• Nenhum resultado encontrado

Com a democratização das tecnologias da comunicação e informação (TICs), predomina uma concepção de que o material impresso-tal como o LD -já não assume mais um papel de protagonista na vida das pessoas no que se refere à aquisição de conhecimentos, especialmente dos estudantes em ambiente escolar. Entretanto, reconhecemos que este material ainda pode ser utilizado como uma importante ferramenta no processo ensino- aprendizagem nas mais diversas áreas do saber, sendo, inclusive, um dos principais norteadores do trabalho de professores em sala de aula nos dias de hoje.

De acordo com Bittencourt (2014), o trabalho com o LD em sala de aula vem permeando o planejamento de docentes desde o século XIX, pois surgiu juntamente com os primeiros currículos escolares. Além disso, a referida autora argumenta que o LD acompanha as mudanças de concepções de ensino que transcorrem com o passar dos anos, até mesmo daquelas que surgiram a partir de inovações tecnológicas.

Desta maneira, podemos notar que o LD dificilmente perderá seu lugar, pois ainda é visto como fonte de conhecimento, foco de interesse por parte de estudiosos e rotineiramente acompanha as transformações que ocorrem com relação às metodologias e diretrizes que visam aprimorar as competências dos estudantes em diferentes áreas do saber. Além do mais, esse material didático normalmente caminha junto com os novos suportes da informação, possuindo a incumbência de organizá-la em sequências pedagógicas (BITTENCOURT, 2014).

especialmente no âmbito escolar, sendo um dos responsáveis por auxiliar o professor para a formação de bons leitores que terão que lidar com textos de diferentes graus de dificuldade na escola ou fora dela.

Desta maneira, esse suporte tende a auxiliar o professor no que diz respeito ao ensino de habilidades e estratégias que possam contribuir na formação de leitores críticos e autônomos, considerando que “Os livros didáticos assumem um papel central [...], pois, além da seleção textual, indicam atividades, exercícios e informações complementares que fazem uma mediação entre o texto e o leitor” (BRASIL, 2016, p.12). Assim, no contexto de ensino- aprendizagem da leitura em sala de aula, servem como mais uma ferramenta para a realização de um bom trabalho docente, seja com a abordagem da leitura ou de outras competências.

Portanto, notamos que o professor possui um papel fundamental na escolha deste, que é um dos materiais e guia, que irá auxiliá-lo para o cumprimento de suas metas referentes ao ensino-aprendizagem de conteúdos no decorrer do ano letivo, inclusive no trabalho com a leitura. Se o livro for bom no sentido que possa suprir as principais dificuldades dos alunos em um determinado conhecimento, o professor estará munido de uma importante ferramenta para seu trabalho. Caso contrário, com um material de baixa qualidade em mãos, a consequência pode ser de resultados insatisfatórios com relação aos conteúdos estudados durante o ano nas disciplinas escolares. A partir disso, o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) surge como um relevante suporte para ajudar o professor na tarefa de escolha de bons materiais para complementar o seu trabalho em sala de aula através de subsídio de livros didáticos de diferentes disciplinas, dicionários e outros materiais.

O PNLD é uma ação de políticas públicas direcionada à área da educação vinculada ao Ministério da Educação (MEC) do Brasil que possui como meta principal a pré-seleção dos melhores livros didáticos no mercado editorial ao estabelecer alguns pontos mínimos considerando certos critérios de qualidade. O subsídio de materiais é organizado a cada três anos, sendo que a cada ano o programa seleciona coleções de livros para um determinado ciclo educacional-ensino fundamental-anos iniciais, ensino fundamental-anos finais e ensino médio, ficando a cargo do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)15 a

aquisição e a distribuição dos materiais selecionados para as escolas públicas brasileiras cadastradas no senso escolar.

15 O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) é uma autarquia vinculada ao Ministério da Educação encarregada da execução de políticas educacionais, especialmente no que se refere aos moldes de compras governamentais. Para mais informações, acessar: < http://www.fnde.gov.br/fnde/institucional>.

