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4.3 PROPOSIÇÃO DE ATIVIDADES NO CONTEXTO ENSINO-APRENDIZAGEM DE

4.3.1 Atividade 1: O telefone sem fio

Em um primeiro momento, recomendamos ao docente uma atividade que objetive ativar conhecimentos prévios de caráter linguísticos do aluno-leitor referentes aos saberes sobre características das diferentes modalidades da LP, ou seja, levar o grupo de leitores a refletirem sobre aspectos da língua que, segundo Kleiman (1999), podem ser concebidos como uma instrução importante para a construção de sentidos nas leituras que realizamos diariamente. Neste caso, uma abordagem referente à percepção de que as modalidades oral e escrita da língua possuem características distintas no que se refere à alguns aspectos para, consequentemente, conduzir cada aluno-leitor a reconhecer que tanto a oralidade quanto o código escrito demonstram peculiaridades no que se refere à composição de alguns elementos, como por exemplo a entonação empregada em um diálogo.

A partir disso, considerando que a modalidade oral da língua o aluno-leitor adquire na relação com o seu ambiente e o código escrito é aprendido sistematicamente (SCLIAR- CABRAL, 1995), especialmente no âmbito escolar, reconhecemos que os leitores podem realizar certas confusões ao ler em algumas etapas do aprendizado da leitura. Nesta perspectiva, entendemos que estes equívocos que podem ocorrer na leitura e, consequentemente, na escrita, dizem respeito à influência de marcas da modalidade oral da língua sobre a aprendizagem do código escrito que, segundo Scliar-Cabral (2013), se estabelece como um dos principais empecilhos nas fases iniciais de aprendizagem da leitura. Além disso, também julgamos relevante a possibilidade de relacionarmos as características da modalidade de língua não verbal nesta discussão, abordagem que não é explicitada nesse LD considerando a atividade de compreensão que por ora objetivamos reformular.

Assim, sugerimos para o professor uma atividade de pré-leitura antes da proposição dos conteúdos referentes aos conhecimentos necessários para a realização da inferência conectiva da questão analisada. Neste sentido, observamos que uma atividade de Pré-leitura, de acordo com Scliar-Cabral (2013, p. 130), “Determina a seleção do esquema mental, que ficará ativado na memória de trabalho, para elaboração do sentido adequado às palavras do texto”.

Portanto, como atividade inicial antes da abordagem do texto e posterior proposição de uma questão de compreensão, recomendamos ao docente de português, a partir de Oakhill, Cain e Elbro (2017), realizar a chamada brincadeira do Telefone sem fio com o grupo de estudantes. Esta atividade consiste na organização da transmissão de uma mensagem oral na

no ouvido do colega de trás e assim sucessivamente até chegar ao último aluno-leitor da sala de aula. Optamos por sugerir que o primeiro aluno-leitor leia uma frase escrita em voz baixa pelo motivo de intencionarmos que os demais estudantes não a ouçam, pois poderão prejudicar os objetivos da realização dessa atividade. A frase proposta pelo professor será a seguinte “O quartel pegou fogo e consequentemente uma viatura avançou o sinal”. A tendência seja de que a mensagem chegue distorcida ao ouvido do último aluno-leitor que receber a frase, visto que, inclusive, terá uma música executada ao fundo. Além do objetivo de descontrair com uma atividade não tradicional, com esta proposta, também intencionamos iniciar a discussão de que a língua oral tende a ser expressa de maneira diferente nos momentos em que é representada pela modalidade escrita. Nesta perspectiva, o professor poderá conduzir o aluno-leitor a refletir que a modalidade oral de língua é estabelecida através de um contínuo e que as pausas na escrita podem ser representadas através de espaços em brancos (SCLIAR-CABRAL, 1995), por exemplo. Diante disso, o professor poderá utilizar a brincadeira com o intuito de levar o aluno-leitor a perceber como a influência da fala tende a acarretar distorções no aprendizado da escrita. Além disso, intencionamos que essa atividade sirva para que o aluno-leitor reflita a respeito de que a compreensão do texto escrito se constitui como um processo mais complexo em relação ao entendimento de mensagens que podem ser transmitidas oralmente (OAKHILL; CAIN; ELBRO, 2017). Desta forma, vejamos o Quadro 2 que explicita os objetivos da atividade orientada ao professor e a proposta de atividade na íntegra.

