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Fernando Alves Cristóvão, da Universidade Clássica de Lisboa.

Inúmeras foram as dificuldades, porque inúmeros foram os perigos e ameaças do exterior, mas todas vencidas, contribuindo até para o seu enriquecimento.

E porque a história não para, novos desafios estão a ser en- frentados pela língu portuguesa e pelas culturas que nela se pro- cessam, sendo o mais recente o da globalização.

Permitam-me, pois, algumas considerações preliminares que mais claramente ponham em evidência como, tanto a diversidade linguístico–cultural, como a unidade são indissociáveis e comple- mentares, ora postulando as diversidades, a importância da unida- de, ora exigindo a unidade, a autenticidade das diversidades.

O nosso século, agora a chegar ao termo, conheceu quatro grandes dinâmicas no modo de considerar as línguas e de as ensinar e aprender: a dinâmica do romantismo herdada sobretudo de Humboldt e que se intensificou por meio do nacionalismo político, a ponto de chegar até aos nossos dias até aos anos 50, apesar dos progressos da linguística, da doutrinação de Saussure e das novas perspectivas da psicologia e da sociologia;a dinâmica internacionalista e imperialista que conviveu com a mentalidade anterior e chegou até ao fim da década de 60; a dinâmmultilinguística e multicultural que na Europa teve a sua expressão mais significativa quando a restruturação desencadeada pelo plano Marshall, após a 2ª Grande Guerra Mundial, atraiu milhões de emigrantes da Europa do sul e dos países da bacia mediterrânica para os países industrializados; a dinâmica da globalização que se processa em nossos dias e que não só condiciona as comunicações e a economia, mas também interfere na cultura, nas religiões, nos costumes e, também, nas políticas linguísticas.

Na etapa nacionalista, em que muitos de nós fomos forma- dos, as línguas eram estudadas como a expressão dos povos, diversificadas como eles, património que era preciso zelosamente defender e enriquecer segundo o lema de Du Bellay.

Assim, era necessário combater duas espécies de desvios e erros, os herdados da tradição de séculos anteriores que alatinaram e helenizaram as línguas, sobretudo a ortografia, complicando-a (séculos XV e XVI) ou a vestiram à espanhola e à francesa (sé- culos XVII e XVIII).

A essa tarefa se entregaram os puristas e suas sociedades combatendo por igual os estrangeirismos, então, sobretudo galicismos, e o que julgavam serem “erros” e “corruptelas”.

Ao mesmo tempo, multiplicavam-se os apelos à leitura dos clássicos como modelos a seguir fielmente.

Quanto às relações com as outras línguas, eram entendidas dentro de um quadro de prestígio: o latim e o grego para a erudi- ção, o Direito e a medicina; o francês para a cultura; o alemão para a filosofia etc..

Deste modo, as línguas não se expandiam, mas vigiavam- se zelosamente, apenas sendo permitidas algumas liberdades con- troladas.

Nas etapas internacionalistas, os países com colónias ou as- pirações a tê-las, impunham em todo o seu espaço de soberania a língua oficial, proibindo que se falassem as línguas étnicas ou, den- tro do território metropolitano, combatendo as línguas regionais.

Em simultâneo, e com o apoio de grandes meios financeiros, foram criadas instituições destinadas a propagar no estrangeiro, ou trazer até ao país os estrangeiros para dar a conhecer a língua, cultura, instituições etc, não se poupando em oferecimento de li- vros, revistas, conferências, cursos anuais e de férias etc..

Assim surgiram o British Council, a Alliance Française, o Instituto de Alta Cultura e outros institutos e centros culturais.

Percebeu-se então que, por honestas e louváveis razões de diálogo entre culturas, ou por ousada propaganda com objectivos de hegemonia política ou de facilitação comercial, a expansão da língua nas colónias ou no estrangeiro era um veículo privilegiado para coisas tão diversas como o diálogo, a hegemonia, a expansão dominadora, segundo o velho aforismo colonial de que a língua ea a melhor companheira do império.

