• Nenhum resultado encontrado

POLÍTICAS MUNICIPAIS DE JUVENTUDES: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS

Sabemos que se constitui como um primeiro desafio garantir os direitos dos(as) jovens expressos e normatizados nos principais marcos legais internacionais, nacional e estadual, diante das decisões políticas e econômicas frente aos retrocessos da conjuntura internacional e nacional, das perdas diante de recursos públicos para a temática, dentre tantos outros motivos, ainda que, por um lado, estejam inseridos em um arcabouço jurídi- co-legal e por outro estejam na estrutura governamental e das políticas sociais.

Se olharmos para a realidade, identificaremos uma série de direitos que estão cotidianamente sendo violados e negligenciados. São jovens fora da escola, desempre- gados (as) ou em condições precárias de trabalho, sem acesso a atividades esportivas e culturais, e muitos deles assassinados. A lista é imensa e tão grande quanto é o desafio de não considerar todos estes problemas como responsabilidade apenas dos(as) jovens. Além disso, reforçamos que o fato de existir uma Política de Juventudes não garante por si só que ela seja boa ou que atenda as necessidades dos(as) jovens, pois podem existir programas ou ações que, ao invés de garantir direitos, reforcem opressões, violências e desigualdades.

Uma das Estratégias que apontamos é a necessidade de rever e defender incan-

savelmente os(as) jovens como sujeitos que possuem direitos, seja você gestor(a), profis- sional, educador(a) ou mesmo jovem. O que significa que no cotidiano de atendimento e trabalho com esse público, o discurso da “ajuda” e do “favor” não deve ser utilizado, pois o atendimento a jovens nos serviços, programas e projetos se constitui como direito.

Dessa forma, se você é gestor(a) ou integra a equipe de Políticas Sociais, que

tal fazer uma avaliação de quais direitos são atendidos pela Prefeitura e quais são negli- genciados? Observe a forma como jovens são atendidos (as) pelos programas e serviços, problematize as questões com os(as) gestores(as) e profissionais, caso identifique que o direito não esteja sendo garantido, identifique as violações de direitos dos(as) jovens no município e articule os movimentos, o legislativo, o judiciário, ONGs, dentre outros sujeitos e instituições, para discutir estratégias de defesa dos(as) jovens.

Destacamos como segundo desafio, o conhecimento sobre a realidade dos(as)

jovens, ouvir suas demandas, garantir sua participação na Política de Juventudes, visto que a falta de espaços de escuta e diálogo vem sendo objeto de queixas de muitos(as) jovens. Muitas vezes, os espaços são utilizados para legitimar decisões tomadas anterior- mente ou utilizar a participação de forma instrumental.

181

Artigo | 10

Lembro do que Dayrell (2003) fala a respeito de reconhecermos os(as) jovens como sujeitos sociais, de que esse reconhecimento implica em reconhecer a capacidade que os(as) jovens têm de pensar, falar, interpretar, expressar seus sentimentos e opiniões, o que deve ser assumido como postura teórica, metodológica e ética no cotidiano.

Uma Estratégia continua sendo a participação formal dos(as) jovens nos espa-

ços institucionais, como conselhos e conferências municipais. Nesse caso, as demandas sistematizadas dos(as) jovens precisam de fato influenciar na agenda pública dos direitos e políticas de juventudes, diante do risco de deslegitimação que existe. Reforçamos que o Estatuto Nacional de Juventude (2013, artigo 3º) contempla a participação juvenil na “formulação, implementação e avaliação” das políticas de juventude. Investir na construção e execução dos programas, projetos e ações direcionados para jovens precisa ser repleto de diálogo, de escuta, de participação, assim como chegar perto dos(as) jovens que não estejam inseridos nas políticas sociais, daqueles(as) que se organizam em grupos e movi- mentos, ou mesmo daqueles(as) que não estejam organizados(as)3.

Avalie de que forma você pode estimular a participação. Participar aqui não é sinô- nimo de “fazer coisas”, mas um princípio de abertura para que jovens estejam inseridos(as) nas políticas sociais e tenham respeitadas e consideradas suas “falas”, suas necessidades, possibilitar a abertura para intervenção dos(as) jovens nas atividades e decisões que di- zem respeito a sua vida, assim como investir em mapear, identificar o perfil e conhecer os(as) jovens do município, saber de que forma se organizam, os lugares que frequentam, os pontos de encontro, as dificuldades, as demandas, os sonhos. Vão conhecer esses/as jovens, conversar com eles/as, conhecer o cotidiano dos programas, conversar com as equipes, acompanhar as atividades dos grupos de jovens de igreja, de terreiro, da popula- ção LGBT, skatistas, surfistas, dentre tantos outros.

3 Para pensar: As ações de atuação de jovens e movimentos juvenis para além das esferas delimitadas pela política de juventude, como as ruas, também consideradas espaços públicos, são consideradas participação? Como deve ser realizada a interlocução do poder público com os jovens que não estão organizados em “associações, redes, movimentos e organizações juvenis”?

182

Artigo | 10

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreender que a juventude foi criada como categoria histórica e social no pro- cesso de constituição da modernidade, assim como que há mudanças nos discursos e na forma de definirmos a juventude permite nos posicionarmos de forma consciente sobre quais discursos defenderemos e reproduziremos no cotidiano, nas políticas sociais, nas relações e nas ações que desenvolvemos com jovens, bem como quais são os discursos que orientam as políticas sociais com as quais trabalhamos.

Enquanto Política Pública Social, as PPJs apresentam os desafios de garantir re- cursos públicos adequados e necessários, passam por processos de avanços e recuos, sofrem as pressões de inúmeros sujeitos sociais e instituições, como também possuem limites diante das decisões econômicas e políticas tomadas no âmbito do Estado.

