• Nenhum resultado encontrado

2.1 ABORDAGEM SISTÊMICA DA INOVAÇÃO

2.1.4 Sistemas de Inovação

2.1.4.4 Atores dos Sistemas de Inovação e a Tríplice Hélice

Uma abordagem sistêmica para analisar a inovação pode ser usada para identificar os atores do processo, que podem ser indivíduos ou organizações (TREMBLAY; DOSSOU-YOVO, 2015). O modelo da tríplice hélice apresentado por Etzkowitz e Leydesdorff (2000) é composto basicamente da integração entre três principais agentes: o Estado; as universidades/institutos de pesquisa; e as empresas. Para os autores, o modelo é uma evolução do modelo estático, marcado pela posição superior do Estado devido a seu caráter autoritário e normativo, e do modelo laissez-faire, que separa os três atores em três dimensões distintas. Por fim, a tríplice hélice é o modelo em que as ligações entre as três esferas são mais tênues e a estrutura não é rígida . A Figura 5 ilustra os modelos.

Figura 5 – Evolução da tríplice hélice

Fonte: Adaptado de Etzkowitz e Leydesdorff (2000).

O modelo da tríplice hélice leva em consideração a dinâmica das organizações e dos processos, indicando uma sobreposição de arranjos institucionais (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000). Para os autores, as múltiplas possibilidades de relações recíprocas em estágios diferentes da inovação possibilitam a disseminação do conhecimento. Nesse contexto, a interdependência entre as esferas é fundamental para o fortalecimento das relações nos sistemas de inovação.

Para Etzkowitz e Leydesdorff (2000), o estado possui como função criar políticas públicas de ciência e tecnologia. Em alguns países em desenvolvimento, esse sistema é fortemente preenchido por instituições estatais e podem ser considerados como sistema conduzido pelo estado (SAAD; DATTA; RAZAK, 2017). Evidencia-se que, nos sistemas de inovação dos países industrializados, o governo tem o papel de promotor, regulador, executor e financiador do desenvolvimento científico, da pesquisa e da capacitação tecnológica (IPIRANGA et al., 2012). O Estado, por meio da formulação de políticas públicas, deve garantir as condições econômicas favoráveis e incentivar o fortalecimento de vínculos entre atores que estão envolvidos em atividades inovativas (CASSIOLATO; LASTRES, 2005). É importante que o Estado crie condições para que o conhecimento se difunda na estrutura produtiva até atingir as empresas. Nessa estrutura, o Estado tem como papel formular, coordenar e executar políticas públicas para promover o desenvolvimento tecnológico e o fomento à inovação empresarial (NELSON; WINTER, 2005).

Nos últimos anos, as universidades foram vistas como organizações que possuem todas as credenciais para desempenhar um papel central dentro dos

sistemas de inovação (CULKIN, 2016). As universidade têm muitos pesquisadores e investem altamente em atividades de pesquisa, já que adquirem amplamente concessão de fundos governamentais para investir em grandes laboratórios (WAKABAYASHI; TAKAI, 2016). Os autores Etzkowitz e Leydesdorff (2000) consideram que a universidade possui um ambiente propício à inovação devido à concentração de capital intelectual. As atividades de pesquisa praticadas pelas universidades muitas vezes servem como ensaio para as empresas, já que a universidade é um primeiro ponto na escala natural quando se trata de conhecimento (CULKIN, 2016).

Esse foco leva as universidades a um maior contato com as empresas dentro de seus locais de atuação. Algumas universidades, em certos países, podem limitar o seu ensino e atividades de pesquisa para atender principalmente às necessidades locais, devido aos seus recursos e características específicas (SAAD; DATTA; RAZAK, 2017). Já outras universidades operam a nível nacional. Nesse caso, o escopo de ensino e pesquisa é tão amplo e diversificado que elas podem atender às necessidades de várias regiões inovadoras em determinados países (SAAD; DATTA; RAZAK, 2017).

No início dos processos de aprendizagem, pode-se citar a importância das universidades e institutos de pesquisa, aos quais cabe a criação e disseminação do conhecimento por meio da realização de pesquisas e relacionamento com o setor produtivo (NELSON, 1986). Para o autor, as universidades e outras instituições públicas são partes importantes do sistema industrial pela capacidade elevada da produção de ciência e por possuírem capacidades complementares às atividades de inovação do setor privado.