Em suma, considerando o PNLD como uma iniciativa de políticas públicas, o programa pode ser definido como o “[...] resultado de diferentes e sucessivas propostas e ações para definir as relações do Estado com o livro didático brasileiro” (BATISTA, 2003, p.26-27). A partir disso, notamos que o PNLD tem acompanhado as mais recentes concepções de ensino-aprendizagem nos mais variados domínios, considerando que as diretrizes que norteiam o programa constantemente sofrem alterações no decorrer dos anos com o aperfeiçoamento dos seus critérios na tentativa de garantir uma educação que propicie uma formação escolar plena aos estudantes em todos os seus sentidos (BRASIL, 2016).

Nessa perspectiva, Bittencourt (2014) avalia o programa como um marco essencial para os profissionais docentes, pois, segundo a autora, ele vem propiciando a melhoria da qualidade do material ofertado para as escolas do país, no sentido que tem evitado muitos equívocos em relação aos conceitos específicos de cada área do saber. Para o triênio 2017/2018/2019, foram selecionados LDs de diferentes disciplinas destinados à professores e estudantes dos anos finais do EF (6º, 7º, 8º e 9º ano), inclusive os livros de coleções de LP que são o foco do presente trabalho a partir da escolha de três volumes recomendados para o 9º ano.

Antes da escolha e posterior distribuição dos LDs aos professores e alunos das escolas brasileiras, fica a cargo de especialistas das respectivas áreas, por intermédio da elaboração do Guia do LD16, a análise e indicação das coleções adequadas e reprovação das obras que não atendem os editais formulados pelo PNLD. No que se refere às coleções de LP recomendadas para o triênio, foram escolhidas seis coleções de um total de 21 avaliadas por especialistas da área (BRASIL, 2016), de acordo com o edital 02/2015-CGPLI: Edital PNLD 2017.

Com relação à formação de leitores, observamos sugestões de trabalho com a leitura em sala de aula com o objetivo de auxiliar para o êxito no processo de desenvolvimento do leitor proficiente (BRASIL, 2016): a concepção da leitura como uma atividade contextualizada de acordo com as diferentes situações de interação entre leitor, texto e autor; o trabalho com as estruturas intrínsecas de cada gênero textual presente no cotidiano dos estudantes e o estímulo do desenvolvimento de habilidades e estratégias de leitura para o êxito na compreensão de textos.

16 O objetivo do Guia do LD é auxiliar os profissionais a escolher as coleções que julguem que possam contribuir para a sua disciplina, sendo que, no guia, encontram-se as recomendações sobre o ensino da disciplina, os critérios e parâmetros das quais as coleções inscritas foram avaliadas por especialistas e as resenhas que trazem as possíveis contribuições das obras aprovadas para o trabalho com a disciplina. Para mais detalhes, ver Brasil

Além disso, observamos que os critérios recomendados às coleções escolhidas pelo PNLD 2017 consideram diferentes conhecimentos que interagem para o desenvolvimento de uma leitura com compreensão, ou seja, uma leitura constituída por diferentes processos, propondo atividades que enalteçam “[...] os conhecimentos prévios do leitor/produtor e as ações de refletir, revisar, (re)organizar e pensar sobre os procedimentos textuais e discursivos” (BRASIL, 2016, p.25). E, neste caso, também podemos ponderar sobre estar inserido (ou não) nesse processo a atividade cognitiva de construção de inferências, que também é recomendado o seu desenvolvimento a partir das sugestões do Guia PNLD 2017 para os anos finais do EF.

Como o foco do presente estudo direcionou-se sobre a construção de inferências na compreensão em leitura a partir de atividades de LDs, acreditamos também necessária a discussão sobre os outros processos envolvidos na leitura e na compreensão de textos, além da realização de inferências, que são fundamentais para um bom entendimento dos textos lidos. Esta abordagem será aprofundada nas seções que seguem.