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2 MULTIFUNCIONALIDADE DA AGRICULTURA E PAGAMENTO POR SERVIÇOS

2.9 Atores no contexto internacional do PSA

O mecanismo de PSA surge com uma definição clara das categorias associadas aos atores centrais para sua existência. A terminologia mais usual apresenta-os como: compradores, vendedores e intermediários (WUNDER, 2005; ENGEL; PAGIOLA; WUNDER, 2008). No caso de iniciativas de PSA-Água, estes atores podem aparecer como usuários, provedores e intermediários (MARTIN-ORTEGA; OJEA; ROUX, 2014). Em uma iniciativa do tipo usuário-pagador, o comprador será o usuário atual do SA. No caso de um projeto do tipo governo-financiador, o comprador será um terceiro (governo) que aparece como agindo em benefício do bem estar dos usuários do serviço (ENGEL; PAGIOLA; WUNDER, 2008). Os vendedores são aqueles atores que estão em posição de garantir o fornecimento do SA: os mais comuns são os proprietários privados de terras, mas também podem ser governos, comunidades ou organizações sociais, desde que detenham posse de terra (ENGEL; PAGIOLA; WUNDER, 2008). Entre os compradores (usuários) e vendedores (provedores), estão os intermediários, que podem ser um ator único ou vários inter- relacionados (MARTIN-ORTEGA; OJEA; ROUX, 2014). Os intermediários são aqueles que realizam o papel de conectar e facilitar as transações entre estes atores por meio da troca de informações, da proposição do melhor desenho para o PSA, da mediação, administração e coordenação das ações (HUBER-STEARNS; GOLDSTEIN; DUKE, 2013).

Na América Latina, de 40 projetos de PSA-Água analisados por Martin-Ortega, Ojea e Roux (2014), 36 deles tinham como provedores dos serviços ambientais proprietários rurais, que eram ou não agricultores. Os usuários eram empresas hidrelétricas (28,1%), unidades domésticas (27,4%), agricultores (6,3%), ONGs nacionais e internacionais (7,1%), governos e outros (5%). Os intermediários estavam presentes em 81,6% dos projetos: estes atores eram ONGs locais (23,3%), os próprios fundos gerenciais dos projetos (13,1%), os governos federais (10,5%) e municipais (7,9%), as companhias de abastecimento de água (2,6%), dentre outros (5,1%). Esse estudo mostra que a maior parte das iniciativas de PSA-Água na

América Latina se materializou tendo como usuários dos SA agentes privados e que os atores intermediários foram imprescindíveis para viabilizar o mecanismo, estes últimos estando fora da esfera pública. Nesse estudo, os governos aparecem com participação relativamente reduzida diante de atores com interesses privados.

Ademais, há atores que não compõem a estrutura central para que o mecanismo de PSA se materialize, mas que merecem ser destacados. O Banco Mundial (BM) vem sendo fundamental na difusão do referencial de SA e se empenhando em apoiar projetos PSA em vários países através de empréstimos, capacitação e assessoria técnica (PAGIOLA; ARCENAS; PLATAIS, 2005; LUGO, 2008). O BM estava, em 2005, apoiando a implementação de diferentes projetos que usam a abordagem do PSA, a saber: o Projeto Eco mercados na Costa Rica; o Projeto Regional de Gestão Integrada de Ecossistema Silvipastoril (Regional Integrated Silvopastoral Ecosystem Management Project) na Colômbia, Costa Rica e Nicarágua e o Projeto no Altiplano Ocidental de Gestão de Recursos Naturais na Guatemala. Além destes, estavam em preparação projetos na República Dominicana, El Salvador, Venezuela, África do Sul e México (PAGIOLA; ARCENAS; PLATAIS, 2005). Além do BM, o levantamento tomado como referência aqui apontava centros de pesquisa não governamentais, governamentais e universidades com papel na difusão e implementação do mecanismo de PSA. Na Costa Rica, o Centro para a Pesquisa em Sistemas Sustentáveis de Produção Agropecuária, na Colômbia o Centro Agronômico Tropical de Investigação e Ensino e na Nicarágua o Instituto de Investigação e Desenvolvimento foram atores importantes para a existência do mecanismo de PSA (PAGIOLA; ARCENAS; PLATAIS, 2005). No México, a análise e o desenho inicial do Programa de PSA-Hidrológico foi realizado por uma equipe composta por membros do Instituto Nacional de Ecologia, agência governamental de pesquisa vinculada à Secretaria de Recursos Naturais e Meio Ambiente, de duas universidades mexicanas, a Universidade Ibero-americana e o Centro de Ensino Econômico, e da Universidade da Califórnia em Berkeley (PAGIOLA; ARCENAS; PLATAIS, 2005).

Convém mencionar que a relação estabelecida entre compradores e vendedores de SA ocorre por contrato. Deriva desta contratualização dois conceitos centrais relacionados ao mecanismo de PSA: a adicionalidade e a condicionalidade. A adicionalidade pode ser definida como o aumento da provisão do SA gerado por consequência das ações realizadas após o contrato ser estabelecido, incremento que pode ser mensurado a partir da situação anterior ao PSA (WUNDER, 2008). A condicionalidade se refere às condições e exigências ligadas ao comprimento do contrato graças ao qual o PSA foi estabelecido (PORRAS; AYLWARD;

DENGEL, 2013). Em termos de avaliação e monitoramento, a condicionalidade permite monitorar o cumprimento do contrato e a adicionalidade leva a avaliar a efetividade ambiental das ações realizadas (PORRAS; AYLWARD; DENGEL, 2013).

Em revisão de programas desta natureza, Porras, Aylward e Dengel (2013) estabeleceram quatro frentes de intenção dos contratos vinculados a projetos de PSA: 1) Conservação e proteção de ecossistemas; 2) Práticas agrícolas que ajudam a prover SA; 3) Reflorestamento com finalidade comercial e; 4) Restauração de ecossistemas para a sua proteção. Estas frentes agregam uma diversidade de iniciativas de PSA, desde aquelas que visam a pura proteção de florestas, como ocorrem nos casos da Costa Rica e do México, passando pelas que visam alterar sistemas produtivos pela introdução de espécies arbóreas e arbustivas em pastagens, como propõe o Projeto Silvipastoril na Colômbia, Nicarágua e Costa Rica (PAGIOLA; ARCENAS; PLATAIS, 2005) ou pela mudança de técnicas produtiva agropecuárias como em Nova Iorque (MONTAGNINI; FINNEY, 2011). Também inclui aquelas que visam plantios comerciais a partir de contratos de reflorestamento, como nas iniciativas Planeta Vivo no México, Uganda e Moçambique (PORRAS; AYLWARD; DENGEL, 2013). Ainda, as iniciativas que visam a restauração de ecossistemas degradados para a proteção por meio do plantio florestal como ocorre no Programa de Conversão de Terras em Zona de Declive na China (BENNETT, 2007) e por meio de ações de remoção de espécies arbóreas exóticas em florestas no Trabalhando pela Água na África do Sul (PORRAS; AYLWARD; DENGEL, 2013).

Na América Latina, daqueles 40 projetos de PSA-Água estudados por Martin-Ortega, Ojea e Roux (2014), em 89% dos casos, os provedores são pagos pela execução de uma combinação de ações, sendo as ações mais frequentes as de conservação florestal (60%), de restauração florestal (54,3%), de manejo florestal (25,7%) e de mudanças nas práticas agrícolas e atividades agroflorestais (19,4%).