Nesse contexto, Etzkowitz e Zhou (2009) afirmam que existem outras instituições que atuam como apoiadores do processo de inovação empresarial. Nesse grupo, destacam-se as associações de classe, agências de fomento, organizações da sociedade civil e diversas outras instituições públicas. Um outro tipo de organização chave em um sistema de inovação são as organizações de apoio empresarial, que podem ser incubadoras, centros de desenvolvimento de pequenas empresas e outras organizações que fornecem serviços orientados para o empreendedorismo (ROUNDY, 2017). Elas também são chamadas de organizações de suporte híbrido e têm uma influência poderosa nos ecossistemas, pois são transmissoras de lógicas institucionais. Elas expõem os participantes dos

ecossistemas empresariais a lógicas de mercado e comunitárias, favorecendo a formação de redes. Essas instituições organizam eventos e reúnem membros dos ecossistemas, fazendo atividades que fortalecem as conexões entre os atores (ROUNDY, 2017). Assim, se as cidades ou comunidades procuram incentivar o desenvolvimento de ecossistemas empresariais, é necessário investir em programas, atividades, organizações e eventos com a participação de entidades híbridas de apoio (ROUNDY, 2017). Essas organizações não são agentes simplesmente periféricos pois ajudam a estabelecer as bases institucionais para os ecossistemas (ROUNDY, 2017).

Durante o processo de inovação, as pequenas empresas geralmente precisam da assistência de atores intermediários para acessar recursos externos. Os atores intermediários desempenham um papel importante na criação e estimulação da dinâmica de rede (TREMBLAY; DOSSOU-YOVO, 2015). Eles possuem a função de intermediação, que é essencial para o processo de inovação. A intermediação pode ocorrer nas bases de conhecimento, nos recursos financeiros e humanos, na comercialização do produto ou apenas como fonte de novas informação (TREMBLAY; DOSSOU-YOVO, 2015). Para os autores, entre essas contribuições, a base de conhecimento é a mais importante para o desenvolvimento de pequenas empresas. Entre as atividades mais importantes estão a transferência de informações, o suporte à tomada de decisão, a avaliação de novas tecnologias, a identificação de novos parceiros, o compartilhamento de conhecimento e a estimulação da formalização de parcerias (TREMBLAY; DOSSOU-YOVO, 2015).

A criação de espaços em que podem coexistir diversas entidades, como câmaras de comércio, empresas, universidades e centros de pesquisa, instituições intermediárias, resulta em concentrações produtivas no território (LATORRE; HERMOSO; RUBIO, 2017). A fim de apoiar ou mesmo criar territórios inovadores, as políticas e os atores são integrados em um novo modelo de infraestrutura que está assumindo um papel de liderança em todos os países desenvolvidos, os Parques de Ciência e Tecnologia. Esses parques tentam promover o desenvolvimento industrial, econômico, social e comercial dos territórios em que estão estabelecidos (LATORRE; HERMOSO; RUBIO, 2017). Para os autores, os Parques de Ciência e Tecnologia são um tipo de aglomerado altamente especializado, que buscam o desenvolvimento de setores específicos.

Weber e Heidenreich (2017) investigam os efeitos da cooperação conforme o tipo de atores. As cooperações foram classificadas de acordo com o tipo de parceiro. As cooperações verticais ocorrem entre fornecedores e clientes; as horizontais envolvem os concorrentes; e as institucionais envolvem parcerias com universidades e institutos de pesquisa. A pesquisa conclui que os parceiros institucionais são os mais importantes para atingir alta capacidade de inovação. Isso acontece porque parceiros institucionais não dependem dos lucros obtidos com a monetização da tecnologia, seu principal objetivo é aprimorar os conhecimentos e know-how (WEBER; HEIDENREICH, 2017). Além disso, os produtos desenvolvidos em uma cooperação institucional têm o potencial para ser um grande sucesso devido ao maior conhecimento inserido na fase de pesquisa, gerando assim produtos com inovações radicais (WEBER; HEIDENREICH, 2017). Já os parcerias verticais e horizontais têm muitas vezes um caráter incremental, e buscam apenas melhorar os produtos existentes ou aumentar o mercado. Embora isso seja importante, esses tipos de inovações têm um potencial mais baixo para sucesso, já que compete com inovações radicais no mercado (WEBER; HEIDENREICH, 2017).