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É importante falar primeiramente das dificuldades em realizar um trabalho que parece fugir do lugar comum acadêmico que é o de analisar tão somente o que os “fatos concretos” nos trazem. A questão parece ser mais séria do que parece, já que este lugar comum acadêmico parece cada vez menos concreto, ou quem sabe nem existir em alguns casos, uma

vez que os “fatos concretos” nem sempre são fatos nem muito menos concretos. Então a primeira dificuldade foi encontrar os “fatos” para depois elaborar uma metodologia de estudo. Isso parece fácil nos manuais de Metodologia da Pesquisa Científica, mas na prática nos deparamos com uma matriz (ou matrix) de informações confusas e às vezes enganosas, que são repetidas em cadeia, aumentando a confusão e parecendo legitimar acontecimentos cuja explicação originária (a da existência do próprio fato) fica esquecida e apenas os desdobramentos desses acontecimentos parecem carecer de análises pelos pesquisadores, não mais o fato (cuja origem ninguém prova). Um exemplo disso é o evento conhecido como 11 de setembro, que pode ser visto como atentado ou ataque de falsa bandeira (quando o autor do atentado coloca a culpa em outro autor, buscando tirar algum proveito disso, geralmente da opinião pública), mas que ficou cristalizado apenas como “atentado terrorista” realizado por membros da rede al-Qaeda de Osama bin Laden. E mesmo em relação ao fato, há quem diga que foram os “aviões” a causa da queda, mas outros, inclusive Donald Trump (na época entrevistado na rua para um canal de televisão e hoje disponível no Youtube), que alegaram se tratar de uma “demolição controlada”. Mas tais inconsistências passaram a se tornar irrelevantes, o que é um erro, pois toda uma literatura ficou comprometida pelo embasamento equivocado em fatos contraditórios, onde o autor precisa se posicionar diante dos argumentos que serão utilizados e isso acaba induzindo-o a se utilizar de conclusões oficiais por parte de algum governo. Essa decisão de se utilizar de uma determinada narrativa em detrimento de outra se justifica pelo fato de que não existe, na ciência, algo que “é” e ao mesmo tempo “não é”. Então o fato vitorioso passa a ser aquele que é oficializado por algum governo ou instituição com autoridade para tal, e depois difundido na mídia como o correto e que sequer mostra a discussão do contraditório.

Durante as pesquisas não encontrei muita resistência à afirmação oficial dos EUA de um “atentado terrorista às Torres Gêmeas” e isso talvez não dificultasse tanto a pesquisa acadêmica, se não fosse pelo fato de que fontes importantes de consulta não a tivessem como verdade absoluta, tecendo suas conclusões a partir dela e tão somente dela. Cabe elogiar o gigantesco trabalho de Muniz Bandeira e lamentar seu falecimento pouco tempo depois dele ter lançado os livros que completam uma trilogia que foi referência neste trabalho. Muniz Bandeira foi um caso raro onde a desconstrução dos 11 de setembro – e de outros fatos importantes apresentados neste trabalho – tem fortes argumentos e inúmeras fontes. Aliás, sem a fonte histórica e geopolítica de Muniz Bandeira e da fonte histórica sobre os drones de Laurence R. Newcome, este trabalho certamente não teria sido concluído.

Então, a primeira dificuldade foi encontrar o “fato”, ou mais precisamente, o objeto de pesquisa, que não foram necessariamente os 11 de setembro, mas algo decorrente dele: o uso

de drones e as consequências de seu uso para as Relações Internacionais de 2001 a 2018.

Ainda que pareçam objetos distintos, fazem parte de uma mesma construção histórica, em que os fatos mais antigos vão sendo esquecidos exatamente pelo decorrer da Revolução Militar dos Drones e da crescente tensão mundial com os últimos fatos, que mal começam a esfriar e já surgem mais e mais fatos numa ascendente belicosa de poder brando das mídias e de poder duro, ou militar.

