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Atividades aplicadas por Pedro Moreno, co-autor desse capítulo, que agora assu-

Música e inteligência interpessoal

39 Atividades aplicadas por Pedro Moreno, co-autor desse capítulo, que agora assu-

deoclipe) conta a história de um jovem casal separado pela guer- ra; já a segunda música é um rap violento contra a invasão do Iraque e um protesto explícito ao governo de George W. Bush.

Realizada essa etapa, os alunos foram distribuídos em vá- rias duplas, sendo cada dupla formada por um participante denominado de A e outro denominado de B. Depois de definir os participantes A e B de cada dupla, dois grandes grupos fo- ram compostos, ou seja: Grupo A e Grupo B. O próximo passo consistiu no seguinte: 1) Foi apresentada uma das músicas aos participantes do grupo A; 2) Exposição da outra música aos par- ticipantes do grupo B. Finda essa etapa, cuidou-se de acomodar as duplas originais: cada participante manifestou-se e expôs, por meio de suas próprias palavras, sua compreensão sobre a mensa- gem principal da música “vivenciada” por ele.

Nessa ocasião, o professor pode intervir e orientar a discus- são em andamento nas duplas, (1) tanto diretamente (na me- dida em que passa de uma dupla para a outra), (2) quanto por meio de perguntas abertas escritas no quadro, direcionadas para as duplas. Ao longo dessa experiência em sala de aula, foi utiliza- da a segunda estratégia (2), como seja: apenas copiando/trans- pondo os dizeres de uma propaganda de jornal para o quadro, em que se poderia ler o seguinte: Was all of that worth it? (Tudo isso valeu a pena?). Ao final da tarefa, cada dupla apresentou suas conclusões sobre o tema da melhor maneira que encontrou para se expressar. Isso significou que esses alunos, além de se sentirem estimulados, decidiram por si mesmos utilizarem a área mais desenvolvida de suas inteligências.

Um fator importante a ser levado em conta, no que se refere à aplicação das estratégias mencionadas acima, é a análise criterio- sa dos resultados desse tipo de atividade envolvendo pares, isto é: o professor, ao analisar o produto final, também deve levar em consideração a diversidade do pensamento dos alunos, implícita nesses resultados. Cada dupla deve se sentir livre para apresentar suas conclusões da maneira que achar mais fácil, conveniente ou mais apropriada. Dessa forma, mais de uma inteligência pode ser ativada utilizando-se a mesma estratégia de trabalho. Aqui, o propósito principal é oferecer aos alunos a oportunidade para ex- porem os resultados de suas tarefas, utilizando uma ou mais de

suas inteligências múltiplas, seja na forma de alguma exposição em cartazes ou painéis, discussão de um texto poético, seja uma música composta pelos próprios alunos, uma dramatização, um diagrama ou gráfico. A variedade de opções é praticamente inesgotável. O mais importante é que esse tipo de estratégia es- timula propositalmente uma diversidade de produtos finais que serão apresentados e compartilhados para e pelo resto da turma em sala de aula. Na medida em que cada dupla toma decisões autônomas sobre o conteúdo de sua apresentação e sobre a ma- neira como pretende realizar a apresentação de seus trabalhos, aumenta o grau de responsabilidade dos alunos e, consequente- mente, seu compromisso para com o processo de aprendizagem. Outrossim, já que cada dupla vai apresentar conclusões e produ- tos diferentes, os alunos terão a oportunidade para vivenciarem, ainda que superficialmente, o papel que o professor desempenha durante suas apresentações/exposições em sala de aula. Dessa maneira, resume-se o conteúdo deste tópico utilizando-se a se- guinte expressão em latim: Qui docer discet, cujo significado encer- ra uma sabedoria que não envelhece, pois se tem mostrado válida em qualquer tempo, qual seja: “Quem ensina aprende”.

No ensejo, justificam-se algumas das características funda- mentais da metodologia do peer teaching, como seja: a compreen- são acerca do tema abordado é verificada ao mesmo tempo em que se dá a comunicação com troca de informações relevantes entre os alunos. Gabriel Perissé (2006), em seu texto Quem ensina sempre aprende, descreve muito bem essa mão dupla do processo ensino-aprendizagem:

[...] “quem ensina sempre aprende”. No próprio ato de ensinar, estou aprendendo. Estou na ponte entre quem aprende-ensina e quem ensina-aprende. Aprendo comigo mesmo, é certo, por- que estudei, e porque, ao ensinar, sempre digo coisas que eu próprio não sabia que sabia. Mas também porque aquele que me ouve me ensina sempre. Quem lê esta breve meditação me- dita... E pode me ditar o que meditou.

