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Durante a ditadura, a filiação nos sindicatos «verticais» era obrigatória, exceto em sectores como a função pública, onde as organizações sindicais eram ilegais. Por isso, a queda dos regimes autoritários permitiu aos sin- dicatos «herdarem» um grande número de membros. Mais, o desapare- cimento de sindicatos oficiais, que motivou os trabalhadores a juntarem- -se a novos sindicatos que podiam articular os seus pedidos, ligado à euforia associada à transição para a democracia e ao desejo dos trabalha- dores portugueses de participarem na vida pública e de contribuírem para os processos de democratização, contribuiu para os grandes números de filiações sindicais.21Consequentemente, durante os primeiros anos do processo de transição houve um número muito elevado de afiliações. Entre 1979 e 1984, as filiações sindicais (como percentagens de receitas salariais) atingiram 58,8% dos trabalhadores assalariados.22

Esse desenvolvimento, no entanto, teve pouca duração. As condições políticas e económicas para a participação sindical deterioraram-se pro- fundamente na segunda metade dos anos 70. Depois do auge do período de transição, os sindicatos não estavam à altura das expectativas dos seus filiados e não eram capazes de alcançar resultados favoráveis para os seus membros nem conseguiam criar serviços para os seus filiados, o que teria tornado a filiação mais atrativa. Por isso, uma vez dissipada a euforia da transição, os trabalhadores decidiram cancelar a sua filiação. Em Portugal, esse processo precipitou-se com a decisão do governo socialista em 1977 de anular a dedução automática das quotas sindicais das remunerações com o objetivo de enfraquecer a CGTP.23A crise económica, que resul- tou num aumento do desemprego, na subida significativa do trabalho temporário e na contratação informal no mercado negro,24associada ao aumento da função pública e à economia paralela, bem como o apare-

21Naumann e Stolereoff, «Portugal».

22Maria da Conceição Cerdeira, «Mudanças organizacionais e negociação coletiva»

em 8.º Encontro Nacional da APSIOT (Lisboa: APSIOT, 1999); Naumann e Stolereoff, «Portugal», 557.

23As empresas públicas concordaram deduzir as quotas desde 1977, mas as empresas

privadas e as associações de trabalhadores recusaram cooperar; por esse motivo, as con- tribuições atualmente são, na sua maioria, cobradas pelos sindicatos (Barreto e Naumann, «Portugal...», 412).

24Esse problema é particularmente acentuado em alguns sectores económicos, tais

como a construção (onde a proporção estimada de emprego fora dos termos legais é de 50% e a densidade sindical mal alcança 10%), a indústria do vestuário, bem como alguns serviços (Barreto e Naumann, «Portugal...»), 412.

cimento de novas formas de organizações profissionais onde os tradicio- nais operários não qualificados já não eram dominantes, também têm sido mencionados como algumas das razões para o acentuado declínio das filiações sindicais durante esses anos. Outras explicações para a queda de filiações: pobres serviços para membros, competição entre sindicatos, politização sindical e pressão dos empregadores.25Finalmente, outros au- tores realçam o impacto da extensão legal das convenções coletivas aos não membros. Dado que todos os trabalhadores beneficiam das conven- ções coletivas de trabalho, têm poucos incentivos para se juntarem a sin- dicatos e pagar quotas sindicais.26

Em consequência desses desenvolvimentos, a proporção dos membros sindicais na população ativa diminuiu acentuadamente ao longo das duas últimas décadas. O número de filiações alcançou o seu número mais baixo em meados dos anos 80.27Entre 1988 e 1990 havia aproximadamente um milhão de membros, ou 30 % de trabalhadores dependentes.28Desde aí, a filiação sindical caiu 44,2 % entre 1985 e 1995 e em 2000 estava em 25,6%. Isso colocou Portugal no grupo dos países da Europa ocidental com uma densidade sindical média-baixa, significativamente afastado da França ou da Espanha. A densidade sindical está também inequitativamente distri- buída. Em Portugal, a densidade sindical é superior no sector primário e na função pública e ligeiramente abaixo do nível geral na indústria e ser- viços privados. Para além disso, é importante realçar que, em Portugal, a filiação sindical está próxima dos 100% em sectores em que os sindicatos têm o monopólio da prestação de assistência médica (isto é, banca, seguros e telecomunicações).29Por exemplo, ao contrário da tendência geral, o sindicalismo bancário em Portugal aproxima-se dos 90% e a filiação du-

25Joana Ribeiro et al., Posições face à Sindicalização, Desafios de Mudança (Lisboa: Edições

Cosmos, 1993).

26Miguel Angel Malo, «Elecciones sindicales y comportamiento de los sindicatos es-

pañoles. Una propuesta», in Estudios sobre la Economía Española, 93 (Madrid: FEDEA, 2001); Olympia Bover, Samuel Bentolila e Manuel Arellano, «The distribution of earnings in Spain during the 1980s. The effect of skill, unemployment, and union power», Docu-

mento de Trabajo, 0015 (Madrid: Banco de España, 2000).

27É importante realçar que, devido à falta de dados recolhidos com regularidade, tem

sido difícil calcular o número exato de membros sindicais. Os sindicatos também não estão particularmente abertos em distribuir essas informações. Tem sido um assunto muito conflituoso no seio dos investigadores em Portugal (v., entre outros, Cerdeira, «Mudanças...», e Naumann e Stolereoff, «Portugal»).

28Naumann e Stolereoff, «Portugal», 557.

29Olympia Bover, Pilar Garcfa-Perea e Pedro Portugal, «A comparative study of the Por-

tuguese and Spanish labour markets» (comunicação apresentada na conferência «The Por- tuguese labour market in international perspective», Lisboa, 18-19 de julho de 1997, 14).

plicou desde a revolução.30Os níveis de sindicalização são por isso muito elevados nos transportes ferroviários, na banca, nos seguros, nos transpor- tes e nas empresas públicas e relativamente baixos na construção, no co- mércio, na indústria têxtil, na indústria alimentar e na indústria cerâmica. Em Portugal a combinação do aumento da fragmentação sindical com o declínio geral da densidade sindicalista resultou numa queda do número total de trabalhadores sindicalizados por sindicato (de 2600 por sindicato em finais dos anos 80 para 2000 em finais dos anos 90) (v. quadro 5.1). Em finais dos anos 90, a CGTP e os seus sindicatos associados mais pró- ximos representavam mais de 71% de todos os membros de sindicatos e a UGT menos de 23%.31

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