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CAPÍTULO 1 – CARTOGRAFIA DA PESQUISA

1.8 Apresentação dos dados

1.8.2 A cartografia sociocultural da pesquisa

1.8.2.1 Perfis culturais docentes

1.8.2.1.4 Museus

Figura7 – Você vai a museus?

Quanto à frequência a museus, em média, 61% dos entrevistados costumam ir e 39%, não, por motivos como falta de oportunidade, falta de hábito ou falta de tempo.

Observemos a Tabela 16, a seguir:

não 39%

sim 61%

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Tabela 16 – Comparativo entre as escolas A (1) e B (2) sobre visita a museus

Dos 46 professores participantes da pesquisa, 28 afirmaram que costumam ir a museus, em média, três a quatro vezes ao ano, e apenas 16 disseram de qual exposição mais gostou e o porquê. Dezoito dos professores pesquisados justificaram o fato de não costumar ir a museus, sendo recorrentes as afirmativas: “Acho muito monótono, não consigo curtir o suficiente”; “Pela distância dos grandes centros urbanos”; “Pelos afazeres do dia-a-dia”.

Segundo revelou, em 2009, o curador do Museu de Arte de São Paulo – MASP – Teixeira Coelho Neto, o maior obstáculo para o brasileiro frequentar mais exposições e museus é a falta de educação para a arte. Segundo ele, no Brasil, não se vai a museus porque não se tem o hábito, a escola não forma para isso. As mulheres na faixa etária acima de 30 anos, com nível de escolaridade entre médio e superior e de boa renda, formam o público de museus e exposições de arte (SARAIVA, 2009).

Dados desta pesquisa revelaram as preferências das exposições, escolhidas pelos professores “Todas históricas; objetos de civilizações antigas; Rodin, ‘As portas do Inferno’ e todas de arte; Itaú Cultural; interativa arte cinética”; “Os Guerreiros de Chian”; “Machado de Assis”; “esculturas do francês August Rodin”; “Anita Malfatti”; “Tarsila do Amaral”; “antiguidades, fotos de 30 anos atrás”; “peças e quadros antigos”; “acervo permanente do Museu de Petrópolis (Imperial), pela importância histórica”; “Machado de Assis, pelas informações, a concepção”; “prefiro as históricas e de artes plásticas”; “Grécia (FAAP) porque era ligada a História e Van Gogh (Dorsay), porque é o meu pintor preferido”; “Einstein”; “Arte Russa”; “Colônia Japonesa 100 anos (museu em Santos)”; “Picasso na Oca, eu amo os trabalhos dele!”; “obras de arte”; "‘Portas e janelas - Fachadas Itatibenses’,

museus * escola Crosstabul ation

Count 7 11 18 12 16 28 19 27 46 n s museus Total 1 2 escola Total

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pelo sucesso alcançado”34; “Museu da Língua Portuguesa e Pinacoteca, mas não tenho preferências”. A maioria não justificou por que gostou das exposições e, quando justificou, utilizou o seguinte argumento: “não tenho preferência”; “gosto do que é belo”; “para aprimorar minha visão sobre arte”; “todas de arte porque é minha área”; “não me lembro”; “quando a escola vai”; “várias”.

Saraiva (2009) aponta que o perfil cultural do brasileiro, traçado por três levantamentos realizados em 2007, revela que o brasileiro prefere ver filmes dublados no cinema e quase não vai a museus ou galerias de arte.

De fato, alguns professores costumam ir a museus acompanhando seus alunos. A cidade de Itatiba possui um pequeno museu, o Museu “Padre Lima”, ao qual alguns professores levam seus alunos. É um belo museu, que fica na Praça da Bandeira, no centro da cidade, em um casarão da época do café, tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico - CONDEPHAAT. Nele se encontram objetos da memória da cidade. Também nesse espaço, costuma haver exposições de pintores locais e de fotógrafos itatibenses, porém os habitantes da cidade não frequentam muito os museus.

Durante nossa pesquisa, foi possível acompanhar uma dessas atividades. Uma das escolas organizou uma visita à Bienal do Livro e à Pinacoteca do Estado. O que se observou foi que, assim como os alunos, alguns professores nunca haviam visitado uma exposição ou a Pinacoteca.

