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Gráfico 3: Faixa etária das associadas do MMIB.

6 A ORGANIZAÇÃO PRODUTIVA E DE SERVIÇOS DO MOVIMENTO DE MULHERES DAS ILHAS DE BELÉM (MMIB)

6.1 Associativismo no contexto do MMIB

O associativismo, assim como, o cooperativismo, fazem parte do processo de formação da classe trabalhadora cuja tradição segundo Veiga e Reich (2001, p. 09), se inicia com os artesãos e que possuem diferentes nomes de acordo com o país (confrarias, ciclos, guildas, corporações de ofício etc.). Assim como, “nas caixas mútuas e na luta dos trabalhadores desde o início da Revolução Industrial, quando o cooperativismo, associativismo e o sindicalismo, passam a tomar forma, primeiro como resistência e depois, como espaço de importantes conquistas dos trabalhadores.

Para Leonello (2010, p. 43), o conceito de associativismo concebido por Scherer- Warren (2001, p. 42) seria uma “simplificação” que nos remete também a uma compreensão sobre o conceito de associativismo, pois, estas são

[...] formas organizadas de ações coletivas empiricamente localizáveis e delimitadas, criadas pelos sujeitos sociais em torno de identificações e propostas comuns, como para a melhoria da qualidade de vida, defesa de direitos de cidadania, reconstrução ou demandas comunitárias. Mas, além disso, estes também se manifestam como forma de dar visibilidade a grupos sociais excluídos pelo sistema capitalista ou esquecidos pelas politicas públicas, à medida que seus direitos sociais são violados.

No Brasil, a primeira geração de organizações sociais surgiu no final do período de governo militar, em um território claramente delimitado pela contestação à ordem dominante e pela autonomia frente aos governos, empresas, instituições filantrópicas e mercados. O espaço da contestação lhes era assegurado pela identificação política com os movimentos populares, as comunidades de base da periferia urbana ou do meio rural e os sindicatos recém-criados. No entanto, o processo associativista do país, possui no campo o movimento de maior representatividade através da constituição das Ligas Camponesas, para mais tarde, as associações de moradores e as federações (VEIGA; REICH, 2001, p. 24).

No meio rural, o associativismo pode ser entendido, segundo Ricciardi e Lemos (2000), como um instrumento de luta dos pequenos produtores, proporcionando a permanência na terra, elevação do nível de renda e de participação como cidadãos. Uma associação não é somente uma organização de pessoas com objetivos comuns para proporcionar uma

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melhor reprodução econômica de seus sócios, mas, sim, uma organização mais complexa com objetivos também de caráter social, desempenhando importantes e complexas funções por meio de estatutos e regimentos (LEONELLO, 2010, p. 43).

Bordenave (1983) ao se referir a este período contribui com a afirmação de que nos últimos anos o interesse em participar se generalizou no Brasil e no mundo. “aqui e acolá surgem às associações mais diversas: amigos de bairros, movimento ecológico, associação de moradores, comunidades eclesiais de bases e outros”. Afirma que a participação é uma necessidade universal, pois as pessoas participam na sua família, na comunidade, no trabalho e em síntese:

A participação é inerente a natureza humana social do homem, tendo acompanhado sua evolução desde a tribo e o clã dos tempos primitivos, até as associações, empresas e partidos políticos de hoje. Neste sentido, a frustração da necessidade de participar constitui uma mutilação do homem social. Tudo indica que o homem só desenvolvera seu potencial pleno numa sociedade que permita e facilite a participação de todos. O futuro ideal de um homem só se dará numa sociedade participativa (BORDENAVE, 1983, p. 17).

Assim, a partir do final dos anos 1980 e início dos 1990 com a reestruturação produtiva, as novas tecnologias e as políticas neoliberais, se destacam “novos atores” nesse campo das organizações econômicas e sociais, no qual o Movimento dos Sem Terra (MST), a Associação Nacional de Trabalhadores em Empresas Autogeridas (Anteag), os sindicatos de trabalhadores, para citar algumas que estão pondo em prática várias experiências que agora começam a se organizar em rede (VEIGA; REICH, 2001, p. 25). E ainda, as universidades através da Rede Unitrabalho e da Rede de incubadoras, a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes)80 e também as organizações não governamentais (ONG) que vem desenvolvendo junto com a sociedade civil e o movimento social o fortalecimento de práticas associativistas e cooperativistas de diversos segmentos: produtivos, serviços, alimentício, transformação, crédito, entre outros nas áreas rurais e urbanas.

