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CAPÍTULO 1 – CARTOGRAFIA DA PESQUISA

1.8 Apresentação dos dados

1.8.1 Apresentação dos resultados da categoria profissional

1.8.1.3 Aspectos pessoais

A verificação de variáveis quantitativas entre os dois grupos das escolas “A”e “B” foi realizada através da utilização do teste não-paramétrico de Mann-Whiney, que testa se há diferença entre as idades dos professoras em ambas as escolas. A média apresenta-se entre a mínima de 21 anos na escola “B”, 29 anos na escola “A”e a máxima de 57 anos em ambas as escolas, sendo que o número maior de indivíduos localiza-se na faixa entre 35 a

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44 anos. O teste de Mann-Whitney aponta que há diferença estatisticamente significante entre as idades, ou seja, 0,031 é altamente significante, e o nível de confiabilidade, estimada em grau, revela que é verdadeiro é altamente significante, como podemos verificar na Tabela 3, abaixo:

Tabela 3 – Teste de Mann-Whitney sobre a significância da variável idade

Esse dado pode significar que a grande maioria dos professores pesquisados apresenta-se mais próxima da aposentadoria do que da inserção do magistério, mas não podemos ter certeza dessa afirmação, uma vez que não pesquisamos se os entrevistados exerciam atividades profissionais anteriores à do magistério.

Quanto ao número de horas trabalhadas, os dados revelaram que, em média, os professores trabalham de 30 a 40 horas semanais e, em alguns casos, até 60 horas. Na comparação entre as escolas, observamos que na escola “A”, aqui estatisticamente tratada como 1, o número mínimo de horas trabalhadas foi de 25 horas e o máximo, de 50 horas, como podemos verificar na Tabela 4:

Tabela 4 – Comparação das horas de trabalho semanal nas Escolas “A” (1) e “B” (2) Test Statisticsa 160,000 538,000 -2,155 ,031 Mann-Whitney U Wilcoxon W Z

Asy mp. Sig. (2-tailed)

idade

Grouping Variable: escola a. Report horas_trab_sem 18 25 50 37,00 38,50 7,236 26 4 60 37,00 32,50 14,461 44 4 60 37,00 36,50 11,928 escola 1 2 Total

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Já na escola “B”, aqui tratada estatisticamente como 2, o número mínimo de horas trabalhadas foi de 4 horas e o máximo de 60 horas. Durante nossa pesquisa, observamos que na escola “B”, o número de docentes temporários é maior que na escola “A”, pois há um quadro mais flutuante de professores, que, pelo tempo em que permanecem na escola lecionando em substituição, não conseguem estabelecer laços mais efetivos de seu trabalho. O máximo da jornada entre os professores pesquisados é de 50 horas na escola “A” e de 60 horas na escola “B”. Os professores que tem o número máximo de horas aula são efetivos e alguns exercem suas funções docentes na rede pública municipal e também na rede pública estadual ou na rede privada de ensino concomitantemente, tendo dupla jornada de trabalho. Os dados revelam que 39% dos professores trabalham, em sala de aula, de 40 a 30 horas semanais; e 21%, acima de 40 horas semanais. Portanto, 60% dos professores da rede municipal de Itatiba ocupam a maior parte de seu tempo trabalhando em sala de aula, de 30 a 60 horas semanais, sem adicionar a esse cálculo as horas que trabalham, em suas residências, na elaboração de aulas, correção de atividades, avaliações e convocações para participação em cursos e reuniões.

Também há outro fator a ser levado em conta, que é o da escolha da carga horária de trabalho. Como a maioria dos professores tem tempo de magistério superior a seis anos, vale lembrar que são, na maioria, efetivos e que a carga horária de trabalho docente na rede municipal de ensino de Itatiba é de, no mínimo, 20 horas aula semanais. Isso quer dizer que o professor que tem um cargo efetivo no município deve, necessariamente, ter jornada docente de, no mínimo, vinte horas-aula semanais na escola. Sem contar que, com um quadro eminentemente feminino, a maioria dos docentes tem jornada tripla de trabalho – a terceira delas relacionada aos afazeres domésticos e aos cuidados com os filhos. Quando questionados sobre o que fazem nos finais de semana, muitos dos professores casados ou os que têm filhos revelaram que cuidam da casa e vão ao supermercado, não sobrando muito tempo para lazer.

Com carga horária inferior a 30 horas, estão 10% dos professores, na maioria recém-formados. Alguns deles são docentes temporários que assumiram aulas em substituição a docentes afastados para exercer cargos em comissão na Secretaria Municipal de Educação ou a professores que estão em licença-prêmio ou licença-saúde.

