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Tendo em vista as características do público-alvo do curso, busquei apresentar de forma simples e didática algumas expressões e conceitos que ainda são desconhecidos por boa parte dos/as profissionais que atuam no SUAS, embora já sejam bastante conheci- dos por todos/as aqueles/as que possuem alguma aproximação com os estudos de gênero e de sexualidade. Essa opção foi decisiva para a boa avaliação que os discentes fizeram sobre o curso. Nos parágrafos seguintes, exponho parte da discussão realizada ao longo do curso.

A expressão diversidade sexual está associada às múltiplas formas de exercício e vivência da sexualidade humana. Ao longo da história, a heterossexualidade foi associada como forma legítima de pleno exercício da sexualidade humana devido à relação entre sexo e reprodução, enquanto que a homossexualidade e a bissexualidade foram classifi- cadas como desviantes, anormais e nocivas. Todavia, hoje já há um reconhecimento da sociedade e de suas instituições em relação à diversidade de formas através das quais a sexualidade humana pode ser exercida.

Outra expressão que também está associada a essa discussão é a orientação sexual. Refere-se à capacidade de cada indivíduo de desenvolver interesse emocional, afetivo ou sexual por pessoas do sexo oposto no caso da heterossexualidade, do mes- mo sexo no caso da homossexualidade e de ambos os sexos no caso da bissexualidade (BRASIL, 2010).

Já a expressão identidade de gênero diz respeito à experiência interna e individual de cada pessoa em relação a sua identidade e a sua forma de representação social. A identidade de gênero também se refere à forma como indivíduos relacionam-se com as representações de masculinidade e feminilidade e como isso se traduz na sua prática social, sem necessariamente haver uma conexão com o sexo biológico como no caso de travestis, mulheres transexuais e homens trans (BRASIL, 2018).

A identidade de gênero, ou seja, a forma como os gêneros masculino e feminino são vistos, vivenciados e apresentados socialmente, é fortemente influenciada pelos pa- drões culturais vigentes. Ela reflete a maneira como a pessoa se sente, age, se veste, se comporta, se relaciona, de acordo com características consideradas masculinas ou femini- nas, independente do sexo biológico. Cabe ressaltar que em diferentes culturas convivem diferentes formas de expressão do masculino e do feminino, não havendo uma forma única padrão para o comportamento dos gêneros.

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Um outro conceito muito importante nessa discussão é o de LGBTfobia/homofobia4. Refere-se a todas as manifestações de rejeição, medo, preconceito, discriminação, aver- são ou ódio contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis, mulheres transexuais, homens trans e todas as pessoas que por alguma circunstância não estão atendendo aos padrões hegemônicos de gênero e de sexualidade.

Nesse sentido, a LGBTfobia trata-se de um comportamento violento que pode se ser praticado de forma individual ou coletiva, por indivíduos ou mesmo por instituições. É importante compreender que a LGBTfobia não se reduz a agressões físicas, mas com- preende também violências simbólicas, psicológicas, patrimoniais e mesmo institucionais. Um exemplo recorrente das violências institucionais ocorre na negativa de um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) em realizar o atendimento socioassistencial de uma mulher transexual respeitando o seu nome social ou de não reconhecer as famílias homotransparentais existentes no território.

Nome social e famílias homotransparentais também são dois conceitos muito im- portantes. O nome social diz respeito ao nome com o qual travestis, mulheres transexuais e homens trans se identificam e são socialmente reconhecidos/as (BRASIL, 2018). A família homotransparental é aquela cuja composição possui ao menos uma pessoa que vivencia a orientação sexual homossexual ou bissexual e/ou a identidade de gênero trans. Esses tipos de famílias podem ser compostas por casais formados por pessoas do mesmo sexo com ou sem filhos (adotados ou biológicos), ou ainda por casais que possuem uma ou duas pessoas transexuais na sua composição. Há ainda outras possibilidades e formatos de famílias homotransparentais.

Em maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF), julgando as ações do Gover- no do Rio de Janeiro e da Procuradoria-Geral da República, decidiu pelo reconhecimento das uniões estáveis para casais do mesmo sexo. A decisão estendeu aos casais homosse- xuais de gays e de lésbicas os direitos que uma família possui no Brasil, como a herança, inscrição do parceiro na Previdência Social e em planos de saúde, impenhorabilidade da residência do casal, pensão alimentícia, divisão de bens em caso de separação, autori- zação de cirurgia de risco, entre outros. Essa decisão é considerada um grande marco no reconhecimento das famílias homotransparentais pelo Estado brasileiro.

4 A 3ª Conferência Nacional de Políticas Públicas de Direitos Humanos LGBT, realizada em 2016, deliberou que no Estado brasileiro passa-se a utilizar a expressão “LGBTfobia” ao invés da expressão “homofobia” para se referir ao conjunto de violações motivadas por intolerância à diver- sidade sexual e à identidade de gênero. Todavia, a expressão “LGBTfobia” ainda não foi totalmente assimilada pelas instituições estatais, tendo em vista que estamos num período de transição entre o desuso de uma expressão e a utilização de outra. Por isso, em alguns momentos deste texto, utilizo-a na seguinte forma “LGBTfobia/homofobia”.

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Por fim, também é necessário compreender o significado das expressões: lésbica, gay, bissexual, travesti, mulher transexual e homem trans:

• Lésbica: denominação específica para mulheres que se relacionam, independente- mente da identidade de gênero, afetiva e sexualmente com outras mulheres;

• Gay: denominação específica para homens que, independentemente da identidade de gênero, relacionam-se afetiva e sexualmente com outros homens;

• Bissexual: pessoas que se relacionam afetiva e sexualmente com ambos os sexos, independente da identidade de gênero;

• Travesti: uma construção de gênero feminino oposta ao sexo designado no nascimen- to, seguido de uma construção física, que se identifica na vida social, familiar, cultural e interpessoal através dessa identidade. Muitas modificam seus corpos por meio de terapias hormonais, aplicações de silicone e/ou cirurgias plásticas, porém vale ressal- tar que isso não é regra para todas;

• Mulher Transexual: é a pessoa do gênero feminino, embora tenha sido designada como pertencente ao sexo/gênero masculino ao nascer. Muitas fazem uso de terapias hor- monais, aplicações de silicone e/ou cirurgias plásticas, porém vale ressaltar que isso não é regra para todas;

• Homem Trans: é a pessoa do gênero masculino, embora tenha sido designada como pertencente ao sexo/gênero feminino ao nascer. Muitos fazem uso de terapias hormo- nais, aplicações de silicone e/ou cirurgias plásticas, porém vale ressaltar que isso não é regra para todos.

Os estudos de gênero e sexualidade que tratam sobre questões como diversida- de sexual, identidade de gênero, orientação sexual e LGBTfobia estão em permanente transformação. Nesse sentido, todos esses conceitos que foram apresentados no curso A

População LGBT e o SUAS de maneira didática para fácil compreensão dos/as discentes,

são apenas uma visão dessas questões. Sendo assim, esses conceitos expostos acima não representam a totalidade de compreensões e discussões existentes sobre eles.

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AÇÕES GOVERNAMENTAIS DE PROMOÇÃO DA CIDADANIA E DOS