Outras modalidades para se trabalhar a Inteligência In- terpessoal em pares incluem: a) discussão de um determinado

tópico entre pares, para em seguida iniciarem uma discussão envolvendo todo o grupo; b) produção e posterior correção de atividades em pares; c) produção de cartazes ou textos em pa- res e ainda; d) discussão de um determinado tópico em pares para depois o professor selecionar uma ou mais duplas para fazer exposição explicativa do tópico discutido com o restante da turma.

Deve-se ter em mente que o lema nesse tipo de atividade é o de minimizar ao máximo a interferência do professor duran- te a realização dos trabalhos, que, em vez de proceder como se fosse o único “instrumento” por meio do qual o processo ensi- no-aprendizagem ocorre em sala de aula, passa a ser um facili- tador ou monitor do trabalho que está sendo produzido. É fun- damental que o professor aprenda sobre a importância de ceder seu lugar tradicional no “centro do palco”, conforme muito bem abordado nos PCNs (BRASIL, 1998, p. 60):

Para que o aluno tenha voz, o professor tem de se acostumar a sair de cena, por assim dizer, de modo que o tempo possa ser preenchido com a fala do aluno. Na aula de Língua Estrangeira, isso tem ainda uma consequência mais séria, principalmente no ensino da habilidade oral, visto que o aluno está aprenden- do a se colocar no mundo pelo uso de uma língua estrangeira.

4.4.1 O PaPeL SOCIaL DO PROFeSSOR e De aLUNOS eM SaLa De aULa

Os dias atuais são caracterizados pela vivência simultânea de muitos e diferentes tipos de tempos ou Eras. Os chamados “dias de hoje” têm em comum a perda cada vez mais veloz do es- pírito das tradições, do sagrado; a quebra de velhos paradigmas, a morte de utopias e o agravamento de diferenças sociais alar- mantes em um mundo tecnologicamente cada vez mais sofisti- cado. O “mundo de hoje” é cronometrado pelos matizes de uma Contemporaneidade célere, os quais podem ser desdobrados em: Era da Globalização, Nova Era, Novo Milênio, Modernidade Tardia, Pós-modernidade; Era Pós-industrial, Pós-estruturalista;

Era do medo e do terror; Era da incerteza, da telematização do planeta, da Internet, etc. e tal.

As inovações científico-tecnológicas, desde a segunda me- tade do século XIX, têm contribuído definitivamente para a promoção de mudanças vertiginosas que descaracterizam di- versos setores do Estado moderno (o político, o econômico, a segurança, o bem-estar social, os direitos humanos, etc.), con- tribuindo ainda para a entrada em cena do gigantismo das sociedades de massas, paradoxalmente individualistas, con- sumistas e desprovidas de autonomia identitária. Já em 1990 – na primeira edição do livro A Sociedade Informática – Schaff (1993, p. 15) fez a seguinte reflexão: “A pergunta ‘que futuro nos aguarda?’, especialmente quando se refere às dimensões so- ciais do desenvolvimento, envolve massas de pessoas cada vez maiores em todo o mundo. O fator que estimula esta pergunta é sem dúvida o medo”. Quase duas décadas depois, as reflexões desse historiador permanecem tão atuais quanto as previsões de seu agravamento em futuro próximo, caso não sejam toma- das as providências indispensáveis para inverter aspectos desse cenário assustador. Entretanto, não se pode lançar um olhar sobre o mundo de modo apenas unilateral. Morin (2005) não nega o inestimável valor das “visões” de Schaff, mas aponta ca- minhos, rumos e abordagens que envolvem a educação, na mo- dalidade de saberes diversificados contra o que ele denomina de “sociocentrismo” e “espírito redutor”. Nada mais oportuno, apropriado e exemplar para professores educadores de hoje. Re- pensar e exercitar na prática estratégias didático-pedagógicas que reforcem o estabelecimento de relações interpessoais, em- patia e interação social contra o espírito redutor e sociocêntrico dos “dias de hoje”. Esse tipo de mudança pode começar em uma simples, mas não solitária, sala de aula!

A breve exposição acima sobre a “face” da Contemporaneida- de tem por finalidade ressaltar que em meio a uma sociedade cada vez mais individualista, o professor pode muitas vezes se retrair e ignorar a importância do papel social dos alunos durante as au- las. O professor precisa reconhecer que o aluno não é uma pessoa passiva que se encontra dentro da classe apenas para absorver co- nhecimento específico sobre determinado idioma. Ao contrário, o

professor deve contribuir e mesmo envolver-se no sentido de criar oportunidades para que esse aluno se torne um agente de mudan- ças na sociedade, tornando-se um indivíduo consciente dentro de seu contexto social, modificando assim o meio em que vive.

