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Atores Educacionais Excluídos: pais, alunos e servidores

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2 PARA SE ANALISAR ALGUNS DADOS E A VIVÊNCIA

3.4 Atores Educacionais Excluídos: pais, alunos e servidores

Ao longo da história da educação, sobretudo na transição entre os séculos XVIII e XIX, a partir da cientificização e consequente especialização da escola, a própria família, embora principal interessada na educação de seus filhos foi excluída de intervir no processo escolar. Cunha (2000) salienta, que “pais e mães eram retirados do patamar de educadores exclusivos [...] e que não ousassem intrometer-se demais, pois podiam atrapalhar [...].” Outros autores, citados por Cunha (2000), dispunham-se inclusive para combater tal participação, ao declarar:

[...] exprime-se o temor de que, ao conceder-lhes uma intervenção, restrita embora, na vida da escola e ao traçar-lhe uma orientação que regule e efetive essa ação cooperadora, possam os pais exercer, ou quando menos tentar fazê-lo, uma fiscalização do trabalho dos professores, que lhes subtraia autoridade ante seus discípulos e ante os demais pais e que chegue até ao perigo máximo de querer influir na própria orientação e no espírito do ensino.” (BALLESTEROS, citado por CUNHA, 2000, p. 458).

Obviamente, que, sobretudo nos dias de hoje, poucos educadores declarariam tão aberta repulsa a participação familiar nas decisões da escola. Contudo, numa rápida observação do cotidiano das escolas, percebemos que não apenas isso é a realidade atual, como os próprios pais introjetaram esta suposta verdade, de modo a não participarem das decisões pedagógico-administrativas da escola, senão quando isso significa acatar e executar suas decisões ou solicitações.

Tanto é assim que, retornando a visitar nosso cotidiano, poucos de nós, encontraríamos uma cena em que um aluno, pai ou mãe, estivesse junto aos educadores decidindo os rumos da escola. Mediante, esta proposta muitos, ao lê-la exclamarão: “Mas nós é que entendemos disso!!!” Isso obviamente, afasta as pessoas, inibi sua participação.

Embora por razões cronológicas não tenha sido possível a pesquisa direta com pais e alunos, ressaltamos a importância de se valorizar a participação destes atores, como também a nossa obrigação ética em oferecer espaço para suas manifestações. Isso revelará nossa concepção de participação e democrática, afinal,

se estamos interessados na participação da comunidade na escola, é preciso levar em conta a dimensão em que o modo de pensar e agir das pessoas que aí atuam facilita/incentiva ou dificulta/impede a participação dos usuários. (PARO, 1992, p.264)

Não se pode conceber, que uma concepção educacional destitua do professor sua competência, habilidade e autoridade ao ensinar, para o que se pressupõe que ele esteja preparado. Contudo, uma visão tradicionalista que ainda considera o aluno uma folha branca e nula, a ser preenchida pela cultura inquestionável dos mestres, é um retrocesso. Por que nos opomos a tal monopólio do conhecimento e do poder que dele emana, buscamos o cotidiano como fonte de novos saberes.

Quanto à família, aos pais mais especificamente, reconhecemos:

A responsabilidade institucional de construir conhecimento é da escola e a responsabilidade de educar na plenitude é da família. Entretanto, família e

55 escola dissociadas podem comprometer substancialmente a formação de nossos bens mais preciosos: nossos filhos, nossos alunos.” (Jair Cestari) Quanto à participação dos pais e alunos nas decisões da escola, nos reportamos à ocasião de construção do Regulamento dos Cursos Técnicos, em que como coordenadora de uma das comissões registrei em ata a dificuldade de participação de pais e alunos, no caso em função do tempo limitado. Contudo, em conversas informais, alguns dos envolvidos em outras comissões declararam “aquele trabalho foi rápido, o coordenador acrescentou alguns ponto e aí agente só assinou tudo”. Considerando tal possibilidade e a rotina da escola, endossamos que tal participação é restrita às solicitações em que recebem informações sobre o comportamento e desempenho do aluno.

A nós, considerando também a rotina cotidiana da escola, pareceu que há uma forte tradição limitante da participação da comunidade e isso obviamente que tem impacto do currículo.

Ao longo deste estudo temos afirmado que o currículo integrado pode ser resultado, como proposta democrática de ensino, que visa atender a algumas necessidades humanas através da educação formal, por isso a necessidade de trazer via colegiados institucionais a participação dos pais como também de toda a comunidade que integra, ou deveria integrar o mundo educacional, de forma ativa. Neste sentido, a participação e crítica da comunidade é sem dúvida o grande termômetro para as ações gestoras, além de ser uma forte ação de integração que articula a crítica em favor da construção coletiva.

Da mesma forma quanto aos alunos, por compreender conforme Freire (2008), que “quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado.(p.23), entendemos que sua participação é imprescindível, e portanto, considerando as falas democráticas, declaradas pelos demais autores nesta pesquisa, é preciso inseri-los no debate cotidiano, quando em verdade é que poderá se dá a participação.

