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4.1 DADOS QUANTITATIVOS: AS ATIVIDADES PROPOSTAS E SUA ANÁLISE EM

4.1.4 Dados quantitativos dos três livros estudados

Considerando o Corpus que selecionamos para o presente estudo, LD-Projeto Teláris, LD-Tecendo Linguagens e LD-Universos, nessa primeira parte do trabalho nos dedicamos à análise dos textos e suas respectivas atividades de compreensão presentes nos dois primeiros capítulos componentes das duas unidades iniciais de cada volume 9º escolhido para a investigação. Desta maneira, mantemos o foco em seis unidades e 12 capítulos no total ao analisarmos estas partes de cada livro selecionado. Com relação aos textos e atividades estudadas, exploramos 33 textos e 224 questões de compreensão/interpretação textual após a abordagem de leituras a partir do uso desses livros didáticos nas aulas de português.

Ao compararmos os números analisados partindo dos resultados obtidos com os três volumes que trabalhamos, verificamos que, das atividades estudadas de cada um deles, uma quantidade de 50% ou próxima deste valor foram identificadas como uma forma de proposta para o aluno-leitor realizar uma inferência do tipo conectiva ou elaborativa na tentativa de compreender as informações estabelecidas nas leituras proporcionadas nesses LDs. Este dado nos permite reconhecer que, considerando a abordagem quantitativa na qual nos detemos nessa primeira etapa da investigação, esses livros de português contemplam em suas atividades de compreensão/interpretação textual um número representativo de questões nas quais propõem aos leitores a construção de inferências nas aulas de leitura.

professores do 9º ano do EF constantemente estimulam o aluno-leitor a construir inferências conectivas e elaborativas por intermédio de atividades que objetivam avaliar o nível de compreensão dos textos presentes nesses materiais pedagógicos. Assim, a partir dessa constatação, podemos refletir que, ao proporem grande parte das suas atividades de compreensão como sugestões para a realização de inferências conectivas ou elaborativas, esses LDs numericamente objetivam, de certa forma, contribuir no desenvolvimento e posterior elaboração (ou não) do processo que Zwaan e Singer (2003) atribuíram como sendo a base de uma atividade de leitura: a representação das informações textuais.

Além disso, a partir de uma análise comparativa dos números apresentados do estudo dos textos e atividades no que se refere aos tipos de inferências identificadas, averiguamos, por um lado, que no LD-Projeto Teláris predomina uma quantidade de 50% de inferências com a função de manter a coerência textual, ou seja conectivas, e 50% como propostas de realização de inferências elaborativas na qual o leitor tende a acrescentar informações que façam sentido (ou não) para o texto. Por outro lado, percebemos que as atividades com inferências detectadas a partir do estudo dos LD-Tecendo Linguagens e LD-Universos são estabelecidas a maior parte das questões como propostas para a realização de inferências conectivas. Nesta perspectiva, verificamos que o LD-Tecendo Linguagens propõem 52% do total de atividades analisadas como uma forma de sugerir a realização de inferências conectivas pelo aluno-leitor enquanto que o LD-Universos 66,7%.

Logo, ao observarmos esse resultado, foi possível perceber que os dois tipos de inferências, foco do presente trabalho, são contemplados em atividades de compreensão de textos. Portanto, podemos reconhecer que esses atuais livros didáticos utilizados no âmbito escolar estabelecem nas questões de interpretação após a leitura a realização de inferências que, segundo Garnham (1989), servem para preservar a coerência textual por intermédio daquelas do tipo conectivas, além das inferências elaborativas que enaltecem o acréscimo de novas informações pelo leitor, considerando seus conhecimentos prévios sobre diferentes temáticas (KLEIMAN, 1999).

Ao nos referirmos as 224 questões selecionadas para a nossa a análise como um todo, objetivamos, em um primeiro momento, identificar o número delas que propõem a construção de inferências conectivas ou elaborativas por parte do aluno-leitor na sua busca de entender as informações textuais lidas e, desta forma, solucionar a questão requerida com base no texto estudado. Para isso, elaboramos um gráfico que explicita a proporcionalidade de atividades analisadas que propõem a realização dessas inferências a partir da abordagem das leituras nos LDs que escolhemos estudar nessa investigação.

Gráfico 1 – Atividades estudadas e a proporcionalidade para a construção de inferências

Fonte: o autor (2018)

Ao observarmos o Gráfico 1 acima, podemos notar que 46% do total de atividades de compreensão/intepretação textual estudadas nesse trabalho são estabelecidas como uma forma de proposição para que o aluno-leitor realize inferências conectivas ou elaborativas para resolver as questões que objetivam avaliar seu grau de entendimento em relação aos textos que podem ser encontrados nesses livros didáticos de LP que selecionamos para dedicarmos nossa atenção na pesquisa.

