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Seu nome original e oficial foi “A Feira de Música e Artes de Woodstock”.

Música e inteligência interpessoal

35 Seu nome original e oficial foi “A Feira de Música e Artes de Woodstock”.

pendência compreende o início de uma busca constante e irreversí- vel de integração social, por meio da qual todo homem ou mulher só encontra sua integridade e completude enquanto indivíduos in- teragindo entre si, como seja, uns com outros. No caso da criança (PIAGET, 1970), ela já sorri no segundo mês de vida e se apega aos que estão próximos, buscando aumentar seu contato com eles. De conformidade com Piaget (1983, p. 157), “[...] a vida social trans- forma a inteligência pela tripla ação da linguagem (signos), do conteúdo dos intercâmbios (valores intelectuais) e das regras im- postas ao pensamento (normas coletivas lógicas ou pré-lógicas)”.

Para facilitar a elaboração deste tópico e reforçar seu conte- údo teórico, assinala-se que o “intercâmbio social” apresenta-se como sendo da maior importância no processo de desenvolvi- mento cognitivo do ser humano (PIAGET, 1983). Em decorrên- cia, é natural que se reconheça o pensamento lógico como sendo necessariamente social e a cooperação como fundamental para a constituição e evolução da lógica. Assim, para que o sujeito pos- sa equilibrar diferentes operações cognitivas, ele precisa manter intercâmbio com o “outro” de modo permanente. Agindo dessa forma, esse sujeito consegue atingir um equilíbrio tal que resulta da interação do pensamento individual dele com a cooperação social. Ambos os aspectos são complementares e fazem parte de um mesmo conjunto operacional.

[...] É primeiro com os outros que a criança procura evitar a contradição. Assim como a objetividade, a necessidade de comprovação, a necessidade de conservar seu sentido das pa- lavras e das ideias, etc. são outras tantas obrigações sociais como condições do pensamento operatório. [...] Sem inter- câmbio de pensamento e sem cooperação com os outros, o indivíduo não chegaria a grupar suas operações num todo coerente: nesse sentido, o grupamento operatório pressupõe, portanto, a vida social. [...] O grupamento é, pois, uma forma de equilíbrio de ações interindividuais, como de ações indivi- duais (PIAGET, 1983, p. 164).

Um exemplo claro da interação entre ações individuais e so- ciais está no processo de aquisição da linguagem. Um bebê aos 2 ou 3 meses de idade já presta atenção nos movimentos dos lá-

bios e da boca de falantes em sua proximidade. Em tais circuns- tâncias esse bebê consegue discriminar entre vozes simpáticas e ou antipáticas, demonstrando preferência pelas vozes de sua simpatia. Entre os 3 e 6 meses, o bebê começa a virar sua cabeça à procura da pessoa que está falando próximo de si e já é capaz de corresponder ao chamado de seu nome, dando início, assim, a interações com seus familiares. Com 1 ano de idade, a criança começa a utilizar algum tipo de linguagem (balbuciação, sorri- so, gestos, etc.) para expressar sua própria intenção, quando, por exemplo, deseja modificar algum tipo de atividade ou chamar uma pessoa que não esteja presente, perto, etc. Com 2 anos, essa criança já está em condições para utilizar em torno de 50 pala- vras e compreender cerca de 500. Gosta de ouvir histórias; res- ponde a perguntas e já utiliza pequenas frases, em vez de apenas palavras isoladas com significados diversos. Aos 3 anos de idade, a criança utiliza em torno de 500 palavras e compreende cerca de 1000. Nessa faixa etária, ela já brinca de forma cooperativa quando é engajada em pequenos grupos. Percebe-se, portanto, toda uma evolução na construção do conhecimento, de forma cada vez mais sofisticada, a qual ocorre por meio da interação entre o bebê e as pessoas que estão à sua volta.

A interação social é um fenômeno que ocorre naturalmente na vida de qualquer pessoa, desde seu nascimento, tornando-se assim em um fator básico ao longo de toda a existência e do vi- ver em sociedade. Sem interação social, o ser humano “viveria” de modo isolado, tal qual uma ilha rodeada de águas por todos os lados. Cada pessoa estaria separada uma da outra, sem con- tato nenhum entre si. Como seria possível esse tipo de viver, se o próprio ato de reprodução humana resulta, tradicionalmente, de um fenômeno social que ocorre por meio do encontro entre duas pessoas de sexos opostos? Em verdade, nessas condições o ser humano não existiria, se tivesse optado por esse modelo de existência. Isolado, sem contato algum, sem intercâmbio social, não teriam surgido os primeiros grupos de humanoides; poste- riormente, as primeiras comunidades não teriam aparecido, não haveria cultura, muito menos as civilizações.