As organizações de trabalhadores e trabalhadoras que se constituiu nas duas últimas décadas possuem na raiz da sua formação a necessidade de garantir espaço social e econômico frente à situação de exclusão e concentração da riqueza. O trabalho coletivo associativista se destaca como uma possibilidade de uso e gestão dos recursos (fatores produtivos), nas diferentes regiões do país. Tanto nas desenvolvidas como

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Há, hoje, o Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), formado em 2001 no seio do Fórum Social Mundial (FSM) para ser um interlocutor junto ao governo federal e outras instâncias. Em 2003, a Economia Solidária ganha destaque com a criação, em nível federal, da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), cujo objetivo foi formular e articular políticas de fomento a ela. Em seguida, foi iniciada a estruturação e hoje já está implantado o Sistema Nacional de Informações de Economia Solidária (SIES), que funciona no MTE/Senaes. Em 2004, também foi criada a União e Solidariedade das Cooperativas e Empreendimentos de Economia Solidária do Brasil (UNISOL) para representar os empreendimentos da Economia Solidária. Mais recentemente, em 2006, foi constituído o Conselho Nacional de Economia Solidária, que funciona como um importante espaço de interlocução entre governo e sociedade civil. Com grande participação, já aconteceu a 1ª Conferência Nacional de Economia Solidária (CONAES) e a 1ª Feira Nacional de Economia Solidária, em São Paulo. Enfim, é dessa maneira que essa economia vem se constituindo, mas ainda é um desafio e um campo aberto de possibilidades.

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também nas menos desenvolvidas economicamente, onde a precarização do trabalho permite cada vez menos a inserção nos espaços do trabalho assalariado por mulheres e homens, ou ainda, conforme já se mencionou onde este sequer ocorreu, como no caso de boa parte dos setores da economia amazônica.

Para Leonello (2010, p. 45), em relação às associações de pequenos produtores/as, pode-se observar o uso de práticas solidárias, isto é, o agrupamento de produtores/as com interesses comuns, “tendo como finalidade resolver os seus problemas, quer sejam de produção, comercialização ou de serviços, viabilizando a sustentação de suas propriedades, superando entraves produtivos e logísticos, de forma coletiva”. Destaca-se por ser, uma importante opção capaz de transformar ou modificar uma realidade, ou mesmo, proporcionar aos diferentes atores sociais, formas de se adaptarem a essa realidade. Encontrando-se nestes atores o movimento de mulheres que realizam trabalhos produtivos e reprodutivos nos espaços rurais.

Neste contexto, para as mulheres organizarem-se se tornou tarefa mais que essencial quando o assunto são os seus direitos e a visibilidade do trabalho que realizam no espaço da casa ou fora desta no meio rural. A participação e a união tornam-se indispensáveis enquanto possibilidades concretas para o reconhecimento do trabalho das mulheres e para a gestão coletiva dos recursos, bem como para o acesso aos meios de vida e de produção. Melo e Di Sabato (2011) mencionam a trajetória de luta das mulheres trabalhadoras rurais recentes desde os anos de 1980 que mostram a força da reivindicação pelo reconhecimento como trabalhadora e como cidadã. Destacam entre estas, a reivindicação pela sindicalização como trabalhadoras rurais, a luta pelo acesso a previdência e a licença maternidade. Pois, “estas questões são centrais, para discussão acerca, da divisão sexual do trabalho, e da visão de que as mulheres são destinadas apenas ao trabalho reprodutivo”.

Nesta perspectiva, a associação de mulheres do MMIB representa uma entre muitas experiências desenvolvidas na Amazônia, no estado do Pará81, e uma das poucas nas ilhas do entorno da cidade de Belém. Conforme se assinalou sobre as razões e os objetivos do MMIB no histórico da sua trajetória e fundação este ainda enquanto grupo de mulheres passou a demandar visibilidade para o trabalho produtivo realizado por um grupo de trabalhadoras rurais e mais recentemente enquanto populações tradicionais. O desenvolvimento das atividades na associação chamou a atenção de instituições que passaram a desenvolver projetos de contrato de trabalho produtivo voltado para a agricultura e o extrativismo, de cooperação e extensão universitária, e ainda de “empreendedorismo social” através, das ONG.