Como professores, devemos evitar a postura de nossa indife- rença ante as questões sociais, ou seja, evitar a perda do senso de coletividade em detrimento das necessidades exclusivamente in- dividuais. Cabe então, ao educador, promover um ambiente esco- lar socialmente ativo, orientando os alunos quanto aos seus direi- tos e deveres para com a sociedade. Cabe ao professor transmitir valores às vezes esquecidos pela “geração internet”, pela “horda” de massas consumistas; pelos estratos de uma sociedade ávida de informações instantâneas, espetaculares e, em muitas das vezes, obsoletas. Em última análise, o professor deve imaginar-se no lu- gar do aluno e, a partir desse gesto, aprender a ensiná-lo a pensar. Com o auxílio de letras ritmadas de música, pode-se abrir es- paço dentro da sala de aula e estimular inúmeras discussões, ten- do como objetivo específico levar os alunos a entender, discutir, repensar e discernir sobre seus papéis sociais no seu cotidiano. A seguir, promove-se um exemplo prático de como é possível tra- balhar essa relação entre educador e educandos, utilizando-se a música como fator importante na agregação de valores ao longo do processo de desenvolvimento social de indivíduos cidadãos. Atividade II – A MÚSICA COMO PROTESTO SOCIAL

A princípio, o propósito desta atividade é muito simples e direto: fazer com que o aluno entenda que, pelo fato de se encontrar em um meio social, ele também possui o direito (e o dever) de intervir em algum aspecto do universo social que não lhe agrada. Márcio Bontempo (1991, p. 205), ao final de seu livro A Sociedade Planetária, refere-se aos direitos e deveres hu- manos, numa crítica feita à Declaração Universal dos Direitos do Homem, redigida pela ONU, em Paris de 1948, afirmando que essa declaração não alcançou “[...] os grupos dominantes que exploram, de um modo ou de outro, os menos favoreci- dos”. Ele pontua que “[...] não é coerente alguém exigir seus direitos se não cumprir com seu dever de cidadão planetário” e sugere que “É dever de todo homem não impor suas ideias a

outrem e respeitar outras ideias, ideais, religiões, filosofias e formas de pensar diferentes das suas, favorecendo assim a con- córdia universal” (BONTEMPO, 1991, p. 206-207).

Com intuito de promover o respeito pelas ideias um do ou- tro, recomenda-se ao professor que insista na busca pelo novo, por alternativas, pela diversidade, de modo constante. Opções não faltam: existe uma gama inesgotável de temas que podem ser explorados, variando de acordo com a matéria que o profes- sor está lecionando, com a faixa etária dos alunos, com as áreas de interesse identificadas por eles, entre outros fatores.

Por conseguinte, afirma-se que a música apresenta-se extra- ordinariamente apropriada enquanto ferramenta utilizada para tratar tanto de assuntos amplos como corrupção, violência ou exclusão social, quanto de temáticas específicas como aquela rela- tiva à insatisfação dos alunos em relação ao horário de determina- das aulas, até o cardápio da lanchonete do colégio. Temas de rele- vância social podem ser trabalhados em níveis os mais diferentes. Neste livro, já se deixou claro que a música “pode” pratica- mente tudo. Assim, para protestar contra determinadas questões sociais, pressupõe-se haver versos musicais adequados ao tema se- lecionado. Para esta atividade40, elegeu-se a música Hurricane, da

autoria de Bob Dylan e Jacques Levy, lançada no LP (Long Play) Desire – ano de 1977, associada ao filme de mesmo nome e a qual discute o tema racismo. Essa música, de 8 minutos e 30 segundos de duração, composta de letra muito longa, tecida com versos pi- cantes de protesto, em um ritmo incrivelmente contagiante – um verdadeiro “furacão” (hurricane) –, foi selecionada previamente pelos alunos, no início do semestre letivo. No filme, o enredo tra- ta da história trágica de um campeão de boxe que é condenado injustamente à prisão, tão somente pelo fato de ser negro.

Os versos da música Hurricane nos permitem traçar diferen- tes paralelos entre a condenação injusta do personagem central do filme e vários exemplos de racismo que infelizmente fazem parte de nossa vida real e cotidiana. Mas, para a atividade pro- posta, apenas foi solicitado aos alunos que discutissem o tema da música em conjunto e, em seguida, respondessem à seguinte