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3.2 A REVOLUÇÃO MILITAR E A MUDANÇA TÁTICA DE GUSTAVO ADOLFO: FORMAÇÕES

3.2.1 Consequências da mudança tática: maior capacitação do soldado, agilidade na cadeia de

na cadeia de comando e exércitos permanentes

Essas foram as mudanças básicas que, conforme Roberts, desencadearam a Revolução Militar, pois elas exigiram modificações em toda a sociedade: primeiro na formação dos soldados, que, para executar a tática das formações lineares, deveriam ser treinados e disciplinados de uma forma mais complexa que o soldado comum daquela época. Apesar de atacarem em conjunto, os soldados da idade média eram, em geral, individualistas e pouco se exigia deles para executar as táticas de pique ou mosquete (ROBERTS, 1995, s/p). Essas formações em bloco foram muito úteis em combater a cavalaria pesada medieval, mas não havia mobilidade nessas formações para ação ofensiva (ROTHENBERG, 2001, p. 56).

Já as reformas de Maurício de Nassau e Gustavo Adolfo contornaram essas limitações com a introdução dos exercícios e treinamentos. Os soldados de Maurício eram capazes de realizar complexas manobras de evoluções de terreno; e os soldados suíços de Adolfo adquiriram maior disciplina de fogo e de combinação de armas (ROBERTS, 1995, s/p).

Com isso, os oficiais se tornaram peça fundamental, não apenas da liderança em tempos de guerra como também responsáveis pela contínua formação dos soldados em tempos de paz. Em períodos de guerra, quando havia inverno, os oficiais se mostraram fundamentais para as vitórias oportunistas, pois os treinamentos mantinham os soldados unidos, principalmente os mercenários, quando antes havia dispersão destes.

Essas reformas exigiram maior capacitação dos oficiais e uma consequente subordinação e disciplina dos soldados na hierarquia de comando, uma vez que o sincronismo era essencial à boa execução dessas táticas. Mas essa subordinação tinha que ser inteligente: “o exército já não era para ser uma massa bruta, no estilo suíço, nem um conjunto de indivíduos belicosos, no estilo feudal; era para ser um organismo articulado no qual cada parte responderia aos impulsos a partir de cima” (ROBERTS, 1995, s/p).

Para atingir as necessidades de precisão no movimento, houve a introdução de marchar no mesmo passo; e logo se seguiu a adoção de uniformes para dar mais disciplina ao soldado. Em alguns casos, a adoção dos uniformes sofreu atraso em virtude da postura incerta

dos mercenários em mudar de lado, que preferiam peças de roupa que poderiam ser facilmente descartadas, como um lenço em volta do braço ou um ramo verde no chapéu. Roberts nota que os exércitos, à época da Revolução Militar, eram quase todos exércitos mercenários e que a predominância desses exércitos, embora tenha coincidido com as grandes inovações militares, não fora a peça fundamental na revolução iniciada por Maurício ou Adolfo. A questão é que as complexas técnicas militares utilizadas por eles, ao fim da Idade Média, exigiam um nível de destreza difícil de ser encontrado em milícias cidadãs, milícias estas defendidas por Maquiavel e outros escritores militares da época. Por isso, muitos foram contrários às milícias e defendiam a ideia de que a revolução militar de Maurício e Adolfo só teriam sido possíveis em um exército mercenário. O que se mostra um equívoco, pois o problema não se encontrava no fato de serem milícias, mas sim mal treinadas. Então o dilema estava entre o uso de milícias e mercenários, aonde Roberts concorda que o mercenário tinha suas vantagens:

[...] não tinha ligações locais e eram indiferentes ao sentimento nacional; e isso fez dele um agente inestimável na supressão de distúrbios populares. Um exército de mercenários não se importava nem um pouco se a guerra se prolongasse ou se lutasse longe de casa; ele economizou a própria mão de obra do estado, e daí a sua riqueza; o sistema de recrutamento através de capitães aliviou o governo de uma boa dose de trabalho administrativo (ROBERTS, 1995, s/p)

No entanto, o mercenário apresentava muitas desvantagens:

[...] era indisciplinado, pouco confiável e avesso à batalha; suas armas e equipamentos não eram padronizados e muitas vezes ruins; o empregador era invariavelmente enganado pelos capitães; e todo sistema foi ruinosamente caro. Tão caro, de fato, que os Estados menores e mais pobres foram obrigados a buscar alternativas. Por volta da virada do século muitos dos menores estados alemães e até mesmo alguns muito grandes como a Saxônia, Brandenburg e Baviera começaram a experimentar com milícias locais (ROBERTS, 1995, s/p).

Se o exército mercenário se apresentava problemático, também o foram as milícias cidadãs mal treinadas, a exemplo do fracasso das milícias alemãs. Mas as vitórias suecas mostraram que uma milícia nacional recrutada e bem treinada poderia dominar a arte da guerra moderna.

Não foi a simples adoção de uma milícia local. Todo sistema de recrutamento dos exércitos foi remodelado de acordo com as necessidades de treinamento e formação dos soldados, além de tornar o sistema menos oneroso para o Estado, uma vez que “percebeu-se que a prática de debandar e pagar os regimentos ao final de cada temporada de campanha e realista-los na primavera seguinte era uma maneira cara de fazer negócios”.

A adoção de um exército nacional permanente surgiria, segundo a tese da Revolução Militar de Roberts, para resolver vários problemas: equacionou o dilema entre mercenários e

milícias locais; facilitou o emprego de estratégias mais amplas, envolvendo períodos de inverno, quando antes os soldados eram debandados; e mesmo que os soldados não precisassem lutar nesses períodos, prosseguiriam realizando exercícios e treinamentos. Assim os exércitos suecos foram melhores e mais baratos. E o pagamento poderia ser feito em sesmarias, receitas-atribuições, remissões fiscais ou em espécie.

Segundo Roberts, o exemplo sueco foi cobiçado por outros estados, mas “[...] poucos monarcas dos séculos XVI e XVII foram preparados para estabelecer exércitos permanentes”. Além disso, a maioria dos estados não confiava em armar as classes mais baixas, algo que aconteceu no exército sueco, com as classes mais baixas podendo ascender dentro da carreira militar, algo que passou a exigir mais destreza do que nobreza (ROBERTS, 1995, s/p).

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