Quadro 2 – Proposta da atividade Telefone sem fio para o professor de português

Objetivo da atividade: Despertar a reflexão do aluno-leitor de que a

modalidade oral da língua normalmente é apresentada de maneira diferente em alguns aspectos em momentos nos quais é representada pela língua escrita. Além disso, a brincadeira visa que o aluno-leitor perceba que o processo de ensino-aprendizado da escrita normalmente se constitui como uma tarefa complexa pela influência de marcas da língua oral que interferem em alguns aspectos do desenvolvimento da escrita.

Organização e materiais: A atividade terá duração de 15 minutos. Os

materiais utilizados serão: 1) uma folha de papel com a frase “O quartel pegou fogo e consequentemente uma viatura avançou o sinal”, a ser lida pelo primeiro aluno sentado na fileira localizada a direita do professor e 2) um rádio que irá executar uma música de fundo. Sugerimos que o docente mantenha a organização padrão da sala de aula, ou seja, os alunos dispostos em seus lugares nas filas de carteiras e mesas. Nesta perspectiva, cada aluno- leitor irá transmitir a mensagem ao seu colega que está sentado atrás, sendo que o último da fila irá falar ao primeiro da fila seguinte e assim sucessivamente.

Orientações: Professor, explique ao grupo de estudantes que eles irão realizar

a atividade do Telefone sem fio que consiste na entrega de um recorte de folha com uma frase ao primeiro aluno-leitor sentado na primeira carteira a sua direita. Este estudante irá ler a frase somente para si com o intuito dos demais colegas não ouvirem e na sequência irá falar a frase em voz baixa no ouvido do colega atrás que irá falar para o estudante da carteira atrás e assim sucessivamente até chegar ao último aluno-leitor da sala. Posteriormente, o professor pedirá para este estudante ler em voz alta para o professor e os colegas ouvirem. Espera-se que a frase inicial chegue distorcida até esta última etapa da atividade e, consequentemente, será possível introduzir a próxima atividade a respeito das diferenças entre as modalidades da língua oral e escrita através de algumas indagações direcionadas ao grupo de estudantes, tais como: Por que vocês acreditam que a frase chegou diferente ao último colega que a ouviu? E com relação à língua falada e escrita, vocês acham que elas são diferentes? Em quais aspectos? De acordo com suas experiências e conhecimentos, vocês acham que a fala e escrita são aprendidas de maneiras distintas? O que vocês acham mais difícil, aprender a falar ou a ler e escrever? Ao fim da atividade, o professor poderá explicar que adquirimos a fala de uma maneira e a escrita de outra. Desta forma, a consequência é de que elas possuem características distintas em alguns aspectos pois, assim como a frase da atividade Telefone sem fio chegou diferente ao último aluno-leitor da sala, as representações da oralidade e da

escrita não se estabelecem da mesma forma em determinados aspectos. Além do mais, concomitantemente à discussão e questionamentos do professor a respeito das diferenças entre a fala e escrita, sugerimos ao professor utilizar uma folha de papel pardo para fazer notas referentes às respostas e comentários de cada aluno-leitor na discussão. Essas notas a respeito da atividade e do processo de transmissão das modalidades oral e escrita da língua poderão servir como as primeiras notas para o desenvolvimento de uma atividade de sistematização do conhecimento: a produção pelos estudantes de um cartaz comparativo entre características distintas entre a língua oral e escrita a partir de outras questões de reflexão a respeito destas modalidades da linguagem.

Fonte: o autor (2018)

4.3.2 Atividade 2: Construindo um cartaz das características opostas entre língua falada