Dessa forma, uma exigência que se coloca para gestores(as), profissionais, jovens e a sociedade na contemporaneidade é a articulação para defesa das políticas e direitos sociais. Não podemos mais ficar defendendo apenas a política que me toca ou na qual tra- balho. Jovens, mulheres, crianças, negros(a), população LGBTs, idosos(as), quilombolas, indígenas e tantos outros sujeitos precisam ser vistos de forma integral e suas necessida- des sociais atendidas pelo Estado de forma completa. Isso exige unir forças, compreender e questionar a realidade, construir estratégias coletivas e defender os direitos.

Referências Bibliográficas

183

ABRAMO, Helena. Considerações sobre a temati- zação social da juventude no Brasil. Revista Brasi- leira de Educação, n. 5 e 6, p. 25-35, 1997.

ABRAMO, Helena. Adolescência e Juventude: das noções a abordagens. In: FREITAS, R.. Juventude e adolescência no Brasil: referências conceituais.

São Paulo: Ação Educativa, 2003.

ABRAMO, Helena. Condição juvenil no Brasil con- temporâneo. In: ABRAMO, Helena; BRANCO, Pe- dro Paulo Martoni (Org.). Retratos da Juventude Brasileira: análises de uma pesquisa nacional. São

Paulo: Instituto Cidadania; Porto Alegre: Editora Fundação Perseu Abramo, 2005. p. 37- 72.

ALBUQUERQUE, J. A racionalidade de um dis- curso: jovem como agente estratégico de desen-

volvimento. Tese (Doutorado em Serviço Social) – Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, 2014.

ALBUQUERQUE, J.; BERNARDES, Denis. A Ju- ventude nas Constituições Brasileiras: um trajeto histórico. Estudos Universitários, v. 26, n. 7, 2010.

ALBUQUERQUE, J.; OLIMPIO, Marcelo. Políticas Públicas de Juventude: a construção de um pro-

cesso. Recife: SEJE/EQUIP, 2009.

BRASIL. Lei n. 12.852 de 5 de agosto de 2013.

Estatuto Nacional de Juventude. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2013/lei/l12852.htm>. Acesso em: 10 set. 2017. CEJUVENT. Plano Nacional de Juventude: Do-

cumento para discussão. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, 2003.

CFESS. Juventude: Que direitos e qual desenvolvi-

mento queremos? 2011. Disponível em: <http://www. cfess.org.br/arquivos/cfessmanifesta2011_conf.ju- veSITE.pdf>. Acesso em: 4 mar. 2012.

CONJUVE. PEC da Juventude n. 42/2008: O Bra-

sil precisa, a juventude quer. Brasília: CONJUVE, 2009.

DAYRELL, J. O Jovem como sujeito social. Revista Brasileira de Educação, n. 24, p. 40-52, 2003.

DAYRELL, J.; GOMES, Nilma. A Juventude no Brasil. (s.d.). Disponível em: <https://xa.yimg.com/

kq/groups/19457852/.../name/JUVENTUDE+- NO+BRASIL.pdf>. Acesso em: 8 set. 2017.

GONÇALVES, H. S. Juventude brasileira, entre a tradição e a modernidade. Tempo Social, Revista de Sociologia da USP, v. 17, n. 2 , p. 207-219, 2005.

GROPPO, Luiz Antônio. Juventude: Ensaios sobre

Sociologia e História das Juventudes Modernas. Rio de Janeiro: Difel, 2000.

GROPPO, Luiz Antônio. Condição juvenil e modelos contemporâneos de análise sociológica das juven- tudes. Última Década, n. 33, p. 11-26, 2010.

MEDEIROS, A. d. O descobrimento do papel do jovem na transformação de sua realidade social e educacional: um estudo de caso. São Leopoldo:

Escola Superior de Teologia, 2009.

NOVAES, R. Exclusão e Inclusão Social: aspectos e controvérsias de um debate em curso. In: FREITAS, M. V.; PAPA, F. (Org.). Políticas Públicas: Juventu-

de em Pauta. São Paulo: Cortez; Ação Educativa; Fundação Friedrich Ebert, 2003.

PERALVA, Angelina. O jovem como modelo cultu- ral. Revista Brasileira de Educação, n. 5 e 6, p.

15-24, 1997.

PEREIRA, P. Política Social: temas & questões.

São Paulo: Cortez, 2008.

PERNAMBUCO. Plano Estadual de Juventude. 2008. Disponível em: <http://legis.alepe.pe.gov.br/ legis_inferior_norma.aspx?cod=LE13608>. Aces- so em: 10 dez. 2008.

RAMOS, E. B. Anos 60 e 70: Brasil, juventude e rock. Ágora, n. 10, p. 1-20, 2009.

SAVAGE, John. A criação da Juventude: como o

conceito de teenager revolucionou o século XX. Rio de Janeiro: Rocco, 2009.

SILVA, Enid; ANDRADE, Carla. A Política nacional de Juventude: Avanços e Dificuldades. In: CASTRO, Jorge; AQUINO, Lusieni; ANDRADE, Carla (Org.).

Juventude e Políticas Sociais no Brasil. Brasília,

DF: Ipea, 2009.

SNJ; CONJUVE. Documento Base da 1ª Confe- rência Nacional de Juventude: Levante sua Ban-

Referências Bibliográficas

184

UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES (UBE) et al. Manifesto dos Movimentos Sociais em Defe- sa da Secretaria Nacional de Juventude. 2015.

Disponível em: <https://ubes.org.br/2015/conjuve- -manifesto-dos-movimentos-sociais-em-defesa-da- -secretaria-nacional-de-juventude/>. Acesso em: 20 nov. 2018.

185

A VIOLÊNCIA SEXUAL