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Uma coligação sindical comunista (Intersindical) surgiu do movi- mento de oposição sindical ilegal e clandestina durante o regime autori- tário. Esse sindicato formou as bases de uma confederação nacional do trabalho depois da revolução, a Intersindical Nacional, que surgiu em 1974, quando conquistou o controlo de quase todos os sindicatos na- cionais – dois terços dos sindicatos existentes juntaram-se à Intersindical em 1974-1975. A Intersindical procurava o monopólio do movimento

3Barreto, «Portugal...», 454-455; José Barreto e Reinhard Naumann, «Portugal. Indus-

trial relations under democracy», in Changing Industrial Relations in Europe. Portugal, coords. Anthony Ferner e Richard Hyman (Cambridge: Blackwell, 1998), 402.

trabalhador e defendia uma organização laboral unitária.4A influência comunista durante o período revolucionário facilitou esse objetivo e a Intersindical alcançou o monopólio legal de representação nos termos da Lei Sindical de 1975. Não conseguiram, no entanto, controlar as filei- ras e a multidão e novos corpos representativos, as comissões de traba- lhadores, surgiram espontaneamente nos locais de trabalho fora do con- trolo sindical. Os dirigentes dessas comissões envolveram-se em negociações com empregadores, organizaram greves e, nalguns casos, até geriram centenas de pequenas empresas. Além disso, os dirigentes dessas comissões opuseram-se ao Partido Comunista e desafiaram a posição do- minante da Intersindical, sendo apoiados por organizações e pessoas con- tra o PCP, que viam neles uma alternativa à Intersindical.5Em 1976, essas comissões foram reconhecidas legalmente pela Constituição. Foram pos- teriormente reguladas por uma lei de 1979 que limitou o seu papel e lhes atribuiu a supervisão da gestão e a participação na administração de as- suntos sociais dentro da empresa (v. a secção sobre as negociações cole- tivas mais adiante).

O fim do período revolucionário resultou na aprovação da Constitui- ção de 1976, que aboliu o monopólio legal da Intersindical.6 A nova Constituição adoptou um modelo de representação pluralista que per- mitia a fundação de associações sindicais a todos os níveis. O pluralismo reflete as divisões do período revolucionário.

As lutas dentro da esquerda entre os comunistas e os socialistas/so- ciais-democratas, que levaram a mal o controlo comunista sobre o mo- vimento trabalhador, resultaram na organização de novos sindicatos em todos os sectores. Depois do colapso do regime autoritário, todos os par- tidos procuraram enraizar-se nas classes trabalhadoras, e os ativistas dos partidos tiveram um papel relevante no aparecimento de novos sindica-

4O ativismo do sindicalismo unido durante a ditadura foi facilitado pela luta comum

pela democracia. Os sindicatos seguiram diferentes estratégias. Enquanto a esquerda ra- dical, os comunistas e o movimento de trabalhadores cristãos procuravam derrotar o sis- tema capitalista existente, os sociais-democratas apoiavam uma estratégia mais reformista. Essas estratégias políticas contrastantes tornaram-se críticas durante a transição e travaram os esforços de unificação. As lutas entre os ativistas trabalhistas eram refletidas pelos con- flitos partidários, que dividiram os movimentos sindicais em dois grupos, com tendências comunistas e não comunistas [Reinhard Naumann e Alan Stoleroff, «Portugal», in The

Societies of Europe. Trade Unions in Western Europe since 1945, coords. Bernhard Ebbinghaus

e Jelle Visser (Nova Iorque: Grove’s Dictionaries, 2000), 552-553].

5Barreto e Naumann, «Portugal...», 409.

6Daniel Nataf, Democratization and Social Settlements. The Politics of Change in Contempo-

rary Portugal (Albany, NY: State University of New York Press, 1995), 131; Barreto e Nau-

tos. Num congresso em 1977, a Intersindical tornou-se a Confederação Geral de Trabalhadores Portugueses (CGTP-IN).

Imediatamente depois da abolição da cláusula unitária, trinta sindicatos liderados por sindicatos dos sectores bancário, de seguros e de empregados de escritório uniram-se e, com o apoio do Partido Socialista português (PS) e do partido liberal-conservador Partido Popular Democrático (PPD, mais tarde Partido Social-Democrático, PSD), fundaram a União Geral de Trabalhadores (UGT).7 O objetivo principal da nova organização era desafiar o monopólio da Intersindical no movimento trabalhador. Esse desenvolvimento levou ao pluralismo sindical e à competição intersindical nos locais de trabalho. De facto, a UGT conseguia quase alcançar o mo- nopólio em alguns sectores, tais como o sector financeiro, e cresceu rapi- damente no sector industrial, ao assinar convenções coletivas de trabalho recusadas pela CGTP. A Intersindical, no entanto, conseguiu manter a posição dominante no sector trabalhista. Tem 150 sindicatos filiados (a UGT tem 63). A CGTP é dominante na indústria transformadora, na construção, na eletricidade, na estrada e no transporte urbano, nos cor- reios e nas telecomunicações e em grandes secções da função pública. A UGT, por seu lado, é dominante na banca, nos seguros, em várias in- dústrias e serviços, na educação, bem como nos empregados de escritório.