Servidores da Educação

Entendemos ao longo da pesquisa que, numa escola existem mais educadores que seus responsáveis oficiais, os professores. Estes, conquanto sejam extremamente importantes, recebem uma ajuda quase despercebida, como, aliás, passam despercebidos outros sujeitos educacionais, (ESTEBAN, In: Garcia, 2003), os técnicos administrativos.

Tal grupo de trabalhadores na escola são responsáveis por várias práticas como: o cuidado com laboratórios e criações animais, produção agrícola para fins pedagógicos, venda de seu excedente, preparo e distribuição de refeições para os alunos, participação em pesquisas, projetos educacionais e de extensão, além de considerável cuidado na preparação de equipamentos, experimentos e ambientes de aula, para o que, em alguns casos e momentos atuam diretamente com os alunos, fazendo seu acompanhamento e orientação, pedagógica, psicológica e educacional, ou ainda como espécie de “conselheiro”, que acolhe e educa pela convivência.

Suas atribuições são definidas também em MRI conforme “Art. 104. Cabem ao corpo técnico administrativo as seguintes atividades: I – atividades relacionadas com a permanente manutenção e adequado apoio técnico, administrativo e operacional necessário ao cumprimento dos objetivos do Campus [...]”.

De modo geral os servidores, mesmo os com função mais educativa, ainda não tem uma concepção curricular que extrapole a condução dos conteúdos: “o currículo são todas as matérias que são trabalhadas no período de tempo.” No dia-a-dia presenciam algumas situações práticas que interferem no currículo, mas não deixam sua percepção evidente na sua

56 fala, talvez pelo limitado espaço de discussão. Alguns reconhecem que o currículo é algo complexo e assim deve contemplar o aluno por inteiro, afinal seu objetivo não deve ser apenas: “conseguir uma boa colocação profissional porque não basta só isso agente tem que ser um cidadão completo” para eles não é só “ dá aula indiferente ao que esse aluno tá passando”, e é preciso “orientação de respeito ao outro, ao diferente, da desigualdade do gênero, de cor,”. (Servidores da Educação EPT).

Em conversas informais, como também em entrevista, a própria Equipe Pedagógica, em sintonia com as solicitações/sugestões dos pais e professores, reconhece “não é possível trabalhar com o Currículo Integrado, sem que os professores sentem e discutam com a equipe técnico-pedagógica então não é possível um currículo integrado sem essa discussão e um planejamento em conjunto.” (Servidor da EPT). Contudo, no cotidiano, percebemos que as ações práticas não abrem um espaço contínuo para tal evento, falta ainda alguma autonomia entre os servidores além de um planejamento conjunto que torne a interação uma parte do trabalho de cada um.

Alguns servidores também percebem certo distanciamento entre o aluno, os servidores e a gestão. Segundo um dos entrevistados “Não é possível identificar essa aproximação não, muito pelo contrario, percebe-se um distanciamento, um afastamento. (Servidor da EPT).

Em alguns setores a função dos técnicos é muito próxima da de educador e eles acabam encaminhando a preparação das aulas de modo que o “professor ele vai me passar o que eu devo fazer, por exemplo, cada tipo de produto que é processado no laticínio” além de “dinâmicas tudo pronto pro aluno”. No entanto, solicitam a atenção da escola e valorização de suas funções de modo que sugerem que todos devam “procurar conhecer mais os setores o que ele produz sua potencialidade”. Também reclamam maior participação nas decisões e valorização de suas funções e pedem “saiam da sala venham para os setores, venham conhecer os setores”. (Servidor da EPT).

Considerando o currículo como ações que envolvem a seleção de materiais, condições de organização e estrutura; nem sempre conhecidas por especialistas, então nos parece incoerente que estes profissionais se mantenham a distância, como parece sugerir a declaração de um servidor da educação, que nas suas palavras gostaria que:

dinamizasse essa coordenadoria todo mundo queria ta mais integrado porque se você tem conhecimento eles também iriam administrar de uma forma mais colegiada mais participativa então teria que ter mais envolvimento dos outros ate mesmo pra ajudar porque não e tão simples assim. Nós conhecemos hoje comunidades de produção e as vezes quando agente pede o material chega lá no setor de compras fala ai mais isso aqui tem que comprar o mais barato e não atende o que agente ta pedindo se eles conhecesse eles iam saber e tal produto assim e assado e esse que atende a necessidade. (Servidor da EPT). Como fazemos uma pesquisa de cunho educacional cujo foco é o cotidiano escolar devemos salientar nossa percepção em relação ao que vimos no momento da execução de nossa própria metodologia de pesquisa. E o que vimos foi: as pessoas se sentem valorizadas ao serem ouvidas, também querem discutir e compreender melhor os ambientes, as relações e os impactos de seu trabalho, por isso a necessidade de se proporcionar a estes servidores, maior interação, formação continuada e uma participação efetiva. Ao final, nos ambientes de trabalho dos técnicos administrativos, paralelamente à sala de aula, se organiza um discreto laboratório de ensinar, que também têm, a nós pesquisadores, muito a dizer. Assim, sem nenhum risco de omitir o justo reconhecimento dos professores, gostaríamos de reafirmar a necessidade de tornar visíveis estes férteis ambientes, na sua diversidade e especificidade. Isto

57 porque nas palavras de um dos servidores “vale lembrar nessa escola o respeito à diversidade.”

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