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A atuação do setor público

No documento caPital EMPrEEndEdor (páginas 112-118)

EMPREENDEDOR PARA A ECONOMIA

6. O CAPITAL EMPREENDEDOR NO BRASIL

6.3 O 2º censo brasileiro da indústria de private equity e venture capital

6.3.10 A atuação do setor público

Deve-se destacar a participação atual do setor público tanto como investidor direto ou indireto em private equity e venture capital no Brasil. Apesar de sua participação como gestor direto ser reduzida (menos de 3% do total comprometido), o relatório ABDI (2011, p. 136) aponta que seu papel é “relevante como investidor em diversos veículos geridos por organizações gestoras independentes”, mencionando, por exemplo, as atuações do BNDES, Finep e Sebrae:

O governo brasileiro tem apresentado papel fundamental na Indústria de PE/VC a partir de alguns de seus veículos e instrumentos de política pública.

Deste modo, pode-se destacar o grande volume de recursos alocados nos últimos anos pelo BNDES, a partir de sua subsidiária, a BNDESPar, e pelo programa de apoio ao capital semente CRIATEC, pela FINEP, com o Programa Inovar/

Inovar Semente, juntamente com os Fóruns FINEP, e pelo SEBRAE. [...]

No total, o governo brasileiro investiu em mais de 40 veículos de investimento pertencentes a 28 organizações gestoras, o que corresponde a 20% do total dos veículos da indústria em junho de 2008 (Ramalho, 2010). Ainda de acordo com Ramalho (2010), o investimento do governo brasileiro em PE/VC faz parte de um esforço nacional que se acelerou nos anos 2000, alavancado pela estabilização e crescimento econômicos (ABDI, 2011, p. 186-187).

O censo destaca ainda a forma de atuação do setor público, tanto como gestor (no qual a participação é mais reduzida) quanto como investidor:

É possível verificar que apesar das ações do governo brasileiro se concen-trarem mais na fase de captação dos fundos, elas se mostram capazes de impactar positivamente todo o ciclo. [...].

Apesar do significativo crescimento da indústria local de PE/VC, o papel do setor público como gestor de PE/VC diretamente não é quantitativamen-te significativo. A BNDESPar é um braço de uma instituição pública de PE/VC que atua como organização gestora de PE/VC numa de suas uni-dades organizacionais, possuindo um capital comprometido de US$ 0,935 bilhões, 2,6% do capital comprometido da indústria.

Por outro lado, a participação do setor público Brasileiro como investidor tem se mostrado de extrema importância para o fomento e desenvolvimento da indústria de PE/VC. A percepção de que start-ups inovadoras e de que as MPMEs não encontravam mecanismos adequados para financiar seu cres-cimento no sistema tradicional de financiamento levou a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), criar o programa INOVAR em 2000 e o INOVAR SEMENTE em 2006. Desde então a FINEP está alocando cada vez mais recursos nos veículos de investimentos sob o controle do INOVAR e INOVAR SEMENTE. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) é outra agência governamental que investiu em PE/VC, fomen-tando o empreendedorismo e desenvolvendo as MPMEs. [...]

Além do capital comprometido pelas agências governamentais e pelos ban-cos estatais, a política pública de investimento em PE/VC também está pre-sente nos fundos de pensão estatais, com destaque para o maior fundo de pensão do Brasil, a Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (PREVI). Eles representam uma importante fatia do capital compro-metido, e desempenham um papel crucial na indústria brasileira de PE/VC, principalmente se observarmos o capital comprometido dos veículos de inves-timento que utilizam estrutura legal CVM para seus invesinves-timentos.

Desse modo, as políticas públicas de incentivo ao PE/VC geram resulta-dos positivos e suprem parte da demanda de financiamento que se tem no país, sendo, por vezes, a única alternativa de financiamento sustentável para as start-ups e as micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), que apresentam modelos de negócios compatíveis com os requisitos de PE/VC

incentivando a inovação e o empreendedorismo com grande potencial de impacto positivo. (ABDI, 2011, p. 324-326).

Por sua vez, a tabela a seguir discrimina a atuação do setor público por meio da BNDESPar e da Finep como investidores diretos e indiretos, devendo ser destacado, entretanto, que os percentuais indicados se referem apenas a números de investimentos efetuados, e não ao valor desses investimentos.