Na etapa do multilinguísmo e multiculturalismo que é aquela em que, desde à algumas décadas vivemos, o ensino e aprendiza- gem das línguas, de um modo geral, pedeu a sua hybris de domínio e expansão, democratizou-se, passou da propaganda ao diálogo entre iguais, tendo-se as instituições que vinham da etapa anterior, transformado em foruns de diálogo, no melhor sentido da palavra. É que, entretanto, quer nos Estados Unidos quer na Europa, a conjuntura sócio-política alterou-se profundamente: as correntes migratórias procurando trabalho, realizando negócios, promoven- do peregrinações, alteraram a composição étnica dos países.

Milhões de trabalhadores fixaram residência nos países indus- trializados e de um dia para o outro esses países monolíngues ou de débil variedade de expressão linguística viram-se multilingues e multiculturais, com as inevitáveis consequências, tanto no plano das

relações socias como nos da educação, cultura e ensino das línguas. Os governos tiveram de perceber que a unidade nacional não devia ser entendida à maneira napoleónica do centralismo linguístico e cultural, mas que deviam respeitar e fomentar o ensino das lín- guas dos seus emigrantes e aceitarem as suas culturas em suas variadas expressões: no vestuário, na alimentação, nos costumes, na frequência de sinagogas, mesquitas e outros templos que era urgente construir.

Por outras palavras, chegaram à conclusão de que a paz e a harmonia sociais, bem como o rendimento do trabalho, melhor se conseguiriam com o multilinguismo e o multiculturalismo. Que se os trabalhadores estrangeiros vivessem no país de acolhimento como no seu meio cultural, o benefício seria de todos.

Também, em consequência, passaram a interrogar-se seramente sobre que sentido tinham agora o centralismo linguístico, o purismo baseado em conceitos de correcção e vernaculidade,os “erros” e “corruptelas” de linguagem, a luta contra os estrangeirismos?

Para além disso, e em simultâneo com esta invasão pacífica das multidões de emigrantes, outra explosão comunicativa acon- teceu, favorecendo os ignorantes contra os eruditos: a explosão comunicativa da televisão impondo uma linguagem simplificada.

Com ela, a escola tradicional passou a sofrer a concorrência daquela que George Friedmann apelidou de “escola paralela”, a televisão. À lentidão da escrita sucedeu o imediatismo e a evidên- cia da imagem, e o saber deixou de ser hierarquizado e segundo valores para se tornar num verdadeiro mosaico de realidades de- sintegradas, como o multilínguismo, o multiculturalismo ou os qua- dros de Picasso.

Sobre a etapa recente da globalização, diametralmente opos- tas são as suas interpretações.

Para os herdeiros do capitalismo triunfante, ela permitirá re- solver alguns problemas de âmbito geral, antes insoluveis.

Para os deserdados do marxismo e do arruinado império so- viético ela representa a chegada do apocalipse de todas as abomi- nações.

Para os que entre ambos os grupos se interrogam sobre o futuro do Homem no milénio que chega e sobre o papel mediador a desempenhar pelas culturas ela é sobretudo, um desafio ambivalente, porque tudo está a ser reformulado.

Ramonet sugere, uma Geopolítica do caos2 ou dela poderá resultar algum cosmos benéfico?

Demorei-me algum tempo no esboço deste cenário porque entendê-lo e tê-lo em conta é essencial para se compreender como se põe hoje o problema das políticas linguísticas e culturais relati- vas à diversidade e unidade da língua.

Políticas que não pertence só aos governos actualizar nas relações externas, nos sistemas e programas escolares, mas também às instituições nomeadamente Universidade e aos professores.

Porque é óbvio que importa defender agora, ainda mais do que no passado, a diversidade.

Diversidade essa que exprime mundividência dos falantes em situações concretas, herdeiros de um património cultural que a língua materna guarda, exprime e transmite como sistema modelizador primário, base de outros sistemas modelizadores que acompanham a vida individual e colectiva, como bem o observou Iuris Lotterman.

Diversidade que na Língua Portuguesa começou a esboçar- se muito cedo dando origem a variantes, sobretudo na fase da sua expansão intercontinental.

Já o nosso primeiro gramático Fernão de Oliveira observa em 1536 variantes no vocabulário, “porque os da Beira têm umas falas e os do Alentejo outras, e os homens da Estremadura são diferen- tes dos de Entre Douro e Minho, porque assim como os tempos, assim também as terras criam diversas condições e conceitos”3.

