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2.1 ABORDAGEM SISTÊMICA DA INOVAÇÃO

2.1.3 Os modelos de inovação

Para Rosenberg (1982), até o começo da segunda metade do século XX, a concepção sobre inovação ficou restrita a um âmbito abstrato, somente no campo da análise econômica. Mas, a distinção definida por Schumpeter (1942) entre invenção e inovação chamou a atenção para o aspecto micro da inovação. Portanto, percebeu-se que a mera invenção não se materializava em benefícios ao empreendedor, sendo necessário produzir e comercializar essa invenção para então concretizar-se a inovação (ROSENBERG, 1982).

A inovação passou a ser tratada com um processo composto por fases e fatores que impactam seu desempenho e facilitam o seu gerenciamento. Desse modo, passou-se a utilizar a expressão “processos de inovação” para indicar que existe um caminho a se percorrer até a concretização da inovação - até sua comercialização e difusão. Um processo de inovação completa-se apenas quando novos conhecimentos forem incorporados por completo na gestão, fabricação ou em produtos (ROSENBERG, 1982). Para o autor, o processo de inovação é composto por atividades inter-relacionadas que vão desde a geração de ideias até a obtenção de resultados mensuráveis.

O processo de inovação passou por diversas mudanças ao longo das últimas décadas, dividindo-se basicamente em modelo linear e modelo interativo da inovação (ROTHWELL, 1994). O primeiro período foi denominado de linear, pois o

processo inovativo derivava de uma sequência de etapas que se iniciava na pesquisa básica e se estendia até a sua aplicação na prática (ROTHWELL, 1994). Já o modelo não linear foi proposto por Kline e Rosenberg (1986). Nesse modelo, a relação com a pesquisa pode ocorrer nas diversas etapas do desenvolvimento. A Figura 2 apresenta a divisão dos modelos de acordo com o período.

Figura 2 – Evolução dos modelos do processo de inovação

Fonte: Adaptado de Rothwell (1994).

Conforme Rothwell (1994), a primeira geração do modelo linear ficou evidente entre as décadas de 1950 e 1960 e ficou conhecida como tecnologia empurrada (Technology push). Nesse modelo, o processo de inovação é linear, simples e sequencial, com ênfase na etapa inicial de pesquisa. Nessa primeira geração, o mercado é agente passivo e apenas recebe o resultado final da inovação desenvolvida a partir da pesquisa científica. Iniciando-se pelos resultados da pesquisa básica são desenvolvidos novos produtos, que são empurrados para o mercado (ROTHWELL, 1994). A começar da aceitação desse modelo linear, estabeleceu-se como principal estratégia empresarial promover o aumento da capacidade de geração de conhecimento científico e a capacitação das pessoas.

Desde a década de 1960 surge um novo conceito sobre o modelo linear. A nova geração compreendeu a inovação como um processo induzido pela demanda (Demand Pull). Dessa forma, o processo é sequencial e linear, buscando sempre um

feedback do mercado para alimentar o processo. Nesse modelo, é a demanda do

mercado que motiva os esforços em inovação, direcionando as atividades de pesquisa (ROTHWELL, 1994).

Entre a décadas de 1970 e 1980 predominou o equilíbrio entre a ênfase na pesquisa e a necessidade do mercado, combinando características da primeira e segunda geração dos modelos lineares (ROTHWELL, 1994). Nesse modelo, o processo ainda é contínuo e sequencial. Desse modo, identifica-se uma

necessidade no mercado e adiciona-se conhecimentos provenientes dos centros de pesquisa, os quais geram novas ideias que resultarão em um novo produto (ROTHWELL, 1994).

No entanto, Kline e Rosenberg (1986) sustentavam que a maior parte das inovações surge da utilização de conhecimento já existente e não depende necessariamente da pesquisa básica, como ocorre no modelo linear. Os autores defendiam que a inovação é um processo complexo de interações entre diversos agentes envolvidos no processo de inovação, por isso é conhecido como modelo interativo. Entre esses agentes, os autores destacam as universidades, as instituições de laboratórios científicos e o mercado. No modelo dos autores, a pesquisa pode ser utilizada em diversas etapas do desenvolvimento da inovação e não apenas no início (KLINE; ROSENBERG, 1986). Esses elementos caracterizaram o modelo interativo do processo de inovação, que possui como fundamentos a integração e o desenvolvimento paralelo (ROTHWELL, 1994). Nesse modelo, os departamentos da empresa são integrados para trabalharem simultaneamente no projeto. O modelo, também conhecido por “Elo de Cadeia”, não se restringe a apenas um caminho linear e sequencial. O avanço dessa proposta é considerar que em cada etapa da inovação há aprendizagens que se alimentam de informações recebidas em etapas anteriores. Dessa forma, cada fase do processo de inovação gera um feedback relevante para as próximas etapas (KLINE; ROSENBERG, 1986). O modelo pode ser observado na Figura 3.

Figura 3 – Modelo interativo do processo de inovação

Fonte: Adaptado de Kline e Rosenberg (1986).

Com a compreensão da inovação como um processo interativo e não linear, a inovação passa a ser então resultado de ação integrada de empresas, fornecedores

e outras instituições de apoio (FREEMAN; PEREZ, 1988). A esse respeito, é necessário reconsiderar o papel das atividades diárias e da troca de experiências com os colaboradores como contribuições importantes ao processo de inovação (RYAPUKHINA, 2015). A OCDE (2005) afirma que a colaboração externa pode ser gerar resultados rápidos e menos riscos.

Nesse contexto, o conhecimento é o principal ativo estratégico das organizações e está disperso em diversas instituições e pessoas (GONZÁLEZ- RELAÑO, 2015). Para o autor, as empresas devem concentrar-se em manter e aumentar suas capacidades essenciais, ou seja, aquelas que realmente forem necessárias, e externalizar aquelas que não são cruciais para a sua competitividade. A empresa deve focar apenas no conhecimento necessário na sua área de atuação (GONZÁLEZ-RELAÑO, 2015). Nesse modelo, o processo inovativo é altamente complexo, pois depende de um conhecimento que está extremamente pulverizado e também de uma gestão em rede integrada (DOCHERTY, 2006). O autor representa o fluxo de conhecimento no modelo interativo na Figura 4.

Figura 4 – Processo interativo da inovação

Fonte: Adaptado de Docherty (2006).

Em todas as etapas do processo inovativo há entradas e saídas de conhecimento. Para o que o sucesso desse modelo seja atingido, é necessário que as relações com os parceiros estratégicos sejam extremamente consistentes, para agregar valor ao negócio por meio da absorção de novos conhecimentos e

tecnologias (CHRISTENSEN, 2006). Portanto, o modelo considera que o conhecimento necessário para gerar inovações está disperso em diversas instituições, mas, em contraponto, as empresas necessitam de capacidade para absorver e explorar esse conhecimento. Além disso, é razoável pensar que uma empresa deve interagir com parceiros corporativos externos que sejam inovadores, para que realmente possam captar novos conhecimentos e se beneficiar com a interação (MOOS et al., 2015).