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No estado do Pará, mais especificamente, as mulheres do meio rural têm se organizado há mais de uma década em associações em geral, também dirigidas para o setor produtivo. Em Cametá e seus arredores, as mulheres estão organizadas em 21 núcleos. Muitas têm lutado pela proteção dos criatórios de peixe e outras começam a trabalhar na plantação de açaí. Próximo a Marabá as mulheres dos castanhais em Ubá e Araras estão transformando frutos da selva em farinhas, doces, óleos e outros produtos que estão sendo comercializados. Em Tomé-Açú, segundo, Kato (1995) apud Simonian (2001) tem destacado o papel das mulheres de origem japonesa na economia doméstica, principalmente, a partir de seus trabalhos nos quintais além de outras estratégias que elas usam para enriquecê-los com novas espécies e com transformação das matérias-primas.

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O mercado, o estado e o terceiro setor estabelecem relações com um associativismo diferenciado, dentro de concepções e funcionalidades que abarcam atualmente “organizações ligadas a defesa dos direitos da comunidade negra, indígena, também organizações de geração de trabalho e renda, como as cooperativas, associações entre outros” (SILVA e SANTOS, 2010, p. 58). Este trabalho coletivo possui fundamental importância na reprodução social das mulheres e homens do campo e de suas famílias. Neste aspecto, o MMIB, uma associação responsável por gerir os recursos das associadas/os, sobressai-se como um projeto de vida coletivo. Onde o desejo de realizar e promover ações de mudanças são percebidos na estrutura e na dinâmica organizacional desde 2002, quando iniciaram este trabalho e passaram a desenvolver atividades diversificadas e de geração de renda na ilha de Cotijuba. No trabalho de campo durante as entrevistas com as associadas/os pôde-se constatar o grau de participação e experiência nos projetos de geração de renda.

A priprioca, as biojoias e o papel vegetal, o turismo e a ucuuba (Virola Surinamensis) foram os mais citados, assim também como uns se destacaram mais que outros. A participação nas atividades de produção da priprioca e de biojóias e papel vegetal foram as de maior destaque conforme o Gráfico 12. Das 34 mulheres entrevistadas, 11 (32%), já haviam participado do projeto de produção da priprioca e 8 (24%) da biojoias e papel vegetal,

Gráfico 12: Atividades realizadas no MMIB pelas mulheres. Fonte: Pesquisa de campo (2013).

A produção da priprioca é um dos projetos mais antigos, assim como, a de biojóias e de papel vegetal. O TBC possui um processo mais recente de trabalho e desenvolvimento de uma dinâmica interna no MMIB, mas que mesmo com pouco tempo vem promovendo um efeito dinamizador de ações internas e também na ilha de Cotijuba, conforme se irá apresentar mais a frente. Sobre as mulheres que não participaram destas atividades, 24% das entrevistadas, correspondem a um grupo de estudantes e algumas que possuem ocupação formal de trabalho remunerada na ilha ou em Belém, a sua maioria são jovens, solteiras e não possuem filhos.

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A atividade da priprioca envolve também e principalmente o trabalho dos associados que estão diretamente ligados ao trabalho produtivo, cuja mão de obra realiza o trabalho mais pesado, na primeira fase da produção do tubérculo. As mulheres participam em várias fases da produção, mas principalmente preparando a alimentação nos dias que se exige mais tempo e número de agricultores trabalhando, como na limpeza e na colheita. Dos 14 entrevistados do sexo masculino, 7 produziram priprioca, destes, 5 são agricultores que possuem alguma relação familiar com as associadas, seja como pai, irmão, marido ou companheiro. Os produtores que não se identificaram como agricultores possuem ocupação de pintor e agente de portaria respectivamente. Dos demais entrevistados, tem-se 3 estudantes, com idade de 17 a 19 anos, um moto- taxista e um assistente de serviços gerais na escola da ilha.

