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A atuação do setor público brasileiro em private equity e venture capital

No documento caPital EMPrEEndEdor (páginas 92-96)

EMPREENDEDOR PARA A ECONOMIA

6. O CAPITAL EMPREENDEDOR NO BRASIL

6.2 A atuação do setor público brasileiro em private equity e venture capital

investidos mais de US$ 22,9 bilhões por 268 mil investidores-anjo em 67 mil em-presas (SOHL, 2012). Assim, os números da Anjos do Brasil (2013) apontam que o investimento-anjo no Brasil representa, em valor, apenas 1,2% do existente nos EUA.

Na Europa, por sua vez, o investimento-anjo apresentou um desenvolvimento mais re-cente, sendo investidos, em 2013, € 5,5 bilhões (ou cerca de US$ 7,6 bilhões32) por 271 mil investidores-anjo (EBAN, 2014). Mesmo assim, em termos de valor, o montante investido no Brasil é cerca de apenas 3,5% daquele investido na Europa33.

Enfim, trata-se de índices que apontam não apenas a defasagem do Brasil em relação a outras economias no que se refere aos investimentos-anjo, mas sobretudo a possibilida-de possibilida-de expansão possibilida-desse tipo possibilida-de investimento no País.

6.2 A atuação do setor público brasileiro

Por outro lado, o autor menciona que, em 2004, o governo brasileiro já fornecia apoio inegável ao private equity, embora a presença do Estado ainda fosse necessária para as empresas em estágios anteriores de desenvolvimento. Por outro lado, a instabilidade política das ações de apoio governamental seria um risco ao setor:

Hoje o governo tem dado apoio inegável ao setor de PE/VC, por meio do Projeto Inovar (de responsabilidade da Finep) e por meio das iniciativas do BNDES e do SEBRAE, entre outras. Finep e SEBRAE optaram por inves-tir recursos em fundos de PE/VC geridos pela iniciativa privada. Assim, os recursos públicos ficam comprometidos em PE/VC por longos períodos [...].

Embora os órgãos públicos possam estabelecer ações de suporte à indústria de PE/VC, tais órgãos são dirigidos por profissionais indicados pelo gover-no. Isso implica que iniciativas bem-sucedidas podem ser descontinuadas no futuro, segundo a ideologia política e as prioridades do governo que vier a se instalar. Por exemplo, o BNDESPar teve suas atividades de investimento praticamente interrompidas entre os anos de 2002 e 2004 [...].

Um dos problemas da instabilidade política no apoio ao setor é a incerteza percebida [...]. Caso o governo venha a retirar apoios ou incentivos de for-ma abrupta, como foi a revogação da lei de incentivos fiscais, parcela dos gestores poderá ser obrigada a deixar o setor [...] O risco é ainda maior para aqueles que pretendem atuar com estágios anteriores do desenvolvimento.

Neste nicho do mercado de PE/VC, o papel do governo ainda é bastante necessário (RIBEIRO, 2005, p. 45).

Mais recentemente, Ramalho (2010) realizou um estudo no qual são analisados tanto dados de uma amostra de 127 empresas de private equity e venture capital, na data de junho de 2008, como também informações diversas relativas à atuação do setor público, de forma a identificar se o governo brasileiro tem fornecido suporte ao segmento no contexto de uma política pública voltada à inovação.

De acordo com o autor, as duas únicas empresas que atuam diretamente como gestores (general partner) de private equity e venture capital são o BNDES e a Caixa Econômica Federal – CEF, muito embora o capital compromissado conjunto seja da ordem de ape-nas US$ 0,5 bilhão, o que representaria 2% do total comprometido no País. No que se refere à CEF, Ramalho (2010, p. 464) aponta que, desde 2008, sua atuação decorreria dos investimentos efetuados em infraestrutura com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS, embora também possa atuar como mero investidor (limited partner) em firmas de private equity e venture capital.

Como investidor (limited partner), o BNDES teria investido, desde 1990, em 33 veícu-los de investimento (dos quais já teria ocorrido a saída total de 7 veícuveícu-los) geridos por 23 empresas de private equity e venture capital, totalizando US$ 2,5 bilhões de capital comprometido. Ademais, aponta que o BNDES criou um programa denominado Cria-tec, voltado ao segmento denominado capital semente (seed capital), o qual é admi-nistrado por uma empresa de private equity e venture capital. Os recursos do Criatec atingiam US$ 60 milhões, 80% dos quais fornecidos pelo BNDES, e 20% pelo Banco do Nordeste do Brasil – BNB.

Ramalho (2010, p. 465) também destaca o papel da Financiadora de Estudos e Pro-jetos – Finep que, em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento – Bid, criou em 2000 os programas Inovar, voltado para start-ups e pequenas e médias empresas, e Inovar Semente, direcionado ao segmento de capital semente. Menciona ainda que esses programas contaram não apenas com capital da Finep e do Bid, mas também com 13 outros investidores, constituídos principalmente por fundos de pensão.