Diante desse objeto, uma segunda dificuldade se apresentou: encontrar uma estrutura para a pesquisa, melhor dizendo, onde ficariam o começo, o meio e o fim dela. A solução foi algo muito comum: fazer e refazer tantas vezes até que se parecesse algo lógico ou que facilitasse o entendimento. As várias formas testadas não foram simplesmente variações aleatórias de um texto escrito, mas neste caso, de como a leitura seria mais proveitosa: um texto mais moderno onde os elementos fatuais se misturariam aos elementos de teoria ou um texto mais tradicional, com divisões mais espaçadas entre elementos de teoria e fatos. Escolheu-se esta última para não gerar confusão, pois eu mesmo tive dificuldade em distinguir argumentações quando utilizada a forma “moderna” de escrita, comparando as duas Revoluções Militares simultaneamente. Por isso foi escolhido um esquema mais tradicional, buscando, em momentos oportunos, introduzir elementos de teoria e de comparação entre as duas supostas “Revoluções Militares”. Algo que se apresentou mais produtivo, mesmo não conseguindo lapidar suficientemente os dados brutos apresentados.

Mesmo depois que o atual esquema foi encontrado, ainda assim houve dificuldade em mantê-lo diante da possibilidade de que os fatos não o sustentassem, haja vista que a criação das seções deste trabalho foi algo puramente empírica, a princípio, e baseada tão somente no que havia sido lido na Tese de Michael Roberts e de alguns fatos sobre uso de drones conhecidos quando ainda realizava a graduação e fazia o trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Cabe lembrar que esta análise surgiu um pouco depois, por volta de 2013, quando tomei conhecimento da Revolução Militar, oriundo das sugestões de meu orientador Paulo Kuhlmann de pesquisar sobre Revolução Militar e Revolução nos Assuntos Militares. Naquele ano ainda não havia nenhum indicador de possíveis conflitos entre EUA e Rússia, por exemplo, e a Primavera Árabe ainda não havia chegado até a Síria e os fatos em si, aparentemente, não tinham nenhuma relação com os drones e sequer eram apresentados adequadamente na grande mídia.

Mas o esquema encontrado desafiava o tempo, que foi o terceiro desafio encontrado, uma vez que a comparação entre as duas supostas Revoluções Militares exigiria selecionar alguns parâmetros. Isso também foi uma tarefa que exigiu mais imaginação e intuição do que simplesmente aplicar o modelo da Revolução de Roberts ao momento atual. Isto porque nem tudo que Roberts elencou daria tempo de ser comparado aqui nesta pesquisa. Então se percebeu que existia três macro transformações importantes na tese inicial de Roberts da Revolução Militar de 1560 a 1660, o que parecia se adequar aos desdobramentos com o uso de drones e tornar o trabalho exequível. Dentre as três apresentadas neste trabalho, apenas a segunda não está tão visível na obra de Roberts porque ele a trata de forma mesclada com a terceira. Essas macro transformações foram elaboradas, aqui neste trabalho, de tal forma que facilitassem a visibilidade de que a terceira fosse consequência da segunda e a segunda fosse consequência da primeira. A primeira trata da “mudança tática”, a segunda trata das “várias frentes de batalha” e a terceira do “aumento na escala da guerra”.

A diferença aqui está na segunda macro transformação, as várias frentes de batalha, que foi tratada de forma separada, já que na literatura de Michael Roberts ela se encontra mesclada com outra macro transformação, o “aumento na escala da guerra”. Ela não foi algo inventado ou forjado para este trabalho, mas sua relevância mais acentuada na história atual com o uso dos drones fez perceber a existência dessa separação na própria tese de Roberts, uma vez que as mudanças táticas de Gustavo Adolfo trouxeram esse aspecto de mobilidade em várias frentes. Este trabalho torna interessante o estudo desse tipo de formação militar (várias frentes de batalha) ao longo da história, onde, a partir das constatações atuais com o uso de drones, possa-se repensar a história passada em busca de novas perspectivas. Assim, por exemplo, a história poderia revelar que tais formações simultâneas foram realizadas após uma inovação tática ou um novo artefato militar em outros períodos históricos.

Depois que essas três macro transformações foram estabelecidas, tornou-se mais fácil a separação do trabalho, que exigiu, contando com a Introdução, 06 (seis) seções para uma correta compreensão da estrutura histórica da Revolução Militar dos Drones proposta.

7.2 A REVOLUÇÃO MILITAR DOS DRONES: A CONFIRMAÇÃO DE SUA

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