos de relações com a questão de pesquisa e objetivos, emergindo até mesmo relações que não foram teoricamente identificadas.