Se tal acontecia no interior do país, na fase arcaica da língua, como demonstrou Lindley Cintra, com a aventura dos mares maio- res proporções essa diversidade atingiu.

Assim aconteceram as grandes variantes de carácter naci- onal - portuguesa, galega e brasileira -, e previsivelmente poderão acontecer as dos países africanos que foram antigas colónias portuguesas.

Daí que defender e enriquecer as diversidades é o mesmo que salvaguardar a própria autenticidade de cada país e da sua cultura, ou das suas culturas, e que no caso do Brasil se compatibiliza em “cerca de 170 línguas indígenas, as línguas brasileiras autóctones identificadoras de mais de 180 regiões indígenas com uma popula- ção de 220.000 índios”4.

E, do mesmo modo, os crioulos que resultaram da expansão colonial, desde o século XVI.

to de uma especulação excessiva a propósito de uma possível língua brasileira a partir de contributos do tupi e das línguas africa- nas. Suposições estas cujas ambiguidades vieram a ser desfeitas pela primeira grande geração universitária de linguisticos brasilei- ros, como o notou objectivamente Paul Teyssier (Mattoso Câmaca, Serafim da Silva Neto, Silvio Elia, Gladstone Chaves de Melo, Celso Cunha, Nelson Rossi).

E não só por estes, também por outros antes e depois deles. Associando-me, por isso, à homenagem que este congresso presta a Barbosa Lima Sobrinho, por ocasião dos seus 102 anos, torno aqui presente a sua opinião sobre o assunto, exposta na obra

A Língua Portuguesa e a Unidade do Brasil, publicada em

1958 e que dentro em breve o Professor Leodegário de Azevedo Filho analisará com a agudeza e o brilho a que nos habituou.

São afirmações do ilustre escritor e académico: “Há que pen- sar num idioma que não seja monopólio de portugueses e brasilei- ros (…) o termo idioma, é claro, aqui tem o sentido de língua, que é apenas uma, por força da unidade de todos os seus morfemas gramaticais. Mas, dentro dessa unidade morfológica, existe a di- versidade de pronúncia e de sintaxe, além da riqueza também diversificada do léxico. Por isso mesmo, nenhuma nação do mundo lusofónico pode ter a prtensão pueril de querer ditar normas e usos linguísticos às demais. No caso, o que todas as nações devem fazer é proceder ao conhecimento das diferenças sempre em bus- ca de uma unidade superior. Até porque a norma culta da língua comum estará sempre onde houver maior desenvolvimento de cultura e civilização como hoje ninguém ignora. Em outras pala- vras, todas as nações do mundo lusofónico famal a mesma língua, mas cada um a seu modo” 5.

Segundo o mesmo Paul Teyssier a adopção de métodos cien- tíficos conduziu estes e outros filósofos a uma revisão crítica des- sas ideias recebidas e não devidamente comprovadas, embora, obviamente, confirmassem as citadas influências. E desse modo, a adoptarem um posicionamento de grande correcção e objectivi- dade científica: “Plus générale les philologues de l´Ecole brésilienne ont adopté sur la “question de la langue” des positions modérés. Ils sont à la fois attachés à lóriginalité linquistique du Brésil et à l´unité de la langue portugaise. Une spécifité brésilienne à l´interieur du portugais, voilà, ensomme ce qu´ils revendiquent”6.

Segundo Jean-Michel Massa, algo de semelhante se poderá dizer do português em África, embora numa situação muito instá-

vel e de acentuado plurilinguismo. Porque, “En Afrique, depuis l´indépendence, une nouvelle phase est engagée. Les portugais s´ètaient empanés d´une partie de l´Afrique, les Africains se sont emparés du portugais”7.