Isso revelou uma bela surpresa, pois percebemos que os professores estavam muito interessados na exposição, a ponto de “se esquecerem” de seus alunos, que estavam mais interessados no elevador.

Bienal do Livro, Pinacoteca do Estado e o elevador

Para relatar este episódio, novamente farei uso da primeira pessoa do singular. Fui convidada pela coordenadora da escola “A” para participar de um passeio cultural com os alunos do Ensino Fundamental. O passeio consistia na visita à 22ª Bienal Internacional do

34 Nesse caso, o professor se referiu a uma exposição de fotos que ele fez no Museu Municipal “Padre Lima”,

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Livro, no Anhembi, e também à Pinacoteca do Estado em São Paulo. Fiquei feliz com o convite e aceitei. A mim parecia uma forma de dar-me boas vindas, pois eu iniciara minha pesquisa naquela semana e já iria participar de uma atividade cultural com os alunos.

No dia marcado, fui até a escola e cheguei às oito horas. Deparei-me com seis ônibus de cinquenta lugares estacionados em frente à escola e uma pequena multidão de mães a reclamar de várias coisas. Umas queriam que os alunos almoçassem em um determinado shopping e outras, em outro. Outras, ainda, apenas queriam se despedir dos filhos. Outras estavam conversando e criticando a coordenadora.

Esta se encontrava em um dos ônibus, dando avisos gerais e orientando a todos os alunos quanto ao comportamento. Fez isso em todos eles. Eu fiquei no ônibus de número cinco com ela.

Os alunos estavam agitados, pois era natural que estivessem. Afinal, não era sempre que podiam sair de casa sem os pais. E ainda mais iriam a São Paulo! Muitos não conheciam a capital. A coordenadora estava furiosa, pois, segundo ela, a vice-diretora havia desorganizado todo o trabalho dela, mexendo no dinheiro que já estava separado para as entradas na Bienal. Ela chorou muito e desabafou. Pediu que eu ficasse no ônibus com os alunos. Entrei no ônibus, me apresentei, conversei com os meninos e pedi para fotografá- los. Aí, pronto! Ganhei a confiança dos alunos. Tirei várias fotos e eles querendo mais, fazendo poses, caras e bocas. Depois de quarenta minutos de atraso, saímos. A coordenadora estava muito nervosa e conversou comigo durante a viagem, reclamando que a vice-diretora sempre atrapalhava e interferia na organização do seu trabalho.

Chegando a São Paulo, três ônibus foram primeiro à Pinacoteca e os outros três, à Bienal. Foi necessária essa divisão devido ao número de alunos. A princípio, a excursão sairia em dois dias: um dia, três ônibus e, no outro dia, outros três, mas a diretora não autorizou e definiu que todos iriam em um único dia.

O ônibus em que eu estava foi primeiro para a Bienal. Chegando lá, a coordenadora foi buscar pulseiras de identificação para os alunos. Aguardando as pulseiras, ficamos quarenta minutos no estacionamento dos ônibus, embaixo de um forte calor, com tempo seco. Não havia água nem sanitários. Quando a coordenadora chegou com as pulseiras, eu e

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os demais professores as distribuímos aos 150 alunos. Depois que todos estavam com as pulseiras, a coordenadora foi comprar os tickets para a entrada. Nova espera se fez.

Encaminhamo-nos até a entrada do evento, onde ficamos novamente no sol, em pé, sem água, nem sanitários, por cerca de uma hora e meia. Imaginem 150 jovens juntos, cansados pela espera. Até que eles se comportaram bem. Claro que reclamando muito que precisavam tomar água e ir ao banheiro. E com razão. Finalmente, chegou a coordenadora com os 150 tickets. Começou a distribuição. Os professores organizaram as filas e distribuíram os tickets, mas tivemos que aguardar mais um pouco, pois das mais de 20 catracas de entrada do evento, apenas 3 estavam funcionando! E não éramos as únicas escolas no lugar. Havia muitas para entrar, com alunos de todas as idades! Alunos de Educação Infantil esperando naquele sol.

Combinamos com os alunos o local e o horário de encontro dentro da Bienal, para posteriormente, almoçarmos no “Shopping D”. Entramos na Bienal, e os alunos desapareceram. Ficamos eu e a coordenadora. Só vi os alunos novamente quando nos encontramos no local, no horário combinado. Todos lá. Apenas uma aluna se atrasou, mas dentro da normalidade.

