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Desafios decorrentes da indisponibilidade de capital empreendedor para

No documento caPital EMPrEEndEdor (páginas 53-57)

EMPREENDEDOR PARA A ECONOMIA

5. SÃO NECESSÁRIAS AÇÕES DE ESTADO PARA O CAPITAL EMPREENDEDOR?

5.1 Desafios decorrentes da indisponibilidade de capital empreendedor para

5. SÃO NECESSÁRIAS AÇÕES DE ESTADO

produtivo ou social que resulta em novos produtos, serviços ou processos, baseados na aplicação do conhecimento.19

Acerca da indústria de venture capital em Portugal, Bilau; Couto (2009, p. 2) mencio-nam que apenas 2% dos recursos investidos em 2005 foram direcionados a seed capital, e 11% a start-ups. Quanto ao porte da indústria, citam que, em 2005, os fundos de venture capital totalizavam € 1,16 bilhão (o que, conforme nossas estimativas, represen-taria cerca de 0,75% do PIB daquele país20). Ademais, os autores apontam que a peque-na relevância dessa indústria peque-naquele país, que sofreu uma expansão apepeque-nas a partir de alterações legislativas efetuadas em 2002, pode ser um dos fatores que explicam o fracasso relatado pelos empreendedores. Conforme Bilau; Couto (2009, p. 3), as eleva-das taxas de retorno esperaeleva-das pelos investidores para aplicação de recursos em venture capital podem também explicar esse insucesso.

Quanto à relutância dos investidores em aportar recursos para firmas nascentes, os au-tores mencionam que essa característica é frequentemente citada na literatura, e citam dados estatísticos da European Private Equity and Venture Capital Association – EVCA que apontam que na Europa apenas 26,5% dos recursos de venture capital foram in-vestidos em empresas que se encontravam nas fases seed e start-up e, em Portugal, esse percentual é reduzido à metade.

Além da relativa relutância na realização de investimentos em empresas nascentes, os autores mencionam que a magnitude do investimento é outro fator que pode impedir a concretização da operação. Os negócios de pequena monta podem ser simplesmente ig-norados pelos venture capitalists, sendo que nos Estados Unidos apenas investimentos su-periores a US$ 1 milhão apresentam interesse à indústria de venture capital daquele país21. Por sua vez, um fator de sucesso no desenvolvimento de firmas que pretendem contar com recursos de venture capital é a existência de licenças exclusivas ou patentes. Con-forme os autores, esses ativos podem ser um importante fator de sucesso para a empresa, e podem até mesmo representar o mais importante recurso de uma start-up. Nesse sentido, a literatura indica uma correlação positiva entre a existência de uma patente e a futura expansão do valor da firma. Como consequência, seria também possível que a falta de uma patente possa dificultar o acesso a recursos de venture capital.

19 No original em inglês, os autores mencionam que “innovative firms are considered those that base their productive activity on an innovation or advancement in the productive or social environment that result in new products/services or processes, based on the application of knowledge” (BILAU; COUTO, 2009, p.2).

É oportuno destacar que, ao apresentar esta definição, os autores fazem menção ao uma publicação da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), do ano de 2001, a qual, entre-tanto, não é apresentada nas referências.

20 Utilizamos para essa estimativa o valor de € 154,27 bilhões para o PIB de Portugal em 2005, conforme dados divulgados pela Comissão Europeia em: <http://epp.eurostat.ec.europa.eu/portal/page/portal/

statistics/search_database>. Acesso em set.2014.

21 A referência apresentada pelo autores para o estudo em questão é: “Dorf, R.C. and Byers, T. H. (2005).

Technology Ventures: From Idea to Enterprise. New York: McGraw-Hill.”

Outros aspectos que são mencionados pela literatura como relevantes para a obtenção de recursos da modalidade venture capital são a qualidade do plano de negócios apre-sentado, o currículo do empreendedor e de sua equipe, sendo especialmente valoriza-das a experiência na indústria, a experiência gerencial e a obtida em start-ups. Por outro lado, a falta de compreensão adequada por parte dos investidores quanto às tecnologias envolvidas no projeto e a ausência de políticas públicas adequadas que estimulem ope-rações por meio de capital de risco são alguns dos fatores que podem inibir a concreti-zação dos investimentos (BILAU; COUTO, 2009, p. 4).

Assim, ao analisar a amostra dos 63 casos de insucesso na obtenção de investimentos, os autores segregaram a amostra conforme os seguintes parâmetros: a) qualidade do pla-no de negócios; b) existência de patente; e c) quantidade de venture capital requerida.