No Brasil ainda, a situação de ambiguidade relativamente à Língua Portuguesa, quanto à sua designação no sistema escolar que persistiu até aos anos 80, viria a ser completamente eliminada pelo relatório da Comissão formada por António Houaiss, Celso Cunha, Celso Luft, Fábio Lucas, João Vanderley Geraldi, e presi- dida por Ábgar Renáult, que assim dirimiu a questão: “Podemos adoptar a pespectiva de que no Brasil se pratica uma variedade da Língua Portuguesa, vencida a etapa em que se procurou insinuar o designativo “língua brasileira” ou “brasileiro”, para aquela que serve de meio de comunicação e expressão em nosso país (…) Torna-se consensual que, nos documentos ou textos expositivos quando se empregam “língua nacional”, língua materna”, “língua pátria” ou “língua vernácula”, é à Língua Portuguesa, na sua vari- edade brasileira, que tais expressões se reportam, salvo entendi- mento contrário, decorrentedo contexto.

(…) Recomendação: Será de toda a conveniência que os diplomas legais que tratam do nosso idioma oficial se refiram ex- pressamente à Língua Portuguesa ou português, fazendo constar essas denominações nos programas de ensino de todos os graus admitidos em nosso sistema educacional” 8 .

Se o problema da salvaguarda da diversidade se identificou, em certa época, com a reivindicação da independência, não só política, mas também cultural e, nos nossos dias, atingiu o ponto do equilíbrio entre diversidade e unidade entendendo-as como com- plementares, com a novíssima globalização, uma nova luta é pre- ciso empreender, a do reforço e da eficácia da unidade.

E por duas razões fundamentais:

Porque num mundo em que tudo se intercomunica e interactiva, a unidade própria de uma língua de cultura falada e escrita em vários continentes e apta a exprimir tanto o pensamennto abstrac- to como a expressão poética, como as situações triviais do dia a dia, tem a melhor garantia de eficácia nesse tipo de relacionamen- to e de resistência. A globalização não seria inevitávelmente um mal, poderá transformar-se num bem, tal como a força do vento que os marinheiros aproveitaram navegando à bulina.

E também porque, paradoxalmente, e ao contrário do que aconteceu no passado, será na unidade e força da lusofonia que

poderá estar a estabilidade e futuro da diversidade. Sem o seu apoio, as várias diversidades ficariam à mercê da poderosa força neo-colonialista globalizante da actual língua franca, o inglês.

Em face dela, as línguas de grande expressão internacional poderão representar alternativas de uso e santuários de preserva- ção de valores culturais.

Para tanto, precisam de ser unas e sustentadas pelos países que as partilham.

Entre elas o português, língua de base da lusofonia, só terá possibilidade de sucesso, se todos os seus integrantes responsá- veis o fizerem, pois se situa “entre a quinta, inclusivé, até à sétima posição inclusivé” 9.

Obviamente que a unidade da língua se faz enquanto língua de cultura, não sobre a língua oral, mas sobre a escrita, língua de “feição universalista (oferecida) aos seus milhões de usuários, cada um dos quais pode preservar, ao mesmo tempo, usos nacionais, regionais, setoriais, profissionais” 10.

António Houais explica essa dimensão cultural da língua com- parando-a com uma pirâmide em que ele ocupa o ápice, “pelo qua- se igual teor de sua culturalização gráfica – se entendeu entre si de um modo quase comum ou mesmo comum: nesse nível, a língua de cultura portuguesa é universal para todos os que a aprenderam como língua de cultura, isto é, transmitida pelo aprendizado escolar: nessa pirâmide, sobe-se de milhares de dialectos locais para um certo tipo de linguagem sem cor local e, de certo modo, sem cor temporal, pois a culturalização acumula o léxico e as regras gramaticais do passado no léxico e regras gramaticais do presente (…) numa fonia, que, nos nosso caso, é a lusofonia” 11.

As vantagens em se promover e defender esta unidade lusófona que, obviamente, admite várias normas cultas, que dis- pensam outros argumentos.

Mas não só na actualidade o problema foi encarecido pelos brasileiros.

Já no princípio deste século alguns intelectuais tinham cha- mado a atenção quer para a importância da língua como fronteira cultural, quer para a sua relevância como fronteira política, decisi- va para os interesses nacionais.

Soube este último aspecto, o seu grande defensor no Brasil foi Silvio Romero que em plena época anti lusista proferiu em, Julho de 1902, uma memorável confência intitulada “O elemento português”.