Na Bienal não tivemos problemas. Alguns já haviam visitado a Bienal em outros anos. Eles passearam à vontade e, como não podiam sair do pavilhão, os professores ficaram tranquilos. Uma pequena parte dos alunos comprou livros. Vieram me mostrar. Os temas variavam entre amor, paixão e histórias em quadrinhos. Um bastante comprado foi

Alice no país das maravilhas, talvez devido ao filme em cartaz. Outros livros que fazem

sucesso entre os jovens são aqueles da série Crepúsculo.

Fomos almoçar no shopping. Encontramos com os alunos dos outros três ônibus saindo. Entregamos as entradas da Bienal para uma professora distribuir aos alunos. Imaginem trezentos alunos na entrada do shopping. Uma confusão!

Na praça de alimentação, todos comeram Mac Donalds. Apenas uma aluna, eu e a coordenadora fizemos uma refeição diferente dos demais. E todos muito felizes! Divertindo-se.

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Terminado o almoço, passeamos pelo shopping rapidamente e encontramos os alunos no local combinado. Novamente, apenas um não chegou no horário. Até então, tudo estava indo bem. Os alunos estavam acostumados a fazer passeios ao shopping.

Chegamos à Pinacoteca. Começamos a ter problemas na entrada, pois os alunos queriam ficar no jardim da Pinacoteca, que não era um bom lugar, devido a drogas e prostituição ali existentes. Apesar das explicações, os alunos queriam ver o que acontecia ali. Foi difícil, mas controlamos os alunos, com muita paciência, conversando e explicando a eles por que não podiam ficar no jardim. Eles estavam impacientes com a demora para a liberação da entrada.

Organizaram-se grupos de 20 alunos para cada professor, e eu fui “convidada” a ficar com uma turma. Eu, que havia sido convidada para ir ao passeio, acabava de me tornar professora deles. Eles nem me conheciam!!!

Enfim, não pude me negar. Pelo número de alunos, faltavam professores para acompanhar a todos, e eles não poderiam entrar na Pinacoteca sem um adulto responsável por eles. Regras da instituição. Entramos. Mas eu não sabia, até aquele momento, que eles nunca haviam ido a um museu... mas isso não era o pior. Eu também desconhecia que eles não haviam sido orientados sobre as regras de comportamento em um...

Ao entrar na Pinacoteca, iniciando a visita pelo lado direito, tivemos que subir dois lances de escadas de madeira, cobertas com um carpete vermelho. Não preciso dizer que foi uma loucura, pois eles subiram as escadas marchando. E riam muito de ver as escadas balançando. Pedi que não fizessem aquilo, orientei-os sobre o comportamento no museu. Ao verem as obras, eles as tocavam, curiosamente. Queriam ver, sentindo com as mãos. Apesar de meus pedidos para que não tocassem nas obras, não adiantou. Tivemos a atenção chamada por um dos funcionários da Pinacoteca. Uma das seguranças nos explicou que existiam câmeras e que, se eles fossem flagrados tocando as obras novamente, seriam proibidos de permanecer no museu. Eles, enfim, pararam. Como não podiam tocar, imitavam as estátuas que viam. Se existiam estátuas deitadas, eles também se deitavam no chão, e assim por diante.

Os alunos que estavam comigo apreciaram as obras, reconheceram algumas que foram trabalhadas pela professora na escola, nas aulas de Artes, e quiseram conhecer o

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elevador. Fomos e foi bem tranquilo. Porém esse grupo, que até então permanecia comigo, de repente, se desfez: uma parte, que queria visitar a exposição, ficou comigo. A outra parte ficou com a coordenadora da escola. Cada professor estava com um grupo de 20 alunos, mas os professores não conseguiram controlá-los. Era muita novidade para os jovens. Quando percebi, existiam muitos alunos circulando sozinhos, livres, pelo museu, assim como os professores. Estes ficaram tão maravilhados com as obras de arte que se transformaram em alunos, e isso foi maravilhoso. Os professores estavam adorando a visita à Pinacoteca.