Ademais, o censo ABDI (2011, p. 188) menciona que, em 2008, o BNDES divulgou sua intenção de aplicar R$ 1,5 bilhão em oito fundos da modalidade FIP e em dois fundos FMIEE e que, até o momento em que foi elaborado o censo, haviam sido efetuadas cinco seleções de fundos para os setores “agronegócio, bioenergia e governança; ativo florestal; petróleo e gás; biotecnologia e/ou nanotecnologia; e infraestrutura no seg-mento de logística”.

Tabela 10 Participação de investidores do setor público em empresas em portfólio (em junho de 2008)

Fonte: Ramalho, 2010 apud ABDI (2011, p. 186).

Aponta ainda o relatório ABDI (2011, p. 326) que o BNDES, além de atuar como or-ganização gestora e como investidor em private equity e venture capital, possui linhas de financiamento específicas para micro, pequenas e médias empresas, de que são exemplos a linha Capital Inovador, que “objetiva apoiar empresas inovadoras no desen-volvimento de capacidade empreendedora”; a linha Inovação Tecnológica, que “objetiva fomentar o desenvolvimento de produtos ou processos que envolvam risco tecnológico e oportunidades de mercado, desde que apresentem inovação de natureza tecnológica”;

e o Cartão BNDES para Inovação, que “se assemelha muito ao funcionamento de um cartão de crédito”.

Quanto à BNDESPar, o relatório aponta no sentido de “uma atuação firme e progres-siva de investimentos no mercado de ações (198 empresas), investimento em fundos, e investimentos em debêntures de emissão de empresas do setor privado [...]” (ABDI, 2011, p. 328), sendo apresentados os números da tabela a seguir, a qual, contudo, não apresenta a subdivisão entre as modalidades private equity ou public equity (na qual as ações são negociadas em mercados organizados):

Tabela 11 Dados da composição da carteira da BNDESPar.38

Fonte: BNDESPar, 2010 apud ABDI (2011, p. 329).

O relatório ABDI (2011, p. 330-331) aponta ainda que há duas unidades da BNDESPar que têm “abordagem pelo porte de empresas e sua presença ou não no mercado público de valores mobiliários”, quais sejam, a Área de Capital Empreendedor cuja atuação é voltada às “médias e pequenas empresas nacionais, participando das etapas de fomen-to, estruturação, investimenfomen-to, monitoramento de gestão e desinvestimento”, e a Área de Mercado de Capitais, que atua em “debêntures conversíveis, ações e outros instrumentos de renda variável, atuando principalmente na gestão de portfólio das ações e outros valo-res mobiliários emitidos por grandes empvalo-resas que integram a carteira da BNDESPar”.

Observa-se que, pelos números apresentados, a relevância financeira dessas áreas é mui-to distinta. Afinal, em 2008 o valor de mercado das operações da área capital empreen-dedor foi da ordem de R$ 0,4 bilhão, ao passo que, na área de mercado de capitais, esse valor foi de R$ 59,0 bilhões:

38 BNDESPar (2010) engloba os investimentos em empresas da Áreas de Capital Empreendedor (ACE) – empresas de capital aberto e fechado – e da Área de Mercado de Capitais (ACM) – empresas de capital aberto da BNDESPar.

Tabela 12 Operações das áreas de capital empreendedor e de mercado de capitais da BNDESPar.

Fonte: BNDESPar, 2009 apud ABDI (2011, p. 331).

Quanto à Financiadora de Estudos e Projetos – Finep, há tanto ações voltadas espe-cificamente para a indústria de private equity e venture capital, efetuadas por meio do programa Inovar, como linhas de financiamento a empresas (de que são exemplos os programas Inova Brasil e Juro Zero). Em 2009, o valor investido no programa Inova Brasil39 foi de R$ 1,68 bilhão e, no programa Juro Zero – no qual, conforme ABDI (2011, p. 333) não seriam exigidas garantias reais, motivo pelo qual seria particularmen-te inparticularmen-teressanparticularmen-te para novas empresas – o valor anual investido, no período 2007 a 2009, era substancialmente menor, inferior a R$ 0,01 bilhão ao ano.

