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5. Saúde psíquica dos profissionais de saúde

6.3. Atividade de campo

Antes do início da atividade de campo o projeto de pesquisa foi submetido à apreciação do comitê de Ética e Pesquisa da UFRN, cujo protocolo constitui o Anexo 1. Entretanto, por se tratar de uma pesquisação, considera-se que atividade de campo se iniciou no contato da pesquisadora com o campo no momento de explicitação dos objetivos de pesquisa para os diretores dos hospitais e coordenador do CHS, o que já foi comentado anteriormente.

A pesquisa documental abrangeu documentos da UFRN e do Governo Federal que tratavam das condições de trabalho e da saúde do trabalhador, bem como notícias da mídia, atas de reuniões nos hospitais, informes nas mídias utilizadas pelo sindicato.

A coleta de dados utilizando questionários estruturados como instrumento de pesquisa, foi desenvolvida na seguinte sequência: contato com a direção dos hospitais da UFRN em que os participantes trabalham, solicitando a autorização para que os profissionais (potenciais participantes) fossem abordados, contato com carta de apresentação da pesquisa firmada pela pesquisadora e firmado também pelo dirigente da organização/instituição (Anexo 2); contato com os participantes solicitando a sua adesão voluntária a pesquisa, aplicação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 3); e aplicação do protocolo de pesquisa, caso o participante de fato aceitasse participar voluntariamente e confirme sua decisão no TCLE9. Esta aplicação foi individual obedecendo às especificidades do campo de pesquisa e do grupo pesquisado. A aplicação foi efetivada pela autora desta tese e por pesquisadoras treinadas para este fim. No protocolo de pesquisa foi preservado o anonimato do participante e, em virtude disso, o TCLE foi arquivado separadamente de forma a tornar impossível vincular o termo a um protocolo de pesquisa respondido.

A observação participante foi realizada pela pesquisadora nos dois hospitais. De acordo com Serva e Jaime Jr. (1995), observação participante é a situação de pesquisa em que observador e observado encontram-se face a face, e em que o processo de coleta de dados se dá no próprio ambiente natural de vida dos observados, que passam a ser vistos não mais como objetos de pesquisa, mas como sujeitos que interagem em dado projeto de estudos. Esta interação está de acordo com os princípios da pesquisação. Foi planejada uma atividade de observação para coleta de dados que resultou na interação entre a pesquisadora e os participantes no contexto de trabalho destes em que os limites entre formalidade e informalidade foram tênues. O caráter formal (institucional) do estudo decorreu da inserção

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da pesquisadora num grupo de pesquisa universitário, inserido num programa de pós- graduação e resultou em interações para as quais as prescrições foram limitadas, mas a informalidade resultou da espontaneidade que fez parte dos atos interativos de pesquisador e participantes. A observação participante objetivou apreender informações que emergiram, em tal contexto, da espontaneidade. Os dados foram registrados em diários de campo.

Capelle (2002) apresenta um quadro das posições de Thiollent (1997) sobre as características da pesquisação em comparação com a observação participante, que certamente ajuda a compreensão de como a observação participante se inseriu na presente pesquisa como técnica de coleta de dados (Tabela 4). A escolha pela observação participante como principal forma de interação com os pesquisados decorreu do fato desta técnica permitir uma compreensão do contexto pela pesquisadora ao mesmo tempo em que possibilitava uma reflexão sobre as condições de trabalho e a saúde psíquica pelos pesquisados à medida que as interações ocorriam.

Tabela 3

Posições de Thiollent (1997) sobre as características da pesquisação em comparação com a observação participante.

PESQUISAÇÃO OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

Caráter participativo (integração entre pesquisadores e membros da situação investigada).

Produz ação planejada sobre os problemas detectados. Requer legitimidade dos diversos autores e convergência de interesses.

Não se limita a descrever uma situação.

Gera acontecimentos ou resultados que podem desencadear mudanças.

Discussão entre pesquisadores e membros da situação investigada.

Nem sempre possui ação planejada. Lida com situações de contestação do poder vigente.

Descreve uma situação.

Fonte: Capelle (2002)

Com a finalidade de observar o contexto a pesquisadora autora desta tese se inseriu no campo como plantonista eventual do HUAB em setembro de 201110 e como responsável pela

condução de uma oficina de desenho de processos de uma diretoria assistencial do HUOL de julho a outubro do mesmo ano, além de realizar observações nas dependências do hospital. Paralelamente participou de reuniões nos dois hospitais sempre que o assunto abordava condições de trabalho ou saúde do trabalhador. O acesso foi facilitado, pois a pesquisadora trabalhou 14 anos no HUOL e também manteve um bom relacionamento profissional com o HUAB quando de sua passagem pela PRH como técnica.

Inserida no campo a pesquisadora também realizou entrevistas informais não estruturadas no HUOL e no HUAB com o intuito de elucidar melhor os fenômenos em estudo que foram se configurando na análise de dados.

Foi prevista a realização de grupos focais a serem conduzidos pela pesquisadora em sala apropriada no local de trabalho dos participantes. No entanto foi deflagrada uma greve durante a coleta de dados inviabilizando a realização desta técnica no HUOL. Aconteceu uma única sessão de grupo focal no HUAB. Este aconteceu no auditório daquele hospital permitindo que o grupo funcionasse sem interrupções. A sessão durou 90 minutos. O tema foi relativo às condições de trabalho e a saúde psíquica dos profissionais de saúde. O roteiro do grupo focal foi semiestruturado o que significou que outras questões puderam ser incluídas para elucidar o assunto investigado.

Previu-se, completando o ciclo de pesquisação a discussão dos resultados aos participantes também como um momento de coleta de dados, uma vez que conduziria a uma ressignificação desses resultados. Porém o movimento grevista deflagrado entre os funcionários técnico-administrativos na UFRN impediu que isto acontecesse, sendo prevista essa atividade no próximo ano quando a pesquisadora deverá participar da discussão do tema em um seminário. Avaliou-se que, a discussão dos resultados durante o movimento grevista dos Técnicos Educativos em Educação11, poderia resultar em conflitos organizacionais, os quais os dirigentes preferiram evitar.

Acredita-se que a não discussão dos resultados disponíveis na forma prevista caracteriza a pesquisa como foi planejada anteriormente como inacabada, porém considerou- se que tais resultados foram validados pelo cruzamento das técnicas de pesquisa (observação participante, grupo focal, análise documental e as entrevistas não estruturadas) permitindo a adequada apresentação dos mesmos.