Nela preconizava a intensificação e preferência pela coloni- zação portuguesa moderna como a mais acertada medida não só para obstar às tendências separatistas de alguns núcleos de colo- nos, nemeadamente em São Paulo e no Rio Grande do Sul, mas também para fortalcer o sentimento da unidade nacional face às cobiças dos vários imperialismos reinantes, nomeadamente da Inglaterra e da Alemanha.

Cobiças essas voltadas não só para a África e as regiões cen- trais da Ásia, mas também para a América Latina, especialmente apetentes do Amazonas, do Madeira, do Purús e do Acre.

O que é surpreendente nesta apologia de uma nova coloniza- ção portuguesa é a coragem de se demarcar do ambiente dominan- te anti lusista, e a previsão, de tipo profético, dos acontecimentos que se começariam a realizar cerca de vinte e cinco anos depois,ligando intimamente a colonização lusitana à língua e cultura de Portugal como revitalizadoras do orgulho nacional brasileiro.

Chegou mesmo como veremos, a prevêr a organização das potências em blocos de poder aglotinados pela língua comum que usaram, e a união lusófona como uma solução para lhes faze face. Antes de Fernando Pessoa, Silvio Romero foi um dos pimeiros teóricos da construção da lusofonia.

Previsões estas que contrastaram com o citado ambiente rei- nante e triunfante do anti-lusismo.

Com efeito, à lembrança das críticas galhofeiras de Ramalho Ortigão e Eça nas Farpas, e de Camilo no Cancioneiro alegre, tinha-se juntado a onda de indignação patriótica contra o acolhi- mento e imponidade concedida pela força naval portuguesa fun- dada na baía de Guanabara aos conspiradores derrotados na “Re- volta da Armada” de 1894.

A indignação foi tão grande que provocou o corte de rela- ções diplomáticas entre Portugal e o Brasil e levava ao auge as sátiras e chacotas de Raul Pompeia na literatura, no teatro e na caricatura.

Mesmo depois da intervenção de Sílvio Romero continuou a maré de hostilidade e desentendimentos acompanhada por medi- das drásticas contra os monópolios de portugueses na imprensa, nas pescas etc..

Basta ler As Razões da Inconfidência de António Torres, para desde a primeira página, se poder avaliar o nível de degrada- ção das relações luso-brasileiras.

voz de Silvio Romero se levantou.

Para o notável crítico, sociólogo, folclorista e historiador literá- rio, a língua era um factor decisivo na identidade brasileira: “Basta- ria o facto extraordinário, único, inapreciável, transcendente, da língua para marcar ao português o lugar que ele ocupa em nossa vida, em nossas lutas, em nossas aspirações; bastaria a língua para definirmos e extremar-nos de quaisquer concorrentes estranhos que porventura sonhem embaraçar-nos em nossa marcha. Ela só por si na era presente serve para individualizar a nacionalidade”12.

Dentro da mesma lógica Romero anteviu que no desenrolar do xadrez mundial jogado pelas nações se caminhava no sentido de se agruparem em grandes blocos de poder e influência levados pelo que então se julgava a maior força social - a raça -, e aglutinados pela força da língua:

“Esse movimento unitário e centrípeto das raças, formando grandes todos homogéneos entre si, e diferenciados uns dos ou- tros, é que há-de poupar à humanidade a monotonia asfixiante do cosmopolitismo avassalador, que facilmene triunfaria de pequenos povos isolados.

Uma das ideias mais ousadas, atribuídas creio que a Cecil Rhodes, é a de uma imensa federação de gentes que falam a língua inglesa, e é verdadeiramente um pensamento genial.

Inglaterra, Escócia, Estados Unidos, tudo isto unido, aliado, federado,vem a ser alguma coisa de inédito, de nunca visto nos anaes do homem.E mais admirável será o quadro se nos lembrar- mos que nele deverão entrar a Índia e o Egipto, transformados pelo génio britânico.

É de assombrar” 13.

Sendo esta a dinâmica prevista e temida da anglofonia, lógica se tornou também a previsão - desejo de que os povos de Língua Portuguesa se organizassem, mesmo num tempo em que as inde- pendências africanas em geral e as das colónias portuguesas em particular eram imprevisíveis:

“Sim, meus senhores: não é isto uma utopia, nem é um sonho a aliança do Brasil e Portugal, como não será um delírio ver no