Conforme aponta o Ministério do Desenvolvimento Social em seu caderno de Per- guntas e Respostas sobre o Redesenho do PETI (2014), um passo importante para o enfrentamento do problema no Brasil foi a implementação do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). Em 2005, ocorreu a integração do PETI com o Programa Bol- sa Família, o que trouxe modificações significativas que racionalizaram e aprimoraram a gestão da transferência de renda. Em 2014, foi implementado o Redesenho do PETI, que consiste na realização de ações estratégicas voltadas ao enfrentamento das novas configurações do trabalho infantil no Brasil e no fortalecimento do programa em compasso com os avanços da cobertura e da qualificação da rede de proteção social do SUAS. Ele se destina a potencializar os serviços socioassistenciais existentes, bem como a articular ações com outras políticas públicas, o que favorece a criação de uma agenda intersetorial de erradicação do trabalho infantil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho infantil propicia uma tríplice exclusão: 1) Quando criança, o indivíduo perde a possibilidade vivenciar a infância e de mais tarde ser um adulto saudável; 2) Quan- do adulto, deixa de ter um emprego digno com salário compatível com o mercado por não ter competências e escolaridade necessárias; 3) Frequentemente não goza de saúde mínima, pois vivencia as sequelas das patologias adquiridas ao longo do trabalho precoce e insalubre.
Parece ser uma estratégia salutar para a intersetorialização a existência dos fóruns de articulação municipais, estaduais e regionais com reuniões periódicas como Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI) e o Fórum Estadual de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil em Pernambuco (Fepetipe), que são for- mados por representantes da sociedade civil organizada, da justiça (MPT, MP, MT), dos adolescentes oriundos do trabalho infantil, da classe trabalhadora e sindicais, das secre-
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tarias de assistência municipais e estaduais, das secretarias de educação municipais e estaduais e de outras representações e atores do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente para que possam ser fomentadas práticas e ações de prevenção e erradicação do trabalho infantil.
É necessário investimento em formações e sensibilizações no meio técnico, so- bretudo na Saúde, Educação e Justiça, inclusive com a existência de uma carga horária específica no currículo dos cursos superiores das áreas afins. Isso possibilitaria enxergar as crianças e adolescentes do trabalho infantil como sujeitos de direitos, não isolados, mas de forma integrada com sua família.
Seria interessante a criação de força-tarefa por meio da Justiça do Trabalho a fim de pressionar as empresas e órgãos públicos a cumprirem sua cota de contratação de aprendizes com percentual definido das vagas abertas para o público oriundo do trabalho infantil, entre 30% e 50% das vagas abertas preenchidas por esse público, assim como a criação de um selo federal e/ou estadual de incentivo e reconhecimento às empresas e instituições que contratam adolescentes oriundos do trabalho infantil na condição de aprendizes.
Outra ação estratégica envolvendo o FNPETI, com sede em Brasília, seria a articu- lação para incidência política de modo que o Legislativo votasse o projeto de lei que tipifica o trabalho infantil como crime.
Como finalização deste trabalho, acreditamos que colabora para que se abram perspectivas para outros estudos, tais como: implicações do trabalho infantil na relação do Programa Bolsa Família com o Redesenho do PETI; existência de estratégias municipais e estaduais para ações de enfrentamento norteadas pela intersetorialidade; boas práticas dos municípios que conseguem promover ações estratégicas tendo como atores os dife- rentes agentes do Sistema de Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes por meio da intersetorialidade.
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