Em 1980, o número de sindicatos cresceu dramaticamente quando novos grupos procuravam representar determinados grupos de trabalha- dores. Esses novos grupos, no entanto, não se consideram parte do mo- vimento sindical. Esse desenvolvimento resultou na fragmentação do movimento trabalhador. A CGTP representa 60% dos trabalhadores sin- dicalizados, a UGT 30% a 35% e os sindicatos independentes menos de 10%.8Como veremos mais adiante, apesar das repetidas tentativas da UGT em consolidar e concentrar o movimento sindical, a fragmentação e as divisões permaneceram. Só em 1988 é que a CGTP estabeleceu re- lações formais com a UGT. Nos anos 90 houve um processo de aproxi- mação entre os dois sindicatos e surgiram algumas iniciativas comuns aos dois. No entanto, como veremos, a relação entre ambos os sindicatos continua tensa.

7Os Partidos Socialista e Social-Democrático tinham nessa altura muito pouca in-

fluência nos sindicatos. O Partido Socialista (PS) foi fundado em 1875, mas praticamente desapareceu nos anos 30. O Partido Social-Democrático foi fundado pouco tempo depois da queda do regime autoritário. Pelo contrário, o Partido Comunista sobreviveu à dita- dura e infiltrou os sindicatos corporativistas, que deram margem de manobra aos comu- nistas durante a transição, porque os sindicatos foram a linha da frente do processo (Bar- reto e Naumann, «Portugal...» , 409).

Neste ponto, é importante realçar que a legislatura portuguesa não deu qualquer tratamento preferencial a nenhum sindicato. Em Portugal, todos os sindicatos são iguais e têm os mesmos direitos. Apesar de ser profundamente intervencionista (por exemplo, nos processos de acom- panhamento de negociações coletivas), a lei portuguesa não inclui qual- quer critério para processos de representação ou reconhecimento.

A relativa fraqueza e falta de recursos financeiros é uma característica importante dos sindicatos portugueses.9Como veremos mais adiante, as filiações diminuíram drasticamente nos anos 80, depois do fim da tran- sição democrática. Têm uma grande falta de recursos financeiros, depen- dem muitas vezes de ajudas externas para sobreviver e também têm pou- cos empregados. Para além do mais, a maior particularidade tem sido o apoio dado aos sindicatos pelos partidos políticos. Até finais dos anos 80, os sindicatos comunistas e socialistas portugueses mantiveram dire- ções historicamente interligadas entre partidos e sindicatos. As suas dife- rentes orientações ideológicas refletiam-se nos seus estatutos e programas e os dirigentes sindicais tinham responsabilidades partidárias e, em mui- tos casos, cargos políticos, inclusivamente eleitos para o parlamento. Em Portugal o PS e o PSD têm sido dominantes dentro da UGT e o PCP dentro da CGTP. Essas ligações institucionais entre sindicatos e partidos ainda prevalecem em Portugal, embora o controlo partidário dos sindi- catos esteja também a desaparecer.10

Finalmente, Portugal passou por grandes níveis de conflitos laborais nos anos 70. Parte desses tinham motivações políticas e estavam relacio- nados com a transição para a democracia. O conflito industrial, no en- tanto, desceu consideravelmente na segunda metade dos anos 80, apesar do sucesso da greve geral organizada separadamente por todos os sindi-

9Barreto e Naumann, «Portugal...», 412-415.

10Em Portugal, embora só existam formalmente ligações pessoais entre sindicatos e

partidos, na realidade, os dirigentes e ativistas sindicais têm recebido cargos políticos e responsabilidades partidárias e são frequentemente nomeados para os corpos executivos dos partidos (embora seja teoricamente proibido pela lei sindical). Por exemplo, durante os anos 80, 5% a 9% dos PM eram da UGT e funcionários da Intersindical ou dirigentes confederais. Assim, os sindicatos têm funcionado imenso como veículo de influências políticas. Alguns dos fatores que explicam a predominância da ação política no sindica- lismo incluem o papel histórico da auto-regulação societária, do controlo partidário dos sindicatos, da fraqueza endémica dos sindicatos e a tendência por parte dos empregados em contarem com o governo para alcançarem os seus objectivos. A crise económica dos anos 80 reforçou essas tendências. Os sindicatos têm utilizado a ação política, incluindo a organização de uma greve geral em 1988, para proteger a legislação laboral preventiva da revolução que protegeu os direitos sindicais e a segurança do trabalho (Barreto e Nau- mann, «Portugal...», 414).

catos principais em 1988 para impedir o plano do governo de liberalizar o mercado de trabalho e facilitar os despedimentos coletivos.

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