No entanto, devido às condições sociais e históricas das mulheres na sociedade e particularmente na ilha de Cotijuba sabe-se que estas pertencem a uma realidade particular e que desde as suas primeiras reuniões ainda enquanto grupo de mulheres, foram obrigadas a lidar com a visão sexista e andocêntrica da comunidade local. A finalidade da criação da associação também imprimiu entre os desafios destas mulheres a busca por melhorar o grau de escolaridade e pela resolução de problemas referentes à gestão coletiva dos recursos naturais, que mesmo sem fins lucrativos, possui obrigações junto a órgãos e instituições que exigem compreensão de termos técnico-administrativo-financeiros.

A dinâmica e o volume de atividades econômicas e sociais que estas passaram a desenvolver e gerir nos últimos anos estabelece que as práticas diárias de trabalho sejam acompanhadas de uma determinada estrutura e organização, principalmente pela coordenação executiva. Por outro lado, esta é uma organização cujo trabalho coletivo é a base das relações sociais de produção o que exige por parte destas um exercício diário de aprendizado nas palavras da associada Roselea Almeida, bióloga, 38 anos, solteira.

Contribuo de forma mais ativa com a melhoria das condições ambientais e humana da Ilha e do entorno. Além de aprender a lidar com a diversidade de personalidades e atitudes dentro do MMIB (Entrevista, setembro, 2013).

Neste sentido, aproximar-se do trabalho produtivo e de serviços dando enfoque a gestão desenvolvidas pelo MMIB, também fez parte dos objetivos deste trabalho. Como já se mencionou, interessa apresentar e dar visibilidade para o que estas mulheres do MMIB estão realizando, o que produzem, como produzem, para quem e de que forma. Sem a pretensão de estabelecer parâmetros de bom ou mau funcionamento de gestão coletiva dos meios de produção. Mas, visibilizar o protagonismo destas mulheres, que conforme se apresentou numa breve revisão acerca do mercado de trabalho na cidade de Belém, encontram-se engrossando as estatísticas de precarização do mercado de trabalho, assim como, enfrentando as desvantagens em relação aos homens nos principais setores da economia local, o comércio e serviços.

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O MMIB reflete, portanto, a busca de alternativas para as mulheres da ilha de Cotijuba e do entorno onde a reprodução social é a base das relações estabelecidas com o mercado, com o estado e com outras instituições. Mas, que se encontram alijadas das políticas públicas e das oportunidades de concretizar sonhos, trabalho e meios de vida, para elas e principalmente para filhos menores, adolescentes e jovens que, assim como elas, estão a mercê dos efeitos das desigualdades e das contradições do modo de produzir capitalista na região amazônica e que encontraram no associativismo a possibilidade de viabilizar senão todos mais uma parte dos sonhos, que deixam de ser individuais para se tornar coletivos, de todas e todos.

6.1.1 Associativismo e gestão no MMIB

O MMIB, uma associação sem fins lucrativos, é composta por três coordenações: Administrativa, Financeira e Social e um Conselho Fiscal. O MMIB, para Gomes (2012b), possui como principais objetivos promover a organização comunitária, atividades de geração de renda, a elevação do nível de escolaridade das mulheres, a preservação e defesa do meio ambiente, de bens e direitos de valor artístico e estético, histórico, turístico e paisagístico, entre outros, visando a proteção de direitos e interesses de suas associadas.

A origem do associativismo entre as mulheres do MMIB se deu como se apontou devido à necessidade destas possuírem um instrumento legitimo capaz de dar visibilidade ao trabalho produtivo realizado por elas. Assim como, as demandas especificas relacionadas a educação, saúde e direitos das famílias de agricultores na ilha de Cotijuba quando estas “participavam” da APIC. Passando a desenvolver além de trabalhos produtivos e mais recentemente de serviços, com o turismo de base comunitária, experiências de trabalho coletivo com a gestão e o planejamento econômico- administrativo- financeiro destas atividades. Por outro lado, não se está falando de uma gestão organizacional nos moldes tradicionais das organizações especificamente de mercado.

A ciência econômica, na sua análise clássica, define (unidade econômica) como organização básica do sistema econômico a estrutura que mediante uma determinada combinação de recursos humanos e materiais (trabalho e capital) permite e garante aos titulares da unidade a gestão de um conjunto de atividades de produção, distribuição e consumo de bens e serviços com o intuito de obter deste um benefício ou utilidade (RAZETO, 2002). Esta racionalidade do “homus economicus”, cuja visão utilitarista imprime ao trabalho, a natureza e a criatividade a mercantilização como princípio das relações não deixa espaço para que se observe e perceba outras formas econômicas.