Como resultado, os autores destacam que os empreendedores portugueses consideram que uma parte significativa da culpa pelo seu insucesso decorre dos aspectos estruturais do mercado local de venture capital. As principais razões citadas, em ordem de impor-tância, para não obter os recursos foram: 1) pequeno mercado dessa indústria em Por-tugal; 2) existência de limitadas políticas públicas que fornecessem apoio a esse tipo de participação; 3) falta de interesse dos investidores em investimentos na fase pré-start-up;

4) desinteresse dos investidores em prover pequenos montantes de capital.

A parcela específica de empreendedores que efetuaram suas propostas mediante planos de negócios mais completos ou que requereram financiamento superior a € 1 milhão apontou como um dos maiores motivos para o insucesso a falta de interesse por inves-timentos na fase pré-start-up. Já para os empreendedores que já contavam com uma patente, a principal causa mencionada foi relacionada ao pequeno mercado de venture capital em Portugal.

Um aspecto curioso dos resultados refere-se ao fato de que os empreendedores que deram menor ênfase à elaboração de um plano de negócios de elevada qualidade a ser apresen-tado aos investidores atribuíram mais importância ao tamanho reduzido do mercado e à insuficiência de políticas públicas como causas do fracasso na obtenção dos recursos.

Por outro lado, tanto para os empreendedores que detêm patentes quanto para aqueles que não as possuem, as duas principais razões mencionadas para o insucesso também são o pequeno mercado da indústria de capital de risco em Portugal, seguido pela menção à existência de políticas públicas limitadas para apoiar as participações em venture capital.

Ao concluir, Bilau; Couto (2009, p. 9) mencionam que os resultados servem como um alerta aos formuladores de política em Portugal, no sentido de serem mais agres-sivos em relação às políticas públicas que podem conferir suporte à indústria local de venture capital, bem como apontam aos investidores a direcionarem maior atenção a

investimentos nas fases pré-start-up, e a não subestimarem as propostas relacionadas a montantes financeiros mais reduzidos nas participações.

5.1.2 A atratividade do private equity em relação ao venture capital – o caso da Índia

Observa-se uma interessante menção quanto ao cenário da indústria de capital de risco da Índia em 2005. Trata-se do grande desenvolvimento na modalidade private equity frente ao reduzido relevo do segmento venture capital.

É importante ressaltar que esta característica pode existir em diversas outras economias, inclusive no Brasil. Enfim, reporta-se que, enquanto o setor de private equity está em franca expansão, o segmento de venture capital seria pouco relevante. O artigo aponta que o montante destinado a venture capital na Índia em 2005 representaria apenas cerca de 10% do total relativo aos capitais de risco, sendo que 90% seriam direcionados à modalidade private equity. O motivo para essa tendência estaria relacionado a ques-tões de risco, retorno e economia de escala, sendo destacado que o direcionamento de capitais para empresas em operação poderia propiciar inclusive operações de fusões e aquisições (ASIAMONEY, 2005, p. 1).

Nesse sentido, o aporte de recursos para a criação de empresas não geraria retornos financeiros comparáveis aos que seriam obtidos caso os investimentos fossem direcio-nados a empreendimentos já em operação, mas que, por meio desses aportes, poderiam multiplicar seu crescimento e seus lucros inclusive por meio de aquisições internacio-nais de outras companhias.

O artigo menciona ainda que a maturação dos investimentos em venture capital ocor-reria em um prazo entre cinco a dez anos, ao passo que, na modalidade private equity, esse período seria de apenas três a cinco anos. Além do aspecto relacionado ao prazo, o risco intrínseco aos investimentos em venture capital seria mais expressivo, muito embo-ra não sejam observados retornos financeiros compensatórios mais elevados em relação aos obtidos por meio de private equity.

Aspectos adicionais sobre a indústria apontados pelo artigo referem-se aos efeitos da forma de remuneração dos fundos de capital de risco, na qual os gestores recebem taxas de administração que dependem diretamente da magnitude dos recursos admi-nistrados, e à atenção necessária ao acompanhamento dos investimentos efetuados. À época, um típico fundo de private equity na Índia seria cerca de cinco vezes maior que um fundo de venture capital típico, tornando essa última modalidade menos atrativa para os gestores. Não obstante, os fundos de venture capital demandariam uma atenção substancialmente maior do gestor em relação à necessária para a administração de um fundo de private equity.

Assim, esses seriam alguns dos argumentos que explicariam o panorama da indústria de capital de risco na Índia em 2005. Não obstante, o artigo destaca, ao mesmo tempo, que investimentos em venture capital no presente seriam cruciais para o desenvolvimento, no longo prazo, da indústria de capital de risco na Índia. Afinal, as empresas viabiliza-das por venture capital passariam a ser, em um horizonte de cinco anos, as receptoras de novos investimentos em private equity, permitindo assim a sustentabilidade do setor.

5.2 Iniciativas no exterior voltadas

No documento caPital EMPrEEndEdor (páginas 53-57)