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A comparação de variáveis quantitativas entre as duas escolas foi realizada através do teste não paramétrico de Mann-Whitney, usado para a comparação de dois grupos independentes; revelou que os dados estatísticos relativos ao número de horas de trabalho docente são altamente significantes, uma vez que, neste caso, o número –0,596 – revela que há diferença estatística significante; ou seja, indica que as amostras são distintas, rejeitando-se a igualdade das medianas: quanto mais baixo for o valor de U, maior será a evidência de que as amostras são diferentes, como verificaremos abaixo, na Tabela 5:

Tabela 5 – Teste comparativo de Mann-Whitney sobre a significância da variável número horas de trabalho docente

O teste do qui-quadrado – presente na Tabela 6 – revelou que o nível de confiabilidade dos dados estatísticos apresentados é alto. Nesse caso, se p= 1,000, quer dizer que é altamente significante.

Tabela 6 – Teste qui-quadrado sobre o nível de confiabilidade dos dados estatísticos

Apesar de os salários dos docentes da cidade de Itatiba serem um dos menores da região e de a maioria dos professores não complementar sua renda mensal com outra

Test Statisticsa 212,000 563,000 -,530 ,596 Mann-Whitney U Wilcoxon W Z

Asy mp. Sig. (2-tailed)

horas_trab_sem

Grouping Variable: escola a. Chi-Square Tests ,008b 1 ,928 1,000 ,620 ,000 1 1,000 ,008 1 ,928 1,000 ,620 1,000 ,620 46 Pearson Chi-Square Continuity Correctiona Likelihood Ratio Fisher's Exact Test N of Valid Cases Value df Asy mp. Sig. (2-sided) Exact Sig. (2-sided) Exact Sig. (1-sided)

Computed only f or a 2x2 table a.

2 cells (50,0%) hav e expect ed count less than 5. The minimum expected count is 2,89.

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atividade, quando isso ocorre, a renda obtida varia de 1.300 até 4.500 reais, fruto de venda de roupas, lingeries, artesanatos, doces, cosméticos, para complementar os proventos recebidos com a profissão docente.

Alguns professores vendem seus artigos nas próprias escolas onde trabalham, nos horários de intervalo entre as aulas e também antes das reuniões das HTPCs20. Mas a venda de vários artigos não é apenas o único meio que os professores utilizam para obter renda extra. Alguns ministram aulas particulares em sua própria residência ou trabalham em outras unidades escolares privadas. Existem ainda alguns professores que são aposentados de um cargo do Estado e continuam a lecionar. Outros ainda exercem atividades profissionais como cabeleireiros e artesãos.

Durante a pesquisa em uma das escolas, aconteceu um fato singular que podemos relatar como algo normal nas escolas. Para este relato, volto à primeira pessoa do singular. Eu aguardava a reunião de HTPC (ou reuniões pedagógicas), às dezoito horas, para aplicar o questionário em um grupo de professores para traçar o perfil socioeconômico e cultural. Como eu havia sido informada e orientada pela coordenação da escola para que eu chegasse um pouco antes, assim fiz e me dirigi à sala dos professores, local indicado para a reunião, e a porta estava fechada. Estando eu do lado de fora, ouvi muitas vozes, pessoas conversando animadamente no interior da sala. Bati na porta, nada aconteceu; resolvi entrar, devagar. Havia muito falatório, e as risadas ecoavam pelo recinto, de maneira a apresentar um local bastante informal e alegre. As pessoas pareciam divertir-se. Ao entrar, me deparei com uma das professoras, com três sacolas imensas, com lingeries, e muitas peças, mas muitas, espalhadas em pequenos saquinhos, pelo chão da sala. Fiquei boquiaberta, sem conseguir esconder minha surpresa. Era um fato, digamos, hilário e preocupante. Outras professoras examinavam os artigos espalhados pelo chão e faziam comentários sobre eles. Não perceberam minha presença. Além de lingeries, também se podiam observar camisolas, pijamas femininos, masculinos e infantis, cuecas. Ao me

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Segundo Cunha (2006), a legislação básica sobre o assunto está presente na Portaria CENP n. 1/96 e na L.C. n. 836/97, que justificam as finalidades desse horário para articular os segmentos da escola para a construção e implementação do trabalho pedagógico, fortalecer a unidade escolar como instância privilegiada do aperfeiçoamento do projeto pedagógico e (re)planejar e avaliar as atividades de sala de aula, tendo em vista as diretrizes comuns do processo ensino-aprendizagem. A esse respeito, ver http://www.publicado com.br/ud/map47.htm.