Por isso, e para efeitos de realização deste trabalho, realizou-se um esforço no entendimento da experiência desenvolvida pelo MMIB. Por isso, quando se referiu ao econômico, em primeiro lugar da-se importância e visibilidade para a dinâmica que envolve o trabalho coletivo, e logo a tecnología desenvolvida por este e a gestão, para posteriormente se fazer menção aos aspectos materiais e financeiros. Isso porque,

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unidades econômicas que possuem características específicas e distintas das convencionais, ou diria, as que se preocupam especificamente em acessar mercados e auferir lucros, não podem ser interpretadas e analisadas pela mesma lógica de produção, distribuição e consumo que imprime a economia de mercado. Pois nestas, mulheres, homens, grupos, comunidades e territórios efetuam trocas de bens e serviços, de produtos e de fatores econômicos que apresentam como categoria organizadora das atividades o trabalho coletivo e não o capital.

Seria um micromundo social, que segundo Razeto (2002), se manifesta como uma organização de pessoas e de atividades racionalmente integradas por meio de relações econômicas, tecnológicas, sociais e institucionais. Que exprimem diferentes formas de produzir, distribuir e comercializar produtos e serviços. Mas, não apenas isso, pois, apesar de em nossa sociedade o mercado “predominar” como a categoria organizadora de maior parte das atividades produtivas e comerciais, existem aquelas organizações e unidades econômicas que se apresentam sobre uma lógica produtiva distinta da estabelecida pela economia clássica e neoclássica.

Estas organizações e unidades econômicas familiares encontram-se espalhadas pelo Brasil e pela Amazônia na forma de associações, cooperativas ou famílias camponesas e agricultoras. Os princípios que perpassam pela lógica destas organizações são: posse coletiva dos meios de produção pelas pessoas que as utilizam para produzir; gestão democrática da empresa ou por participação direta (quando o número de cooperados não é demasiado) ou por representação; repartição da receita líquida entre os cooperadores por critérios aprovados após discussões e negociações entre todos; destinação do excedente anual (denominado sobras) também por critérios acertados entre todos os cooperadores (SINGER, 2000).

Por esta razão, as organizações econômicas consideradas alternativas têm nos seus objetivos aspectos que a visão clássica das organizações econômicas que analisam, por um único viés, os cinco principais fatores que integram a unidade econômica - trabalho, meios de trabalho, tecnologia, financiamento e gestão – e não dão conta de entender e interpretar o todo, pois, esta interpretação convencional da economia de mercado não leva em conta o processo histórico de diferenciação da ciência econômica, a realidade e o cotidiano de mulheres e homens que compõem estas organizações, principalmente no meio rural.

Assim, quando se aproximou da gestão realizada pelas mulheres do MMIB (coordenação), chama-se a atenção que esta experiência não é, e nem poderia ser um conjunto de informações sistemáticas e racionalmente ordenadas, que serve de base para a tomada de decisões relativas à alocação de certo volume de recursos em investimento. A realidade que possibilita avaliar vantagens e desvantagens, custos e benefícios de se utilizar recursos para aumentar a capacidade de determinada unidade produtiva, ou ainda criar novos meios de produção, se configura sobre a lógica exclusiva da obtenção do lucro, o que não se aproxima da gestão realizada na associação de mulheres.

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Para isso, pode-se arriscar pontuar alguns aspectos para que o MMIB estivesse enquadrado sobre a lógica da produção e do lucro, como por exemplo: a força de trabalho como mercadoria deveria ser chave das relações no interior da associação. A tecnologia, só seria possível através do mercado, e para a Amazônia, um mercado bem distante; A gestão, associada às escolas de administração, cujo principal detentor do conhecimento é as universidade, nem de longe conseguem se aproximar desta realidade. O sistema financeiro em hipótese não reconhece a existência deste tipo de organização, pelas razões que já se mencionou.

Desta forma, como trabalhar a gestão dos recursos produtivos disponíveis no território a que pertencem as mulheres do MMIB? Que tecnologia seria a mais apropriada à realidade em questão? Quais são os critérios para se estabelecer as relações com as distintas instituições presentes no MMIB? E principalmente, quem seriam os atores responsáveis pelo desenvolvimento da tecnologia social que estas