No período de 2001 a junho de 2008, a Finep comprometeu US$ 130 milhões em 16 veículos de investimento, dos quais 13 no âmbito do programa Inovar e 3 no contexto do programa Inovar Semente, sendo esses veículos geridos por 10 firmas de private equity e venture capital. Os recursos comprometidos pela Finep podem atingir até 20% do total no programa Inovar, e 40% no programa Inovar Semente.

Ademais, a Finep teria realizado diversos fóruns no âmbito dos programas Inovar e Inovar Semente com o objetivo de fortalecer o espírito empreendedor nas start-ups e nas pequenas e médias empresas, preparando-as para receber investimentos de risco.

Ramalho (2010, p. 468) menciona que a atuação da Finep contribuiu para a criação de uma cultura empreendedora, fornecendo apoio para 243 empresas altamente inova-doras, sendo 162 no âmbito do Venture Forum, 21 no IPO Forum, e 60 no Seed Forum.

Destaca ainda Ramalho (2010, p. 465) que o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae é outra agência que investe em private equity e venture capital, e contribuiu para o programa Inovar desde seu início e, de 1999 até 2004, comprometeu capital em 8 veículos de investimento.

No total, o governo brasileiro teria investido, até 2008, em 40 veículos de investimento geridos por 28 firmas locais de private equity e venture capital. Não obstante, destaca que a ação pública também está presente por meio da atuação dos fundos de pensão, os quais geriam, à época, US$ 271,7 bilhões. Conforme o autor, os maiores fundos são de empresas estatais, sendo que seus gestores atuam sob influência política, e seus princi-pais executivos são escolhidos direta ou, por meio das empresas estatais, indiretamente pelo governo. Enfim, o valor comprometido em 2008 pelos fundos de pensão em pri-vate equity e venture capital representava 27% do total – sendo que os fundos de pensão nacionais comprometeram 24%, e os estrangeiros, 3% do total.

Ramalho (2010, p. 467) destaca ainda que, juntos, o BNDES e a Finep investiam, direta ou indiretamente, em 26% das empresas no País que receberam investimentos nas modalidades private equity e venture capital. Deve-se destacar, entretanto, que esse percentual refere-se meramente ao número de empresas, e não ao total financeiro dos recursos comprometidos.

Ao concluir, o autor menciona que muitos governos consideram que as políticas públi-cas voltadas à indústria de private equity e venture capital são chaves para estimularem a inovação e o empreendedorismo. Muito embora vários países tenham falhado em construir iniciativas desse tipo, muitos outros teriam sido bem-sucedidos.

Nesse contexto, o autor considera que o governo brasileiro tem efetivamente utilizado a indústria de private equity e venture capital no contexto de políticas públicas para a inovação e o empreendedorismo, e as principais instituições que promovem essas políticas são o BNDES e a Finep. O apoio tem sido fornecido para uma quantidade notável de firmas locais dessa indústria, e também tem ocorrido por meio das políticas de investimento dos fundos de pensão controlados direta ou indiretamente pelo Estado.

Ramalho (2010, p. 470) menciona ainda que as políticas públicas têm sido direcionadas principalmente para a fase de levantamento de recursos, muito embora essa atuação também gere efeitos nas fases de investimento e de saída.

Ademais, o autor aponta que os efeitos das políticas públicas são notáveis, uma vez que, nos anos recentes, algumas empresas inovadoras financiadas por private equity e venture capital surgiram no País, como Submarino, DHC Outsourcing, Akwan, Allelyx, Buscapé, Lupatech, Bematech, Mandic BBS, GOL e DASA, apenas para citar alguns exemplos, e foram vendidas por firmas gestoras de capital de risco. Entre 2004 e junho de 2008, cerca de um terço dos IPOs no Brasil foram de empresas financiadas por essa modalidade de investimentos (representando US$ 16,4 bilhões), o que seria uma evidência de que as políticas orientadas para a fase de levantamento de recursos também produziram conse-quências sobre a última fase, que é a de saída dos investimentos efetuados.

Ramalho (2010, p. 470) aponta também que o BNDES e a Finep, juntos, atuam em uma grande parcela do portfólio da indústria. Ademais, apresentam, em comparação com o restante do setor, uma grande atuação em empresas altamente inovadoras e em indústrias estratégicas e do setor de infraestrutura, e também têm aumentado o apoio ao levantamento de capital semente.

O autor pondera que o próximo passo seria no sentido de a CVM apresentar uma nova norma especificamente direcionada para beneficiar capital semente. Adicionalmente, o governo deveria considerar as políticas públicas já construídas como uma solução temporária a um setor em expansão. O objetivo do governo deveria ser direcionado ao fortalecimento das instituições privadas na atuação em todo o ciclo de private equity

e venture capital, de forma a assegurar equilíbrio econômico e a sustentabilidade da indústria no longo prazo.

6.3 O 2º censo brasileiro da indústria de

No documento caPital EMPrEEndEdor (páginas 92-96)