Quanto ao setor de private equity e venture capital, o censo menciona que sua atuação seria similar à conduzida pelo Small Business Investment Company – SBIC, dos Estados Unidos. Enfim, o relatório aponta que, no que se refere ao programa Inovar, o volume de recursos aplicados até 2009 totalizaria R$ 2,9 bilhões:

No ano de 1999, a FINEP criou o INOVAR em parceria com o Fumin/BID, com o objetivo de apoiar as empresas inovadoras através de um programa estruturado de Venture Capital. Assim, nasce em 2000 o INOVAR I, que se destaca por sua participação na criação da ABVCAP, pelas parcerias com fundos de pensão e agentes de fomento visando ao investimento em fundos, e pela realização de diversos fóruns para aproximar empresas e investidores.

Em julho de 2008, inicia-se o INOVAR II, com a meta de promover ações

39 Conforme ABDI (2011, p. 333), o programa Inova Brasil “dá suporte à Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) do governo federal. Uma das principais metas do programa, que vai operar com taxas fixas e subsidiadas entre 4% e 5% ao ano, é contribuir para o incremento das atividades de pesquisa e desenvolvimento(P&D) realizadas no País. Projetos de pré-investimento que não estejam vinculados aos programas prioritários do governo são contemplados em outra linha, que tem taxa fixa anual de 8%”.

para consolidar a indústria de PE/VC e contribuir para a estruturação do segmento de capital semente no Brasil.

Considerando o resultado acumulado 2001-2009, a carteira de investimentos da FINEP possui 22 fundos aprovados (sendo 12 de Venture Capital, qua-tro de Private Equity e seis fundos-semente) dos quais 13 estão em operação, oito em fase de captação e um já foi encerrado. O volume total de recursos desses fundos (patrimônio) é da ordem de R$ 2.966,2 milhões, com uma par-ticipação média da FINEP de R$ 281,9 milhões (9,5%). Isso representa um multiplicador de recursos no mercado da ordem de 9,32, ou seja, para cada R$ 1,00 que a FINEP aporta em veículos de investimento de PE/VC, R$ 9,32 está sendo investido por outros investidores em inovação (ABDI, 2011, p. 334).

Os fundos de investimento apoiados pela Finep são relacionados pelo relatório na tabela reproduzida a seguir:

Tabela 13 Fundos de investimento apoiados pela Finep (em R$ milhões).

Fundos FINEP Categoria Status Comprometido Comprometido FINEP

GP Tecnologia Venture Capital Desinvestido 115,00 5,75 RB Investech II Venture Capital Fase de

desinvestimento 35,30 5,00

FIPAC FMI EE Venture Capital Fase de

investimento 102,02 14,00

RB Nordeste II Venture Capital Fase de

investimento 137,80 15,00

SPTec FMIEE Venture Capital Fase de

desinvestimento 24,00 3,20

Novarum FMIEE Capital Semente Fase de

desinvestimento 12,75 3,80

CRP Venture VI Venture Capital Fase de

investimento 61,50 10,00

JB VCI Venture Capital Fase de

investimento 100,00 10,00

Stratus GC Venture Capital Fase de

desinvestimento 24,05 4,80

Stratus GC III Venture Capital Fase de

investimento 60,00 12,00

FIR Fundotec II Venture Capital Fase de

investimento 77,40 14,00

CapitalTech Venture Capital Fase de

investimento 31,40 9,00

Fundos FINEP Categoria Status Comprometido Comprometido FINEP HorizonTI Capital Semente Fase de

investimento 20,00 8,00

Terra Viva Private Equity Fase de

investimento 300,00 20,00

Fundo SC Capital Semente Em captação 15,00 7,35

Performa Capital Semente Em captação 15,00 6,00

Brasil Governança Private Equity Fase de

investimento 600,00 30,00

RB Investech III Venture Capital Em captação 200,00 20,00

FCSRec Capital Semente Em captação 20,00 8,00

FINTECH I Capital Semente Em captação 15,00 6,00

CRP VII Private Equity Fase de

investimento 200,00 30,00

Brasil

Agronegócio FIP Private Equity Fase de

investimento 800,00 40,00

Total 2.962,22 281,90

Fonte: FINEP, 2009 apud ABDI (2011, p. 335).

No documento caPital EMPrEEndEdor (páginas 112-118)