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verem, as professoras que sabiam o porquê de minha presença na escola, tranquilamente me informaram que a reunião seria às dezoito e trinta. Achei estranho, pois o horário marcado era às dezoito horas, mas, como não vi a coordenadora na sala, supus que talvez ela tivesse se enganado. Desculpei-me e ia saindo devagar, quando a professora, dona das roupas, insistiu gentilmente para que eu “desse uma olhadinha”, me avisando de antemão que eu poderia pagar depois, caso gostasse de alguma coisa. Agradeci, recusei gentilmente e saí. Sinceramente, ao sair, eu não sabia o que pensar sobre aquela cena. Sentia vontade de rir e, ao mesmo tempo, estava indignada. O professor tinha que vender roupas e os demais compravam, pois custavam bem menos do que em alguma loja. Resolvi aguardar no jardim, vendo o movimento de final de período na escola. Muitos responsáveis pegando seus filhos na saída, muito movimento de carros, transporte escolar, professores chegando e saindo. Voltei para a sala às dezoito e trinta. Os professores não mais estavam na sala dos professores. Procurei me informar com uma inspetora de alunos, para saber onde estariam e fiquei sabendo que se encontravam na sala de número onze. Encaminhei-me para lá e encontrei a coordenadora e os professores reunidos. Desta vez não havia roupas espalhadas, mas a dona delas e de suas sacolas lá estava. A coordenadora conversou com os docentes sobre minha presença e me deu a palavra. Conto um pouco sobre minha pesquisa, entreguei-lhe o questionário e eles responderam. Tudo correu tranquilamente. Demoraram menos que o tempo previsto, cerca de meia hora, e me entregaram os questionários. A professora que vendia roupas na sala dos professores também respondeu ao questionário e, enquanto fazia isso, havia professoras comprando suas mercadorias. Alguns professores haviam respondido o questionário no período da manhã e, enquanto os colegas respondiam, eles se ocupavam em examinar, mais de perto, o conteúdo da sacola. Nessa meia hora de espera, nenhum professor se preocupou em fazer atividades relativas ao seu trabalho. Somente após a entrega de todos os questionários, os professores se concentraram em suas atividades docentes e a sacola foi fechada.

O que aquilo realmente revelava, naquele momento, era o descaso das políticas públicas para a Educação.

Antes da municipalização, esse momento de atividade docente foi considerado uma conquista do Sindicato dos Professores de Itatiba há muitos anos, iniciada a princípio

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somente na Educação Infantil, era de caráter optativo. Os professores que participavam das HTPCs eram remunerados de acordo com as horas frequentadas.

Após a municipalização da Rede Municipal de Ensino de Itatiba, a HTPC passou a integrar a carga horária de trabalho docente, tornando-se, assim, obrigatória a participação dos professores nessa atividade, seguindo o modelo de ensino estadual, que incluía a HTPC na carga horária de trabalho docente.

Sobre as questões econômicas dos docentes, os dados da pesquisa apresentam que 89% dos professores possuem casa própria e cerca de 7% moram em casas cedidas pelos pais ou junto com eles. Nenhum professor declarou pagar aluguel. Além da casa própria, a maioria dos docentes possui também carro próprio, utilizado para trabalhar. No que diz respeito ao auxílio financeiro nas despesas domésticas, independente de ter filhos ou não, de maneira geral, a maioria colabora com as despesas no lar, mas não as assume sozinho.

Estatisticamente apresentamos quadro comparativo abaixo, nas Tabelas 7, 8 e 9, sendo a escola “A” tratada estatisticamente como 1 e a “B” tratada como 2. Os dados mostram que 65,2% dos professores não assumem as responsabilidades de sustento do lar, sozinhos e que 34,8%, auxiliam no sustento da casa. Há casos em que, apesar de solteiros, os professores auxiliam seus pais nas despesas do lar.

Tabela 7 — Comparativo entre as escolas sobre responsabilidade do sustento da família.

resp_família 30 65,2 65,2 65,2 16 34,8 34,8 100,0 46 100,0 100,0 n s Total Valid

Frequency Percent Valid Percent

Cumulat iv e Percent

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Tabela 8 — Frequência e percentual sobre responsabilidade do sustento da família

Os dados levantados revelaram que, no geral, 89,1% dos professores auxiliam financeiramente a família e apenas 8,7% não auxiliam.

Quanto ao estado civil, os números equilibram-se entre casados com filhos, 44%, e solteiros, 39%. A maioria dos professores solteiros mora com seus pais.

O teste estatístico aplicado para a análise de número de filhos foi o de Mann- Whitney e revelou que a significância dos dados é de 0,741. Isso significa que há diferença entre o número de filhos dos professores entre as escolas, ou seja, é estatisticamente significante. O teste também revelou que a variável quantitativa entre os professores das duas escolas é de, no mínimo, um filho e de, no máximo, quatro filhos. A Tabela 9 traz esses resultados.

Tabela 9 — Teste de Mann-Whitney sobre a significância da variável número de filhos

resp_família * escol a Crosstabulation

Count 12 18 30 7 9 16 19 27 46 n s resp_f amília Total 1 2 escola Total Test Statisticsb 60,500 115,500 -,331 ,741 ,784a Mann-Whitney U Wilcoxon W Z

Asy mp. Sig. (2-tailed) Exact Sig. [2*(1-tailed Sig.)]

no_f ilhos

Not correct ed f or ties. a.

Grouping Variable: escola b.

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