Esta constatação nos remete para a reflexão de que, assim como no cotidiano o aluno- leitor tende a realizar diariamente inferências para interpretar as coisas e os acontecimentos ao seu redor (KLEIMAN, 1999; STERNBERG, 2010; CLARK, 1977; OAKHILL; CAIN; ELBRO, 2017), nas aulas de leitura, com o suporte dos LDs de português que analisamos, ele também é requerido a elaborar inferências para entender os textos que são propostos no âmbito escolar. Logo, diante dos dados, é possível considerar, por um lado, que esses atuais livros de LP disponibilizados para alunos e professores do ensino fundamental propõem uma quantidade de suas atividades de compreensão/interpretação textual que julgamos representativas ao consideramos o processo de construção de inferências, visto que praticamente 50% das questões analisadas são contempladas com essa atividade cognitiva.

Por outro lado, observamos que as demais atividades analisadas são estabelecidas

46% 54%

Atividades que propõem a realização de inferências Atividades que propõem a relização de outras competências

localizar33 informações explícitas no texto. Dentre as propostas de realização de inferências identificadas, examinamos se elas possuem a função de manter a coerência entre as diferentes partes dos textos estudados ou apenas incrementar as informações do texto a partir das tarefas de leitura que o aluno-leitor sucede (OAKHILL; CAIN; ELBRO, 2017). Desse modo, verificamos se elas estabelecem a proposição de construir inferências conectivas ou elaborativas pelo aluno-leitor nas aulas de leitura por intermédio desses LDs de português.

Partindo dos dois tipos de inferências que identificamos através da análise das questões selecionadas para essa pesquisa, realizamos a classificação delas com o intuito de averiguarmos se um dos tipos é contemplado em um maior número de questões em relação ao outro. Efetuamos essa verificação pois, segundo Garnham (1989), as inferências conectivas possuem um papel importante para que os leitores em geral possam entender as informações lidas de um texto escrito. Diferente das inferências elaborativas que são realizadas pelo aluno- leitor com a função de quantificar a representação que ele faz das informações textuais com o acréscimo de outros conhecimentos que, geralmente, não são necessários para um entendimento pleno do texto (OAKHILL; CAIN; ELBRO, 2017).

33 Não foi nossa intenção no trabalho identificar o número de atividades que contemplam a habilidade de localizar e identificar informações no texto em atividades de compreensão. Chegamos à esta constatação ao observarmos que algumas das atividades de compreensão estudadas condizem com os critérios estabelecidos pela avaliação PISA ao domínio Recuperação da informação e com o Descritor 1(D1) da matriz de referência da Prova Brasil para o EF. Para mais detalhes sobre as habilidades estudadas pelo PISA, ver OECD (2007). E para um maior conhecimento dos descritores que norteiam a pesquisa Prova Brasil referente às habilidades em leitura de alunos do EF, ver Brasil (2008).

Gráfico 2 – Tipos de inferências identificadas nas questões analisadas

Fonte: o autor (2018)

Ao analisarmos o Gráfico 2, constatamos que as atividades identificadas que propõem a construção de inferências para a resolução tendem a contemplar um tipo em específico no seu estabelecimento, visto que, do número total de questões com inferências detectadas, averiguamos que 55% delas são do tipo conectivas e 45% elaborativas.

Esta constatação demonstra que esses LDs de português analisados constantemente também propõem ao aluno-leitor a elaboração de um tipo de inferência que é fundamental para que ele possa construir sentidos para as leituras presentes no livro. Diante disso, podemos refletir que a realização de inferências necessárias geralmente é proposta em atividades de compreensão/interpretação textual, além daquelas que o leitor possui a “liberdade” de realizar que, em algumas situações, não acrescentam para a respectiva compreensão do texto lido.

Deste modo, nesta primeira etapa da pesquisa, percebemos que as atividades analisadas contemplam quantitativamente praticamente a metade das questões de compreensão que analisamos nesse trabalho como propostas para que o aluno-leitor realize inferências conectivas ou elaborativas através da parte destinada à avaliação do grau de entendimento das leituras estabelecidas nesses LDs. Além disso, também constatamos que as inferências conectivas são requeridas em uma quantidade maior em relação àquelas do tipo elaborativas. Assim sendo, ao concordarmos com Kintsch e Kintsch (2005) com a ideia de

Inferência conectiva 55% Inferência elaborativa 45%

tipos de conhecimentos, decidimos efetuar uma análise qualitativa da maneira de como os livros da versão utilizada pelo professor de LP propõem o processo cognitivo de construir inferências. Realizamos esta investigação ao analisarmos as sugestões de trabalho com a leitura, atividades de compreensão, a abordagem dos diferentes conhecimentos necessários para a realização de inferências, além das recomendações teóricas e metodológicas direcionadas ao docente referentes a esses processos. Esta etapa da pesquisa será aprofundada na seção que segue.