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Aspectos do terreno abordado

Da construção lingüística da identidade Um estudo de caso

2. Aspectos do terreno abordado

O ensino ministrado da L1 procura corresponder às solicita- ções dos pais e às exigências programáticas do Ministério da Edu- cação português. Estas duas entidades procuram solucionar proble- mas, a meu ver, concêntricos: que o futuro dos educandos nào fique truncado, na eventualidade de desejarem regressar a Portugal ou, então, de não perderem o sentimento de pertença ao espaço lusófono, se resolverem permanecer na Alemanha para sempre.

Se se fizer uma leitura circunstanciada dos textos homologa- dos que, em termos oficiais, orientam o ensino português nos nos- sos núcleos no estrangeiro, detectamos neles a presença constan- te da preocupação em satisfazer positivamente ambas as necessi- dades. Senão, atentemos:

Em 1978, os Objectivos a alcançar através do

Programa de Língua e cultura portuguesas eram

o de transformar o educando num indivíduo ca- paz de “(...) intervir oportunamente, tanto no país

de origem, como no país onde vive (..)” (p.3). Se-

gundo as notas preliminares, “(..) tal programa

deverá proporcionar um conhecimento da rea- lidade social do país de origem, que Ihe facilite uma possível integração futura, sem demasiados sobressaltos e traumatismos e, ao mesmo tempo, lhe abra perspectivas para compreender a sua própria situação de filho de imigrante (...)” por-

que “(...) essas novas aquisicões não poderão ser

desligadas das vivências concretas da criança e

do ambiente em que vive (...)” (p. 4)2

Língua Portuguesa para a obtenção da equiva- lência ao ensino secundário, são de destacar os que ocupam o 3 e 6 lugares: “Levar o aluno ao

domínio progressivo da Língua como meio de expressão do Pensamento e de transmissão de valores individuais e colectivos” e “intensificar o interesse pela língua e pela civilização portu-

guesas”3.

Também não se encontram alheadas desta óptica as inten- ções que presidiram a arquitectura dos programas só de cultura portuguesa.

De facto, logo nos Objectivos gerais do do- cumento que permite a equivalência ao Curso Uni- ficado de Portugal, pode ler-se o seguinte: “O pre-

sente programa de cultura portuguesa tem como finalidade ajudar o aluno, filho de emigrantes, que vivendo desligado do contexto cultural da terra de seus pais e da realidade actual do nosso país, a integrar-se na sociedade e na escola por- tuguesas. Na mesma página, mais à frente, repete-

se a formulação do desejo institucional de “Permi-

tir ao aluno, filho de emigrantes, que regressa a Portugal uma melhor adaptação à escola que irá frequentar evitando assim desajustamentos, mau aproveitamento escolar com consequente perda

de anos lectivos.”4

Na década de 90, registou-se a emissão de novos programas escolares que continuam a acentuar - se bem que com uma maior veemência - a importância da identidade de partida dos alunos (e dos núcleos familiares de que são oriundos) a par, naturalmente, da equacionação de outros problemas do foro psico-pedagógico e didático, levantados pelas realidades - multifacetadas – do ensino – aprendizagem em português no mundo.

Por exemplo, nas Finalidades do quadro oficial da difusão linguística e cultural dirigido às crianças dos 6 aos 10 anos de idade, tecem-se as seguintes linhas de acção: “3) Favorecer o

desenvolvimento da consciência da identidade linguística e cultural, através do confronto com a língua estrangeira e a(s) cultura(s) por ela veiculada(s). 4) Fomentar um dinamismo cultural que não se confine à escola nem ao tempo presen-

te(...). 5)Promover a educação para a comunicaçãoenquan- to fenómeno de interacção social, como forma de favorecer o respeito pelo(s) outro(s), o sentido da entreajuda e da coope- ração, da solidariedade e da cidadania. 6) Proporcionar o contacto com outras línguas e culturas, assegurando o domí- nio de aquisições e usos linguísticos básicos. 7) Estruturar o conhecimento de si próprio (..), valorizando a sua identidade e raízes. 8) (...) reflectir sobre a sua própria realidade sócio- cultural, através do confronto com aspectos da cultura e da civilizacão portuguesas.”( p.s 9-10). Nos contéudos culturais

aparecem sublinhadas a identidade nacional, por um lado, e a

localização de Portugal face à Europa e ao resto do mundo

ou as ligações de Portugal com o mundo, por outro. (p. 31)5

Em meu entender, esta ambivalência programática reflecte, de maneira explícita, o (re)conhecimento que as autoridades educativas possuem dos vários constrangimentos inerentes à acu1turação por que passam estes indivíduos em fases iniciais (e importantes) da formação do Eu (profundo e frágil) e do estabele- cimento dos laços com os não-EU.

Em ambas as circunstâncias, o que motiva a prática escolar e, no fundo, a intenção de alertar para a anterioridade da heran- ça portuguesa e desenvolver e manter mecanismos identificativos renovados que combatam o enorme peso do factor da extra-

territorialidade de que a gradual separação das culturas de par-

tida é a primeira consequência inevitável.

3. O.I.L.H. - 97

O Inquérito Linguístico foi aplicado nas Escolas de Harburg e de Hamburgo, da Missão Católica Portuguesa, pertencentes à zona consular de Hamburgo, em Maio de 1997, e a fase posterior de confirmações realizou-se em Maio de 1997, e a fase posterior de confirmações realizou-se em Fevereiro de 1998. Composto por três Questionários (A, B e C), permitiu a obtenção de dados junto quer do corpo docente, quer da população escolar que fre- quenta, mais ou menos assiduamente, as aulas de língua e de cul- tura de origem (da 1 geração).

Durante a aplicação do I.LH-97, auscultei igualmente as ori- entações das vontades políticas e institucionais em matéria educativa e (socio)linguística - a) da Direcção da Escola da Missão Católica Portuguesa em Hamburgo e em Harburg, na pessoa do Padre Dr.Eurico José de Azevedo, b) junto do Dr. José António Fernandes

Costa, na qualidade de Erziehungsattaché des portugiesischen

Generalkonsulats em Hamburgo e c) do Departamento de Co-

ordenação Geral do Ensino, da Embaixada de Portugal em Bona, através da Dra. Maria da Piedade Gralha , aqui ficando publica- mente registado, a todos três, o meu reconhecimento.

A discussão teórica anunciada pelo título da minha interven- ção é suscitada essencialmente pelas respostas abertas, fornecidas às cinco últimas perguntas do Questionário 2. (I.L.H.-97/B): 34) Agora, vou escrever o nome dos países do mundo onde se

fala a Língua Portuguesa...; 35) E agora, vou dizer o que sinto quandoouço falar português à minha volta...; 36) Como estou quase a acabar, voudizer o que sinto quando falo a Língua Portuguesa...; 37) Para mim, Portugal é...; 38) E os portugueses são...