Quando um aluno faz uma pergunta ao professor, ele está estimulando ou mesmo provocando uma resposta da parte des-

se professor. E quando o professor responde, ele mesmo, por sua vez, está estimulando (ou provocando) o aluno para que ele ou agradeça ao professor pela resposta ou continue a instigar e dar continuidade ao diálogo. O indivíduo com elevado grau de desempenho interpessoal necessita dessa troca de informações com pessoas próximas para que seu aprendizado em sala de aula seja mais envolvente, e por que não, mais estimulante e atraente. Quando o professor não permite a comunicação interindividual em sala de aula; quando o aluno é obrigado a se manter cala- do durante a maior parte do tempo, ou simplesmente verbali- za exercícios repetitivos, torna-se muito mais difícil garantir ao aprendiz um investimento ativo, o que é essencial para o proces- so de aprendizagem.

Para o professor que tem como objetivo facilitar a comunica- ção e investir no processo ensino-aprendizagem que privilegie as relações interpessoais, é indispensável refletir sobre a vida social de seus alunos dentro de sua sala de aula. Tal atitude permitirá ao educador promover a troca de ideias sobre assuntos relativos à vida social de cada estudante, promovendo assim um verdadeiro intercâmbio das diversas manifestações socioculturais (históri- cas e geográficas) da sociedade em que vive e, consequentemente, de nosso planeta. Em outras palavras, o professor consciente da realidade política e socioeconômica do mundo de hoje tem por obrigação ensejar e garantir uma “vida social” em sua própria sala de aula, permitindo assim a troca de quaisquer ideias, o livre compartilhamento de informações dentro do e pelo grupo. Isso não significa que o intercâmbio de informações em sala de aula ocorra de modo aleatório. O educador bem preparado sabe que alunos precisam compreender regras de comportamento, agir de forma colaborativa; precisam aprender o que seja ética, respeito mútuo, de modo a garantir a livre expressão de pensamento; trei- nar o senso crítico, exercitar o pensamento analítico, ter noções de cidadania, entre outras “coisas”. Será que professores em ge- ral estão conscientes o bastante da necessidade e da importância para se investir no bem-estar social, a começar dentro das pró- prias salas de aula? Até que ponto esses professores trabalham visando ao desenvolvimento de uma cultura coletivista em sala de aula? Por oportuno, pontua-se o que Piaget (1970, p. 175)

afirmou ser, na maioria das vezes, o que os professores chamam de trabalho coletivo nada mais do que uma “[...] justaposição de exercícios individuais executados no mesmo local”. Em face de tal realidade, é imperioso analisar com acuidade essas práticas em sala de aula, objetivando-se mudanças que privilegiem postu- ras voltadas para o exercício de relações coletivas de fato.

Uma boa maneira de promover essa troca de informações é fazer com que os próprios alunos se “coloquem” no lugar de professores por um determinado tempo. Essa inversão de papéis é muito proveitosa para o aluno dotado de Inteligência Inter- pessoal e serve também a um segundo e inusitado propósito: derrubar o mito de que o professor é, com exclusividade, a única fonte de aprendizado dentro da sala de aula. Muitos professo- res não levam em consideração o conhecimento/saber prévio, decorrente de toda uma experiência de vida, que cada aluno traz consigo para a classe. Nesse sentido, é fundamental re- conhecer que o conhecimento novo é construído a partir do conhecimento/saber já adquirido. No Parecer 9 do Conselho Nacional de Educação (2001, p. 31), onde estão definidas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Profes- sores da Educação Básica, afirma-se o seguinte:

Os indivíduos constroem seus conhecimentos em interação com a realidade, com os demais indivíduos e colocando em uso suas capacidades pessoais. O que uma pessoa pode aprender em determinado momento depende das possibilidades delineadas pelas formas de pensamento de que dispõe naquela fase de de- senvolvimento, dos conhecimentos que já construiu anterior- mente e das situações de aprendizagem vivenciadas. É, portanto, determinante o papel da interação que o indivíduo mantém com o meio social e, particularmente, com a escola.

Uma estratégia de ensino, fundamentada na interação entre indivíduos, que induz ao intercâmbio de informações entre alu- nos, é aquela conhecida como peer-teaching36. Essa estratégia tem

como base a troca de experiências, vivências e explicações entre os estudantes.