Foi quando um grupo, que estava sem professor, viu o elevador do museu. Nunca haviam visto um elevador daquele tipo, com paredes de vidro. Resolveram conhecer e entraram. De repente, eram gritos e mais gritos, e o elevador subindo e descendo lotado de alunos. Os seguranças cercaram o elevador e pediram que os alunos saíssem do museu. Foi uma situação muito desagradável. O momento mágico do elevador foi interrompido. Depois desse episódio, todos foram retirados da Pinacoteca, alunos e professores. Um dos seguranças me questionou se aqueles eram meus alunos. Eu expliquei que não estava com aquele grupo, mas eles faziam parte do grupo da escola com que eu estava. O segurança ordenou que eu ficasse com eles até a saída de todos do museu. O que aconteceu no museu é que os alunos, que nunca haviam visto um elevador como aquele, resolveram conhecê-lo. Era um momento mágico para eles. Para eles, era muito mais importante viver aquele momento de magia, explorar algo que lhes havia chamado a atenção, de fato. Não foram as obras de arte do museu que os interessaram e, sim, o elevador.

Saímos e aguardamos a chegada dos demais alunos e professores, que iam saindo aos poucos, acompanhados de perto pelos seguranças. Os alunos, que não sabiam que não podiam sentar-se na escada do lado de fora do museu, queriam sentar-se ali, mas os seguranças apenas diziam que não podiam. Não explicaram o porquê.

Levei meu grupo de 20 alunos para o ônibus, para aguardar o restante do grupo com a coordenadora. Eles estavam incontroláveis e me questionavam por que não podiam se sentar nas escadas; por que não podiam ir até a praça ao lado do museu; por que não podiam mascar chicletes no museu; por que não podiam comer nem beber lá dentro – enfim, muitas coisas. Pacientemente eu respondia; afinal, era um mundo novo para eles.

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Resolvi, então, perguntar a eles se ninguém havia explicado, antes da saída da escola, como era o funcionamento do museu, as regras existentes.

Uma aluna me disse que nenhum professor havia falado nada a eles, ninguém havia comentado nada com eles sobre a Pinacoteca, que ela só sabia que ia ver obras de arte, o que foi informado no dia em que a coordenadora passou nas classes, avisando que a escola estava organizando o passeio e perguntando quem queria participar. Mas foi uma única vez. Depois ninguém falou mais nada sobre a ida à Pinacoteca e à Bienal do Livro.

Outro aluno me disse que, se soubesse que seria tão “chato” assim, não teria ido. Durante a visita ao museu, um aluno do meu grupo, apenas um, se recusou a ver as obras, mas, como ele não podia permanecer sozinho no local, era obrigado a ficar comigo. Foi um tormento para ele. Ele não parava de perguntar se havia terminado a visita e comentava: “que coisa mais chata!!”.

Perguntei a ele por que não gostava de museus. Ele me disse apenas que não gostava, aquela era a primeira vez que tinha ido e tinha odiado. Depois do episódio, talvez esse aluno realmente nunca mais queira voltar a um museu.

Na volta para a casa, a coordenadora, comentando o episódio do elevador da Pinacoteca, me disse que os professores não tinham como orientar os alunos, pois os próprios professores não vão nem ao cinema, quanto mais a museus!

Quando chegamos, conversando com alguns jovens, perguntei o que eles mais gostaram no passeio. “Ah, dona, aquele elevador é da hora!”.

Entendemos que as visitas aos museus são importantes meios de desenvolver aulas de História. Mas existem alguns procedimentos necessários para organizar as informações oferecidas pelos museus. Ao professor cabe a tarefa de estudar a correlação existente entre o conteúdo do museu e o programa de História, para determinar as fontes de ensino para cada unidade e as temáticas de estudo. Além disso, é necessário determinar os objetivos das atividades que serão desenvolvidas nos museus, traçar um plano de visita, orientando os alunos sobre as obras às quais eles devem dedicar mais atenção. Decidir junto com os alunos as tarefas que serão realizadas após a visita ao museu também é um item importante, para que a visita ao museu não termine ali e tenha significado ao estudante. Necessário também é orientar os alunos sobre as regras do museu.

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É comum acontecer a desmotivação dos alunos, geralmente causada por falta de um trabalho anterior e pelo despreparo dos professores para trabalhar com a cultura.